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Duas Janainas, dois destinos completamente diferentes.

15 de Junho de 2018, 14:26 , por Nocaute – Blog do Fernando Morais - | No one following this article yet.
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Duas Janainas, dois destinos completamente diferentes.

A primeira é Janaina Paschoal, a acusadora de Dilma Rousseff e que foi peça chave no processo de impeachment da presidenta.

A segunda é Janaina Aparecida de Quirino, essa tem um destino muito mais trágico. Janaína foi presa com 36 anos, ela é usuária de drogas, foi acusada por tráfico e, outro dia, um juíz de Mococa, interior de São Paulo, simplesmente determinou sua esterilização compulsória. Ou seja, esterilizaram a moça sem o seu consentimento.

E por quê?

O juiz alegou que era para proteger a saúde da própria Janaína e proteger os seus futuros e eventuais filhos, já que ela possui cinco filhos. Agora ela não pode ter mais porque foi esterilizada.

Essa coisa horrorosa foi determinada em outubro de 2017 e nós só ficamos sabendo disso porque o jurista Oscar Vilhena Vieira, que dá aula na FGV, escreveu um artigo denunciando esse fato, típico de um regime nazista, onde o Estado diz se o indivíduo pode ou não ter filhos.

Acontece que nazismo desse tipo, medidas autoritárias que interferem nos direitos do cidadão – inclusive nos direitos privados do cidadão – são medidas adotadas todos os dias contras os povos das periferias do Brasil. O mais preocupante é que a classe média é aparententemente conivente com isso, não se preocupa, ou pelo menos está anestesiada.

Basta citar os exemplos dos mandados de busca coletivos que são autorizados nas favelas do Rio de Janeiro, em que a polícia pode entrar na casa de qualquer um sem autorização específica judicial para entrar naquela casa, mas ela pode entrar na casa de qualquer um, só pelo fato do cidadão morar em determinado bairro, quarteirão ou região.

Ou seja, é uma expedição coletiva, uma punição coletiva, que tem por base unicamente o fato do cidadão morar naquela área.

Isso é proibido pela Constituição, que determina a inviolabilidade do lar, mas é transgredido rotineiramente pela polícia. É como se não estivesse acontecendo nada.

Outro exemplo foi aquilo que a Prefeitura fez em São Paulo, sob a gestão de João Doria Jr., quando entrou na Cracolândia de forma violenta, que todo mundo presenciou, espancando, batendo e colocando pra correr o pessoal que vivia naquele espaço, sem nenhum respeito pelo ser humano.

São medidas gravíssimas que vão desde a higienização racial, como no caso da Janaina 2, até medidas que vão da ocupação do espaço urbano, para destinar esse espaço para a economia especulativa – o que fez a polícia de São Paulo ao expulsar os habitantes da Cracolândia visando tornar aquela região “habitável” e propícia a investimento imobiliários e especulativos.

O Brasil vive esse clima de fascismo. É um clima extremamente preocupante, tingido por cores raciais e, ironicamente ou não, defendido por Janaina 1 – a advogada que acusou Dilma Rousseff.

Janaina Paschoal defendeu em seu Twitter a ação do juiz que determinou a esterilização compulsória de Janaina Aparecida de Quirino como uma medida de defesa da saúde da própria Janaina. É o fim da picada.

Estamos vivendo um clima extremamente preocupante no Brasil, os índices de assassinato, como acabou de sair no relatório da ONU, atingem recordes: foram 62 mil homicídios em um ano, em 2016. Sendo que são homicídios selecionados porque a imensa maioria daqueles que são mortos tem uma cor, a cor negra, e uma idade, a juventude que vai de 15 a 30 anos de idade.

Ou seja, no Brasil hoje, ser negro, ser jovem e ser pobre é muito perigoso. É ser vítima em potencial de um Estado dominado por gangues, mafiosos e proto fascistas.

É extremamente preocupante a situação.

Ao vivo: Caixa-Preta de hoje conta detalhes do depoimento de Morais ao juiz Sergio Moro

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Fonte: https://nocaute.blog.br/2018/06/15/duas-janainas-dois-destinos/

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