Pagu, ou Pagú, como se escrevia na época, é um nome ligado às vanguardas. Patrícia Rehder Galvão (1910-1962) está associada diretamente ao movimento modernista dos anos 1920, à militância em diversos setores de esquerda e ao movimento feminista brasileiro.
Patrícia Galvão virou Pagú por conta de um poema mal-informado de Raul Bopp, que a imaginava Goulart: “Pagú tem uns olhos moles/ uns olhos de fazer doer/ Bate-coco quando passa/ Coração pega a bater/ Eh Pagú eh!/ Dói porque é bom de fazer doer”, dizia o poema.
Nascida numa família conservadora – o pai, Thiers Galvão de França, era advogado e jornalista -, Pagu rompeu com todas as expectativas de que se tornasse uma moça bem comportada. Ela é tida com a primeira mulher a ser presa, por razões políticas, no Brasil. Outras 22 vezes ela seria detida por conta de sua militância corajosa, inclusive na França.
Pagu é a mais nova carta do baralho Super-Revolucionários, que os sites Opera Mundi e Nocaute publicam em conjunto. Já foram publicadas as cartas de Hugo Chávez, Rosa Parks, Vladmir Lênin, Clara Zetkin, Ernesto Che Guevara, Antonio Gramsci, Fidel Castro, Liudmila Pavlichenko, Luís Carlos Prestes, Frida Kahlo, Alexandra Kollontai, Bela Kun, Nelson Mandela, Mao Zedong, Simone de Beauvoir, Stálin, Marina Ginestà, Ho Chi Minh, Leon Trotsky, Olga Benario, Karl Marx, Salvador Allende, Tina Modotti, Carlos Marighella, Rosa Luxemburgo e Franz Fanon.
Com texto e concepção de Haroldo Ceravolo Sereza e desenho do artista plástico Fernando Carvall, e essas cartas, numa análise séria, mas sem perder o humor jamais, atribuem “notas” à atuação desses grandes nomes da luta por um mundo mais justo e solidário.
Em 2020 ainda, alcançaremos um número suficiente de cartas para montar um jogo inspirado no conhecido Super Trunfo e publicar um livro com os cards e informações sobre esses heróis da resistência e da transformação.
As notas são provisórias e estão sujeitas a modificação.
REBELDIA 8
Filha de uma família da elite, foi desde jovem uma rebelde: fumava na rua, usava blusas transparentes e gostava de falar palavrões. Aos 21 anos, participou da organização de uma greve de estivadores em Santos e foi presa pela primeira vez.
DISCIPLINA 7
Pagu foi uma artista-militante. Apesar do forte engajamento, que não se abalou diante do nascimento do filho Rudá, com Oswald, nunca se acomodou totalmente às estruturas artísticas e políticas. Após a greve de 1931, em Santos, em que, ao defendê-la da polícia, o estivador assinou um documento afirmando ser uma “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”. Em 1935, foi novamente presa, desta vez na França, por ser uma militante comunista estrangeira. Graças à intervenção do embaixador Souza Dantas, conseguiu voltar ao Brasil, o que eliminou o risco de ela, filha de uma imigrante alemã, ser deportada para o país nazista.
TEORIA 8
Pagu conheceu Oswald de Andrade em sua fase mais esquerdista. O poeta, então casado, separou-se da pintora Tarsila do Amaral para viver com Pagu, que construía uma intensa atividade jornalística e poética. Juntos, editaram o jornal O Homem do Povo. Pagu foi a introdutora no Brasil do romance proletário, com o livro Parque Industrial, assinado com o pseudônimo de Mara Lobo, e também escreveu contos policiais, como pseudônimo de King Shelter.
POLÍTICA 7
Em 1939, quando estava presa sob a ditadura do Estado Novo no Rio, Pagu conclui a redação da “Carta de uma militante”, em que se afasta do PCB e assume posições políticas trotskistas. Com Hermínio Sachetta, funda o PSR, Partido Socialista Revolucionário, ocupando a presidência de honra na fundação da organização em que militaria também o jovem Florestan Fernandes. Com o então marido, Geraldo Galvão (com ele, teve o segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz), e o crítico de arte Mário Pedrosa, entre outros, integra a redação do jornal A Vanguarda Socialista. Em 1950, disputa, sem sucesso, uma vaga na Câmara dos Vereadores de São Paulo pelo Partido Socialista.
COMBATIVIDADE 9
Durante o Estado Novo, passaria cinco anos em cárcere, após o levante da Aliança Nacional Libertadora de 1935. A prisão e a tortura nesse período não a abalaram, e Pagu continuou militando, escrevendo e traduzindo por toda a vida, até sua morte por um câncer, em 1962.
INFLUÊNCIA 8
Patrícia Galvão traduziu Franz Kafka e Eugène Ionesco, foi cartunista, crítica de arte, fundadora de periódicos revolucionários e poeta. A trajetória de Pagu expressa uma vida que, segundo o poeta Augusto de Campos, organizador de Pagu – Vida-Obra, deve ser ao mesmo tempo desmistificada e ramificada, de modo a “enfatizar não a face superficial de sua atividade, mas a densidade maior de sua aventura intelectual”.
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