Ir para o conteúdo

Nocaute

Voltar a Blog
Tela cheia Sugerir um artigo

O Brasil adere ao protesto hightech: em vez de panfletos, outdoors-relâmpago.

3 de Junho de 2020, 16:19 , por Nocaute - | No one following this article yet.
Visualizado 16 vezes

Um pequeno grupo de dois VJs e uma estrategista de redes sociais acabou por se converter em um coletivo de dezenas de brasileiros que se dedicam a uma nova forma de manifestação política e social: as projeções de palavras de ordem em paredões e empenas de prédios de várias capitais do Brasil.

No meio da noite milhares de motoristas descem a rua da Consolação, em São Paulo. De repente dão com uma mensagem escrita em letras garrafais na parede de um prédio de escritórios de vinte andares – mais de cinquenta metros de altura: “FORA BOLSONARO!”.

Na mesma hora, em Recife, quem passar às margens do Rio Capibaribe, que corta a capital pernambucana, lerá num paredão, também em letras gigantes: “#ForaCononavírus – FIQUE EM CASA!”.

E os mineiros que estiverem na praça Raul Soares, em Belo Horizonte, se olharem para a empena do conjunto JK, de 36 andares, também se espantarão com o outdoor-relâmpago projetado no concreto cru: “BOLSONARO ASSASSINO!”. 

Os autores dessas blitzkrieg são dezenas de brasileiros espalhados por cidades de todo o país, unidos em torno do coletivo http://instagram.com/projetemos.

Todas as manhãs elas e eles se encontram virtualmente, cada um na sua casa, para a “reunião de pauta” que decidirá quais serão as projeções da noite. Os temas são sempre políticos ou sociais, defendendo bandeiras de movimentos negros, indígenas, LGTB. A iniciativa é pré-Coronavírus, mas a eclosão da pandemia obrigou os coletivos a se concentrarem no tema.

Em tempos de praga e confinamento, o novo tipo de protesto passou a acompanhar os panelaços contra o governo Jair Bolsonaro. As projeções feitas em paredões de prédios dão voz às pessoas que, dentro de casa, acham que bater panela é pouco para manifestar indignação política ou alertar sobre os cuidados recomendados contra o coronavírus.

Em menos de 24 horas, a iniciativa de um produtor de vídeo e de uma cientista política, ambos moradores de São Paulo, ganhou o país. Pelas redes, o www.projetemos.com.br, que hoje virou um grupo com mais de 150 pessoas, debate diariamente a pauta das mensagens e compartilha arquivo único para projeção, mesmo que de forma caseira, e dicas para obter o melhor resultado.

De acordo com o VJ Spencer, um dos criadores do grupo, basta baixar as imagens no computador, conectá-lo a qualquer projetor e apontar para uma parede vizinha. As exposições são informais, ou seja, sem autorização de condomínios ou das prefeituras – na capital paulista, por exemplo, a Lei Cidade Limpa proíbe esse tipo de ação, ainda que uma projeção não suje nada.

“Nossa intenção é conscientizar as pessoas sobre a situação que estamos vivendo, destacar a posição dos especialistas da área médica e protestar contra a postura do governo diante da pandemia”, conta Mozart Santos, um dos criadores do Coletivo Projetemos. “O www.projetemos.com.br é basicamente um App de criação de textos, funciona como uma ferramenta poderosa na mão de um povo que tem o que falar. Querem falar, mas não tinham como serem ouvidos, Agora podem ser lidos.” 

“Recebemos dezenas de mensagens diariamente em nossas redes sociais de pessoas querendo saber como faz para poder projetar. Criamos a ferramenta pra elas. Agora é só apontar o projetor pra parede e escrever. Estamos deixando o poder onde é o lugar dele, com o povo”, completa o VJ recifense. As mensagens são trocadas, alternando dicas de saúde com críticas políticas. Além de São Paulo, Salvador, Recife, Rio, Belo Horizonte e Brasília são algumas das cidades que já registraram ações do Projetemos.

O grupo faz contato, quando possível, com especialistas para chegar às frases ideais. O vereador petista Eduardo Suplicy, por exemplo, foi procurado na semana passada para explicar o que é renda básica, programa de distribuição de renda aprovado pela Câmara como ação emergencial para autônomos que estão sem trabalhar. 

Os participantes também tomaram partido na polarização mais recente da política brasileira: a necessidade de isolamento social para combater a pandemia, defendida por governadores e negada pelo presidente Jair Bolsonaro. Nas paredes dos prédios, mensagens como “Ei, mano, fica em casa” fizeram defesa do distanciamento emergencial.

Mas nem tudo é protesto. Brunna Rosa, que trabalha como estrategista de redes sociais, diz que o objetivo é também focar na formação de uma rede de afeto. Ela destaca as mensagens otimistas projetadas em todo o Brasil, como “Vai dar tudo certo” ou “Vai passar, fiquem vivos para ver.”

“As nossas projeções são coletivas. Foi fantástico nesse dia ver uma enorme rede de solidariedade e informação se formando”, disse Brunna. “E depois todo mundo manda foto dos bastidores. Tem gente que coloca o projetor em cima de uma tábua de passar roupa, na pia da cozinha, adaptado num banquinho. Todo mundo pode dar um jeito de usar a arte para quebrar barreiras.”

A repercussão ganhou as redes e o grupo começa hoje a ensinar à distância como dar seu recado. Uma live destinada a jovens da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, oferece uma introdução à projeção mapeada. “Mesmo quando essa pandemia passar vamos continuar com as mensagens. Sempre há o que reivindicar”, diz Spencer.

(Nocaute, com informações do Estadão e do Diário de Pernambuco).

O post O Brasil adere ao protesto hightech: em vez de panfletos, outdoors-relâmpago. apareceu primeiro em Nocaute.


Fonte: https://nocaute.blog.br/2020/06/03/o-brasil-adere-ao-protesto-hightech-em-vez-de-panfletos-outdoors-relampago/

Nocaute