A repórter de “O Globo” viaja ao lado do presidente do Supremo para produzir manchetes como essa: “Na Costa Rica, Barbosa diz que embargos de declaração não podem reverter condenações“. Claro, trata-se de reforçar a tese do STF e do Merval: o PT é culpado, maximamente culpado, não há apelação. Mas a repórter estava lá, também, para cevar o ego de Joaquim Barbosa, garantindo espaço generoso para o homem que tem prometido “fazer Justiça” e “restaurar a moralidade”.
A elite brasileira é adepta da moralidade seletiva. A Casa-Grande pode receber favores do Estado; é “normal”, certo?
Não acredito que Joaquim Barbosa jogue de tabelinha com a Globo. Não acredito mesmo. Ao contrário de outros ministros de boca mole e fala empolada, Barbosa parece agir por convicção. Tanto é que chegou a afirmar na Costa Rica que a “imprensa é de direita no Brasil“. Mas tornou-se um aliado “tático” da Globo (comandada pelo bilionário João Roberto Marinho). Não seria aliado se os réus fossem do PSDB. E acho que Barbosa agiria com o mesmo rigor contra réus do PSDB. Ele, sim! Outros ministros – de boca mole e fala empolada – não! Esses são parceiros permanentes da Globo e de seus colunistas. Se os reús fossem tucanos, a Globo estaria quieta, ou crucificando Barbosa por armar um “Estado justiceiro”.
A Globo sabe disso. Sabe que é preciso cevar Barbosa, ganhá-lo pela vaidade, é preciso abrir espaço ao ego do presidente do Supremo. E ele, ao que parece, gostou da brincadeira… Mas não se imaginava que a tabelinha chegasse a esse ponto: o STF pagou a viagem da repórter de “O Globo” à Costa Rica? Algum editor desastrado resolveu contar a verdade. Barbosa e a Globo – juntos. Um asterisco revelou tudo. (Rodrigo Vianna)
Saiba os detalhes, no texto de Paulo Nogueira.
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STF PAGA VIAGEM DE REPÓRTER DO GLOBO
por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Um asterisco aparece no nome da jornalista do Globo que escreve textos sobre Joaquim Barbosa em falas na Costa Rica.
Vou ver o que é o asterisco.
E dou numa infração ética que jamais poderia acontecer no Brasil de 2013.
A repórter viaja a convite do Supremo.
É um dado que mostra várias coisas ao mesmo tempo.
Primeiro, a ausência de noção de ética do Supremo e do Globo.
Viagens pagas já faz tempo, no ambiente editorial mundial e mesmo brasileiro, são consensualmente julgadas inaceitáveis eticamente.
Por razões óbvias: o conteúdo é viciado por natureza. As contas do jornalista estão sendo bancadas pela pessoa ou organização que é central nas reportagens.
Na Abril, onde me formei, viagens pagas há mais de vinte anos são proibidas pelo código de ética da empresa.
Quando fui para a Editora Globo, em 2006, não havia código de ética lá. Tentei montar um, mas não tive nem apoio e nem tempo.
Tive um problema sério, na Globo, em torno de uma viagem paga que um editor aceitou.
Era uma boca-livre promovida por João Dória, e o editor voltou dela repleto de brindes caros, outro foco pernicioso de corrupção nas redações.
Fiquei absolutamente indignado quando soube, e isso me motivou a fazer de imediato um código de ética na editora.
Surgiu um conflito do qual resultaria minha saída. Dias depois de meu desligamento, o editor voltou a fazer outra viagem bancada por Dória, e desta vez internacional.
Bem, na companhia do editor foi o diretor geral da editora, Fred Kachar, um dos maiores frequentadores de boca livre do circuito da mídia brasileira.
Isto é Globo.
De volta à viagem de Costa Rica.
Quando ficou claro que viagens pagas não podiam ser aceitas eticamente, foi a Folha que trouxe uma gambiarra ridícula.
A Folha passou a adotar o expediente que se viu agora no Globo: avisar que estava precaricando, como se isso resolvesse o caso da prevaricação.
A transparência, nesta situação, apenas amplia a indecência.
A Globo sabe disso. Mas quando se trata de dinheiro seus limites morais são indescritivelmente frouxos.
Durante muito tempo, as empresas jornalísticas justificaram este pecado com a alegação de que não tinham dinheiro suficiente para bancar viagens.
Quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington. Veja o patrimônio pessoal dos donos da Globo, caso tenha alguma dúvida.
É ganância e despudor misturados – e o sentimento cínico de que o leitor brasileiro não repara em nada a engole tudo.
Então a Globo sabe que não deveria fazer o que fez.
E o Supremo, não tem noção disso?
É o dinheiro público torrado numa cobertura jornalística que será torta moralmente, é uma relação promíscua – mídia e judiciário – alimentada na sombra.
Para usar a teoria do domínio dos fatos, minha presunção é que o Supremo não imaginava que viesse à luz, num asterisco, a informação de que dinheiro do contribuinte estava sendo usado para bancar a viagem da jornalista do Globo.
Como dizia meu professor de jornalismo nas madrugadas de fechamento de revista, quando um texto capital chegava a ele e tinha que ser reescrito contra o relógio da gráfica, a quem apelar?
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