A competência dos tucanos João Doria e Bruno Covas não resistiu a uma tempestade. As chuvas que caíram sobre a capital paulista na noite passada revelaram que o PSDB, que governa São Paulo há gerações, não está preparado para enfrentar um temporal. Quem melhor resumiu a estatura dos dois estadistas foi o governador João Doria, hoje, ao pedir à população que permaneça em casa, como se estivéssemos em uma guerra. Talvez estejamos.
A tempestade que atingiu a Grande São Paulo entre a noite deste domingo (10) e a madrugada desta segunda (11) já deixou até agora 12 mortos por afogamentos e deslizamentos ou soterramentos de terra. Entre os mortos estão um bebê.
O Corpo de Bombeiros atendeu até o momento 698 ocorrências relacionadas à enchente. A tempestade também derrubou 155 árvores e provocou 54 pontos de deslizamentos ou desabamentos na região.
São Paulo na manhã desta segunda-feira (11)
Vários urbanistas e estudiosos já vinham alertando para o risco iminente de enchentes e deslizamentos na cidade. A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, em artigo escrito há dois meses, demonstra que não há falta de verba para obras contra enchentes, mas sim o desinteresse do governo em priorizar esse tipo de obra.
“Examinando os números da execução orçamentária da prefeitura de São Paulo fica clara não a falta de recursos, mas a decisão do que deve ser priorizado. No caso de São Paulo foram simplesmente zerados os investimentos em obras contra enchentes e uma enorme soma foi mobilizada para pavimentação de vias – aliás concentrada em 2018. Parece então que estas – e as enchentes que virão a cada ano – não são uma fatalidade divina, mas claros produtos de opções de política urbana”, escreveu a urbanista que é também professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Segundo informa a Rede Brasil Atual, dos R$ 824 milhões no orçamento destinados à realização de drenagens entre 2017 e 2018 foram usados apenas R$ 279 milhões (38%) do total que deveria ser destinado à essas obras. Em relação à verba orçada para o combate a enchentes e alagamentos na cidade de São Paulo apenas um terço foi usado durante esse mesmo período que corresponde à gestão do ex-prefeito e atual governador paulista, João Doria, e de seu sucessor, Bruno Covas, ambos do PSDB.
Em obras e monitoramento de enchentes, estavam previstos R$ 575 milhões, mas foram gastos R$ 222 milhões (35%). Hoje, a capital paulista registrou 601 pontos de alagamento, congestionamentos gigantescos, com interdição das pistas expressa e central da Marginal Tietê e da Avenida do Estado.
Além das ações e obras para combater enchentes, Doria e Covas também reduziram os gastos com a varrição de ruas, a quantidade de lixo recolhido e a capinação. A coleta de lixo foi reduzida em, aproximadamente, 15%, em 2018. Varrição, capinação e lavagem de ruas foram reduzidas em 19%, no mesmo ano. Ao mesmo tempo, as reclamações por falta de limpeza, por meio da Central 156, subiram 30%. Na sexta-feira, Covas pediu licença da prefeitura por sete dias, “por motivos pessoais”.
Ainda segundo a Rede Brasil Atual, apesar de Doria e Covas alegarem problemas financeiros, os dados do orçamento indicam que arrecadação superou em R$ 300 milhões o estimado pela gestão Covas para 2018. Mesmo assim, o investimento total foi de R$ 1,8 bilhão. Em 2017, a situação foi mais grave, com investimento de apenas R$ 1,3 bilhão. Em 2016, último ano da gestão de Haddad, os investimentos foram de R$ 2,6 bilhões, 44% a mais que no ano passado.
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