Eu aqui, polaco, doido, metido a escrevedor e ateu assumido, não tenho absolutamente nada contra a realização de Marchas para Jesus pelo Brasil afora. É uma manifestação religiosa e popular que agrega um número considerável de pessoas fazendo o que gostam, louvando seu salvador e sem incomodar ninguém. Talvez, um ou outro que se sinta incomodado pela aglomeração e o barulho dos trios-elétricos que animam a festa em honra ao filho do criador.
As Marchas para Jesus são uma manifestação mundial e ocorreu pela primeira vez na cidade de Londres em 1987, liderada pelo pastor Roger Forster, da Ichthus Christian Fellowship.
No Brasil a primeira Marcha para Jesus ocorreu no ano de 1993, graças a iniciativa de lideranças evangélicas, principalmente da Igreja Renascer em Cristo. Aquela mesma dos bispos Sônia e Estevam Hernandes, acusados de estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Em 2006, uma ordem de prisão foi decretada ao casal e após os mesmos conseguirem um habeas-corpus cassando o mandato de prisão, o casal resolveu se refugiar nas terras do tio Sam. Ao desembarcar nos estates o casal foi preso pelo FBI (polícia federal do gringos) pois carregavam 56 mil dólares em espécie, mas haviam declarado apenas 10 mil “doletas” para a alfândega.
Em setembro de 2009, o ex-presidente Lula, transformou em lei a data para realização da marcha, que desde então passou a ser realizada no sábado seguinte ao 60º dia após o domingo de páscoa.
A Marcha para Jesus, apesar de travestida de evento religioso, é nada mais que um evento puramente político. Acredito que o leitor ainda lembre que em 2011 o pastor evangélico multimídia, Silas Malafaia, aproveitou-se dos 1.200.000 presentes na marcha, para fazer um discurso cheio de palavreados vulgares contra o STF, a aprovação da união estável entre pessoas do mesmo sexo e a liberação das Marchas da maconha e ainda, aconselhou a todos os participantes que não votassem nos parlamentares defensores da PL 122.
Em Curitiba:
Na cidade de muito pinhão, a data para realização da Marcha para Jesus foi institucionalizada pelo ex-prefeito Beto Richa, em março de 2005. Para a marcha de 2013 a vereadora Noêmia Rocha (PMDB), conseguiu uma emenda orçamentária que destina R$ 40 mil para realização da Marcha através de recursos da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). No ano de 2012 a mesma vereadora, via emendas orçamentárias, angariou R$ 48 mil para a realização do evento. Segundo ela, para transporte, hospedagem e manutenção das atividades culturais que participarão da Marcha Para Jesus Curitiba 2013.
Conseguiu ligar os pontos?
Saca só:
A tal Marcha para Jesus é um evento político (um comício) travestido de evento religioso e patrocinado com verba cultural, via emenda orçamentária do município. Que maravilha!
Olha o que diz a constituição federal de 1988:
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
Subvenção = Subsídio ou auxílio pecuniário, em geral conferido pelos poderes públicos; incentivo (Houaiss)
A Marcha para Jesus não é um evento de todos os crentes fiéis a Jesus. É um evento realizado exclusivamente por lideranças neopentecostais. Logo, a emenda orçamentária com verba da FCC para realização do evento é, no mínimo, inconstitucional. Fosse um evento ecumênico que congregasse diferentes credos e ideologias, tudo bem, mas não é.
Já prevendo essa falha grotesca de nossos vereadores no patrocínio municipal do evento religioso, o vereador Professor Galdino (PSDB) em fevereiro de 2013, propôs uma alteração no texto da lei Municipal nº 11.361 de 31 de março de 2005, lei que instituiu a Marcha para Jesus na cidade de Curitiba.
A proposta de Galdino pretendia alterar o artigo 1º-A da lei com a seguinte redação:
Art.1º-A O evento será ecumênico, aberto a todos os cidadãos ou instituições que queiram homenagear Jesus cristo, sem exclusivismos de ordem religiosa.
A proposta foi retirada e a marcha permanece sendo um evento exclusivamente neopentecostal com seu patrocínio público escancaradamente incosntitucional!
Ora, se qualquer um de nós, meros mortais, quisermos verbas municipais para realização de um evento qualquer, seja a Marcha das Vadias, Marcha da Maconha, Homenagem aos polacos doidos ou que quer que seja. Devemos esperar um edital da FCC, preparar toda a documentação e torcer para que no meio de outros incontáveis projetos, o nosso seja aprovado.
Mas como a vereadora Noêmia Rocha é uma liderança da Igreja Assembléia de Deus, uma igreja neopentecostal, ela pode livremente sugerir emendas orçamentárias diretas e sem concorrência para realização de seu evento. Bonitinho isso, não é?
Mas isso que a vereadora está fazendo é paternalismo assistencialista e essa atitude é proibida por lei, além também de estar legislando em causa própria, ou em favor de sua igreja.
O município não pode doar verbas para pessoas físicas, partidos, políticos ou igrejas. Patrocinar a Marcha para Jesus com verbas da fundação cultural é nada mais nada menos, que dar um jeitinho de burlar a lei. Simples assim!
E nós curitibanos em maio, vamos recebermais um comício de políticos evangélicos neopentecostais, patrocinados com verbas da cultura municipal e tudo isso fantasiado pelo engodo, de que se trata de uma celebração a Jesus.
Que bonito!!!!
Polaco Doido
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