Ir para o conteúdo

Nocaute

Voltar a Blog
Tela cheia Sugerir um artigo

Por que o título “Trump Tropical” não deve nos orgulhar?

16 de Outubro de 2018, 17:59 , por Nocaute - | No one following this article yet.
Visualizado 20 vezes

Afinal, por que se orgulhar de uma associação como essa quando, o presidente em questão, tem o maior índice de rejeição da história dos Estados Unidos?

Por Clarissa Carvalhaes
Correspondente do Nocaute em NYC
A comparação entre Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente Donald Trump (Partido Republicano) tem sido uma bandeira para muitos eleitores do candidato brasileiro. Diante dos feitos e efeitos do republicano desde a sua posse, em janeiro de 2017, a comemoração do eleitor no Brasil é incompreendida por grande parte dos norte-americanos. Afinal, por que se orgulhar de uma associação como essa quando, o presidente em questão, tem o maior índice de rejeição da história dos Estados Unidos?
A avaliação do primeiro ano de mandato de Trump teve uma aprovação de 45%: o pior registro de qualquer um dos sete presidentes mais recentes, segundo o Instituto Gallup. O que faz Trump ser tão rejeitado no seu próprio país é a resposta para que os eleitores de Bolsonaro não se orgulhem do título “Trump Tropical”.

Ao Nocaute, o professor de Economia da Universidade de New York, Soloman Kone explica que a perspectiva econômica atual dos EUA é saudável: espera-se que a taxa de crescimento do PIB permaneça na faixa ideal entre 2% e 3%. A economia atingiu o pleno emprego (a taxa de desemprego é de cerca de 3,9%, a taxa mais baixa desde 1969), “mas essa perspectiva pode rapidamente reverter o curso se Trump levar a cabo uma guerra comercial total com a China… e/ou se o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) for muito rápido para aumentar a taxa de juros”, diz.

O problema é que ambos já estão começando a colocar em cheque o bom desempenho dos resultados do governo Trump. A guerra comercial com a China não mostra sinais de desaceleração, e pode estar ainda pior. Atentos ao protecionismo econômico citado por Kone, mais de mil economistas, entre eles 14 vencedores do Prêmio Nobel, enviaram ao presidente um alerta de que o país pode viver uma nova Grande Depressão. Mas o Trump parece irredutível.
Imprevisibilidade e inconsistência
Na última sexta (12), o analista Matt Egan, disse à CNN, que o mercado de ações não está nada satisfeito com os resultados recentes do banco central americano. Isso porque o Federal Reserve (Fed) começa a se comportar exatamente como Kone prevê: elevando a taxa de juros. No Twitter, Trump disse que o Fed “enlouqueceu” e está “fora de controle”. Mas não se trata de um complô. Para Egan, o comportamento do banco, na verdade, é uma resposta a forma como Trump tem lidado com a economia e o país começa a sofrer com a inflação.
Para Kone, o mercado está preocupado com a imprevisibilidade e inconsistência de Trump. “Empresas, consumidores e investidores (nacionais e estrangeiros) atuam com expectativas que são horas extras estáveis. Um tweet polêmico (do presidente) pode criar caos e incertezas no mercado que podem prejudicar a economia a curto ou longo prazo. Ele deve ter cuidado e pensar antes de twittar. Por exemplo, o Federal Reserve Bank deveria ser independente (do governo). Como tal, o presidente não deve interferir com questões de política monetária, como a taxa de juros, o valor do dólar… Ganhos políticos são diferentes dos ganhos econômicos no longo prazo”, destaca.
Ao New York Times, o correspondente sênior de economia do The Upshot, Neil Irwin escreveu que a maneira mais honesta de falar dos resultados positivos de Trump é de que o presidente herdou de Barack Obama uma economia que havia percorrido um longo caminho em direção à cura. “Há muitos problemas que permanecem nos Estados Unidos, econômicos ou não, e o grau de crédito que o presidente merece pelo estado da economia é um debate aberto. Mas esta é uma banheira que já está bastante cheia e a água está subindo muito bem”.
Tolerância Zero
Se por ora, a água da banheira da economia de Trump ainda está subindo, em outros setores ela já entornou. Não existe relativismo diante do comportamento xenófobo de Trump. Eleito com a promessa de construir um muro na fronteira com o México para impedir a travessia de imigrantes, o presidente foi duramente criticado quando 3 mil crianças foram separadas dos pais e encarceradas em jaulas no início deste ano. Após o vazamento de fotos e áudios, o caso ganhou repercussão mundial. A jornalista Rachel Maddow, da MSNBC, chorou ao vivo enquanto tentava ler a reportagem sobre as crianças detidas no Texas. A revista Time estampou em sua capa uma arte que trazia a imagem de uma menina hondurenha de 2 anos diante da frieza de Trump. Rapidamente a foto tornou-se o símbolo do horror da política de “tolerância zero” de Trump.
Censura
Mas essa não foi a primeira vez que uma decisão de Donald Trump chocou o mundo. No ano passado, o presidente foi extremamente criticado ao anunciar que os Estados Unidos se retirariam do Acordo de Mudança Climática de Paris. Embora cada país opte por suas próprias contribuições, Trump tentou justificar que “os encargos financeiros e econômicos draconianos que o acordo impõe ao nosso país”.
O discurso não apenas não convenceu, como fez nascer uma espécie de motim. Quase que imediatamente após o anúncio de Trump, mais de 3 mil cidades, estados, empresas e outros grupos americanos declararam compromisso com o Acordo de Paris. O movimento batizado America’s Pledge, liderado pelo governador da Califórnia, Jerry Brown, e pelo ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, se comprometeu a reduzir as emissões do país. Durante a abertura da cúpula climática internacional, Brown afirmou que a história não lembrará bem deTrump quando se trata de suas ações diante do meio ambiente. “Eu acho que ele será lembrado, no caminho que ele está agora – mentiroso, criminoso, idiota”.

