O Brasil insiste em melhorar
Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa
Em meio ao noticiário sobre corrupção e violência, os jornais de quinta-feira (29/11) trazem, ainda que de maneira um pouco tímida, novos estudos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, sobre a evolução do fenômeno da mobilidade social no Brasil.
Os dados são animadores: apesar da má distribuição histórica de alguns serviços básicos e da grande diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres, o Brasil atingiu em 2011 o menor índice de desigualdade dos últimos trinta anos, está conseguindo corrigir as diferenças de oportunidades por questão étnica e amplia o número de famílias com acesso a melhores condições de moradia.
Os dados são parte da Síntese dos Indicadores Sociais (SIS ), feita com base nos levantamentos do PNAD. O relatório apresenta análises sobre variados aspectos do desenvolvimento social e econômico do país, e cada jornal escolheu um tema para destaque.
Presença maior
A Folha de S.Paulo, por exemplo, preferiu analisar o estudo sobre a maior presença da mulher no mercado de trabalho, a permanência de carências sociais e a conquista da universidade por jovens negros e pardos.
O Globo destaca, pela ordem, a falta de creches para crianças de 4 anos de idade, os benefícios do Bolsa Família, a persistência do analfabetismo entre adultos, o envelhecimento da população e o aumento do acesso das famílias a serviços de saneamento básico.
O Estado de S.Paulo dá grande destaque à redução da desigualdade na distribuição de renda, lembra que 30% das moradias ainda não contam com todos os serviços básicos, como água tratada, coleta regular de lixo, energia elétrica e destinação adequada de esgoto.
Os dados completos podem ser lidos no site do IBGE, que tem um calendário para divulgação de dados estatísticos e estudos setoriais importantes, como os índices de acesso à internet e pesquisas sobre pequenas e médias empresas.
Interessante observar que a leitura de apenas um jornal, nas edições de quinta-feira (29), não oferece uma visão adequada da Síntese dos Indicadores Sociais. Também é curioso notar que a imprensa finalmente aceita o fato de que as políticas sociais de transferência de renda, que já foram chamadas de “bolsa esmola”, produzem resultados econômicos consistentes.
Onde um jornal vê um copo quase cheio, outro jornal pode enxergar um copo meio vazio. Por outro lado, persistem ainda algumas deficiências no tratamento de questões complexas, como a relação entre a falta de creches, basicamente uma atribuição dos municípios, e a limitação das possibilidades de trabalho e renda para mulheres.
Além disso, o estudo demonstra que mesmo nesse quesito tem havido uma melhora consistente: na década de 2001 a 2011, a porcentagem de crianças brasileiras com idades entre 0 e 5 anos que vão à creche subiu de 25,8% para 40,7%.
Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, 83,7% frequentavam a rede de ensino em 2011 e o número de jovens com idades entre 18 e 24 anos que chegaram à universidade cresceu de 27% em 2001 para 51,3%, com maior presença de negros e pardos, que eram apenas 10,2% dos estudantes de cursos superiores em 2001 e passaram a compor 35,8% dos acadêmicos em 2011.
Olhar conservador
Em praticamente todos os aspectos analisados, a pesquisa demonstra que, mesmo passados quatro anos da grande crise financeira que derrubou a economia global, o Brasil segue no caminho do desenvolvimento.
Paralelamente, pode-se observar que a imprensa tem dificuldade para lidar com indicadores complexos, principalmente se os dados tendem a se contrapor a crenças generalizadas sobre como funcionam a economia e a sociedade.
Quando se constata, por exemplo, que 58% dos brasileiros acessam a internet todos os dias e que 80% deles estão nas redes sociais, compondo um porcentual de interações inferior apenas aos das populações dos Estados Unidos, China e Índia, é preciso repensar os dados sobre educação.
Isso porque, segundo especialistas citados pela própria imprensa, o relacionamento nas mídias sociais amplifica o potencial de aprendizado e aumenta o protagonismo dos cidadãos. Essa característica de sociabilidade dos brasileiros é um trunfo importante quando se considera que o futuro da educação está no uso intensivo das novas tecnologias.
Portanto, até mesmo os dados estatísticos sobre a mobilidade social precisam ser analisados com um olhar menos conservador.
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