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Vamos ganhar as eleições e reconstruir uma convivência com o mundo que esteja a altura dos valores brasileiros

21 de Setembro de 2018, 17:38 , por Nocaute - | No one following this article yet.
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Já houve outros líderes no passado que tinham essa visão de que tratados rasgam-se. Felizmente não é a visão brasileira. O Brasil segue a norma básica do direito internacional Pacta sunt servanda, pactos têm que ser cumpridos. O que não está ocorrendo infelizmente.

Amigas e amigos do Nocaute, como sabem na sexta-feira passada foi realizado aqui em São Paulo um importante seminário internacional que reuniu personalidades de grande projeção: três ex-primeiro-ministros europeus de países de peso, Massimo d’Alema, da Itália, o José Luis Zapatero, da Espanha e Dominique de Villepin, da França. Além deles estiveram dois ministros latino-americanos de pastas diferentes Jorge Diana na Argentina e Carlos Ominami do Chile. Um ex-secretário geral da Amnesty Internacional, um senagalês

Pierre Sané. E um intelectual, talvez hoje o mais famoso e mais requisitado intelectual do mundo e o mais difícil de fazer viajar porque já é uma pessoa de 91 anos, Noam Chomsky. Além dos brasileiros Marilena Chauí e Bresser Pereira. E eu e a Miriam Belchior fomos os coordenadores das mesas.

Eu chamo atenção para isso, porque quem já organizou seminário, as pessoas sabem,

como é difícil você reunir todos esses nomes. E cada um veio, obviamente a Fundação Perseu Abramo pagou suas passagens, hospedagem, mas cada um veio sem ganhar nada e deixando de ganhar o que eles ganham em seus países com outras palestras.

Porque eles vieram?

Claro que há uma admiração muito grande pelo presidente Lula no mundo. Um deles, o Pierre Sané, que não me pediu segredo disso, acha que o Lula representa para os direitos sociais e econômicos do mundo o que o Mandela representou para os direitos civis e políticos. É a grande figura sobre a qual se pode fazer uma campanha sobre direitos sociais e econômicos e culturais. É um pacto aliás das Nações Unidas. Esses pactos que o Brasil agora está dizendo que não têm importância e não respeita mais, infelizmente.

Há o lado de solidariedade e de respeito pela figura do Lula. Mas há também um outro fato muito importante que é a percepção de que o que ocorre no Brasil tem uma influência no mundo. Mais uma vez citando o Sané, ele disse: Não pensem que o que acontece no Brasil tem influência apenas na América Latina. Influi na África também, porque nós importamos de vocês coisas boas e coisas ruins. Entre as coisas boas ele citou as ações na agricultura, o Fome Zero, o Bolsa Família. Mas também importamos, disse ele judicialização da política.

Então, o Brasil para muitos países do mundo é um modelo. E o que está acontecendo no Brasil hoje é muito triste, porque o modelo é ruim. Mas mesmo, além digamos do Sané, os europeus veem o Brasil como um país importantíssimo para ordem mundial.

Eu acho que já comentei aqui, mas eu vou voltar a comentar, porque o Villepin repetiu isso na sua fala. Dominique de Villepin que foi o ministro francês muito famoso na época, porque ele se opôs veementemente à invasão ao Iraque em 2003 pelo presidente Bush. Foi ele que fez os discursos mais veementes naquela ocasião. E além de ter sido depois o primeiro-ministro ainda no governo Chirac. É um homem de uma competência indiscutível, não é sequer um homem de esquerda. Ele não é sequer de um partido social-democrata. Ele era um ministro do Chirac, um governo da direita republicana na França. E o Villepin reiterou algo que ele já tinha me dito que era de nós no Brasil termos um papel no mundo que é muito importante para o equilíbrio global e segundo ele, ainda mais importante agora que existe esse recuo dos EUA e ao mesmo tempo uma atitude agressiva em termos comerciais e o Brexit. Têm todas essas coisas se passando, o Brasil apesar de todos os problemas, vai avançando na questão racial, gostaríamos que fosse mais rápido, ainda tem muita coisa para ser feita, mas é um país que tem essas características. É multicultural, diversificado e tem fronteiras com dez países. Não é apenas um país grande por extensão territorial, pelo PIB, mas é um país que tem muitos vizinhos. Depois da Rússia e da China é o país que tem mais vizinhos no mundo.

Então, tudo isso faz com que o Brasil tenha uma influência ímpar e tem essa proximidade com a África. Qual outro país do mundo não africano, com a possível exceção dos Estados Unidos, mesmo assim é discutível, tem essa presença não puramente econômica, mas uma presença e cultural na África como o Brasil tem. Nenhum tem.

O Brasil faz falta para o mundo. E por isso essas pessoas vieram aqui. Isso também eu pude, dois ou três dias depois, participar de um outro seminário na Espanha que foi uma espécie de continuidade desse seminário que foi feito no Brasil. Participaram pessoas que estavam convidadas, mas que não puderam ir como Felipe González, o juiz Baltasar Garzón.

Mas de qualquer forma, outro ponto que interessa contar é o seguinte: enquanto na Espanha, o El País, o público, todos os jornais de lá deram atenção ao seminário, no Brasil que foi onde se realizou o principal, a grande imprensa nossa ignorou, com raríssimas exceções. O que demonstra também uma pobreza cultural, além do viés ideológico, mas uma pobreza cultural que nos entristece muito. Porque não é um seminário qualquer, eu tive ocasião, como ministro das relações exteriores, de organizar evento e sei como é difícil conciliar as agendas dessas pessoas.

Então, o fato de que em dois meses a Perseu Abramo organizar e realizar esse seminário e ter trazido essas pessoas, é algo extraordinário. E é algo que a gente tem que refletir. Eu posso aqui, usando a expressão que a Teresa Cruvinel usou, o mundo está de olho no Brasil. Vejam bem. Quando as pessoas aqui dizem e é algo que me toca muito, porque eu fui servidor, antes de ser ministro do Lula, eu fui servidor do estado brasileiro durante 40 anos, fui embaixador no governo Fernando Henrique Cardoso na ONU e trabalhei intensamente em outros governos, eu não me recordo de ouvir alguém dizer o país a, b ou c, muito menos o Brasil não deve se curvar à ONU.

É muito triste quando você ouve essas expressões. Porque revela uma ignorância total do que é a ONU. O Brasil não deve se curvar a Washington, a Pequim, a Moscou. Isso sim. Agora dizer o Brasil não deve se curvar à ONU, é ignorar o que é a ONU.

A ONU somos nós.

É algo que me deixa muito preocupado quando, inclusive, um comandante militar, que é uma pessoa que eu respeito como comandante militar, sempre achei ele um bom oficial, mas um general comentar que nós vamos resistir a essa invasão da nossa soberania. Não há nenhuma invasão da nossa soberania, general.

Nós estamos cumprindo com o tratado internacional. O Brasil defendeu e defende ardorosamente o princípio do multilateralismo. Que era um dos temas dos nossos debates. Cumprir os tratados internacionais não é permitir que haja invasão da soberania. Já houve outros líderes no passado que tinham essa visão de que tratados rasgam-se.

Felizmente não é a visão brasileira. O Brasil segue a norma básica do direito internacional Pacta sunt servanda, pactos têm que ser cumpridos. O que não está ocorrendo infelizmente.

As boas notícias são que o candidato indicado pelo presidente Lula, o Fernando Haddad está indo muito bem. Temos muito boas esperanças que ele passará para o segundo turno. Muito boas esperanças que ele vá ganhar a eleição.

Mas essa marca negativa que está sendo criada, vai levar tempo para a gente conseguir desfazer. E eu sei disso porque como diplomata eu vi como foi difícil reconquistar a confiança em Moçambique, porque o Brasil tinha apoiado o colonialismo português.

Então, essas marcas infelizmente ficam e vai durar muito tempo para a gente conseguir mudá-las. Mas, enfim, nós temos aqui a esperança, quase certeza de que vamos ganhar as eleições. Desde que não ocorra nada de anormal. Desde que fatos não sejam aproveitados para desestabilizar ou deslegitimar as eleições. E daqui para frente vamos, então, poder reconstruir uma convivência com o mundo que esteja a altura dos valores brasileiros.

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Fonte: https://nocaute.blog.br/2018/09/21/vamos-ganhar-as-eleicoes-e-reconstruir-uma-convivencia-com-o-mundo-que-esteja-a-altura-dos-valores-brasileiros/

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