Texto e informações da Afropress e do Jornal da Record
Ordem de Serviço do Batalhão da Polícia Militar sediado em Campinas, assinada pelo comandante, capitão Ubiratan de Carvalho Góes Beneducci, determina que as abordagens no bairro Taquaral a transeuntes e em veículos em atitude suspeita deveriam ser feitas “especialmente em indivíduos de cor parda e negra com idade aparentemente de 18 a 25 anos, os quais sempre estão em grupo de 3 a 5 indivíduos na prática de roubo a residência daquela localidade”.
A Ordem foi assinada no dia 21 de dezembro e deveria ser cumprida daquela data até a última segunda-feira, 21 de janeiro, por todos os policiais encarregados das rondas de serviço nas ruas Castro Alves, Avenida Júlio Diniz, Rua Baronesa Geraldo de Resende e Rua do Oratório nas proximidades do Liceu Salesiano aos sábados no horário das 11h às 14h.
São quatro as equipes encarregadas pelo patrulhamento ostensivo e preventivo nesses locais – a A, B, C e D – todas com a mesma orientação: a abordagem a transeuntes dirigidas especialmente a negros em idade de 18 a 25 anos.
Surpreendido com o vazamento do teor da Ordem de Serviço, o comando da corporação destacou o capitão Sérgio Marques, que é negro e não pertence ao Batalhão de Campinas, para explicar o caso.
Ao repórter Vinícius Costa, do Jornal da Record, o oficial disse que “o texto foi redigido de maneira equivocada”. “A contextualização de repente não ficou bem clara. E que aquela atuação ela foi o que? limitada a um perímetro determinado, com pessoas determinadas, com um número de pessoas determinado. Não importa a cor da pele, o que a Polícia Militar proporciona é segurança as pessoas que, indistintamente, vivem no Estado de S. Paulo”, tentou se explicar o porta-voz da PM.
Ele acrescentou que a determinação se referia, especificamente, a uma quadrilha “e que dois indivíduos [cujos nomes não revelou] já teriam sido presos”.
Suspeito padrão
Para o advogado Dojival Vieira, também ouvido pelo Jornal da Record, a Ordem de Serviço reflete a postura ideológica racista ainda extremamente arraigada na ideologia da corporação, e que considera o negro suspeito padrão. “O capitão da PM do Estado de S. Paulo assume essa postura discriminatória que se manifesta na ação direta, concreta, nas abordagens, especialmente quando os alvos são jovens e negros”, afirmou.
Segundo ele, não por acaso o Mapa da Violência 2012 mostra que, no Brasil, morrem 2 vezes e meia mais jovens negros do que brancos e se repetem, no cotidiano, as situações em que o negro é o suspeito padrão, alvo preferencial das abordagens. “O que ainda não se conhecia é que havia ordens expressas do Comando da PM com essa orientação”, afirmou.
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