por Rodrigo Vianna
Começa a se cristalizar, entre analistas e observadores dos fatos políticos, a impressão de que “o pior já passou” para a campanha de Dilma. Não se trata de torcida. Mas de observação da realidade.
Concordo com essa avaliação. Os primeiros quatro meses do ano foram de repique da inflação (que já começa a recuar agora em maio); esse quadro, somado ao bombardeio midiático contra a Petrobras e ao episódio Andre Vargas, jogaram Dilma para as cordas. Apesar dessa conjuntura muito complicada, a presidenta não caiu abaixo dos 37% dos votos. Aécio, apesar de todo esforço dos parceiros midiáticos (aqueles mesmos que, em 2010, torciam o nariz – ops – para o perfil pessoal “complicado” do mineiro), chegou a 20%, e Eduardo patina em 11% – segundo o DataFolha.
O bombardeio midiático seguirá. Mas o governo petista retomou a iniciativa. E isso se deu depois da entrevista de Lula aos blogueiros e, principalmente, após o pronunciamento de Dilma no Primeiro de Maio (leia aqui – E Dilma falou: tarde, mas não tarde demais). Ali, ficou claro que a dinâmica da campanha obriga Dilma a se mover alguns graus para a “esquerda”, e que ao fazê-lo é capaz de demarcar território e manter intacto o núcleo duro de sua base de apoio (não falo da base parlamentar, mas da base social).
Isso tudo não é surpresa nenhuma. No início de 2013, quando Dilma surfava com mais de 45% de intenções de voto, afirmei aqui neste blog que essa é eleição para dois turnos. Sempre foi. Aécio (com ou sem Petrobras, com ou sem inflação) tem alianças, base social e uma conjuntura a empurrá-lo para pelo menos 20% ou 25% dos votos no primeiro turno. Daí pra cima. Eduardo Campos, da mesma forma, é candidatura para 10% ou 15%.
Isso significa que os dois candidatos da oposição, juntos, terão ao menos 35% dos votos no primeiro turno. Somados aos “nanicos” (pastor Everaldo, Eduardo Jorge do PV, Randolfe do PSOL), os votos da oposição chegariam a pelo menos 40% ou 42%.
Se levarmos em conta que teremos 20% de brancos e nulos, Dilma teria que obter 40% mais um dos votos totais pra vencer. Isso parece improvável.
Se o quadro permanecer estável, ou seja, se não houver nenhuma tragédia durante a Copa (e não falo de a Argentina ganhar do Brasil na final com gol no último minuto – toc, toc, toc), o mais provável é que Dilma ainda caia mais um ou dois pontos até agosto e Aécio suba mais um pouco.
A candidata petista, então, teria o horário eleitoral para oferecer um fogo de barragem ao bombardeio midiático – mostrando que o quadro do país não é maravilhoso (sejamos honestos, está longe de ser maravilhoso), mas que melhoramos muito desde que abandonamos o programa neoliberal puro que aécios, armínios, mervais, marinhos e civitas querem agora trazer de volta. Ou seja: Dilma pode oscilar para 35%, depois voltar a 37% ou 38%…
Aécio, por sua vez, depois de chegar a 20% no DataFolha, já começou a apanhar da dupla Eduardo-Marina (Aécio é candidatura que “cheira” a derrota, avisou Marina). O que deve impedir o tucano de subir em ritmo mais rápido. Quando começar o horário gratuito, no entanto, Eduardo ficará em péssima condição, e Aécio deve-se consolidar como oponente do lulismo.
Esse blog admite que superestimou a capacidade de dupla Eduardo-Marina. Parecem destinados a acumular forças para 2018, o que já não será pouco.
O segundo turno deve ser ainda mais duro do que em 2010. Mas Dilma segue favorita, porque a comparação com os anos do tucanato servirá para manter a coesão da base social do lulismo.
A presidenta, no entanto, parece ter percebido que não adianta seguir a receita marqueteira para ganhar “sem marola”. Numa eleição tão dura, em que a diferença entre ela e o oponente no final pode ser de apenas 3 ou 4 pontos, será preciso endurecer no discurso.
A direita já endureceu, até o paroxismo. Nas ruas, nos bares e ambientes sociais, o ódio e o antipetismo atingem um ponto sem volta. Muita gente, impressionada com o que diz a classe média, apavora-se e acha que Dilma já perdeu.
Não é verdade. O jogo será duro até o fim. E Aécio até agora nadou de braçada, sem ser questionado. Aloysio “vá a PQP” Nunes mostrou que tucanos tem queixo de vidro. Qualquer sopapo e já se desmancham pelo chão.
Tucanato, Globo, velha mídia judiciário gilmariano e parte do peemedebismo velhaco terão que ser tratados como inimigos – pura e simplesmente. Dilma precisa fazer uma campanha na ofensiva. O segundo mandato, se vier, será de uma oposição ainda mais pesada. Na defensiva, na base do tecnicismo e da marquetagem, Dilma terá dificuldades para ganhar. E, mais que isso, terá dificuldade para governar.
À direita, restará jogar na instabilidade durante a Copa. Mas mesmo essa operação será arriscada. Entre os petistas, consolida-se a certeza de que – se Dilma cair para menos de 35% – Lula volta, terá que voltar.
Engana-se quem pensa que isso é apenas discurso da oposição para “confundir”. Lula sabe que a direita judiciária e midiática (dos mervais e gilmares) quer vê-lo preso. Com o PT fora do poder, o alvo seria Lula.
O ex-presidente vai insistir até o limite com Dilma. Mesmo que seja para ganhar na disputa de pênaltis – com Aécio chutando a ultima cobrança pra fora, feito um Baggio tucano.
Ganhar, com Lula, seria ganhar com Pelé em campo. Mas uma vitória – como a da seleção de Parreira em 94 – também vale a taça.
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