Estou achando muito legal estas manifestações que pipocam pelo Brasil afora exigindo a diminuição nas tarifas do transporte coletivo. Bem ou mal, este tipo de manifestação mostra que nossa sociedade não é composta apenas por ativistas de sofá e que quando o assunto é realmente pertinente, a moçada vai à rua disposta até a enfrentar a polícia, como aconteceu recentemente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Claro que nem tudo são flores e alguns mais exaltados confundem a manifestação com uma “revolução” e partem para o quebra-quebra, pichando e quebrando ônibus, destruindo vitrines e estações e até atacando uma das sedes de diretório do PT.

O que pensam estes mais exaltados?

Que pichar e quebrar ônibus de alguma maneira vai contribuir para a redução da tarifa? Que quebrar vitrines e estações do transporte vai mostrar a indignação coletiva e este “vandalismo”, de alguma maneira, contribui com a causa?

Tem gente até, confundindo uma manifestação pela redução das tarifas do transporte como uma tomada tupiniquim da Bastilha, uma revolta popular contra os poderes estabelecidos. Uma revolta revolucionária que, convenhamos, não tem bases, não tem estrutura, não tem ideais, não tem porra nenhuma! É a revolta pela revolta.

O pessoal aqui de Curitiba já tem sua manifestação pela redução das tarifas marcada desde o dia 5 de maio e será realizada dia 21 na praça Rui Barbosa, no centrão da cidade.

Nosso governador, Beto Richa, que de bobo não tem nada, atento com as manifestações pelo Brasil afora e já sabendo da manifestação curitibana no dia 21, já se antecipou a todos e anunciou hoje que as tarifas da rede metropolitana sofrerão uma redução de R$ 0,10 centavos nos próximos dias.

E Richa não é bobo mesmo, com este anúncio ele esfria os ânimos dos usuários do transporte da região metropolitana, esvazia a manifestação do dia 21 para não correr o risco de ver por aqui o mesmo que aconteceu em São Paulo e no Rio, joga os usuários do transporte na capital contra Fruet e ainda garante preciosos pontinhos no ibope para garantir a campanha de reeleição em 2014.

Pois é querido leitor, por mais difícil que seja admitir, sei lá se resolve alguma coisa estas manifestações. O valor das tarifas do transporte público sempre serviu como moeda política e eleitoral e não será diferente agora, só porque o povo está indo para as ruas exigindo a diminuição destas tarifas.

Sejamos coerentes. O que representa uma diminuição na tarifa de 10 centavos, como esta, anunciada hoje por Beto Richa?

20 centavos por dia -> dá para comprar um chiclete Ploc, sabor de uva da românia, com direito a uma figurinha da Xuxa.

R$ 1,40 por semana -> quase dá para comprar um quilo de açúcar cristal para adoçar o café da manhã.

R$ 5,60 por mês -> não paga uma quentinha, nem um maço de malborão vermelho, nem um quilo feijão!

Então tá. É muito legal manifestações pela redução das tarifas do transporte, mas que reduções? Uma economia de R$ 5,60/mês? Parece piada de muito mau gosto!

Em Curitiba, por exemplo, onde a tarifa é de R$ 2,85. Refresca alguma coisa uma redução de 10, 20 ou 30 centavos? Quase nada e pode ter certeza que não vai reduzir em 30 centavos, por mais que a moçada saia na rua, bata panela e quebre algumas vitrines.

Aqui, o problema é bem outro.

Acredito que os usuários curitibanos deveriam ter o direito de conhecer as planilhas de cálculo, a arrecadação e os custos totais do sistema que justificam esta tarifa de R$ 2,85, mas isso, acho que nem o prefeito Fruet saiba, é bem capaz de nem os membros do conselho de administração da URBS saberem como é realmente calculado este valor.

O buraco é muito mais em baixo do que a simples redução nas tarifas. É preciso cobrar do poder público, as informações que resultam nestes valores. Com estas informações em mãos, nós saberemos se a tarifa é abusiva ou não e estas tarifas deixarão de ser moeda política eleitoral.

Lembre-se que em 2003, uma redução de 10 centavos, elegeu um prefeito na cidade de Curitiba. Em 2007, outra redução chamada de tarifa domingueira, reelegeu este mesmo prefeito para um segundo e desastroso mandato.

Uma nova redução de 10 centavos, travestida de isenção fiscal, vai reeleger este mesmo cara governador em 2014?

Abra o olho, este tiro pode acertar nosso próprio pé!

Polaco Doido