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Liberdade, controle, e interesses particulares em um evento curitibano

February 28, 2013 21:00 , par Inconnu - 0Pas de commentaire | No one following this article yet.
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Por Márcio Carlomagno 

(Resumo: Evento que representa(va) a liberdade associativa da internet, o “Réveillon fora de época”, é capturado e, sob a égide de interesses particulares, torna-se vertical e hierárquico, adotando práticas de mídias tradicionais, que simbolizam o atraso de décadas passadas. Divisão é entre a liberdade para se manter a tradição ou a obediência às ordens e ao controle imposto pela mudança de local.)

Réveillon Fora de Época – Praça da Espanha – 2011

Há 2 anos atrás, em 2011, surgiu em Curitiba um movimento espontâneo. Inspirados pelo célebre ditado que diz que “No Brasil o ano só começa depois do carnaval” um grupo resolveu celebrar o ano novo em março, após o carnaval. De boca em boca, amigo em amigo, e sobretudo através das redes sociais (destacadamente o Facebook), a ideia se espalhou e surgiu o “Réveillon fora de época”. Sem organização alguma, nem responsáveis, as pessoas se encontraram na Praça da Espanha para celebrar. O evento foi um sucesso muito além do esperado.

A Praça da Espanha está localizada no bairro do Batel que, para quem é de fora da capital paranaense, abriga a alta burguesia da cidade. A região gosta de se intitular “Batel Soho”, em alusão à região nobre existente em Nova York, para evidenciar seu suposto “requinte”. Um análogo paranaense da paulistana Higienópolis.

Em 2012 a festa se repetiu, um pouco mais organizada, e sob fortes protestos dos burgueses moradores da região e comércio lá existente, que se colocaram contra. Assim como os moradores de Higienópolis, bairro nobre de São Paulo, não gostam de povo e por isso impediram que o metrô passasse pela região, os moradores do Batel também não gostam de povo (nota: estamos falando em termos gerais. Evidentemente, não dá pra generalizar).

A reclamação foi contra o barulho, noite adentro (que provavelmente atrapalha o sono de seus cães de raça) e a imensidão de lixo encontrada na manhã seguinte.
As pessoas que protestam contra o lixo na Praça da Espanha são as mesmas que, no verdadeiro réveillon de janeiro, vão para as praias de Caiobá e Guaratuba e lá agem como porcos em um chiqueiro, como se aquela fosse terra de ninguém. Essas mesmas pessoas, ainda que endinheiradas, agem como se este fenômeno mágico a ser combatido, o lixo do dia seguinte, fosse apenas brasileiro ou curitibano. Já estive em festas igualmente grandes na França e garanto que, na manhã do dia seguinte, as ruas estão igualmente emporcalhadas. Mas a mentalidade é “na praia, tudo bem”, mas em seus quintais, não.

Essas pessoas também agem como se detivessem algum direito sobre o espaço público unicamente por morarem perto ou ao seu redor. A Praça é pública, ou seja, de todos cidadãos curitibanos (inclusive das putas e dos maloqueiros da periferia) mas aqueles “moradores” se arvoram um direito que, em facto, não possuem. Para eles, a praça não é “nossa”, como dizia o bordão de um velho programa de humor, mas única e exclusivamente da elite que a cerca.
O mesmo que dá com a Praça do Japão, alvo de polêmicas que envolvem o projeto do novo trajeto dos ônibus biarticulados: assim como a elite de Higienópolis, não querem transporte público por perto, pois este carrega a mau cheiro do povo.

E assim como cedeu na questão da Praça do Japão, o prefeito, o ex-tucano (ex?) Gustavo Fruet, parece ter cedido na questão da Praça da Espanha e seu Réveillon. Sua prefeitura apropria-se de um evento antes livre, espontâneo da sociedade, entrando como apoiadora do projeto, mas determinando o local.

O local é a grande questão aqui, mas antes precisamos contextualizar o cenário político de 2012.

Em 2012 foi aprovada em Curitiba uma lei municipal, descaradamente inconstitucional. A lei descaradamente inconstitucional fere a liberdade de reunião (Inciso XVI do artigo 5º da Constituição) e exige que eventos com mais de 2 mil participantes tenham organizadores responsáveis oficiais e alvará. A lei, descaradamente inconstitucional, poderia ser chamada de “Lei réveillon fora de época” ou “Lei batel”, pois foi feita com intuito claro de inibir tal evento. Esta lei é a desculpa legal para a prefeitura entrar como promotora do evento, colocá-lo em seu calendário oficial e alterar seu local. E o local foi alterado, para o Largo da Ordem.

