No livro Cem anos de solidão, Gabriel Garcia Marquez escreve uma passagem magistral. Aquela que dá uma febre em Macondo e as pessoas esquecem o nome das coisas. Então era preciso botar pendurado no pescoço da vaca um papelão escrito: vaca. Na panela um papel escrito: panela. E por aí vai.

A impressão que eu tenho é que nessa eleição de 2018 o Brasil está padecendo da febre do esquecimento, como em Macondo. Esquecem quem era até um mês atrás Jair Bolsonaro. E também a febre da falta de consciência. Quando eu vejo o número de pessoas que declaram intenção de voto em Jair Bolsonaro, além de esquecer que se trata de um desequilibrado, de um despreparado, mas sobretudo, eu vou insistir, um desequilibrado total. E também a falta de consciência, como se ninguém se desse conta do horror que seria caso ele ganhasse.

Por que?

Não só por ele que é um desqualificado. Mas por quem está atrás dele. Esses generais que estão montando plano de governo. Eu pelo que leio, não na imprensa brasileira. A imprensa brasileira camufla isso. Mas pelo que leio na imprensa de outros países, é algo assustador, porque todos eles: o general da infraestrutura, o general da educação, são muito mais preparados do que Jair Bolsonaro.

Claro, qualquer cidadão é mais preparado do que esse mentecapto. Mas aí que está o perigo. Em quem está por trás dele. O general Mourão, por exemplo. E mais, outro perigo pior: quem está ao lado dele. Se Bolsonaro é uma religião, o que me apavora são os fanáticos. Os que seguem essa religião.

Eu tenho muito medo do meu país. Tenho a esperança de que ainda haja tempo para que as forças democráticas façam uma união, se aliem de alguma maneira. Porque o perigo que nos ameaça é muito maior do que a distância que nos separa.

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