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Rodrigo Vianna

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Maringoni: contra o “surto conservador”

9 de Setembro de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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por Rodrigo Vianna

Não sei se São Paulo já teve um cartunista na Câmara Municipal. Agora, há essa chance. Imagino o Wadih Mutran pedindo um aparte ao “nobre edil” Gilberto Maringoni (PSOL) - que poderia responder com um desenho, uma charge, ou um sorriso. Maringoni faz política sem perder o humor. E é de esquerda, sem perder o humor. Já é um mérito.

A menos de um mês da eleição, muita gente acompanha a eleição para Prefeito. Quase ninguém sabe em quem votar pra vereador. O Escrevinhador fará, nas próximas semanas, entrevistas com três candidatos à Câmara Municipal de São Paulo: Gilberto Maringoni do PSOL (http://maringonivereador.com.br ) é o primeiro. Na semana seguinte, será a vez de Jamil Murad (PCdoB). E, pra fechar, um candidato do PT.

Arquiteto, desenhista, jornalista, professor, Maringoni foi filiado ao PT. Saiu para o PSOL. Mas não é daquela turma que acha PT e PSDB “farinha do mesmo saco”. É corinthiano, mora na zona leste paulistana. Candidato pela primeira vez, sem grana, precisa conseguir milhares de votos e ainda torcer pro partido dele, PSOL, alcançar o quociente eleitoral (cerca de 100mil votos) pra eleger ao menos um vereador.

Abaixo, Maringoni  fala sobre São Paulo, congestionamentos, Merval Pereira, Getúlio Vargas, Lima Barreto, Oscar Niemeyer… Confiram. 

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1) Jornalista, cartunista e professor, você participa ativamente do debate sobre Comunicação e Politica que se trava nos blogs e sites não alinhados com a velha mídia. Por que decidiu ser candidato a Vereador? Na Câmara Municipal, pode dar uma contribuição maior do que na trincheira aqui da internet?
- Decidi me candidatar por três motivos básicos. O primeiro é combater um processo elitista de privatização da cidade, através da concessão e terceirização de equipamentos e serviços públicos. O segundo é fazer frente a um surto conservador, com demonstrações claras de preconceito, higienismo social e violência contra os pobres. E terceiro é ajudar a recompor a esquerda na cidade de São Paulo, sem sectarismos e com um projeto consistente de mudança.

2) São Paulo tem tantos problemas que dá até preguiça de pensar: por onde começar? A que áreas você pretende se dedicar mais de perto, se for eleito?
- Eu começo lutando contra a privatização da cidade em várias esferas. Inúmeros equipamentos públicos na área de saúde, cultura, transporte e educação são administrados pela iniciativa privada. Fui pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) por quatro anos. Lá aprofundei minhas concepções sobre que desenvolvimento – que inclui distribuição de renda e bem estar. Ele só é possível com intervenção do Estado. O caos da cidade só pode ser enfrentado com poder público forte e democrático, que não tem nada a ver com autoritarismo e força contra os fracos.

3) O que significa o domínio absoluto do carro em São Paulo? Sua campanha reflete sobre isso, não é? Você anda de carro ou de Metrô/ônibus?
- Significa a supremacia do bem privado sobre o bem público. Sou usuário de transporte público. Pego metrô as sete da manhã para trabalhar e sei o que é superlotação, atraso e panes constantes. O sistema de transporte público está em colapso. É o resultado de anos de falta de investimento por parte dos governos tucanos. Com um sucateamento dessa ordem e vários financiamentos para a compra de carros, não é à toa que a população prefira o transporte individual. Só que a cidade não comporta mais essa tendência.

4) As pessoas param pra ouvir um candidato a vereador? Como vencer o clima de despolitização e ceticismo com a Politica?
- Não é verdade que as pessoas não querem saber de política. O interesse é alto. A população quer seriedade. Tanto é verdade que o DataFolha atestou que a maioria quer a continuidade do horário gratuito no rádio e na TV. Percebo isso nas ruas e na internet..

5) De que forma um vereador de oposição (o PSOL não vai eleger o Prefeito de São Paulo) pode ajudar a cidade? Vai fiscalizar, ok. Mas o que mais pode fazer?
- O Giannazi pode surpreender. Ele não é um representante do poder econômico e luta bravamente para que a política não seja um balcão de negócios. Um vereador do PSOL vai para a Câmara para fazer política no sentido grande da palavra. Isso quer dizer questionar o Executivo sobre a privatização acelerada de bens e serviços públicos em São Paulo, propor projetos de leis e, especialmente, ser um aliado importante para as demandas e lutas do movimento social.

