Por Gustavo Hofman, em seu blog na ESPN
Em 24 de agosto de 1991, a Ucrânia declarou sua independência da União Soviética. Desde então, país já foi sacudido por outros movimentos sociais, como a revolução estudantil de 1989, a revolta contra o Governo em 2000 e 2001 e a Revolução Laranja de 2004. A praça central se tornou o palco das agitações até mesmo pelo seu histórico de nomenclatura: antes Revolução de Outubro, passou a se chamar Praça da Independência.
Em seu centro há o monumento em homenagem a Berehynia, espírito feminino pertencente à mitologia eslava, responsável por proteger a casa, ter um coração materno. Os manifestantes se sentem protegidos por lá, ao menos sentem que é o local ideal para expressarem suas idéias e ideais. Quem não concorda com isso é o governo do país.
Desde que Viktor Yanukovich renunciou a um plano de aproximação da União Europeia em favor da Rússia, a Ucrânia explodiu. Ou melhor, o oeste ucraniano explodiu com um objetivo bem claro: derrubar quem está no poder do país.
Com isso, temendo os protestos, a Uefa anunciou a mudança do local da partida entre Dynamo Kiev e Valencia, pela primeira fase de mata-mata da Liga Europa. Ao invés do Estádio Olímpico de Kiev, os times se enfrentarão no GSP Stadium, em Nicósia, no Chipre.
Assim como em tantos casos ao longo da história e do presente, é possível observar o que acontece politicamente no país pelo futebol.
A Ucrânia é uma nação dividida. O leste – Donetsk – mantém fortes os laços com o passado soviético e, consequentemente, com a Rússia, tendo inclusive o russo como primeira língua, à frente do ucraniano. O oeste – Kiev – sempre foi pró-Otan, pró-Europa. Essa divisão existe também entre Dynamo Kiev e Shakhtar Donetsk. Questões históricas e culturais.
Enquanto Kiev atualmente arde em chamas, Donetsk vê marchas contra os protestos.
Manifestantes pró-Viktor Yanukovich em Donetsk, em dezembro
Comunistas fizeram passeatas em Donetsk contra a aproximação com o bloco europeu
Maior clube do país e também da União Soviética, o Dynamo tem a maior torcida da Ucrânia e é presidido por Igor Surkis. Igor é irmão de Grigory Surkis, ex-presidente do clube e atual mandatário da Federação Ucraniana de Futebol, além de oposicionista político do governo Yanukovich.
O Shakhtar é de propriedade de Rinat Akhmetov, homem mais rico do país, que transformou o clube em potência internacional e forte aliado político de… Yanukovich. Inclusive, Akhmetov teve participação ativa na Revolução Laranja dando suporte ao então candidato Yanukovich, derrotado por Viktor Yushchenko – apoiado pelo Leste e envenenado durante a eleição. Nas eleições seguintes a situação se inverteu.
Há um documentário chamado “The other Chelsea – A story from Donetsk” que mostra claramente a influência política existente no futebol ucraniano, mais especificamente no Shakhtar (há no YouTube a versão completa). O diretor Jakob Preuss acompanhou a campanha do time na Liga Europa de 2009, conquistada pelos Mineiros (apelido que vem da atividade de maior exploração na região) e que serviu de palanque político para Viktor Yanukovich. Além disso, é possível sentir nas palavras dos personagens o saudosismos dos tempos soviéticos.
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