Mais de um ano atrás, Janio de Freitas, referência do jornalismo político brasileiro, já advertia que, com a presença de Cunha junto a Renan Calheiros e Henrique Alves no comando do Congresso, Dilma iria ter dificuldades. Na época, o jornalista lembrava que Cunha “é cria de Paulo César Farias, que o pinçou do vácuo para a presidência da então Telerj, telefônica do Rio”. Corria o ano de 1990. Não demoraria muito para que o mandato de Fernando Collor de Mello fosse tragado por denúncias. No epicentro da debacle collorida estava PC Farias.
Consta que Cunha aproximou-se do meio evangélico do Rio de Janeiro. Filiado ao PPB (hoje PP), de Paulo Maluf, e com apoio religioso, candidatou-se a deputado estadual em 1994, iniciando uma carreira política própria, o que o levou a ser eleito para a Assembleia Legislativa daquele Estado em 2000, galgando daí a passagem para a Câmara dos Deputados em 2002, sempre pela agremiação malufista.
No meio desse caminho, alinhado à direita, nem por isso deixou de participar do governo Garotinho (1999-2002), então no PDT, no Estado do Rio. No entanto, as relações entre ambos depois se deterioraram. Por ocasião da MP dos Portos, alguns meses atrás, os dois ex-colegas de administração travaram carinhoso diálogo no plenário da Câmara, segundo relato de Merval Pereira, de “O Globo”. O ex-governador do Rio disse que a emenda patrocinada por Cunha cheirava mal e tinha motivações escusas. Em resposta, o ex-auxiliar teria se referido a Garotinho como batedor de carteira.
Em 2006, Cunha reelegeu-se deputado federal, agora pelo PMDB, sempre com apoio evangélico — em 2010, conseguiu 150 mil votos. A disputa entre Cunha e Dilma vem desde o início do mandato desta, quando, após denúncias em Furnas envolvendo, segundo o “Valor” (25/7/2011), um “grupo ligado” ao deputado, ela nomeou para dirigir a estatal nome fora do círculo de influência do parlamentar carioca.
Em 2007, Cunha havia segurado a Medida Provisória que prorrogava a CPMF até Lula nomear indicação sua para a presidência de Furnas. Maior empresa da Eletrobras, com orçamento bilionário e fundo de pensão importante, Furnas é joia muito cobiçada. A perda do controle sobre a estatal explicaria a posição belicosa do comandante do PMDB na Câmara em relação a Dilma.
Em resumo, é quase um quarto de século de experiência acumulada em controvertidas matérias republicanas. Convém não subestimar.
“Tentar me isolar é isolar a bancada do PMDB”
Por Raphael Di Cunto, no Valor
“É bom deixar claro que só expresso e só expressarei o que a bancada pensa e decide. Logo, tentar me isolar é isolar a bancada do PMDB”, escreveu Cunha no Twitter durante a madrugada de segunda-feira. “Enganam-se os que acham que me comportarei diferente do que a bancada quer. Terça-feira debateremos”, afirmou.
A referência à terça-feira se refere à reunião convocada pelo deputado com a bancada do PMDB na Câmara para discutir a realização de uma “pré-convenção” eleitoral em abril, com o objetivo de analisar se o partido deve manter a aliança nacional com o PT ou buscar outros candidatos.
Esse evento serviria para “medir” as intenções da legenda, que está insatisfeita com os petistas na montagem dos palanques regionais e com o governo na reforma ministerial.
Cunha afirmou que também vai convidar para a reunião da terça-feira o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). O líder reagiu ainda à informação dada por Dilma a Temer, de que vai nomear os novos ministros mesmo sem o consentimento do PMDB.
“A bancada já decidiu, nomeiem quem quiserem para os cargos, que não queremos [indicar os substitutos]”, disse.
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