6) Por que você saiu do PT e foi pro PSOL? O seu partido é muitas vezes criticado por fazer o jogo que interessa aos conservadores, por fazer um discurso “udenista”. Isso é fato?
- Antes de responder é preciso dizer que o PT foi decisivo para as disputas políticas no país durante duas décadas. Fui dirigente do PT. O partido não era, ou não parecia ser, uma agremiação como as outras, submissa ao poder econômico e às baixas jogadas da politicagem. A dada altura o partido mudou e passou a defender coisas impensáveis, como superávit primário, privatizações, juros altos entre outras bandeiras. Embora exista muita gente de valor no partido, acho que a construção de uma alternativa mais à esquerda se faz agora fora do PT. O PSOL não faz o jogo da direita. Quem faz são os que se aliam a Sarney, Maluf, Mutran, Jader e outras figuras desse naipe.

7) PT e PSDB são a mesma coisa? Há diferenças entre PT e PSDB nas gestões recentes na Prefeitura de São Paulo?
- Evidentemente que não são a mesma coisa. O PSDB é o partido do capital financeiro strictu senso e da direita tradicional em termos ideológicos. O PT guarda ainda uma base popular muito expressiva, o que lhe dá enorme legitimidade para bem e para mal. Essa legitimidade permite, por exemplo, que o partido adote medidas de cunho liberal – como as privatizações e reformas regressivas como a da Previdência – com menor resistência popular. Mas não age como força de direita, que criminaliza o movimento popular. Ao mesmo tempo, deixou de ser um partido que tenha como meta a transformação social.

8) O que é ser de esquerda? Como atua um vereador de esquerda? O PT deixou de ser de esquerda?
- Ser de esquerda é fortalecer o caráter público do Estado, lutar para enquadrar o mercado e somar esforços para uma transformação social que amplie a democracia e distribua renda e propriedade. A meta é chegarmos a uma sociedade socialista. O PT hoje representa uma espécie de ala esquerda do neoliberalismo. Um vereador de esquerda tem a função pública de ser um representante das lutas e demandas populares na Câmara Municipal.

9) Quem são as pessoas que você mais admira, na vida e na política?
- A lista é extensa. Admiro minhas filhas. Na política, começo com Graco Babeuf, grande líder popular da Revolução Francesa, morto aos 37 anos de idade. Não tenho como omitir os grandes formuladores do marxismo, Marx, Engels, Lênin, Gramsci, Fidel e Che Guevara, entre tantos outros. O Brasil está cheio de líderes populares de dimensão estelar, como Prestes, Marighella, Apolônio de Carvalho, João Candido e muito mais. Por sua vida, obra e furiosa revolta, incluo Lima Barreto. É bobagem prosseguir. A lista é incompletíssima…

10) Gostaria de saber sua opinião (em uma linha) sobre as seguintes personalidades:
- Getúlio Vargas – O criador do Estado moderno no Brasil
- FHC – Um folclórico com PhD. Vendeu o Brasil.
- Lula – Tem um papel importante na história, mas não mudou o Brasil
- MalufA ditadura vive na base do governo
- Doutor Sócrates – Sensibilidade emanada da extrema Razão
- Neymar – Estrela imatura
- Celso Furtado – Junto com Caio Prado e Florestan, o grande intelectual brasileiro do século XX
- Miriam Leitão – O mercado de saias
- Caetano Veloso – Talento oceânico. Parece estar mudando politicamente, para melhor.
- Hugo Chávez – O grande estadista da América Latina, depois de Fidel
- Lênin – Um universo. Não há paralelo no século XX
- Roberto Civita – Rupert Murdoch deveria se ofender quando comparado a ele
- Otavio Frias Filho – Adolescente da terceira idade
- Joaquim Barbosa – Teve seu melhor momento ao enfrentar Gilmar Mendes
- Zé Dirceu – Foi o grande estrategista do PT
- Niemeyer – Gênio. Livrou a arquitetura brasileira dos rococós neoclássicos e nos ensinou a valorizar as extensas curvas. Fiel às suas convicções.
- Machado de Assis – Tudo já foi dito em seu favor. É pouco
- Merval Pereira – A imortalidade está com os dias contados


Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/maringoni-contra-o-surto-conservador.html

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