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Rodrigo Vianna

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Em São Paulo, uma foto e uma eleição. O que pesa mais?

25 de Junho de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Uma foto e uma eleição
Por Rodrigo Savazoni, no SPressoSP

Olho detidamente para as fotos de Lula segurando as mãos de Paulo Maluf. Uma busca no Google oferece a imagem capturada de vários ângulos. Em uma delas, Lula está sorridente. Em outra, um pouco taciturno, cara amarrada, enfastiado. Há até uma em que Maluf ensaia um afago em Haddad. A foto dos três juntos, Haddad, Lula e Maluf, causa desconforto, repulsa, desperta sentimentos que não gosto de sentir. Faço parte daqueles que nas redes sociais destilaram seu desassossego com tamanha virulência simbólica. Inimigos aliados. Em nome de quais interesses?

Dias antes, eu comemorara a escolha de Erundina para a composição da chapa majoritária, numa aliança entre PT e PSB. Erundina e Haddad, ao toparem caminhar juntos, teriam de defender o legado das administrações petistas, a começar pelo mandato da própria Erundina, que só conheço de “ouvir dizer” e de análises que chegam, anos depois, vindas de muita gente boa que integrou sua gestão. A versão que a história registra, hoje, é que era uma administração a frente de seu tempo. Pensei com meus botões: que o tempo da ousadia, então, seja o agora.

A imagem de Lula de mãos dadas com Maluf pôs fim à esperança de uma chapa Haddad-Erundina. Mulher de fibra, a ex-prefeita sucumbiu diante da potência do símbolo e optou – em consonância com seu partido – em não mais integrar a chapa que disputará a eleição municipal. Em minha opinião, perdemos todos.

Lembrei-me, então, do “É casado, tem filhos?” na eleição passada, quando Marta, uma feminista historicamente defensora dos direitos dos homossexuais, permitiu que seus publicitários exibissem uma propaganda que questionava a orientação sexual de seu oponente, Gilberto Kassab. Não foram poucos os que, diante de tamanho impropério, decidiram votar nulo no segundo turno, que acabou vencido pelo atual prefeito, cujo antecessor e padrinho é José Serra.

Volto, então, à pergunta do primeiro parágrafo: em nome de quais interesses?

A foto é difícil de engolir. Mas ela é reflexo de uma construção que – esteja certa ou errada – pretende dar viabilidade ao candidato Haddad, um intelectual destacado que tem dedicado sua vida à administração pública, sempre em cargos executivos, sendo o último deles o de Ministro da Educação. Em São Paulo, por exemplo, foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico durante a gestão de Marta Suplicy, uma prefeita que – sem entrar aqui nas questões de cunho pessoal – fez uma saudosa administração, em especial aos cidadãos que vivem na parte pobre da cidade.

Não mudou a minha indignação em relação aos líderes partidários que na campanha passada usaram de um vil argumento para tentar eleger Marta. Mas, se pudesse voltar atrás, eu teria votado diferente. Pensando nos fatos dos últimos quatros anos para cá, tenho claro para mim que deveríamos ter lutado muito mais para eleger a Marta. À época dela, políticas fundamentais foram estruturadas na cidade. Por exemplo: se hoje ainda é possível resistir minimamente ao processo de especulação imobiliária que consome a capital paulista, isso se deve ao plano diretor aprovado durante sua gestão; ênfase no transporte público, ações de distribuição de renda sob comando do Márcio Pochmann, iniciativas inúmeras destinadas às periferias, como o programa de Valorização das Iniciativas Culturais (VAI) e o programa de Telecentros em software livre, bilhete único etc.

Muita coisa boa foi feita. Se tivéssemos seguido aquele caminho trilhado, com certeza São Paulo não estaria tão mal. A presença do partido de Maluf no governo federal não impediu que Lula fizesse uma gestão destacada como presidente. Tenho muitas críticas ao governo de Dilma Rousseff, mas nada de estratégico que ela escolheu fazer até agora foi por ter o PP em sua base de sustentação. O mesmo ocorrerá com Haddad, se for eleito. O Partido de Maluf terá um papel residual na administração. Por outro lado, a diferença que um governo do PT em São Paulo, neste momento, pode fazer, não é pequena. E nisso eu sigo acreditando.

Achei que seria uma travessia mais entusiasmante, com Erundina ao lado e a militância nas ruas. Poderia ter sido. A perda dessa possibilidade, no entanto, não tira minha convicção de que, neste momento, eleger Haddad prefeito nos trará mais ganhos que perdas. A foto atrapalha, mas há mais coisas a ponderar.


Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/sao-paulo-uma-foto-e-uma-eleicao.html

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