Então surge a desculpa oficial deste ano: “ah, mas a região da Praça da Espanha está em obras; por isso não poderá ser lá”. Que bela coincidência, não é? Após toda essa controvérsia, a comodidade de se ter uma desculpa plausível (obras) para a não realização do evento lá. Bom, para um grupo que conseguiu fazer aprovar uma lei para atender seus interesses, criar uma pequena obra que atrapalhe e mude o trânsito temporariamente é fichinha. Outsiders que não conhecem a política poderão achar talvez um exagero, mas, e nunca me esqueço das magníficas aulas com o professor Ivan Jairo Junkes, a técnica está a serviço da política e é uma mera desculpa para decisões que são, sim, políticas.

Voltamos, ou melhor, chegamos, ao cerne da questão que é a organização do evento e seus organizadores.
Nascido como movimento espontâneo, organizado de modo horizontal através da internet, o Réveillon Fora de Época foi instrumentalizado transformando-se em hierárquico e vertical. Segue, deste modo, um caminho inverso ao percorrido no mundo moderno. Gerado sob as flores de liberdade do século XXI, o movimento é capturado pelos interesses particularistas e retorna à verticalidade do século XIX.
Se a primeira edição foi o sucesso que foi justamente por sua horizontalidade, por sua proposta “da gente”, agora aqueles que se arvoram no direito de se proclamarem organizadores clamam por apoio do Estado, por divulgação da Globo, da Gazeta do Povo… Novamente, e não é demais reforçar, o movimento nascido nas mídias do século XXI agora parece precisar das mídias do século XIX. O movimento poderá tornar-se exemplo negativo, do fracasso exemplar que pode ser a internet ante o poder econômico que impõe suas vontades.

Então surge a reação das pessoas contra tal decisão absurda. No grupo organizador do facebook, muitos se manifestam contrários. Então, é preciso calá-los. Afinal, como entendeu a alemã Elizabeth Noelle-Neumann, “a formação da opinião pública depende de quem fala e quem fica quieto”. Aqui, identificamos algumas estratégias distintas.
A mais descarada é uma insinuação velada (e juridicamente falsa), proferida por eminência parda, de que quem apregoasse a ida para a Praça da Espanha poderia ser processado ou culpabilizado caso algo ocorresse por lá. Trata-se de uma estratégia de calar o oponente, mediante uma tática dos “doutores” do século XIX. Uma parte calou-se. Outra permanece.

Também é preciso, na lógica dos novos e hierárquicos organizadores, garantir o “sucesso” do novo lugar. Nisso, surge um importante fator. As outras edições ocorreram sempre aos sábados. Esta será numa sexta-feira. Sabe por quê? Eu te conto. É a “estratégia Freixo”. Eu nomeio essa estratégia assim em virtude de Marcelo Freixo, candidato do PSOL à prefeitura do Rio em 2012, que marcou um comício na Lapa (tradicional região boêmia carioca), no inicio da noite de uma sexta-feira. O local a cada fim de semana recebe milhares de visitantes em seus bares e danceterias. Contudo, os boêmios foram contados (e exibidos no horário político e citados nos discursos) como milhares de participantes do comício do candidato – quando não o eram, na realidade.
Pois bem. O leitor atento já entendeu. Sexta-feira na região do Largo da Ordem, para onde o evento foi transferido, já é naturalmente cheia, muito movimentada. Mas não duvide nem por um instante que os “habitués” serão contados como participantes do evento.
No próximo ano, quando não haverá desculpa das obras, já prevejo, o discurso será “ano passado foi um sucesso no Largo então manteremos lá”. E a elite do Batel (que não são somente moradores mas sobretudo seus interesses comerciais organizados e com muito dinheiro para o lobby) finalmente terá vencido, esmagando a liberdade individual de todos, com o uso daqueles organizadores que não foram capazes de ver além.

Nesta noite poderemos testemunhar quem vencerá o capítulo desta batalha. Minha esperança é que a liberdade associativa promovida pela internet prevaleça, mas a realidade talvez indique que os indivíduos continuam a ser o gado guiado pelos senhores. A conferir.


Source : http://www.skora.com.br/?p=4379

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