Eu, Polaco e muito doido, não concordo com muitas das atitudes do governo Dilma nos últimos anos, mas tenho que admitir que ela deu um golpe de mestre durante a crise das manifestações populares de junho.
Dilma, fazendo jus a seu cargo, encontrou oportunidade na crise e aproveitou-se da força das manifestações populares para pressionar o congresso a finalmente realizar a reforma Política de que o país tanto precisa e melhor ainda, fez isso convocando o povo para escolher os rumos desta reforma por meio de um plebiscito e logo depois, uma constituinte especial sobre o tema.
A tal reforma política, há muito prometida, já se arrasta no senado e no congresso há quase 10 anos e até agora, nossos nobres deputados ainda não chegaram a um consenso sobre os principais tópicos desta reforma.
Evidente que não tenho bolas de cristal para saber o que se passa na cabeça da equipe da presidência sobre como se dará o plebiscito ou qual serão os temas para escolha do povo, mas tenho alguns palpites. Reforma Política é um assunto complexo e é muito provável que o plebiscito limite-se apenas a algumas poucas questões eleitorais e talvez partidárias.
O leitor pode ter certeza de pelo menos duas questões nas maquininhas de votação:
- O sistema eleitoral, em lista aberta (como é feito hoje em dia), em lista fechada, distrital ou então mista;
- O financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais.
Em principio, dá uma apreensão ao ver a escolha destes temas tão importantes nas mãos do Zé Povão, o cara que não perde um capítulo das novelas globais, que acha que nenhum político presta e que seria muito melhor fechar o congresso nacional, mas analisando um pouco mais a fundo, os assuntos não são tão complexos assim e o Zé Povão terá plena capacidade de decidir após uma massiva campanha de rádio e TV.
Independente do resultado do plebiscito, a campanha talvez sirva para trazer de volta a grande massa de brasileiros para o debate político, o exercício de cidadania e da representatividade.
Toda esta falta de discussões sobre o sistema eleitoral e partidário no Brasil provocou um verdadeiro retrocesso na politização do brasileiro médio. Hoje, as discussões políticas resumem-se a um fla-flu de trocas de acusações e escândalos onde leva vantagem o partido, político ou candidato com maior influência nos grandes meios de comunicação ou aqueles com melhores acessos aos ditos “formadores de opinião.”
A despolitização generalizada do brasileiro médio é nada mais que um reflexo do atual sistema eleitoral e partidário. Muito diferente do que era anos 75-85, com a luta pela redemocratização do país, praticamente extingui-se a figura do militante, hoje os militantes resumem-se a poucos gatos pingados normalmente remunerados por cargos em comissão ou em diretórios de partidos bancados com verbas dos fundos partidários.
Esta extinção ou “profissionalização” da militância partidária transformou o processo eleitoral em uma custosa batalha de marketeiros. Não existe mais a discussão de idéias o enfrentamento de propostas. A figura do político, que deveria ser um representante dos anseios do povo, foi substituída pela figura do pop-star, com um rostinho bonito e a capacidade de angariar aportes financeiros de empreiteiras, bancos e empresas de comunicação.
Com isso, os partidos pequenos foram ficando cada vez menores, alguns até transformando-se em verdadeiras empresas familiares cujo objeto de negócio são alguns segundos a mais no horário eleitoral gratuito ou uma sigla de aluguel para servir de trampolim para abastados alpinistas políticos.
Campanhas eleitorais transformaram-se em negócios lucrativos a custos exorbitantes e praticamente sem nenhuma fiscalização. Na última eleição municipal em Curitiba, o candidato derrotado no 1º turno, Luciano Ducci, declarou ter gasto mais de R$ 14 milhões na campanha, Ratinho Jr., o segundo colocado, declarou outros R$ 8 milhões. Isto em valores declarados. Sabemos que caixa dois é uma triste realidade e podemos até supor que os gastos destes dois candidatos foram no mínimo duas vezes maiores, o que nos leva a cifras de mais de R$ 68 milhões. De onde saiu esta grana? Quem vai bancar esse prejuízo dos dois derrotados.
Se nada for feito urgentemente, as campanhas eleitorais vão tornar-se tão custosas que os únicos compromissos dos políticos eleitos durante o cumprimento de seus mandatos será pagar a divida com seus “patrocinadores” com o dinheiro público.
Eu aqui, troço muito para que o plebiscito e a futura constituinte para Reforma Política sirvam para tirar o país desta adolescência tardia de nossa democracia. É uma medida arriscada que pode até resultar em retrocesso (imagine as consequências do voto distrital com financiamento privado de campanhas), mas sem nenhuma dúvida, é uma medida necessária que chega com pelo menos 10 anos de atraso.
O negócio agora é debater e negociar os caminhos a seguir no futuro, pois política é nada mais que a arte do possível e da negociação entre as diferenças.
Polaco Doido
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