por Rodrigo Vianna
Depois de ver meu time chegar à liderança do Brasileirão, eu tomava aquele lanche preguiçoso com meus filhos – já quase adultos – no fim de domingo. Um deles anunciou que ia tomar banho antes de dormir. Brinquei com ele: “aproveita enquanto há água”. E ele: “pai, não exagera, situação da água não está tão grave”. O mais velho então emendou: “não está grave, então por que na casa de uma cliente onde presto serviço já falta água há quase um mês?”
Começou um debate entre eles sobre a água. Apresentei aos dois os números desesperadores do Sistema Cantareira (caiu para 10% da capacidade, isso no momento em que teremos que enfrentar 4 meses absolutamente sem chuva). Meus filhos ficaram ressabiados: “se a situação é tão grave porque ninguém fala claramente sobre isso?”
Pois é… Esperteza demais costuma liquidar o esperto. A imprensa velha brasileira fala sem parar na “crise da Petrobras”. Acontece que não há qualquer risco de faltar gasolina, ou de a Petrobras pedir concordata. Nada disso.
Sobre a falta de água, quase não há manchetes. Os repórteres até produzem seus textos. Mas a mídia velhaca acha que pode controlar a realidade. Tira a seca do Sistema Cantareira das manchetes. E quando o assunto ganha espaço, não há qualquer cobrança ao governador tucano.
A situação é desesperadora. Não para Alckmin apenas, mas para os paulistas. Sobre isso, leia o texto de Altamiro Borges.
Especialistas calculam que lá para julho ou agosto o Sistema Cantareira (que abastece 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo, além de outros tantos no interior do Estado) vai entrar em colapso. Antes disso, já começará a se ampliar o “rodízio disfarçado” de água.
A mídia não fala no assunto. Nos questionários de pesquisas eleitorais velhacas o tema não entra em pauta. Mas a realidade é traiçoeira… E o assunto surge nas conversas informais. Nas ruas, nas casas, na mesa do lanche no domingo. Não se trata de conversa sobre política. É a realidade cotidiana. Gente que não consegue tomar banho na zona norte. Outros que já precisam programar horário de lavar a roupa na região de Cotia (Grande São Paulo).
Quando a ficha cair, em larga escala, o susto vai ser gigantesco. Vai ser parecido com o olhar de meu filho hoje, na hora do lanche: “mas vai faltar água e ninguém nos avisa?”
O público, os cidadãos, os eleitores vão-se sentir enganados quando descobrirem que a falta de água em São Paulo não é um assunto “controlado”. E nem um “fenômeno” climático. Mas que foi provocada por falhas graves de gestão.
E aí o eleitor vai se perguntar: quem me enganou?
Se o assunto fosse tratado de forma honesta pelo governo paulista, o tombo seria muito menor. Alckmin talvez tenha sido convencido pelos auxiliares que é possível evitar o racionamento, e passar “raspando” por outubro, sobrevivendo à seca das torneiras (mais ou menos como o FHC fez em 98 – fingindo que não havia uma crise cambial gravíssima batendo à porta).
Alguém enganou o governador. E ele passou o engodo adiante – enganando o povo paulista.
Vai ter Copa. A Petrobrás não vai quebrar. Mas as torneiras, infelizmente, vão secar em São Paulo; em algum momento, entre julho e outubro, isso vai ficar claro.
E aí Alckmin não terá defesa. Não há manchete mentirosa que explique a torneira seca. Não há mídia velhaca que salve os tucanos paulistas dessa mentira.
===
Falando em mídia velhaca, o jornalista Eduardo Nunomura fez um exercício curioso – tentando mostrar como a imprensa trataria a crise de falta de água em São Paulo se o Estado fosse administrado pelo PT…
por Eduardo Nunomura, no facebook
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo