Claro que o leitor lembra de toda a fuzarca causada pela construção das chiques calçadas de granito da Avenida Bispo Don José  na zona mais nobre da cidade de Curitiba.

Diferente de todas as outras ruas da cidade, onde o calçamento é de responsabilidade exclusiva do morador que deve bancar a construção e manutenção, segundo regras específicas e com o dinheiro do próprio bolso.

No bairro Batel a coisa foi bem diferente. A chique calçada de granito foi feita com dinheiro exclusivamente público. Pouco menos de um quilometro de calçada que custou uma fortuna ao cofres do município. Coisa muito bonita, muito chique. Ainda mais depois da instalação da iluminação, canteiros e bancos de madeira. Muito luxo, um luxo raramente visto até mesmo nas cidades mais ricas do mundo e todo esse luxo feito com dinheiro público. Dinheiro da arrecadação de impostos.

Eu não sei o que os ex-prefeitos Ducci e Richa, hoje governador do estado, tinham na cabeça quando resolveram tocar em frente este projeto. A justificativa apresentada, de que a região é um ponto turístico da cidade, não cola mesmo. Em todos os outros pontos turísticos ainda é o morador o responsável pelo calçamento, por que na Av. Bispo Don José a coisa foi diferente?

Bom, eu já tive tristes experiências com moradores daquela região, alguns poucos se acham mais importantes que os demais curitibanos, acreditam que por morar numa região mais nobre da cidade têm um nível diferenciado de cidadania, são muito mais importantes e muito mais influentes nas tomadas de decisões do município todo. (Lembra das obras de contorno do bi-articulado na Praça do Japão? Por pouco não virou mais um processo judicial nas costas desse escrevedor.)

Se uma calçada em via pública foi construída com dinheiro público ou privado não importa, uma calçada em via pública é uma VIA PÚBLICA e todo cidadão tem direito de trafegar em uma via pública. Não é?

Mas veja só que coisa.

Um grupo de skatistas curitibanos, ao descobrirem a qualidade daquela calçada resolveram registrar suas manobras em vídeo tendo como palco as chiques calçadas da Av. Bispo Don José. O local é perfeito para manobras e o cenário ajuda muito na qualidade do material produzido. O pessoal nem bem começou a gravar suas manobras e já receberam um “chega-pra-lá” de um guarda municipal da cidade. Não demorou muito e já eram três guardas municipais mobilizados para a remoção dos skatistas do local.

Tudo isso registrado no vídeo logo abaixo e pior, no final do vídeo uma pessoa extremamente incomodada com a presença do grupo na calçada, pede para que eles se retirem do local!

Ora! Mas a calçada é publica e ninguém deve ser coagido a se retirar de um lugar público a não ser que esteja fazendo algo de errado, o que não era o caso do grupo ali presente.

Para ver como são as coisas. Em pleno século XXI, com tanta informação disponível, Curitiba dá um exemplo vergonhoso. As calçadas chiques do Batel não são feitas para exercer o direito de ir e vir. Servem somente para embelezar uma das ruas da cidade e para deixar bem claro que ali só podem circular pessoas diferenciadas, moradores do local ou consumidores dos comércios beneficiados pela bela calçada. O restante dos curitibanos devem ficar longe, devem limitar-se às periferias, lugar de onde nunca deveriam ter saído.

É a segregação social do novo milênio!

Polaco Doido