por Rodrigo Vianna
Boa parte do eleitorado brasileiro mal teve tempo de refletir sobre a eleição nacional. Muitos só o farão lá para agosto, após a Copa – quando o horário eleitoral na TV começar.
Mas o noticiário político segue tomado por notícias sobre Dilma/Lula, Aécio/Serra, Eduardo/Marina. É nítido o esforço para enfraquecer Dilma e forçar um segundo turno – aliás, cada vez mais provável.
Ao mesmo tempo, nos jornais, portais de internet, rádio e TV, mal se fala da eleição estadual. O Estado mais rico e mais populoso do país tem problemas gravíssimos relacionados à gestão estadual: segurança pública, água, educação. Mas a velha mídia segue a esconder a eleição paulista. Há uma espécie de pacto de invisibilidade.
A Petrobras e a inflação são jogados no colo de Dilma. É justo… Mas e a água de São Paulo? De quem é a responsabilidade? Alckmin não é cobrado. Do além, surge um tal “Volume Morto da Cantareira” – água podre do fundo das represas, que o paulista prepara-se para beber.
O alerta sobre a invisibilidade da eleição para governadores veio do jornalista Florestan Fernandes Jr, no facebook:
“Amigos, chamo mais uma vez a atenção de vocês para a total falta de interesse da nossa mídia, principalmente a de São Paulo e Minas Gerais, para as eleições estaduais. Isso vem se repetindo desde 2002, o objetivo é claro: evitar que a maioria dos eleitores tome conhecimento antecipado dos candidatos. Todos os holofotes ficam voltados apenas para a eleição presidencial. Trata-se de uma mãozinha amiga para facilitar a reeleição de alguns governadores. Você se lembra qual foi a última vez em que o Datafolha, e o Ibope realizaram pesquisa para a corrida estadual?”
De fato, chama atenção que não haja pesquisa. Mas o mais grave é não haver debate. Candidatos de oposição a Alckmin só aparecem na mída convencional se o objetivo for atacá-los.
Faça um teste, e veja se na sua rua ou no seu trabalho as pessoas sabem quem vai disputar o governo do Estado com Alckmin. A ideia é criar um clima de apatia. Passa a ser quase “natural” que Alckmin seja reeleito. Se as pessoas não sabem quem são os desafiantes, quem está na disputa, se não se abre espaço para a crítica ao modelo tucano, como criar um outro pólo de poder no Estado?
Quanto às pesquisas, busquei no TSE e encontrei apenas um levantamento contratado sobre a eleição em São Paulo: o diretório do DEM (partido aliado de Alckmin) contratou o pouco conhecido “Data Kirsten Pesquisas”.
Há um longo questionário… E antes de perguntar em quem o cidadão pretende votar pra governador, há duas perguntas que parecem cumprir um papel bem detetminado. Vejam:
“39. NA ÚLTIMA ELEIÇÃO PARA GOVERNADOR, EM 2010, O SR(A) VOTOU NO ENTÃO ELEITO GERALDO ALCKMIN?
(1) Sim (2) Não (3) Não Lembra/NSA
40. COMO AVALIA A ÚLTIMA GESTÃO DO GOVERNADOR ALCKMIN NO PERÍODO DE 2011 ATÉ HOJE?
(1) Péssima (2) Ruim (3) Regular (4) Boa (5) Ótima (6) NSA.”
Só depois desse “aquecimento”, em que o entrevistado é lembrado sobre Alckmin, é que surgem as duas perguntas sobre eleição. Se o eleitor mal sabe quem são os outros candidatos, e se o instituto ainda “aquece” o entrevistado, o que você acha que deve surgir como resultado?
Apesar disso tudo, Alckmin deve enfrentar dificuldades até outubro. A crise na Segurança e a crise de abastecimento de água devem fazer dessa a eleição mais difícil já enfrentada pelos tucanos.
Skaf, do PMDB, parece mais bem posicionado para colher os eleitores que já foram tucanos e hoje estão cansados ou decepcionados com o PSDB.
Padilha vem com a força e a tradição do PT. O partido costuma conquistar ao menos 20% dos votos no Estado. Mas o desgaste de Haddad na capital pode atrapalhar.
Kassab, do PSD, é ainda uma incógnita. Dilma e o PT gostariam que ele mantivesse a candidatura, para arrancar votos mais centristas. O PT teria até “incentivado” o PDT a aderir a Kassab, para que ele tenha mais tempo de TV. Ainda assim, o ex-prefeito pode preferir uma aliança com Skaf ou até mesmo com o desafeto Alckmin.
Mas essa é uma batalha que se trava nos bastidores. Longe das luzes. Porque a mídia tucana segue fingindo que não haverá eleição em São Paulo.
A água barrenta e as torneiras secas é que podem atrapalhar o pacto de silêncio em torno da eleição paulista.
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo