Tudo começou numa tarde chuvosa de domingo, era 5 de maio, a farofada do granito na avenida Bispo Dom José. O sucesso do protesto bem humorado e inteligente foi tão grande que a rapaziada ali reunida decidiu continuar com a mesma proposta para tantas outras reivindicações. Então, neste mesmo dia foi agendada a 2ª Farofada, a Farofada do Transporte que será realizada na próxima sexta-feira, na praça Rui Barbosa. Na pauta de revindicações: Congelamento da passagem em R$ 2,60; Domingueira a R$ 1,00, melhoria da qualidade do transporte coletivo e a cobrança de novas alternativas para o transporte público de massas.

Desde então, os farofeiros organizados vinham preparando a realização do evento até que, durante uma manifestação similar na cidade de São Paulo, a PM Paulista sob o comando do governador tucano Geraldo Alckmin, resolveu descer o sarrafo nos manifestantes paulistas. Em solidariedade aos companheiros do MPL paulista, os farofeiros curitibanos decidiram realizar uma manifestação de apoio na quarta-feira passada, dia 12 de junho. Depois outra na sexta, dia 14 com cerca de 2.000 participantes e na segunda-feira dia 17, a manifestação parou todo o trânsito do miolo central da cidade contando com cerca de 25 mil manifestantes.

Na sexta-feira dia 14, comecei a sentir algo muito estranho durante a manifestação. Companheiros do PSTU, que há muito tempo estão na mesma luta pelas causas sociais e populares, foram violentamente coagidos a guardar suas bandeiras, seu símbolo de luta. Admito, fiquei sem entender a real motivação deste ato fascista e autoritário e mesmo assim continuei na marcha em apoio aos manifestantes paulistas e pela redução da tarifa do Transporte Público em Curitiba.

Na segunda feira, dia 17, com as ruas tomadas pelos 25mil manifestantes, com muita tristeza tive a certeza de que boa parte daquele povo não estava lá pela redução das tarifas, em solidariedade ao MPL paulista ou em defesa de qualquer causa popular. Não, a urbe parecia estar hipnotizada numa catarse coletiva contra tudo e contra todos. Moças e rapazes de fino trato, pareciam entrar em êxtase sexual a cada repetição do mantra “ei, Dilma vai tomá no c#!” Mascarados, com bandeiras no Brasil enroladas no corpo, bradavam sem nenhum pudor contra as políticas de cotas, os programas de inclusão social e qualquer outro tema social. Principalmente a Copa do Mundo no Brasil. No meio da multidão, tive a impressão de que a Copa do Mundo é um prenúncio do fim dos tempos, afinal país de terceiro mundo, lacaio de impérios capitalistas não deve se dar ao luxo de colher investimentos com eventos internacionais, deve manter-se em seu lugar, escravizando seu povo e a serviço do grande irmão, sem nunca ameaçar a hegemonia econômica e cultural do grande irmão do norte.

O final apoteótico daquele show de horrores não poderia ser pior. Ao se reunir para finalizar a marcha na praça Santos Andrade, alguém teve a “brilhante” idéia de fazer o povo cantar o hino nacional. Ou, antes disso, trechos do hino nacional, pois aquelas crianças, vivendo um momento lúdico de patriotismo acerbado, civilidade, nacionalismo e principalmente a luta contra a realização da copa do mundo no Brasil, só conhecem uma pequena parte do hino nacional, justamente a pequena parte que é legendada durante as transmissões dos jogos da seleção pela rede Globo.

Mas nada está tão ruim que não possa piorar…

… eles podem voltar!

Polaco Doido