do Opera Mundi
O assessor especial da presidente Dilma Rousseff para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, minimizou nesta terça-feira (16/07) a criação da Aliança do Pacífico e afirmou que o bloco formado por México, Chile, Peru e Colômbia “não tem relevância econômica e não representa concorrência ao Mercosul”.
“A Aliança do Pacífico não deve tirar o nosso sono de maneira nenhuma. O PIB regional que ela envolve é muito menor que o do Mercosul [US$ 2 trilhões contra US$ 3,3 trilhões]. O bloco não me parece ser formado por países com dinamismo econômico e surgiu de um sistema de reduções tarifárias existente há muito tempo. A Aliança do Pacífico teve efeito publicitário muito forte, mas contribui muito pouco, a não ser para aqueles que já se sentem convencidos por ela antes mesmo da criação”, argumentou.
Na segunda mesa de debates de hoje da conferência “2003-2013: uma nova política externa”, no campus São Bernardo da Universidade Federal do ABC, Garcia disse que a América do Sul vive “o fim de um primeiro ciclo de integração”. “Há vários itens inconclusos nesta etapa, mas os objetivos gerais foram atingidos por conjunção de governos progressistas, com a adesão de lideranças de outros matizes em órgãos como a Unasul [União das Nações Sul-Americanas].”
“Sem a Unasul poderíamos ter tido guerra civil na Bolívia e um grave conflito entre Equador, Colômbia e Venezuela [em 2008]. Também não teríamos respondido a altura à violação constitucional no Paraguai e ao escandaloso processo de interdição do avião de Evo Morales. E, dessa forma, sem a Unasul, renunciaríamos a algo que não é suficiente, mas é fundamental, que é o sentido de soberania nacional dos países que integram região.”
Além de Garcia, a mesa foi composta por Valter Pomar, secretário-executivo do Foro de São Paulo, Maria Regina Soares de Lima, coordenadora do OPSA (Observatório Político Sul-Americano) e Renato Martins, professor da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana). Um dos assuntos abordados por Pomar foi a percepção de que a política externa do governo Dilma Rousseff é menos incisiva do que a de Luiz Inácio Lula da Silva.
“É claro que há diferenças óbvias de perfil, entre Dilma e Lula, Antonio Patriota e Celso Amorim, mas temos que ver se há inflexões políticas reais. O que vejo são mudanças no ambiente externo e interno. Externamente, o impacto da crise cresceu e nos pegou com mais intensidade. A marolinha de Lula virou um tsunami para Dilma. Dentro do Brasil, o grande empresariado mudou sua postura, não colabora e passou a enfrentar Dilma”, analisou o secretário-executivo do Foro de São Paulo, cujo próximo encontro será no final deste mês.
A professora Maria Regina Soares de Lima, por sua vez, discutiu as rupturas e as continuidades da diplomacia brasileira no que se refere aos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). “A prioridade à política sul-americana é uma das inovações do governo Lula. Apesar de FHC ter organizado as primeiras cúpulas entre chefes de Estado do continente, são concepções distintas sobre a região”, afirmou.
Soares de Lima também elogiou o tratamento dado pelo governo brasileiro aos seus vizinhos desde 2003. “O Brasil sempre reivindicou tratamento diferente nos fóruns norte-sul, mas nunca reconhecia assimetria na região. Com Lula, passou-se a construir a ideia de poder sul-americano, vinculando a prosperidade brasileira e a da região.”
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo