Serra em campanha: Confrontos com cinco jornalistas em apenas 19 dias
Por Conceição Lemes, no Viomundo
O tucano José Serra, candidato à Prefeitura de São Paulo, comporta-se como se fosse um político blindado pelos patrões midiáticos. Do contrário não seria tão deselegante com jornalistas. Basta um repórter perguntar algo que não lhe agrade ou não tenha interesse em responder, para Serra tratar o perguntador de forma ríspida.
O candidato tucano é, sem dúvida, um homem poderoso. Foi deputado, senador, ministro, prefeito e governador. Duas vezes candidato a presidente da República. É uma das lideranças mais importantes do PSDB. Os repórteres que fazem perguntas a ele são assalariados. Ao ousar, correm o risco de desagradar os patrões e perder o emprego.
Perguntas desagradáveis fazem parte da vida de candidatos. Uma resposta agressiva também é parte do jogo. Porém, o tucano se comporta como se fosse blindado pelo patronato midiático e, na prática, intimida os perguntadores.
Serra pede a cabeça de jornalistas?
Em 2010, Heródoto Barbeiro, que na época comandava o Programa Roda Viva, da TV Cultura, fez uma pergunta “desagradável” a Serra sobre pedágios. Coincidentemente, não durou muito na emissora. Hoje está na Record News.
Já imaginou o que os barões da mídia fariam se Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, chamasse um repórter de “sem-vergonha”, como Serra fez em 28 de setembro deste ano durante campanha no bairro da Moóca?
Ou se o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma tachassem um jornalista de disseminar propaganda do adversário, como Serra fez hoje com o jornalista Kennedy Alencar, na CBN, a quem acusou de espalhar “trololó petista”?
Não é preciso bola de cristal para saber que isso seria denunciado ao mundo pelos patrões. A mídia global se encarregaria de tornar o caso um escândalo internacional.
Já que os chefões da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) ainda estão por aqui, resolvemos fazer um levantamento de incidentes de José Serra com jornalistas brasileiros, que, na prática, representam intimidação ao livre exercício da nossa profissão.
Na campanha de 2010, por exemplo, colegas da RBS, Heródoto Barbeiro, Márcia Peltier e até Miriam Leitão foram alvo do seu desrepeito profissional:
Também em 2010, Serra se irritou com a pergunta de um repórter em São Luís, no Maranhão. O Blog do Décio registrou:
Durante entrevista coletiva em São Luís nesta terça-feira 13 de julho, o tucano José Serra se chateou com pergunta do jornalista Mário Carvalho sobre sua rejeição no Nordeste. As fotos do vídeo são de Biaman Prado.
Ao longo da campanha à Prefeitura de São Paulo, em 2012, levantamos cinco episódios.
No desta terça-feira 16, o mais recente, Serra se superou. Acusou Kennedy Alencar, comentarista político da rádio CBN de espalhar “trololó petista”.
Alencar perguntou sobre um kit gay semelhante ao que esteve em estudos no Ministério da Educação e que o tucano havia implementado na sua gestão enquanto governador. Queria saber se o tucano tinha dado uma guinada conservadora, já que em 2010 Serra baseou parte de sua campanha na questão do aborto. O tucano não respondeu à pergunta.
Em vez disso, bateu boca, disse que o jornalista estava mentindo e o acusou de fazer campanha para “outro candidato”. ”Kennedy, você não pode fazer campanha eleitoral na CBN”, incriminou.
A acusação de que um jornalista está usando o emprego para fazer campanha para um partido é gravíssima: pode causar demissão.
O primeiro ataque de Serra a jornalista na eleição de 2012 aconteceu em 28 de setembro.
Em campanha no bairro da Moóca, Serra, ao ser questionado por repórter da Rede Brasil Atual, sobre onde os eleitores poderiam encontrar o seu plano de governo, disparou: “Eu não respondo pergunta de sem-vergonha”.
No dia 11 de outubro, a vítima foi a repórter da TVT. Serra ignorou a pergunta dela e deu as costas à equipe da TV dos Trabalhadores. Foi durante coletiva para anunciar o apoio do PDT paulista à candidatura tucana no segundo turno.
No 12 de outubro, Serra repetiu a “dose” contra a TVT.
O tucano tem a mania de, antes de responder, querer saber o veículo representado pelo entrevistador.
Aparentemente, é assim que decide entre “amigos” e “inimigos”.
Praticado por um petista, tal comportamento seria denunciado como tentativa de “controlar” a mídia.
Ontem, 15 de outubro, Serra destratou a repórter do UOL, do Grupo Folha. Após caminhada no bairro Cidade Ademar, no extremo da Zona Sul da capital, ela perguntou-lhe se o tom agressivo do primeiro programa eleitoral do segundo turno, que recorreu ao mensalão, seria uma estratégia da campanha tucana para diminuir a vantagem de Haddad nas pesquisas de intenção de voto.
Serra não gostou e reagiu: “Não sei, eu não vi. Vai lá para o Haddad. É a pauta dele. Não precisa ter uma assessora a mais para ele. Vai lá direto”.
Para quem diz defender a liberdade de imprensa e de expressão, são cinco episódios de agressividade com profissionais da imprensa em apenas 19 dias.
Não encontramos críticas do candidato aos patrões midiáticos no mesmo período.
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