Pela primeira vez na história, o registro de uma postulação foi acompanhado assim, por milhares de brasileiros. A organização chegou a computar 50 mil pessoas no ato. Nas próximas semanas, a corte deverá se posicionar sobre a situação eleitoral do petista.
Participaram da mobilização representantes de diversos partidos políticos e movimentos sociais, além de artistas, juristas e personalidades celebradas internacionalmente, caso do prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel.
Durante todo o dia, a tônica da manifestação foi a defesa da legitimidade da candidatura Lula e do direito de o destino do país ser decidido pelo voto popular e não por poucos magistrados.
Os discursos denunciaram a perseguição sofrida por Lula, vítima de um julgamento questionado dentro e fora do país, por causa do projeto progressista que ele encarna, em contraposição à agenda antitrabalhador e entreguista do golpe.
Sob aplausos e gritos em defesa de Lula Livre, pouco antes das 18h, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, subiu ao palanque armado em frente ao tribunal, mostrando o documento de registro da candidatura do petista.
“Lula está registrado, é candidato a presidente do Brasil. Queria dizer não só a vocês que estão aqui resistindo ao nosso lado, mas também a Lula: Lula, valeu a sua força, a sua garra, a sua crença no povo brasileiro. Você é o nosso candidato”, discursou.
Manuela: Somos a voz e as pernas de Lula
Indicada pelo próprio Lula como sua vice-presidente, assim que a sua situação eleitoral estiver definida, a deputada estadual Manuela D’Ávila conclamou a multidão a começar a campanha.
“Amanhã é dia de botar o bloco na rua, de cada um ser Lula, Haddad e Manuela. De vocês serem o Brasil feliz de novo. Amanhã é o dia de mostrar como vamos vencer a eleição. E vamos vencer conversando com o povo brasileiro, com as mulheres e homens que sabem que Lula foi o melhor presidente do Brasil e que ele pode devolver o Brasil aos brasileiros. Somos a voz, as pernas, os braços de Lula. Cada um de vocês é uma voz defendendo que o povo pode ser feliz de novo”, convocou.
A ex-presidente da República Dilma Rousseff classificou esse dia 15 como um dia de vitória. “Hoje nós ganhamos. Com nossa força e convicção, com a certeza de que Lula é inocente, chegamos aqui. A presidenta do PT tem aqui o papel que prova que nós registramos Lula candidato”, disse.
Segundo ela, a candidatura de Lula vem para se contrapor aos retrocessos pós-golpe. “Aqui estamos nós, inteiros, de pé, depois de um golpe em 2016. Eles achavam que iam nos destruir, que nós não iríamos resistir. Mas nós estamos de pé, como o povo brasileiro, que é corajoso e enfrenta as adversidades. Enfrentamos os golpistas porque queremos acabar com os retrocessos dos direitos sociais. Lula livre e candidato representa a vitória da democracia no nosso país”, avaliou.
Dilma destacou que aqueles que deram o golpe contra ela não respeitaram o resultado das urnas e promoveram o impeachment sem crime de responsabilidade. “Mas eles estão derrotados porque não tem nenhum candidato dos golpistas que possa enfrentar Lula. A única coisa que eles conseguiram foi impor ao nosso país esse momento de retrocesso, de perda de direitos sociais, aumento da mortalidade infantil, do desemprego, vendendo nosso patrimônio. Mas o povo sabe quem são eles. E nenhum hoje tem voto para disputar conosco”, desafiou.
Sem citar o nome de Jair Bolsonaro, ela disse que os golpistas “criaram” uma candidatura de extrema-direita, que é favor da tortura e contra os direitos das mulheres.
Segundo Dilma, o registro da candidatura de Lula abre um caminho de luta. Ela destacou ainda a importância de eleger governadores e parlamentares “que não irão permitir que o Congresso passe nenhuma antirreforma trabalhista”.
Haddad: Não vamos arredar o pé da rua
Registrado como vice de Lula até que a Justiça se pronuncie sobre a homologação da candidatura, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad declarou que estava com a importante tarefa de ler uma carta enviada por Lula.
