Manual do vereador #1 e #2

Indicação da leitora, Selanira Pereira.

Por Dante Mendonça na Tribuna do Paraná e Paraná Online

Parte #1:

Dia primeiro de outubro é o dia do vereador. Pelo menos aqui em Curitiba, a rejeição à classe é tanta que a efeméride passou em branco. Assim mesmo, com um dia de retardo (quatro no caso desta replicação) em homenagem aos edis de ontem, de hoje e do futuro, devemos perguntar:

Você já escolheu em quem votar para vereador?

Assim como para prefeito, apesar do que não dizem as pesquisas eleitoreiras, a grande maioria ainda não tem candidato. A opção pelo prefeito não é tão difícil, devido ao tempo que o candidato tem no rádio e televisão. Difícil será escolher um dos tantos candidatos a vereador.Para melhor decidir, o TER  deveria fornecer um “Manual de Instruções” ao eleitor com a frase de Mencken, para deixar bem claro como as coisas funcionam realmente no picadeiro político:

- A democracia é a arte e ciência de administrar o circo a partir da jaula de macacos.

Este manual teria como prefácio o escritor Deonísio da Silva nos ensinado que em sua origem a palavra “candidato” quer dizer cândido, alvo, limpo. “Na velha Roma, os candidatos se vestiam de branco para mostrar que eram honestos, sem mácula, sem sujeira. Os senadores tinham cabelos brancos. Todo candidato ao Senado senex, velho. Prefeito é do latim “praefectus” do verbo “praefacere”, fazer antes, planejar, cuidar, proteger. Designava a autoridade que cuidava das fortificações do município, do latim “municipium”, de “munuscapere”, exercer o direito, designando o lugar onde você desfruta seus direitos”.

Já o vereador, explica Deonísio da Silva, “cuidava das veredas, das ruas dos edifícios, por isso tornou-se sinônimo de edil, o magistrado romano que fazia a inspeção dos prédios públicos, sacros ou profanos, dos aquedutos, dos locais de banho e de divertimento etc.”

Quais seriam as virtudes de um vereador? Por hoje é só. Bateu a campainha e o professor Deonísio volta amanhã para completar o manual de instruções de como votar num vereador.

Parte #2:

Com prefácio do escritor Deonísio da Silva, um resumo do que seria um “Manual de  Instruções” para bem escolher um candidato a vereador. Paranão complicar a cabeça do eleitor (fosse assim chamaríamos um cientista político para escrever o prefácio), o candidato a edil precisaria possuir “Sete Virtudes Capitais”, requisitos para se contrapor aos “Sete Pecados Capitais”:

1.  Temperança (gula);
2.  Generosidade (avaresa);
3. Humildade (soberba);
4. Castidade (luxúria);
5. Disciplina (preguiça);
6. Paciência (ira);
7. Caridade (inveja).

Honestidade é o mesmo que temperança, que no dicionário significa austeridade, entre outros sinônimos.

No Paraná, aos “Sete Pecados Capitais” é preciso acrescentar o Nepotismo. Se bem que, no nosso caso, o nepotismo pode ser atribuído à Soberba, o reverso da Humildade.

Para que todos tenham uma noção das práticas comuns entre muitos vereadores, o “Manual de Instruções” ao eleitor deve publicar os “Dez Mandamentos” de um edil que não merece o nosso voto:

1. Amar o poder sobre todas as coisas;
2. Não tomar o santo nome do prefeito em vão;
3. Guardar os sábados, domingos, feriados e mais três meses de férias;
4. Honrar pai, mãe, filhos, sobrinhos e netos com cargos em comissão;
5. Não matar a mamata de ninguém;
6. Não pecar contra os financiadores de campanha;
7. Não furtar pouco;
8. Não levantar fundado testemunho;
9. Não desejar a secretária do gabinete próximo;
10. Não cobiçar, muito menos comentar as negociatas alheias.

