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Polaco Doido

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Os malabarismos de Traiano

4 de Julho de 2013, 14:10 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Sei lá por que cargas d’água, volta e meia recebo mensagens do deputado Ademar Traiano, líder do PSDB na ALEP, em minha caixa de emails.

Mas desta vez o deputado tucano se superou. Em seu texto, Espertezas a beira do abismo, o deputado tenta me convencer de que, durante os protestos de junho no Brasil, os manifestantes estavam descontentes apenas com o governo federal, que a proposta de reforma Política é uma tentativa malévola de ludibriar o eleitor e que, principalmente, a proposta de financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais é nada mais que um golpe da cúpula do Partido dos Trabalhadores na tentativa de se manter no poder indefinidamente.

Respeito o deputado Traiano pelo cargo que ocupa e não vou responder esta ofensa a meu intelecto com tanto desatino quanto os apresentados pelo nobre deputado. Tentarei focar apenas em fatos.

Caro deputado, o povo não tomou as ruas apenas por descontentamentos com o governo federal e sim, por um descontentamento geral contra todas as esferas de governo e toda a classe política.

Não por coincidência, todas as manifestações que participei inevitavelmente terminaram na Praça Nossa Senhora de Salete, onde se localiza a sede do executivo estadual, comandado por seu partido o PSDB e a sede do Legislativo Estadual, onde o presidente também é do PSDB e a maioria dos deputados é assumidamente alinhada ao governo do estado.

E não deputado, o pessoal não tomou as ruas para pedir o voto em lista fechada ou o financiamento público de campanhas. O povo estava lá cobrando um transporte público de qualidade a um preço justo, mais atenção de nossos políticos eleitos com os problemas nas áreas de saúde educação e segurança e principalmente o fim desta corrupção que tomou de assalto todas as esferas dos poderes executivos, legislativos e judiciários do Brasil.

E qual foi a resposta da cúpula do governo do estado a estas manifestações?

Nenhuma!

E pior, o governador Beto Richa, em meio a onda de protestos, ainda teve a petulância de nomear um de seus colaboradores para um cargo de secretário de estado, apenas para garantir foro privilegiado e evitar que este colaborador fosse parar na cadeia pelos desvios de dinheiro público que ficaram conhecidos como “o caso da sogra fantasma.”

Aqui: http://g1.globo.com/pr/parana/paranatv-2edicao/videos/t/edicoes/v/beto-richa-diz-que-nao-ve-problema-em-nomear-secretario-investigado-por-desvio-de-dinheiro/2659787/

O nobre deputado e seus pares não levantaram uma palha ou escreveram uma vírgula contrária a esta afronta a todos os paranaenses, muito menos lançaram mão de qualquer medida para conter, acalmar ou atender os anseios dos milhares de manifestantes em Curitiba e no estado do Paraná.

Em contrapartida, o executivo federal, pelo menos se pronunciou a respeito e rapidamente propôs medidas que a curto, médio e longo prazo, atenderão as reivindicações da grande maioria dos manifestantes, ou pelo menos, daqueles com alguma consciência política dentro destas manifestações em questão.

A reforma política e o financiamento público de campanhas eleitorais que o nobre deputado tanto ataca em seu texto, são medidas que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo, são medidas que inevitavelmente irão garantir mais recursos e atenção da classe política para os problemas na saúde, educação e segurança. Medidas que principalmente contribuem para a extinção de um dos maiores facilitadores da corrupção de nossa classe política, que é o financiamento privado de campanhas.

Eu aqui, até entendo o descontentamento do deputado tucano com esta possibilidade. Imagino como seria complicado para o deputado, tentar uma reeleição tendo que ratear entre todos os outros candidatos os R$ 100.000,00 da Cervejaria Petrópolis, os R$ 33.000,00 da Companhia Sulamericana de distribuição, ou mesmo, os R$ 3.000,00 da Cotrans. Angariados durante a campanha eleitoral de 2010. (fonte: prestação de contas eleições 2010 – portal do TSE)

Ainda os recursos recebidos por seu partido, o PSDB, que são muito difíceis de se localizar as fontes com as atuais ferramentas disponíveis na rede.

Mas amparado somente em minha completa ignorância, ouso conjecturar que, se em 2010 a campana eleitoral já tivesse um financiamento exclusivamente público com um teto máximo de gastos estabelecido, as praças de pedágio no Paraná não teriam tarifas tão exorbitantes e fora da realidade que tem hoje, o governo do estado não necessitaria destes milionários contratos com locações de aeronaves, os novos veículos da polícia militar não apresentariam tantos problemas em tão pouco tempo de uso e o governador facilmente cumpriria sua promessa de contratar os 10 mil novos policiais, os professores do estado estariam recebendo melhores salários e com condições melhores de trabalho. E tudo isso sem correr o risco da presepada de estourar os limites da lei de responsabilidade fiscal com a folha de pagamento dos servidores, ou ter que jogar a culpa pela falta de recursos numa suposta perseguição implacável vinda do planalto central e orquestrada por um certo casal de ministros.

Caríssimo Deputado, não é hora de tentar tirar vantagens políticas ou eleitorais das manifestações. A hora é de apresentar alternativas e soluções. O povo na rua já demonstrou claramente que do jeito que está não pode ficar e o senhor ainda teima em fazer política como se fazia no milênio passado?

Cuidado, este tiro tem toda a pinta de acabar acertando seu próprio pé.

 

Polaco Doido

confira a mensagem enviada pelo deputado 

Espertezas a beira do abismo

Ademar Traiano

Alguém ouviu, nos protestos nas ruas de junho, multidões gritando: “Queremos voto em lista fechada para não saber quem vamos eleger!”, ou “queremos pagar do nosso bolso as campanhas dos políticos para dar mais dinheiro ao PT!”? Com certeza ninguém ouviu gritos ou viu cartazes com essas insanidades. Mas são esses brados imaginários que Dilma Rousseff e o PT fingiram escutar e pretendem atender com sua proposta de reforma política.

Só uma tentativa descarada de lograr o eleitor pode explicar a insistência em apresentar, como resposta eficaz aos protestos que abalaram o país, uma reforma política que o PT vem tentando emplacar faz muito tempo. E não emplaca pelo fato que o projeto está na contramão daquilo que o brasileiro quer e é uma afronta àqueles que foram as ruas bradar contra os desmandos, deficiências dos serviços públicos e a volta da inflação.

Para responder a esse brado o PT tirou da cartola uma constituinte ilegal, um plebiscito inviável, e já se contenta com uma reforma política via referendo que, se for concretizada, pode piorar tudo que a população rejeitou nas ruas. Entre eles, o voto em lista fechada, que elimina o poder do eleitor escolher o candidato que quer ver eleito, e uma proposta indecente para o financiamento de campanhas.

O PT quer um sistema de financiamento público para as campanhas eleitorais em que o dinheiro seja dividido de acordo com a composição numérica das bancadas na Câmara dos Deputados. A bancada aliada do governo Dilma ficaria com dois terços desse dinheiro público. O partido que teria maior benefício financeiro seria o próprio PT.

Uma variante desta proposta contém outro tipo de esperteza. Permitem-se as contribuições privadas para os partidos, mas todo o dinheiro iria para um fundo comum e aí seria redistribuído. O critério é o mesmo: verbas segundo o tamanho da bancada na Câmara. O que continua privilegiando o PT.

Se alguém decidir fazer uma doação para algum partido político, porque está farto dos desmandos do PT, veria sua doação ir para o fundo comum e ser distribuído aos partidos de acordo com o tamanho das bancadas. Ou seja, a maior parte do dinheiro doado por esse adversário dos petistas, para combater o PT, iria para o PT. Pior, a pressa frenética do governo em tocar essa reforma – que ninguém pediu nas ruas – tem por objetivo aprovar medidas a tempo para beneficiar a campanha da própria Dilma em 2014.

Só a má fé explica a ideia que a resposta para o cidadão que foi às ruas gritar contra a alta do transporte, o desperdício de dinheiro público nos estádios da Copa, a corrupção e demora em encarcerar mensaleiros, é fazê-lo participar – ao custo de R$ 500 milhões – de um plebiscito sobre coisas como voto distrital puro ou o distrital misto alemão.

As heranças malditas do PT estão na origem do vulcão da indignação popular. Para responder a fúria das ruas, alimentada pela corrupção dos mensaleiros, os escândalos do Enem, o caos aéreo, os estádios bilionários, a volta da inflação, que está destruindo o poder aquisitivo dos brasileiros, se oferece uma reforma política que não tem outro objetivo que fortalecer a hegemonia do PT. É o cúmulo da desfaçatez.

Em apenas 20 dias 27 pontos da popularidade de Dilma Rousseff viraram fumaça. Ela caiu de 57% para 30%, segundo pesquisa do Datafolha. A presidente perdeu o apoio de 2 milhões de eleitores por dia. Uma queda tão vertiginosa como não se via desde 1990, quando Fernando Collor de Melo confiscou a poupança dos brasileiros.

Bastaram 20 dias de convulsão nas ruas para toda a popularidade divinal do governo do Partido dos Trabalhadores se dissolvesse. “Tudo que é sólido se desmancha no ar”, frase de Marx, no Manifesto Comunista, é apropriada para definir a situação do governo do PT. Um partido marxista na inspiração e cleptomaníaco na ação.

Só a arrogância extrema pode explicar que depois do terremoto nas ruas o PT esteja tentando bancar o esperto e jogar para o eleitor uma reforma política malandra que ninguém, exceto ele mesmo quer. O PT deveria ouvir com humildade e tentar entender o recado das ruas. A paciência do brasileiro é grande, mas os protestos de junho mostraram que essa paciência não é infinita.

(Ademar Traiano é deputado estadual pelo PSDB do Paraná e líder do governo na Assembleia)


Fonte: http://www.skora.com.br/?p=4969

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