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Le Monde: “O sinistro general à sombra de Jair Bolsonaro”.

19 de Outubro de 2018, 15:57 , por Nocaute - | No one following this article yet.
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Na noite do primeiro turno da eleição presidencial brasileira, viu-se somente sua sombra. O general Hamilton Mourão, número 2 de Jair Bolsonaro, o líder da extrema-direita, deveria estar saboreando a sua vitória.

Seu candidato, capitão da reserva do Exército, chegou bem à frente, com 46% dos votos, e se projeta como grande favorito do segundo turno em 28 de outubro. Mas, diante das câmeras, o general não conseguiu encontrar seu lugar. Bolsonaro preferiu colocar de forma majestosa Paulo Guedes, seu guru econômico, sentado na primeira fileira. A cada alusão às finanças, às reformas, à redução do Estado, considerado acima do tamanho, o candidato procura o olhar de aprovação deste ultraliberal, considerado a carta mestra de seu triunfo anunciado.

Candidato à vice-presidência, Hamilton Mourão não tem mais direito à palavra. “Ele é general, eu sou capitão, mas quem será presidente sou eu”, lembra secamente Bolsonaro em entrevista à Globo. Possível futuro chefe de Estado do Brasil, o candidato nostálgico da ditadura e de seus torturadores é conhecido por suas falas racistas, homofóbicas e misóginas. Mourão, para ele, foi em principío uma tranquilidade com a legitimidade de seus galões. Depois Bolsonaro desconfiou de suas gafes políticas.

Quando seu companheiro de chapa fala do 13º como uma “aberração” do sistema salarial brasileiro, o que não é nada popular, ou anuncia uma eventual reescritura da Constituição sem o aval do Congresso nem dos eleitores, o candidato de extrema-direta sai do prumo. Com 65 anos, Mourão está na aposentadoria desde fevereiro. Ele se lançou na política junto à essa onda Bolsonaro. Terceira opção do líder de extrema-direta, ele foi designado como vice depois da recusa da inflamada Janaina Paschoal, que fez o pedido de destituição da presidente de esquerda Dilma Roussef em 2016.

Sua nomeação também se consolidou por causa de um atraso do príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança. Oriundo da família real portuguesa, o descendente de Pedro II, o Magnânimo, teria deixado Jair Bolsonaro esperando por duas horas em um encontro. Furioso, Bolsonaro optou pelo general que depois virou uma dor de cabeça.

Colocado de lado, Hamilton Mourão continua um peso pesado do possível futuro governo brasileiro. Em caso de ausência ou impedimento do presidente será ele que dirigirá o país.

A agressão a faca contra Jair Bolsonaro em 06 de setembro em pleno comício de campanha eleitoral despertou as consciências e inquietudes. Se Jair Bolsonaro apavora os defensores de direitos humanos, os negros, as comunidades LGBTs e mais globalmente os democratas, Hamilton Mourão suscita francamente o pânico.

Além das suas declarações sobre o décimo terceiro, o general Mourão lançou sem o menor constrangimento que existia uma possibilidade de um auto golpe de Estado em caso de anarquia. Depois de explicar que o Brasil tinha herdado a indolência dos índios e a malandragem dos afrodescendentes, ele se entusiasmou vendo o seu neto no aeroporto de Brasília em 06 de outubro: “Meu neto é bonito, é o branqueamento da raça”.

Hamilton Mourão compartilha com Jair Bolsonaro essa visão singular da ditadura militar (1964-1985): uma guerra povoada de “heróis” do exército contra a “ameaça comunista”, diz ele. Apesar do capitão, o general não esconde nem um pouco a sua admiração pelo general Carlos Brilhante Ustra, um dos mais sanguinários torturadores da ditadura militar. “Um homem corajoso com quem eu aprendi muito”, explicou ele diante de jornalistas da GloboNews em 07 de setembro.

“Mourão se aposentou das forças da ordem a menos de um ano, ele era general. Contrariamente a Jair Bolsonaro que era desconsiderado pelo estado maior do exército, Mourão é reconhecido, é um pró-militar, ele é perigoso”, alerta um ex-magistrado que prefere guardar o anonimato.

O general faz parte de uma miríade de militares e policiais que se tornaram protagonistas das eleições brasileiras de forma atípica. Ao terminar o primeiro turno, 73 membros ou ex-membros das Forças Armadas foram eleitos para o Congresso. Ao contrário de 4 anos atrás, em que foram 18., calcula o site G1.

Atingido pela crise, escândalos de corrupção e insegurança, o país ficou sedento de ordem de autoridade, sinal também do retorno do prestígio do uniforme 30 anos depois do fim do regime militar. “Muitos brasileiros não sabem ou não querem saber dos crimes cometidos sob a ditadura. Alguns guardam desse período uma lembrança positiva, falando de milagre econômico, esquecendo a censura, opressão e todo o horror da tortura” observa Maria Aparecida de Aquino, historiadora da USP, assustada por essa amnésia coletiva.

*Escrito por Claire Gatinois, do Le Monde

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Fonte: https://nocaute.blog.br/2018/10/19/le-monde-o-sinistro-general-a-sombra-de-jair-bolsonaro/

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