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Rodrigo Vianna

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Eu também sou marginal, ministro

2 de Outubro de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Por Izaías Almada, colunista do Escrevinhador

Um dos ministros do STF, ao tecer sua catilinária, afirmou que os réus da AP 470, “são marginais do poder”. Sei que o uso da palavra substantivada foi proposital ao invés do adjetivo, que significa estar à margem, mas sem conotação pejorativa. Porque o novo STF não julga, acusa, de preferência sem a possibilidade de defesa, uma vez emitido o parecer nesta fase do julgamento.

Todos nós, em algum momento da nossa vida, somos marginais, isto é estamos à margem de algum fato, de algum conhecimento, de alguma conquista científica ou social, em particular aqueles que lutam com extrema dificuldade para sobreviver numa sociedade de classes, onde o bem supremo é o sucesso através do consumismo, ou do status em função da atividade social exercida, em particular aquelas em que se pode mostrar autoridade.

Existem os marginais na poesia, os marginais no futebol, os marginais da universidade, os marginais da informática, do samba, da tecnologia de ponta, da cura do câncer, pois o saber humano é compartimentado e em cada um deles, muitos de nós nos sentimos à margem, pois não temos o conhecimento necessário para a prática daquela atividade. Isso não é nenhum desdouro, pois, com certeza, temos outros conhecimentos que, muitas vezes um jurista não tem, por exemplo…

Quem disse que juízes de supremos tribunais são bons políticos ou conhecem a prática política na sua intimidade? Ou bons jogadores de basquete ou ainda conhecedores da física quântica? Os três poderes republicanos são independentes e devem manter respeito entre si. E isso já demonstra alguma civilização…

Mas, voltando a questão central, devo dizer ao excelentíssimo senhor ministro que eu também sou marginal. Estou à margem, por exemplo, dos tribunais de exceção. Durante a ditadura civil/militar de 64/68, estive à margem, pois lutei contra ela. Estou à margem da hipocrisia e da soberba. Estou à margem da posmodernidade, ou seja lá o que isso signifique. Estou à margem do pensamento neoliberal, embora tenha que conviver com as suas vicissitudes. Estou à margem do consumismo idiota, do jornalismo tacanho. Repito: podemos ser todos, circunstancialmente, marginais.

Nesse sentido, é também possível dizer que muitos juristas sejam marginais da própria Justiça, essa que se imagina com o jota maiúsculo…

Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros “Teatro de Arena, uma estética de resistência”, da Boitempo Editorial e “Venezuela, povo e Forças Armadas”, Editora Caros Amigos.


Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/colunas/reflexoes/eu-tambem-sou-marginal-ministro.html

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