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[ESPECIAL] A polícia que mais mata: Ela diz que foi apenas “checar e vasculhar” – Capítulo 2

июня 2, 2020 21:06 , by Nocaute - | No one following this article yet.
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É sexta-feira, 22 de maio. Estamos no Rio de Janeiro, zona norte, no chamado Complexo do Alemão, área com cerca de 70 mil moradores, uma das mais pobres da cidade. Mais precisamente, estamos entre as duas últimas estações do teleférico que unia a ferrovia Central do Brasil, em Bonsucesso, aos pontos mais altos da região: os morros do Adeus (131), da Baiana (72), do Alemão (167), do Itararé (98) e das Palmeiras (126). Os números entre parênteses são, em metros, as alturas desses morros em relação ao nível do mar.

Este é um mapa antigo, de antes dos anos 1960. As atuais favelas Nova Brasília e Alvorda são ainda projetos dos loteamentos NOVA BRASÍLIA E PARQUE ALVORADA. O projeto do que é hoje o Loteamento, local de grandes confrontos na chacina do Alemão é ainda uma reserva, dentro de uma linha pontilhada, entre esses dois projetos, acima da Avenida Itaoca.

Entre as estações do Itararé e a das Palmeiras buscamos a parte mais pobre dessa área pobre: a região das favelas Nova Brasília, Alvorada e Fazendinha, vielas de becos e casas de pedra, tijolo e concreto pregadas nos morros. Nessa área, há exatamente uma semana, na sexta dia 15, dez pessoas foram mortas num confronto com a polícia. O número de mortos pode ser maior: 13, disseram manchetes de jornal do sábado, dia 16. Na quinta, 21, a polícia divulgou uma lista com os nomes de 11 mortos. Queremos saber onde e como as mortes ocorreram.

Por que essa busca? Porque a história contada para explicar essas mortes, em comunicados oficiais e através de entrevistas de dirigentes da polícia aos jornais, não convence. O que diz a polícia?

A assessoria de imprensa da Polícia Militar disse em nota, na sexta 15, que as mortes estavam ligadas a uma incursão conjunta do Bope, seu Batalhão de Operações Especiais, com a Desarme, Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos. O objetivo da incursão seria  “checar denúncias sobre o paradeiro de um criminoso apontado como liderança do tráfico de drogas local e verificar informações sobre a localização de uma casa usada como esconderijo de fuzis na comunidade”. Diz ainda a nota: “Durante a movimentação dos policiais pelas comunidades Nova Brasília e Fazendinha, criminosos armados atiraram e lançaram diversas granadas contra as equipes do BOPE em diferentes pontos da comunidade. Houve reação aos ataques feitos pelos criminosos nestes locais e ocorreram múltiplos confrontos, o que dificultou o vasculhamento em algumas áreas. Na ação, oito fuzis foram apreendidos e cinco criminosos foram encontrados feridos. Também houve apreensão de 85 granadas e entorpecentes”.

A polícia disse também que os cinco feridos foram levados a um hospital na Penha, onde vieram a falecer. E disse ainda que na tarde da mesma sexta, cinco pessoas mortas foram trazidas por moradores da área onde ocorreram os confrontos e deixadas na Avenida Itaoca, uma das principais do Alemão, que fica na parte baixa ao sul da linha do teleférico. Como as autoridades explicam essas outras cinco mortes? O coronel Mauro Fliess, porta-voz da PM, diz que as equipes ficaram reduzidas quando os primeiros cinco baleados começaram a ser transportados. “Com isso, quem ficou para trás acabou não conseguindo chegar aos demais baleados. Eram muitos tiros, granadas sendo lançadas pelos próprios comparsas. Havia a noção de que poderia haver mais feridos, mas as equipes não conseguiam alcançar os locais onde eles estavam, porque havia reação”. E “com a equipe menor não havia como chegar aos tais locais”, disse o coronel.

