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Rodrigo Vianna

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Nem reivindicação nem unidade dos trabalhadores

5 de Fevereiro de 2014, 7:54 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Por Rui Costa Pimenta*, em seu blog

Ao contrário da direita e da esquerda pequeno burguesa, que pretendem fazer campanha eleitoral, é preciso se tanto opor à repressão às mobilizações quanto à tendência à mobilização nesta etapa. É preciso pressionar para que adotem um programa de luta contra os planos dos monopólios capitalistas e seus governos, que querem fazer com que os trabalhadores paguem pela crise.

Servir à política eleitoral da direita ou mobilizar em favor dos interesses dos explorados diante da crise?

Ao mesmo tempo em que ocultam ou procuram distorcer – culpando os manifestantes e os “vândalos” – a violenta repressão às manifestações realizadas nos últimos dias (principalmente, quando assumem o caráter de um claro protesto contra a selvageria policial, os super lucros dos banqueiros, a falta de moradia, a falência dos transportes coletivos…) os monopólios de comunicação do País – amplamente dominados pela direita pró-imperialista – vem procurando destacar as mobilizações por ora bastante minoritárias “contra a copa do mundo”.

Confusão explorada pela direita

Tais manifestações, que reuniram na maioria dos casos poucas centenas de manifestantes, expressaram por um lado a disposição de luta de uma parcela da juventude, que não encontra vazão na política cada vez mais reacionária das direções das organizações do movimento estudantil e das burocracias sindicais, que ainda estão mergulhadas em profunda crise e procuram bloquear (cada vez com maiores dificuldades) as lutas estudantis e sindicais em todo o País e, por isso mesmo, estão com seus dias contados.

Por outro lado, essas manifestações vem deixando clara a falta de uma perspectiva política consequente do ponto de vista dos explorados, ou seja, revolucionária, da maioria dos seus autores, dentre outros, por dois aspectos centrais.

O primeiro e mais importante deles é que está ausente destas mobilizações uma reivindicação que sirva para unificar os setores explorados, a juventude e, principalmente, a classe operária, em torno de uma luta contra o regime político e contra a “saída” que a burguesia e seus governo nos oferecem diante da crise: que paguemos pela crise com um aumento da exploração e miséria da maioria da população para manter os lucros dos capitalistas que despencam em todo o mundo.

Quem quer “abrir mão da Copa”?

A bandeira “contra a Copa” não é uma reivindicação de nada nem uma palavra-de-ordem que – de modo algum – possa servir à unificação de amplas parcelas dos explorados contra os exploradores e seu regime político. Pelo contrário, é evidente que pelo caráter amplamente popular do futebol no “país do futebol”, ser “contra a Copa” ou dela “abrir mão” – como gritam alguns esquerdistas e infiltrados da direita nas manifestações – serve apenas para fazer coro justamente com setores minoritários da direita, que veem claramente na Copa do Mundo (e ainda mais no almejado título desejado por quase 200 milhões de brasileiros) um grave problema para suas pretensões eleitorais, diante da falência política de seus partidos, amplamente repudiados pela população.

Na realidade, trata-se de uma “política” puramente negativa que procura se opor a gastos exorbitantes da Copa, que repetem a roubalheira vista em outros eventos comandados pelo capitalismo e suas organizações, sejam as Olimpíadas, a visita do Papa ou qualquer obra.

É o mesmo esquema corrupto comum ao próprio capitalismo a “ter mais dinheiro para saúde e educação”, como a abundância de dinheiro destas áreas, também dominadas por capitalistas igualmente corruptos, não estivesse sendo a fonte de gigantescos lucros para os tubarões que dominam os negócios privados da saúde (planos de saúde dominados pelos banqueiros, hospitais privadas etc.) e da educação (redes privadas de ensino – como o grupo Anglo e a Editora Ática e outras, do grupo Abril, o mesmo da Revista Veja; entre outros) cujos negócios somam fortunas bem maiores que as investidas na Copa do Mundo e são dominados pelos setores mais reacionários da burguesia nacional.

Ficar com a direita contra o povo?

A proposta de mobilizar para até mesmo “impedir a Copa” obviamente não tem o menor apelo popular nem mesmo entre os poucos corintianos, flamenguistas, atleticanos etc. que participam das manifestações e que – influenciados momentaneamente pela esquerda pequeno burguesa e por setores da direita que se opõem a tudo que diga respeito à população (futebol, carnaval etc.) só tendo “olhos” para essas atividades quando garantem interesses materiais ou políticos bem concretos.

