por Rodrigo Vianna
Na eleição mais importante do país, o PSDB de São Paulo tentou fugir para Serra maestra. Fustigado pela rejeição de seu líder maior (?!), não soube reagir. Os tucanos (de São Paulo) não sabem lutar quando acuados. Covas sabia. Os que sobraram não sabem. Só conseguem avançar em terreno inimigo se tiverem a infantaria protegida pela aviação (mídia velha) e a artilharia (velha mídia). Na disputa em São Paulo, até contaram com artilharia pesada. Mas ela mirou para o lado errado: Mensalão, kit gay… Os tucanos paulistas – capturados pela irracionalidade de blogueiros medonhos da “Veja” e de pastores com estranhas fixações sexuais - falam cada vez mais apenas para convertidos. Caíram no gueto, e ali chafurdam.
A primeira conclusão óbvia que a eleição municipal nos traz é essa: o PSDB só vai sobreviver se trocar o eixo de comando. Saem os paulistas de calças sociais e camisas azuis. Entram os mineiros joviais. Alckmin não tem fôlego para pensar em Brasília, terá que se concentrar em São Paulo: o tucanato paulista está sob fogo serrado e cerrado, e pode perder seu bastião – como escrevi aqui.
Nesse giro para fora do gueto, Aécio ganha alguns aliados importantes: ACM Neto e um DEM que comandará a terceira cidade brasileira; Arthur Virgílio e a coragem de quem não foge de brigas amazônicas; o PPS com algumas cidades de médio porte conquistadas país afora.
Eduardo Campos e o PSB
Os tucanos também acham que podem atrair Eduardo Campos e o fortalecido PSB para uma aliança de ocasião contra o lulismo. Como eu havia escrito aqui, logo após o primeiro turno, o mais provável é que o PSDB vire linha auxiliar do neto de Arraes. Vejamos…
O PSB conquistou o maior número de capitais. Virou o quarto partido brasileiro, atrás apenas de PT, PSDB e PMDB. Isso é fato. E há mais: ao contrário dos tucanos, Eduardo pode – legitimamente – ensaiar um discurso “pós-Lula”, do tipo “gostamos do Lula, respeitamos o legado dele, mas é hora de seguir para uma nova fase”. Aécio dizer isso não cola, porque ele estará cercado por fantasmas dos velhos tempos fernandistas. Eduardo Campos dizer isso cola, sim!
Portanto, Eduardo tem base eleitoral de saída (Nordeste e algumas cidades grandes Brasil afora), e tem discurso. A questão é: a hora é 2014? Ou 2018? Isso depende do que acontecer com o PT.
Lula, Dilma e o PT
Lula colheu uma vitória maiúscula com a eleição de Haddad. Lula só perdeu na Globonews. A derrota tucana em São Paulo é tão séria que já começou o acerto de contas entre Serra e outras lideranças tucanas – que pretendem jogar toda a conta pelo fracaso nas costas do bravo líder da Mooca.
O PT vive uma situação curiosa, que merece análise mais aprofundada em outro momento. De um lado, consolidou-se no Sul/Sudeste com vitórias e/ou grandes votações em cidades importantes de São Paulo, Minas, Paraná, Rio… Podemos listar, além da capital paulista: Guarulhos (segundo município paulista), São Bernardo do Campo, Osasco, São José dos Campos, Uberlândia e Niterói – onde venceu; além de Campinas, Belo Horizonte, Ponta Grossa e Maringá – onde não venceu mas teve mais de 40% dos votos.
Ao mesmo tempo, no Norte/Nordeste o PT conquistou mais Prefeituras de pequeno porte, mas fracassou nas cidades grandes (com execeção de João Pessoa e Rio Branco). Qual a explicação? Erros políticos apenas (como se viu no Recife e Fortaleza)? Ou há motivação econômica?
A hipótese que se levanta é que as melhorias econômicas provocadas pelo Bolsa-Família, crédito consignado, Luz Para Todos estariam se esgotando nas cidades grandes do Norte/Nordeste. Nas pequenas, esses programas ainda fazem a diferença.
O PT viveria a aparente contradição de ser – ao mesmo tempo – um partido dos “grotões” nordestinos e das cidades grandes e médias com ampla população industrial ou já na era dos serviços.
Quem ocupa o lugar que o PT perdeu no Norte/Nordeste? PSB em boa parte (ou seja, o povo não está tão satisfeito com o PT, mas vê PSDB/DEM como passado).
Dilma tenta inaugurar nova fase de crescimento – com juros baixos, obras públicas, redução de impostoes. Os reflexos só devem aparecer em 2013/2014. Se a economia se acelerar, os primeiros a sentir a arrancada seriam moradores dos grandes centros. Assim, o PT poderia recuperar parte do eleitorado “perdido” em 2010 e 2012.
Nesse caso, sobraria pouco espaço para uma “aventura” de Eduardo Campos.
Mas e se a economia andar “de lado”, com crescimento tímido?
Aí, teríamos uma eleição mais aberta. Imaginem um quadro com Dilma (PT/PMDB), Aécio (PSDB/DEM/PPS), Eduardo Campos (PSB/PSD) e a incógnita de Marina Silva…
Eduardo tiraria parte do eleitorado petista do Nordeste. Com boas alianças com PSD e lideranças desgarradas, conquistaria (pequenos) nacos do Sul/Sudeste. Candidatura para 15% ou 20% dos votos.
Aécio tiraria (boa) parte do eleitorado mineiro do PT, sairia forte de São Paulo com apoio de Alckmin (que travará batalha de vida ou morte com PT) e conquistaria pedaços do Norte/Nordeste (com lideranças sobreviventes do DEM/PSDB). É candidatura para 20% ou 25% dos votos no primeiro turno.
Dilma teria uma votação espalhada pelo país. Poderia chegar a 40% ou 45%. Dificilmente venceria no primeiro turno.
O melhor para Aécio e Eduardo não seria uma aliança no primeiro turno. Mas candidaturas separadas, com possibilidade de apoio num segundo turno, a depender da conjuntura.
Eduardo teria peso (e coragem) para confrontar a “candidata do Lula” em 2014? Hoje, acho pouco provável. Mas não é um cenário de todo improvável.
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