É até covardia comparar Janio de Freitas a Clóvis Rossi. O segundo costumava ser um repórter até respeitado. Virou colunista, dado a obviedades. Com o passar do tempo, parecia querer agradar já não os leitores, mas os patrões. Agora, dizem-me que se refugiou numa coluna de temas internacionais. Mas dá seus pitacos, claro, sobre política brasileira.
O jornalista Janio de Feritas é mais velho, mais contundente. Não parece disposto a agradar ninguém. Com o passar dos anos, feito os bons vinhos, tornou-se também mais consistente. Disposto a contrariar consensos que dominam a velha mídia.
Por que falo dos dois? Recebi de um amigo apelo para que lesse os artigos de Janio e Rossi, que a “Folha” (diário conservador paulistano, com linha editorial próxima ao tucanato) publica nessa quinta-feira (11 de outubro).
Os dois tratam do “Mensalão”. Janio de Freitas, sem negar os fatos, preocupa-se com a decisão da Suprema Corte brasileira, de mandar a jurisprudência e as provas às favas. No STF, condenou-se na base de indícios…. Vejam o que diz o decano jornalista:
“As deduções em excesso para fundamentar votos, por falta de elementos objetivos, deixaram em várias argumentações um ar de meias verdades. Muito insatisfatório, quando se trata de processo penal, em que está implícita a possível destinação de uma pessoa à prisão (…) “Não disponho de juristas alemães a citar também, nem me valeria de uma daquelas locuções romanas disponíveis nos bons dicionários. Logo, não ousaria contestar os doutos da corte suprema. Mas todos os mal preparados podem saber que a atribuição do valor de provas ao que seria, no máximo, indício significa nem mais nem menos do que falta de prova.”
Em suma, diz Janio de Freitas, na “Folha”: condenou-se sem provas. E ele diz mais:
“Indícios são, inclusive etimologicamente, indicações de possibilidades. Não são verdades. Nem mesmo certezas. No Brasil, o argumento da “insegurança jurídica” é brandido pelo “mercado” sempre que quer proteger privilégios. A consagração de indícios e deduções como provas, para condenações, é ameaça muito extensa. Ou seja, em muitos sentidos, instala insegurança jurídica verdadeira.”
Rossi vai por outro caminho. Parece regojizar-se com as condenações sem provas, que alguns (com razão) chamam de golpe. Rossi dá ao artigo o seguinte título: “Não era golpe, eram fatos”.
Ok. Acontece que Rossi não tem coragem de defender sozinho sua tese. Não traz em seu socorro juristas alemães, mas “a mídia internacional” que, segundo ele, desmascarou a “teoria da conspiração golpista que blogueiros, a mídia e intelectuais chapa-branca inventaram safadamente”. Rossi busca socorro em quais jornais? “El País”, “Financial Times”… Até aí, nada demais. Rossi nos últimos anos se transformou em “copydesk” de imprensa estrangeira. É um direito dele. E um direito legítimo da “Folha” gastar papel com quem faz “control-C” e “control-V”.
Não é curioso que a “mídia nacional” não baste? Ele precisa de socorro externo, feito FHC quando o Brasil quebrou em 99? A “mídia nacional” é suspeita? Parece que sim.
Mas o que espanta é outra coisa. Para mostrar que até gente próxima ao PT concorda com o caminho escolhido pelo STF, ele afirma que muitos fizeram do julgamento uma catarse, e conclui: “Catarse que, de certa forma, faz o ator Odilon Wagner, petista de toda a vida, para quem o julgamento foi exemplar”.
Peraí. Odilon Wagner é petista de vida inteira? Mas ele não foi apoiador de Serra e dos tucanos nas últimas campanhas? Parece que foi petista no passado. Mas Odilon Wagner aparece na brilhante lista de “artistas e intelectuais” que prestam apoio a Serra, na atual eleição em São Paulo. Vejam o que diz o G-1:
“O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, em um evento para intelectuais na tarde desta terça-feira (18). O encontro ocorreu em uma sala do cinema Reserva Cultural, na Avenida Paulista, e reuniu artistas e acadêmicos, entre eles Agnaldo Timóteo, Bruna Lombardi, João Grandino Rodas, Celso Lafer e Odilon Wagner.”
Certamente, há petistas que concordam com o julgamento no STF. Rossi não precisava recorrer a um apoiador de Serra para “provar” sua tese.
Chamar Agnaldo Timóteo e Bruna Lombardi de “intelectuais” é uma ironia (certamente, involuntária, por parte do G-1 da Globo). Chamar Odilon Wagner de “petista de toda a vida”, a essa altura, é simplesmente mentiroso. Rossi precisa buscar doutores alemães para socorrê-lo. Do contrário, pode virar um Agnaldo Timóteo do jornalismo.
P.S.: advinhem para qual artigo a “Folha” deu chamada na capa? Janio ou Rossi?
P.S 2: diz-me um amigo que Rossi pode estar tão agressivo por causa do resultado eleitoral que se avizinha em São Paulo; o jornalista teria, através de sua família, ligações com certas correntes políticas. Fato que até o fechamento dessa edição não pode ser comprovado, mas também não pode ser descartado.
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