As constantes críticas que partem de todos os lados diante dessas e outras tantas polêmicas que envolvem o presidente americano são, geralmente, rebatidas por ele no Twitter. É de lá que saem verdadeiras atrocidades que vão desde o assédio à funcionários da própria Casa Branca até a tentativa clara de censurar da imprensa. “Quando a mídia insana com sua Síndrome Trump Derangement – revela deliberações internas de nosso governo, isso coloca em risco a vida de muitos, não apenas jornalistas! Muito antipatriótico! 90% da cobertura da mídia da minha administração é negativa, apesar dos resultados tremendamente positivos que estamos alcançando, não é surpresa que a confiança na mídia esteja em um patamar baixo! A mídia é inimiga do povo americano”, disse Trump.

Em junho, a CNN, exibiu uma montagem de Trump atacando a imprensa em discursos e comícios do passado, inclusive chamando a mídia de “notícias falsas”, “escória absoluta”, “repugnante” e “muito desonesta”. Jeff Flake, senador que faz parte do mesmo partido que Trump, comparou o presidente ao ex-ditador da URSS, Joseph Stalin. A ONU, por meio do Conselho de Direitos Humanos, condenou o posicionamento de Trump afirmando que o presidente fere as obrigações do país de respeitar a liberdade de imprensa e o direito internacional dos direitos humanos. “Toda vez que o presidente chama a mídia de ‘inimigo do povo’ ou deixa de permitir que os repórteres façam perguntas sobre pontos desfavorecidos, ele sugere motivações ou atos nefastos”. Se diante de tantas coincidências mórbidas, o eleitor do Bolsonaro continuar encarando como elogios as comparações com Trump, o Brasil, de fato, está a caminho do precipício.

O post Por que o título “Trump Tropical” não deve nos orgulhar? apareceu primeiro em Nocaute.


Fonte: https://nocaute.blog.br/2018/10/16/por-que-o-titulo-trump-tropical-nao-deve-nos-orgulhar/

Nocaute