por Paulo Nogueira na Carta Maior
São reveladoras do “pluralismo” da Folha as novas aquisições anunciadas pelo jornal para sua cobertura de política. São elas: Reinaldo Azevedo, Demétrio Magnolli e Ricardo Melo. Os três terão uma coluna semanal na Folha.
Faça uma conta simples. É um pluralismo em que dois terços são de direita e um de centro. Reinaldo Azevedo é de extrema direita, Magnolli é de direita e para dourar Melo a Folha, em seu anúncio, buscou no passado remoto a informação de que ele foi da Libelu.
Já sugeri uma vez, e sugiro de novo: a Folha poderia trocar seu slogan em nome da verdade. Sai “um jornal a serviço do Brasil” e entra “um jornal a serviço de si mesmo e seus amigos”.
Entre os amigos figura a Globo. Algum tempo atrás, diante do escândalo documentado da sonegação bilionária da Globo na compra dos direitos da Copa de 2002, perguntei pelo Facebook ao editor executivo da Folha, Sérgio Dávila, se aquilo não era notícia.
A Folha não tinha dado nada. Ponderei a Dávila que o UOL, da própria Folha, tinha dado uma matéria na qual a Globo admitia sua encrenca com a Receita Federal e reconhecia haver recebido uma multa.
Dávila ficou tocado com meu argumento, imagino. No dia seguinte, ou um depois, apareceu no site da Folha uma matéria (raquítica) sobre o caso. Em outros países, seria manchete: a Globo não apenas sonegou como trapaceou ao, contabilmente, dizer que estava fazendo um investimento no exterior, e não comprando os direitos da Copa.
Mas pelo menos a informação veio. Em meu inexpugnável otimismo, imaginei que seria o início de uma investigação profunda de um assunto de colossal interesse público pelo “jornal a serviço do Brasil”.
Foi o triunfo da esperança. Não saiu mais nada. Repito: nada. Novos vazamentos mostraram que a Globo, ao contrário do que afirmara em nota, não pagou multa nenhuma. Na internet, onde se pratica o verdadeiro jornalismo livre no Brasil, se propagou uma conclamação bem-humorada à Globo: “Mostra o Darf”.
Não mostrou.
Bem, passados alguns dias, voltei a falar com Dávila. Ele tergiversou. E sumiu. Se conheço a vida nas redações, ele pediu a matéria no calor de nossa conversa e, depois, recebeu um calaboca da família Frias, sócia da Globo no Valor.
Se conheço os barões, um telefonema partido do Jardim Botânico para a Barão de Limeira resolveu e encerrou a questão. Não bastasse a solidariedade fraternal de classe, alguém do Jardim Botânico poderia ter lembrado ao interlocutor na Barão de Limeira que ninguém ali tem exatamente um comportamento de freira no quesito pagamento de impostos devidos.
Esta é a nossa brava “mídia livre”. Que em dez anos de PT não tenha sido feito nada para moralizar – esta a palavra melhor: moralizar – a mídia mostra quanto o partido tem sido tímido, medroso até, para enfrentar privilégios do chamado 1%. (A senhora Kirchner é bem mais combativa.)
Há um território enorme, decisivo vital na grande mídia vedado a quem não seja acionista. Reinaldo Azevedo disse que o combinado é que ele poderá escrever sobre o que queira na Folha, mas quem acredita nisso acredita em tudo, para usar a máxima de Wellington.
Nada ilustra melhor este movimento da Folha do que o comentário postado no blog de Azevedo por um leitor. Transcrevo tal como está escrito: “Única mídia que confio e sigo é VEJA ABRIL! A folha em um tempo atrás era ligado com grupos Comunistas! Espero que não seja uma armadilha Reinaldo! Cuidado!”
Nelson Rodrigues certa vez escreveu que mídia obtusa e leitores obtusos se justificam e mutuamente se absolvem.
Pois é.
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