“Não gostaria de estar aqui fazendo isso. Gostaria de estar aqui com o Lula, que a gente estivesse juntos protocolando a chapa que vai vencer em 2018. Sabemos o que está acontecendo, da armação contra Lula. Que esse processo é espúrio, em que não foi comprovado nenhum crime, nem apresentada nenhuma prova contra Lula”, criticou.
De acordo com ele, depois que afastaram Dilma sem crime de responsabilidade, as forças que deram o golpe precisavam resolver as eleições de 2018 tirando Lula do páreo, já que não tinham candidato competitivo para enfrentá-lo.
“Eles não têm nome competitivo, não conseguem apresentar nenhum plano de governo, a não ser esse já rejeitado pelo povo. Hoje, chegamos unidos, com PCdoB, Pros e PCO em torno da liderança de Lula. E não vamos arredar o pé das ruas até reconduzir Lula ao Planalto”, colocou, para em seguida ler a mensagem do líder petista.
Carta de Lula: “Sou vítima de caçada judicial”
Na carta, Lula reitera que tem o direito de concorrer às eleições e que é vítima de uma perseguição política. “Há um ano, um mês e três dias, Sérgio Moro usou do seu cargo de juiz para cometer um ato político: ele me condenou pela prática de ‘atos indeterminados’ para tentar me tirar da eleição. (…) Sou vítima de uma caçada judicial que já está registrada na história”, escreveu Lula.
Segundo ele, se a Constituição Federal e as leis tiverem algum valor, sua absolvição virá pelas Cortes Superiores. “Não estou pedindo nenhum favor. Quero apenas que os direitos que vêm sendo reconhecidos pelos tribunais em favor de centenas de outros candidatos há anos também sejam reconhecidos para mim. Não posso admitir casuísmo e o juízo de exceção”, ressaltou.
O petista escreveu ainda que, com seu nome aprovado na convenção do partido, a Lei Eleitoral garante que ele só não será candidato “se morrer, renunciar ou for arrancado pelo Justiça Eleitoral”. “Não pretendo morrer, não cogito renunciar e vou brigar pelo meu registro até o final”, reforçou. Leia a íntegra aqui.
Apoio popular
Entre os que participaram do ato, o teólogo Leonardo Boff, que esteve com Lula em Curitiba, disse, em frente ao TRE, que o ex-presidente “é candidatíssimo” para devolver dignidade ao povo. Segundo ele, em um terceiro mandato, Lula pretende radicalizar nas reformas sociais. “Aquilo que deve ser tem força. E o que deve ser é Lula Livre”, declarou.
Integrante da Central de Movimentos Populares, Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, informou que, junto com outros seis militantes, faz greve de fome por justiça no STF. Além de denunciar a situação brasileira, marcada pela volta do desemprego e da fome, a iniciativa pede também que o Supremo reverta a decisão que abriu possibilidade de prisão após condenação em segunda instância e com base na qual Lula foi preso.
Segundo Gegê, que defendeu a candidatura do petista, ele vai “até as últimas consequências”, para que “nenhuma criança amanheça o dia no país sem ter um copo de leite para beber”.
Representando todos os governadores presentes no evento, Wellington Dias, do Piauí, foi o primeiro a comunicar à multidão que Lula estava registrado como candidato. Ele pediu que o povo faça campanha para o petista de norte a sul do país. “Queremos Lula porque queremos esse país feliz de novo”, disse.
Antônio Carlos, do Comitê Central do PCO, defendeu que a candidatura de Lula foi a única capaz de unir a esquerda que lutou contra o golpe e de unir trabalhadores da cidade e do campo. “Começa aqui uma jornada. No dia que o TSE for se reunir para votar o registro de Lula, temos que voltar aqui”, convocou.
O ato terminou com a leitura de uma carta enviada a Lula, na qual Dayane, uma advogada filha de trabalhadores rurais, formada graças ao Prouni, agradece ao ex-presidente a oportunidade que recebeu em seu governo. “Graças ao senhor hoje posso dar dignidade à minha família (…) Hoje não sou apenas eleitora, mas militante. (…) Entendo de processo e não aceito sua condenação. Presidente, o Brasil não se calou. Estamos em vigília e vamos vencer”, escreveu.
A manifestação se encerrou com o já tradicional “boa noite” para Lula e aos gritos de “Brasil urgente, Lula presidente”.
Do Portal Vermelho