No “Novo Testamento”, no livro se São Mateus, está escrito: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus”. O problema, afirmam alguns estudiosos, é que São Jerônimo, o tradutor do texto, interpretou a palavra “Kamelos” como camelo, quando na verdade, em grego “kamelos” são as cordas grossas com que se amarram barcos. A idéia da frase permanece a mesma, mas qual parece mais coerente?

Tanto faz, diria o “Manual de Instruções ao eleitor”:

É mais fácil um camelo (ou kamelos) passar pelo buraco de uma agulha que um vereador fazer da Câmara Municipal o Reino dos Céus.

Como se elege um vereador?

É moçada, já é domingo agora, o dia apertar os botõezinhos na urna eletrônica. Bom, eu não sei se sou só meio maluco, ou sou completamente doido mesmo, mas confesso que gosto muito do dia de eleições. Talvez pelos encontros imprevistos nas filas de votação, ou pela muvuca de eleitores, fiscais e cabos eleitorais fazendo a proibida boca de urna, ou pela expectativa de descobrir o resultado. Na verdade, acho que é mesmo só para poder ficar bem bêbado no dia da eleição.

Sim, ficar bem bêbado! Claro, que não se pode beber ou comprar bebidas em dia de votação, mas vai dizer que não concorda comigo de que tudo que é proibido é muito mais gostoso? E só por isso é que meu estoque de beras para domingo já está tinindo. Depois de votar vou tomar todas!!!

Ao que tudo indica não há nada definido na eleição para prefeito e teremos sim um segundo turno.. e mais horário eleitoral… e mais propaganda… e mais ligações telefônicas… mais cavaletes, santinhos…

Bom, temos quatro candidatos com chances reais de disputar o segundo turno e se você ainda não definiu um candidato ou está em dúvida, não se preocupe, está tudo embolado mesmo, escolha qualquer um deles, aquele que mais te agrada e pronto! Eu, por exemplo, vou votar na Alzimara. E que ninguém venha com a balela de ela não tem chances. Grande coisa, o voto é meu e eu escolho que eu quiser. E acho que a Alzimara é a melhor candidata entre todos os outros.

Mas no domingo, muito mais importante que escolher o candidato a prefeito que vai disputar o segundo turno, é que já na próxima segunda feira saberemos quem serão nossos “novos” vereadores.

Tudo bem que pelos menos 20 dos atuais 35 vereadores que concorrem a reeleição serão reeleitos. O negócio é  torcer para que pelo menos estes 18 vereadores frescos, não façam a mesmas merdas que os atuais vem fazendo nos últimos 4 anos.

Eu já escrevi várias vezes que escolher um vereador é muito diferente de escolher um prefeito. Para prefeito é simples, se você for com a cara dele, beleza. Ele garantiu seu voto. Se você não for com a lata do cara, nada vai fazer você mudar de idéia. E nessa, ganha aquele que tiver a maioria dos votos e pronto.

Para vereador a coisa é um pouco diferente. Tem que ser levado em consideração, além da cara do candidato, o partido e os grupos que ele representa.

Quer um exemplo:

Tem o candidato Silvio Bartletta do PSDC curitibano. O cara é gente boa, simpático, carismático e com muitas boas idéias. Pessoalmente tem toda a simpatia por parte deste Polaco metido a escrevedor.

Porém…

Silvio é do PSDC, Partido da Social Democracia Cristã, uma das bases das bancadas religiosas espalhadas pelo país eu, por enquanto, ainda acho que política e religião não deveriam se misturar. Além disso, o Partido do Silvio, o PSDC, apóia irrestritamente a candidatura de Ducci, o atual prefeito e, por conseqüência, apóia também todos os vereadores da base de Ducci. Estes mesmos vereadores que na atual gestão conseguiram transformar a câmara de Curitiba numa verdadeira zona de baixo meretrício.

Logo, apesar da minha total simpatia, Barleta não vai ganhar meu precioso voto.

