Ana Prestes, neta do Cavaleiro da Esperança, disputa pela primeira vez uma vaga na Câmara dos Deputados. Socióloga e doutora em Ciência Política, iniciou sua trajetória no movimento estudantil. “Período de muita efervescência política, com uma onda de neoliberalismo e desmonte do nosso país”, lembra.
Por Roberta Quintino, especial para o Portal Vermelho
De acordo com Ana, que estará nas urnas pelo Distrito Federal, a sua candidatura nasce a partir de uma plataforma democrática e popular, que tem como premissa a luta pela retomada dos direitos que foram perdidos após “o rompimento do governo da presidente Dilma, que teve 54 milhões de votos, de forma fraudulenta, arrancados da população”.
Feminista e mãe de Helena e Gabriela, Ana é escritora e autora do livro infanto-juvenil “Mirela e o Dia Internacional da Mulher”. Ela luta pela ampliação da bancada de mulheres no Congresso Nacional, que hoje representa cerca de 10% do conjunto de parlamentares.
Nas propostas da candidata, estão o cumprimento do Plano Nacional de Educação, a anulação da Emenda 95 que congelou os investimentos da saúde e educação por 20 anos, retomada das políticas de geração de emprego e renda como forma de combater as desigualdades sociais. Lutar pelo desenvolvimento integrado do DF e do Brasil com inclusão de verdade, educação, saúde, cultura, e participação democrática.
Filiada ao PCdoB há 20 anos, Ana nasceu em Moscou em 1977, período em que seus avós, Luiz Carlos Prestes e Maria Prestes, militantes históricos do país, estavam exilados na ainda União Soviética. No Brasil, foram perseguidos na época da ditadura militar instalada em 1964.
Como foi o início da sua militância?
A política nunca foi algo estranho pra mim, sou de uma família que vivia e falava muito sobre política, principalmente, na casa do meu avô. Perseguida politicamente na época da ditadura militar, minha família foi para Rússia, então União Soviética, e só mais tarde com a redemocratização é que começamos a voltar para o Brasil, e foi no movimento estudantil que comecei a militância, era um período de muita efervescência política, com uma onda de neoliberalismo e desmonte do nosso país que crescia na década de 1990. Foi nesse contexto de defesa da universidade pública, do ensino médio e da melhora da qualidade do ensino técnico que conheci a União da Juventude Socialista. Depois atuei ainda na base da União Nacional dos Estudantes e da Associação Nacional de Pós-graduandos. Logo me filiei também no PCdoB, onde estou há 20 anos.
Mesmo com uma trajetória sólida na militância, essa é a sua primeira disputa para um cargo político. Como é se colocar à disposição para participar de um processo eleitoral?
Ao longo desses 20 anos de militância, atuar em campanhas eleitorais sempre foi um processo muito natural. Participei de uma série de campanhas, nas ruas, com panfletagens nas portas de fábricas, das escolas, em eventos culturais. Mas há uma diferença quando você coloca o seu nome disponível para o Partido e representa um conjunto de ideias elaboradas em coletivo, de forma crítica, para o bem comum de uma sociedade, principalmente em um país onde a política se dá de maneira personalista, e o que propomos é romper com essa lógica.
O país atravessa um período de fragilidade política e de sérios retrocessos nos direitos sociais e trabalhistas da população brasileira. Por que disputar uma vaga para a Câmara Federal nesse ambiente de imprevisibilidade?
Desde os protestos de junho de 2013 estamos vivemos um ambiente social e político de instabilidade. E foi nesse cenário que forças reacionárias da direita e, até mesmo fascistas, encontraram no meio da efervescência do momento uma forma de ressurgir. Ainda estávamos vivendo a reconstrução da nossa democracia, com inclusão social, ampliação do acesso aos direitos, fortalecimento do SUS e ampliação das Universidades. E vimos, em 2016, a consolidação de um golpe, com o rompimento do governo da presidenta Dilma, que teve 54 milhões de votos, de forma fraudulenta, arrancados da população. Nesse último período, vimos ainda o desmonte total das políticas públicas, com a aprovação da reforma trabalhista, da terceirização, o não cumprimento do Plano Nacional de Educação e outros retrocessos. Então, a nossa candidatura vem no sentido de fazer a defesa dos direitos, de recobrar os direitos que foram perdidos e colocar um freio nesse desmonte.
As eleições deste ano abrem uma oportunidade para a renovação da política brasileira?
Sim, nós vimos muito claramente com o processo do golpe quão arcaico está o nosso Congresso Nacional. É um Congresso em que há uma sub-representação de mulheres, de jovens, negros, homossexuais, indígenas e todas as camadas mais vulneráveis da nossa sociedade. Nós podemos dizer que a nossa democracia não está plenamente representada no parlamento e é nesse espaço que todas as vozes que fazem parte da sociedade devem estar vocalizadas. As mulheres são mais de 50% da população e nós temos cerca de 10% de representação no Congresso brasileiro, é assim com outros segmentos da nossa sociedade. Diante desse cenário, é urgente a participação, a disputa e renovação no campo político. Precisamos de pessoas mais jovens, renovar também nesse sentido e atuar de forma coletiva. Sintetizando os pensamentos dos diversos setores e pautar propostas concretas para os movimentos de moradia, dos pequenos agricultores, de mulheres, estudantes, indígenas.
Apresento minha candidatura à Câmara dos Deputados, a partir de uma plataforma democrática e popular e começa com o diferencial de que é uma campanha de uma pessoa que nunca ocupou um cargo político eletivo, mas que traz uma experiência nas lutas sociais. Considerando a representação feminina no parlamento, é a candidatura de uma mulher que vem de uma família de tradição política na esquerda brasileira há quase 100 anos, que ajudou a organizar politicamente o país. Além disso, vemos como algo novo a forte atuação na solidariedade internacional, uma das vias da minha militância.
Quais são as propostas da sua candidatura?
Muitas das nossas propostas são de resistência para barrar os retrocessos que estão colocados para os trabalhadores, à juventude, mulheres e retomar a nossa democracia. Além de implementar o Sistema Nacional de Educação e exigir o cumprimento do Plano Nacional de Educação, anular a Emenda 95, que congelou os investimentos da saúde e educação por 20 anos, retomar as políticas de geração de emprego e renda como forma de combater as desigualdades sociais. Revogar a reforma trabalhista. Aprovar o Plano Nacional de Cultura e reformular a Lei Rouanet. Lutar pelo desenvolvimento integrado do DF e do Brasil com inclusão de verdade, em educação, saúde, cultura e participação democrática.
Você traz muito forte a questão do feminismo, da luta e direitos da mulher. Como as suas filhas veem sua participação na política e agora com a candidatura a deputada federal?
Eu tenho duas filhas, a Helena e a Gabriela, e desde que elas estavam na barriga me acompanham na militância. Com sete meses de gravidez da Gabriela, participei de um congresso na África do Sul, fiz a marcha do Fórum Social Mundial. Acompanham-me sempre e é dessa forma que elas entendem que mulher, que criança tem que ter voz, tem que participar. Nós escrevemos o livro infanto-juvenil Mirela e o Dia Internacional da Mulher, que traz uma temática feminista. E eu percebo que nesse sentido elas veem na militância política algo mais leve, e a minha candidatura para as meninas é algo entusiasmante. Elas são minhas parceiras de jornada.