por Nirlando Beirão no site da Carta Capital
Raymundo Faoro costumava alertar Mino Carta: “Não abuse da ironia, que as pessoas não vão entender”.
Antonio Prata, colunista da Folha e (antes que alguma alma azeda venha me cobrar transparência) meu querido enteado, produziu uma obra-prima de ironia em sua crônica de domingo (“Guinada à direita”).
Correu o risco citado pelo perspicaz Faoro.
Aquele escritor que a ombudsman rotulou de “delicado”, na ansiosa tentativa de livrar a cara do patrão e estabelecer um contrapeso (junto com Jânio de Freitas, notório bolchevique, e Vladimir Safatle, que corrompe a juventude com sua labia marxista-leninista), com os colunistas brucutus que a Folha acaba de recrutar… Bem, o “delicado” Antonio de repente saiu atirando contra “a gentalha”, “o crioléu”, as cotas raciais, “os privilégios das minorias”, os índios, “as bichas”, “as feministas rançosas”, “os velhos intelectuais da USP”, a ‘rubra súcia” que domina todas as instancias da nação. “Como todos sabem, vivemos num totalismo de esquerda”, escreveu o cronista.
Houve gente, muita gente, que leu ao pé da letra o que poderia ser a transcrição literal de um discurso de Mussolini ou de uma reunião de pauta da revista Veja.
Mas aí está o delicioso maqueavelismo do cronista. Ele armou bem armada a arapuca para aqueles que pensam assim – e que têm maior ou menor pejo de alardear sua opinião. Aquilo que um redondo articulista de um jornalão uma vez me disse: “A gente não escreve, mas é o que a gente pensa”.
Antonio Prata fez sair da toca, estrepitosamente (reparem a coluna de cartas da Folha, chequem o Facebook), aquilo que Reich chamava de “o fascismo ordinário”, o gérmem truculento e preconceituoso de nossa gente – pessoalzinho que, pelo visto, é leitor da Folha e, que me perdoe a ombudsman, não por acaso.
Convocados pelas artimanhas da ironia, os brutamontes caíram na armadilha. Foi delicioso assistir o espetáculo.
A crônica de Antonio Prata também baliza a fronteira que o governador Eduardo Campos e a Marina Silva, por exemplo, simulam desconhecer. É blablablá essa história de que caíram os muros da ideologia. No Brasil, a direita vai bem, muito bem, tem espaço bem pago na mídia, e a única linguagem que ela conhece é a linguagem do ódio.
É tão desprovida de humor que nem percebe quando estão rindo dela.
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