Por Izaías Almada, colunista do Escrevinhador
O esforço que algumas chamadas “celebridades” fazem para demonstrar erudição chega, em alguns casos, a ser patético. Pessoas há que demonstram na sua vida profissional talento para aquilo que fazem, como é o caso – por exemplo – do cantor e compositor Caetano Veloso. Entretanto, dono de uma vaidade que supera o seu próprio e reconhecido talento, este senhor gosta de pontuar em áreas onde nem sempre o seu conhecimento o credencia.
Essa tendência egocêntrica fica bastante evidente no seu livro “Verdade Tropical”, ao qual já tive a oportunidade de chamar de “Vaidade Tropical”, onde procura analisar a cultura brasileira a partir de um prisma inequivocamente pessoal, deixando nas entrelinhas que a nossa cultura contemporânea se divide em dois tempos: antes e depois do tropicalismo, isto é, antes e depois de Caetano Veloso.
Vale aqui um registro histórico para os mais novos: durante a grande fase dos festivais de música brasileira, na segunda metade dos anos 60, houve uma apresentação no TUCA aqui em São Paulo, na qual o cantor após ser vaiado pelo público presente foi tomado de alguma histeria e gritava para a plateia estudantil: “vocês é que são a juventude que quer tomar o poder? Vocês não estão entendendo nada, vocês não estão entendendo nada”. O pequeno e arrogante discurso – que já prenuncia o tal “Vaidade Tropical” pode ser ouvido no Youtube. Hoje, passados mais de 40 anos, arrisco-me a dizer que quem não estava entendendo nada era o próprio Caetano.
Mas o que de fato me leva a essas pequenas e mal traçadas linhas é a mais recente frase de efeito (frases de efeito costumam apostar na ignorância das pessoas) do compositor baiano, desta vez sobre o cinquentenário dos Beatles. Como não dá para medir o sucesso internacional do conjunto inglês, este sim, grande transformador da música pop dos anos 60 e o seu sucesso ibero-americano, Veloso, tal qual o Narciso de uma de suas canções, decretou: “Quando ouvi os Beatles pela primeira vez, era como ouvir o Justin Bieber hoje…” (sic) Espelho, espelho meu, quem é mais famoso no mundo, eu ou aquele conjunto de quatro Justin Bieber de Liverpool?
Penso que algumas das grandes vantagens do envelhecimento são a sabedoria e a tolerância, o carinho e o respeito pelos mais jovens. A grande desvantagem, no entanto, e para a qual ainda não encontraram o antídoto chama-se Alzheimer.
Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros “Teatro de Arena, uma estética de resistência”, da Boitempo Editorial e “Venezuela, povo e Forças Armadas”, Editora Caros Amigos.
*Texto originalmente publicado no Nota de Rodapé
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