A direita reacionária que apoia direta (até mesmo com policiais infiltrados nas manifestações) e indiretamente a “luta” “contra a Copa” é a mesma que durante a ditadura militar procurou tirar proveito político óbvio do sucesso do tricampeonato brasileiro sob a liderança de Pelé, Tostão, Gérson e outros craques do esporte das multidões.

A mesma TV Globo que dá o maior cobertura às manifestações “contra a Copa” (é claro procurando direcionar sua política) é a mesma emissora que detém o monopólio das transmissões pela TV do futebol brasileiro, que faz campanha contra a presença das torcida no estádios etc. tudo para garantir o seu podre esquema de transformar o esporte admirado por milhões em um negócio cada vez mais lucrativo e sem a presença popular.

Por essas e outras questões, fica evidente que propor que a juventude e os trabalhadores brasileiros se mobilizem para “impedir a Copa” não é nem mesmo uma reivindicação séria, é uma política eleitoral da direita – acompanhada por uma parcela sectária e pequeno burguesa da esquerda que vai se acostumando a fazer coro com os interesses do imperialismo no Brasil e em todo o mundo.

É o caso do PSTU que, entre outras demonstrações de “genialidade” política e submissão à direita, apoiou o golpe no Egito, como uma revolução; pediu armas para Obama para os “revolucionários” combaterem o governo sírio; ficou do lado de Aécio Neves e outros próceres da direita nas homenagens a Yoani Sanchez em sua campanha – financiada pelo imperialismo contra Cuba, entre outros.

A favor das UPP’s, mas “contra a Copa”?

Essa mesma esquerda pequeno burguesa (e é claro a direita) que propõe atos “contra a Copa” não moveram uma palha, não fizeram qualquer campanha contra (e em alguns casos apoiaram) quando o governo ultradireitista de Sérgio Cabral (PMDB-RJ) ocupou as favelas e bairros operários e lá instalou as famigeradas UPPs, para defender aí claramente o interesse dos especuladores imobiliários que estavam preparando a cidade para os grandes negócios da Copa e das Olimpíadas.

Da mesma quando os governos municipais de Gilberto Kassab (então no DEM, hoje do PSD), Geraldo Alckmin e Aécio Neves/Anastasia (ambos do PSDB)  e Mario Lacerda (PSB-MG) – entre muitos outros casos – desapropriaram e expulsaram para longínquas periferias milhares de famílias para promover reformas em suas cidades e estados com vistas a garantir o lucro das empreiteiras que realizavam as obras da Copa.

Agora, já com os lucros desses tubarões garantidos e com a população reprimida (centenas ou milhares de “amarildos” torturados e assassinados pelas UPPS e por toda a máquina de guerra desses governos), esses senhores querem protestar “contra a Copa” sem qualquer reivindicação concreta que diga respeito aos interesses dos trabalhadores e da maioria da população, que mostra uma tendência cada vez maior de sair à luta, se rebelar e explodir contra a burguesia e seus governos responsáveis por essa situação.

Esse quadro se expressa nas revoltas populares nas periferias contra a repressão, nas mobilizações de sem teto, nas greves estudantis e mobilizações de importantes categorias, como vimos desde o ano passado, com as greves dos trabalhadores dos correios, bancários, petroleiros, professores etc. que – mesmo com os limites impostos por suas direções majoritárias – expressaram as tendências do atual ascenso, no sentido de se desenvolver no interior da classe operária, que não vai sair à luta para apoiar a política da direita, mas em defesa de suas próprias reivindicações diante da crise.

Por uma política independente para as mobilizações

Para que os setores que ingressaram e que ingressam na luta no último período (que tendem a se ampliar) não sejam controlados por uma política que serve aos interesses da direita reacionária e golpista, que mesmo sendo “contra a Copa” está procurando usar o evento em favor dos seus próprios interesses, como pressionar o governo capitulador do PT a aprovar uma legislação ultrarreacionária como a chamada “lei antiterrorismo”, justamente para reprimir ainda mais brutalmente e, de fato, cassar o direito de manifestações, é preciso buscar esclarecer essa situação e lutar junto ao movimento operário, popular e na juventude para que se desenvolva na próxima etapa um movimento concreto, com reivindicações concretas que digam respeito aos interesses dos trabalhadores e do conjunto dos explorados.

 * Dirigente do Partido da Causa Operária (PCO)


Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/geral/nem-reivindicacao-nem-unidade-dos-trabalhadores.html

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