Mas só por curiosidade. Quais seriam a chances reais do nosso  querido Barletta ser  vereador a partir 2013?

Claro que não sou adivinho e nem tenho bolas de cristal, mas dá para se fazer umas continhas e estimar as chances reais do nosso amigo e fiel leitor deste espaço insalubre.

Quer ver?

Para esta eleição, Curitiba contará com 1.172.939 eleitores, se levarmos em consideração que 88% deles, comparecem a urna e escolhem um vereador, teremos um número de aproximadamente 1.032.000 votos válidos.

Como sabemos que são 38 cadeiras de vereador, já dá para se ter uma idéia de qual será o valor do Quociente Eleitoral (Qe):

Com isso chegamos a conclusão de que cada partido ou coligação precisará de aproximadamente 27.157 votos para cada uma das vagas de vereador.

O PSDC, Partido de Barletta disputa sozinho e conta com 57 candidatos a vereador. Para conseguir uma única vaga para o partido, cada um deles precisa conseguir no mínimo 477 votos.

Então, Para nosso amigo conseguir o tão almejado cargo, basta que ele seja o mais bem votado entre estes 57 candidatos, ou seja, em teoria, Barletta consegue o mandato com pouco mais de 500 votos. Fácil não?

É, mas como frisei, isso  “em teoria,” na prática o negócio é muito diferente.

Em 2008, por exemplo. Os 38 candidatos eleitos conseguiram em média 7.876 votos cada um. Os 600 suplentes, 756 votos por cabeça e os não eleitos tiveram em média 470 votos.

Claro que estas médias não dizem absolutamente nada. Para dar mais uma idéia da coisa, lembre que em  2008 o candidato José Roberto Sandoval do PTB, recebeu 7.180 votos e não foi eleito.

Na outra ponta, Dirceu Moreira Carriel foi eleito com apenas 2.593 votos. Coisas da lei eleitoral.

Pois é. Para que a gente não fique boiando na segunda feira, quando forem definidos os nomes dos próximos vereadores de Curitiba vou  rever os números que definiram nossos vereadores em 2008.

O bagulho é chato e cheio de tabelas e contas, se quiser matar a curiosidade, clica aí em “Leia mais.”

Em 2008, 794 candidatos disputaram as 38 vagas para vereador, distribuídos em 18 legendas.

Os 965.083 votos válidos para o cargo de vereador foram distribuídos conforme a tabela:

Com estes números já podemos calcular o quociente eleitoral:

E também, o Quociente Partidário (Qp)

O resultado nesta tabelinha:

Pronto! Já temos definidas quais serão coligações que vão compor a câmara de vereadores. Só falta definir quem vai ficar com aquelas oito vagas que restam. Sim, são 38 cadeiras, mas o cálculo do Quociente partidário só definiu 30 delas. As restantes são definidas pela Regra de distribuição das Sobras, que:

Segundo o código eleitoral brasileiro, Artigo 109:

I – dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada partido pelo número de lugares por ele obtido, mais um, cabendo ao partido que apresentar a maior média um dos lugares a preencher;

II – repetir-se-á a operação para a distribuição de cada um dos lugares.
§ 1º O preenchimento dos lugares com que cada partido for contemplado far-se-á segundo a ordem de votação recebida pelos seus candidatos.

§ 2º Só poderão concorrer à distribuição dos lugares os partidos e coligações que tiverem obtido quociente eleitoral.

Antes de continuar, uma observação bastante importante!

Segundo a legislação eleitoral o PTB, PRTB, PCdoB, PMN, PSDC, PTdoB, PSOL, PCB e PSTU  dançaram. Apesar dos 78.816 votos recebidos, não vão ganhar nenhuma vaguinha. Vão ter que esperar até a próxima eleição. Sacanagem, não acha?

Lembra do Candidato José Roberto Sandoval do PTB que com todos seus 7.180 votos? Ele não foi eleito, e não tem chororô, dançou mesmo!

Pois é. Isso mesmo. Acontece que quando você escolhe um vereador, não escolhe uma pessoa diretamente. Seu voto não é do candidato escolhido e sim, do partido/coligação que ele está filiado. E não adianta teimar e bater seu pezão afirmando que teu candidatozinho é o melhor mais íntegro e coisa e tal. Teu votinho vai para o partido e ponto final. É a lei!

Agora vamos distribuir as 8 vagas que sobraram:

Com a Maior média, “0,96058″, a primeira sobra cai no colo dos demos, que agora passam a contar com três representantes na Câmara municipal.

Atualizamos a tabela e vamos em frente:

Com média de “0,94893″ a segunda sobra vai para o PP.

e mais uma vez, atualizamos a bisrosca…

A terceira vai para a coligação PSDB/PR PSDB, que agora já conta com 11 cadeirinhas.

Atualiza tudo de novo….

PTB/PTN ficam com a próxima vaga.

…. atualiza…..  mais uma vez… e…..

PSDB/PR abocanha mais uma sobra.

…. tá acabando,só faltam 3….

O PSB do prefeito Ducci e do presidente do Partido também comissionado no CELEPAR, Severino Araujo, fica com a sexta sobra.

… ô saco, atualiza de novo!…..

Com média de “0,84864” a penúltima sobra vai para o PRP/PPS do limpinho Bueno, candidato a vice de Ducci, e da limpinha, filhota do Bueno.

… Atualiza mais uma vez, só falta uma! ….

A última sobra vai mais uma vez para o PSDB, que lavou a égua de tantos votos para vereador, nada menos que 13 entre os 38 disputados. Talvez por isso nossa câmara tenha virado no que virou. João Derosso, o responsável pelo desvio de R$ 35 milhões da nossa grana, não coincidentemente, é um destes 13,

Chega de enrolação.

Finalmente os partidos e coligações já sabem quantas cadeiras irão ocupar.

Somente agora, depois de toda essa peripécia matemática, é que seu voto será contabilizado para seu candidato preferido. Aquele que te levou na conversa. Aquele que te convidou para saborear um delicioso prato de frango com polenta, ou então aquele que te deu de presente uma ou duas cestas básicas ou te presenteou despretensiosamente com um vale combustível. Ou então aquele, que junto com mais um monte de outros vereadores, secretários municipais e até a mulher do prefeito, doaram para você, de todo o coração e sem cobrar nada, um novo cobertor para você espantar um pouco, o frio das noites curitibanas.

Agora a coisa fica muito mais simples. Basta pegar o número de vagas que cada partido ou coligação tem direito e distribuir estas vagas entre os candidatos do partido ou coligação com maior quantidade de votos nominais.

Simples, não acha?

Os eleitos marcados com ☟,  tomaram parte nas tretas desta legislatura e, caso sejam candidatos a reeleição, não merecem meu precioso voto. Espero que nem o seu e nem o de ninguém.

Claro que no decorrer dos últimos quatro anos muitos destes candidatos abriram mão de seu mandato e largaram sua vaga ao bel prazer de seus suplentes. Outros trocaram de partido como se troca de cueca. A grande maioria traiu completamente a confiança de seus eleitores, deixando de agir em defesa da cidade e acobertando as falcatruas descabidas dês gestão. E muitos deles querem te enrolar novamente por mais quatro anos e são candidatos a reeleição.

Precisamos admitir que fizemos uma tremenda cagada quando escolhemos nossos vereadores em 2008. Tomara que o curitibano não repita os mesmos erros no próximo domingo. Infelizmente, a grande maioria dos eleitores está cagando e andando para o que acontece na nossa câmara e, no ano que vem, vai estar tudo do mesmo jeitão, os mesmos fazendo o de sempre, e nós, só pra variar, pagando a conta.

Bom, se você conseguiu chegar até aqui, meu muitíssimo obrigado. Deu uma trabalheira danada montar estas tabelas.

Obrigado mesmo!

Polaco Doido