As explicações da polícia esbarram em alguns fatos e também têm algumas contradições. A operação é definida como de checagem e vasculhamento. Pode ser que isso tenha sentido no jargão policial. A nosso ver, em bom português, checar é uma coisa, vasculhar é outra, muito diferente. Checar se pode fazer à distância ou com grampos, infiltrações e outras técnicas menos invasivas. Vasculhar já é mexer em tudo, significa não deixar pedra sobre pedra sem exame. Para checar não é necessário colocar na rua dois carros blindados – dois caveirões, como os batiza a população, em sua sabedoria – e uma tropa de algumas dezenas de policiais. Além do mais, porque a operação, diz a polícia, era o resultado de “80 dias” de investigações. Depois de tanto tempo investigando, porque a tropa não saiu com objetivo mais preciso e sim para “vasculhar” diversos lugares?

A nota não diz o nome do chefe do tráfico da área do Alemão, mas a polícia já o sabia, com certeza. Sua ficha, como procurado pela polícia por tráfico de drogas, está na internet: Leandro Nascimento Furtado, “vulgo Diminho”, ou “Oliver”, nome que se pode ver gravado nas armas apreendidas. Tinha 36 anos. Foi preso em 2008 por envolvimento com o tráfico de drogas. Solto em 2011, já em 2015 teve três mandados de prisão expedidos pela Justiça porque seria chefe do comércio de drogas no Parque Proletário da Penha, uma área próxima, na face norte da Serra da Misericórdia, em posição oposta à das favelas do Complexo do Alemão, do lado sul.

A nota da PM sugere que a operação não foi em busca de um local determinado. A tropa estaria se movimentando “pelas comunidades” nas suas atividades de checagem e vasculhamento quando teria sido atacada e teria reagido. Onde teriam ocorrido esses ataques? A nota oficial não diz: “Criminosos armados atiraram e lançaram diversas granadas contra as equipes do BOPE em diferentes pontos da comunidade”. Aqui a nota fala em comunidade no singular. Qual delas, qual das três citadas no início da nota atacou a tropa liderada pelo temido Bope, em algum dos diferentes pontos não definidos?

A nota diz também que “cinco criminosos foram encontrados feridos”. Não diz quem os feriu, embora, do contexto, a impressão que fica é a de que eles foram feridos pela polícia. Diz ainda que a polícia os levou a um hospital na Penha, onde morreram. E sugere que a polícia gostaria de ter carregado os outros cinco feridos na operação, feridos e possivelmente mortos por ela mesma. Esses foram localizados mortos no mesmo dia 15 e carregados pelos moradores para um local visível, o encontro de uma rua conhecida na área, a Guadalajara, com a avenida Itaoca, na parte baixa do Alemão.

Para agravar os problemas da versão oficial, o delegado Marcus Amin, chefe de uma das duas forças participantes da operação, a Desarme, destacou o que teria sido a tentativa de prisão, não do procurado Diminho, mas de Leonardo Serpa, vulgo Leo Marrinha, o líder do tráfico de drogas noutra região, no morro do Pavão Pavãozinho, na zona sul do Rio. “Uma equipe entrou na casa onde eles estavam, mas eles (Marrinha e um segurança) saíram pelos fundos, bateram com outra equipe, que fazia o cerco, trocaram tiros, se evadiram e foram encontrados no hospital. Tanto o Leo Marrinha quanto o segurança dele”.

Vejam bem: a polícia “encontra” cinco feridos; leva os cinco para um hospital; e encontra, no mesmo hospital, um chefão das drogas, o Marrinha, e seu segurança, que tinham se evadido do cerco da mesma operação dessa mesma polícia? Não faz sentido – é claro.

Nós estivemos, depois de algumas peripécias, como se verá, no local onde, tudo indica, a polícia matou ou de onde carregou para o hospital pelo menos três das cinco primeiras vítimas de sua operação “de checagem e vasculhamento”. E nossa história é outra.

Ilustação: Fernando Carvall

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