*José Martins Filho, de Recife, especial para Escrevinhador
Pesquisas e formadores de opinião reforçam a tese de que a comoção com a trágica morte de Eduardo Campos, passados mais de quarenta dias, já teria arrefecido. Mas o sentimento ainda conta é forte no estado do presidenciável falecido.
A duas semanas das eleições, todas as pesquisas demonstram que um neófito na política está à frente de um experiente senador na corrida eleitoral para o governo do Estado de Pernambuco.
Caso se confirmem, será um fato inédito em um estado cujo eleitor geralmente escolhe para governador políticos experientes e que tenham passado pelo crivo das urnas.
Ungido por uma decisão pessoal do ex-governador Eduardo Campos, o economista Paulo Câmara (PSB), 42 anos, é esse candidato à frente das sondagens.
Servidor público do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Câmara assumiu algumas secretarias burocráticas nos governos de Eduardo como Administração, Turismo e Fazenda. Antes de sua meteórica ascensão, depois da trágica morte de Campos no acidente aéreo em Santos (SP), no último 13 de agosto, era apenas um técnico que gozava da confiança do líder pessebista. Nos planos de Campos, seria um governador de sua extrema confiança.
Armando Monteiro (PTB) é um experiente senador da República, foi deputado federal por três mandatos e presidente da poderosa Confederação Nacional da Indústria (CNI). Por ter passado por vários processos eleitorais, tinha sua imagem firme na lembrança dos eleitores e esteve sempre liderando todas as pesquisas de intenção de voto, algumas vezes, com mais de 25 pontos de dianteira. Tem o apoio do PT, que indicou o ex-prefeito do Recife e deputado federal, João Paulo, como candidato a senador.
Tragédia
Em diversas análises de cientistas políticos e experientes jornalistas, a comoção com a trágica morte de Eduardo Campos, de fato, alçou Paulo Câmara para tal posição. Em Pernambuco, a Rede Globo local realizou talvez a sua mais longa cobertura ao vivo de um fato político.
Passou 12 horas ininterruptas com suas câmeras e helicóptero sob o velório e o enterro do corpo do ex-governador, com direito a cantoria de artistas locais, entrevistas, gritos de ordem, culminando com 20 minutos de queima de fogos no momento em que o caixão baixou ao mausoléu.
No mesmo dia, o PSB distribuiu centenas de bandeiras com insígnias diversas, desde o símbolo até o número do partido. O caminhão do Corpo de Bombeiros, que carregou o corpo e a família de Eduardo Campos, foi coberto com a frase que seria o mote da campanha eleitoral de Marina Silva: “Não vamos desistir do Brasil”.
Além disso, não se pode desprezar o fato de o PSB conduzir o Governo do Estado e a capital, além de ter dois terços do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV e uma ampla aliança de partidos, desde o PCdoB até o PMDB e o DEM.
O depoimento da viúva de Campos em favor do seu candidato foi esperado com ansiedade pela imprensa local, mas em nenhum momento Renata Campos pediu voto para Marina Silva. Parecia estar mais preocupada com os resultados locais. Não é difícil de entender.
Apesar de tudo, a aposta de Eduardo Campos pode custar caro para o PSB nos resultados pós 5 de outubro. A bancada do partido na Câmara dos Deputados pode encolher. O PSB só tem candidato a governador com reais chances de disputa em quatro estados.
Guerra fria
Com uma possível vitória de Dilma, não há garantias do retorno tranquilo do PSB para a base governista. A aventura nacional do partido, considerado uma legenda média, estremeceu as relações com o seu tradicional aliado, o PT.
No interior do Estado, onde essa parceria PT-PSB era mais evidente, acontecem rupturas e cooptações. Dos 13 prefeitos do PT eleitos em 2012, pelo menos seis declararam voto a Paulo Câmara. Todos passarão por processos internos de expulsão.
A ruptura da aliança dos dois partidos de esquerda foi iniciada por Eduardo Campos ainda em 2012, quando, valendo-se da briga interna petista, o então governador lançou para candidato a prefeito da capital um outro quadro da burocracia do TCE, também ligado a ele, Geraldo Júlio.
Depois da vitória, e sob orientação de Campos, Geraldo abrigou uma ala petista na prefeitura, o que garantiu para o PSB o argumento necessário para continuar comandando a Secretaria de Portos e o Ministério da Integração Nacional no Governo Dilma Rousseff.
A atual aproximação com o senador Jarbas Vasconcelos, ferrenho opositor do PT e antigo detrator do ex-governador Miguel Arraes, e com o deputado e ex-governador Mendonça Filho (DEM), torna a via de diálogo do PT e PSB praticamente rompida.
A recuperação de Dilma Rousseff detectada por todas as pesquisas de opinião, ironicamente, torna-se a única arma do PTB de sonhar com o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.
Armando Monteiro parece que havia se acomodado nos seus altos índices de intenção de voto e no apoio do ex-presidente Lula, a personalidade mais influente no eleitor pernambucano. Sua campanha tímida, visivelmente menor que a do PSB, está lhe custando o perigo de uma derrota para um desconhecido que demorou para acumular dois dígitos nas sondagens eleitorais.
O PSB apoia-se em uma campanha mística, com o ex-governador presente em placas, colas eleitorais, banners afixados nos postes, programas de rádio e TV, pedindo voto, aconselhando o eleitor, “vivo” e “disposto”…
As próximas semanas prometem uma disputa apoteótica. Tanto Armando Monteiro, candidato de Lula e Dilma, quanto Paulo Câmara, candidato de Marina e Eduardo, podem ganhar as eleições.
Os ataques se intensificam nas últimas semanas; a campanha de rua também. Armando Monteiro sonha em tornar-se a mais nova liderança política do Estado, vácuo deixado pela morte precoce de Campos.
Paulo Câmara também almeja o posto de liderança, mas sua vitória significa mais que isso: configura-se uma trincheira, para o caso de um resultado eleitoral desfavorável ao PSB, ou até para uma hipotética vitória de Marina com todas as incertezas que a cercam.
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