por Rodrigo Vianna
Interessa aos partidários de Henrique Capriles criar um clima de confrontação. Para os chavistas, o melhor seria aguentar provocações, sem permitir que a situação desande para a confrontação nas ruas. É isso o que me explica, por telefone, um amigo que conhece muito bem a Venezuela e o chavismo.
Acontece que falta combinar com os russos! Nas últimas horas, chegam notícias preocupantes sobre a beligerância na Venezuela. Tanto é que o próprio presidente decidiu falar claramente: prepara-se um Golpe de Estado no país, como em 2002.
Alguns dados:
- na noite de segunda para terça, a turma de Capriles atacou carros e prédios do Governo de Barinas (Estado onde nasceu Hugo Chavez);
- cercou casas de autoridades, ateando fogo em algumas delas;
- atacou centros de saúde onde se concentram médicos cubanos;
- cercou a sede da VTV e da TeleSur – duas emissoras simpáticas ao chavismo;
- atacou integrantes da Guarda Nacional que faziam segurança no bairro nobre de Altamira (Caracas), dominado por antichavistas.
A impressão é de uma ação coordenada da direita.
Os chavistas, há pouco, decidiram ir para as ruas, defender a sede da TeleSur e outros pontos estratégicos sob ataque da direita venezuelana. A tensão é enorme, e no momento em que escrevo os ataques de parte a parte tornam-se ainda mais violentos também nas redes sociais – inclusive com ameaças de morte contra um apresentador de TV chavista.
Dias antes da eleição, o governo da Venezuela prendeu mercenários colombianos e salvadorenhos, que haviam entrado no país com armas e explosivos. As pistas indicam que os “rapazes” da CIA podem estar atuando na terra de Bolívar.
Capriles não reconhece o governo eleito de Nicolás Maduro. Com a votação obtida (49% dos votos), ele poderia perfeitamente comandar uma oposição institucional, elegendo mais parlamentares no próximo pleito, e preparando-se para derrotar Maduro mais à frente – no voto.
Mas o núcleo duro de Capriles parece ter escolhido o atalho do golpismo. Foi esse o caminho adotado em 2002 – quando derrubaram Chavez e colocaram no poder (por dois dias) Pedro Carmona – um líder empresarial que foi prontamente reconhecido como presidente pelo governo dos Estados Unidos (sem falar na imprensa brasileira, que comemorou o golpe).
O DNA golpista parece atuar de novo. A turma de Capriles passou anos falando em riscos para a liberdade de imprensa, sob Chavez. E agora, cerca emissoras de TV. Passou anos defendendo a “volta à normalidade democrática”, e agora aposta na instabilidade.
Não é exagero imaginar que, mantido o clima de confrontação que se vê hoje, a Venezuela possa caminhar para Guerra Civil. Seria mais um país rico em petróleo a enfrentar a instabilidade fomentada por Washigton.
Os chavistas cometeram erros nos últimos anos. Há muito o que se criticar na administração que agora está sob o comando de Maduro. Mas do outro lado há o fantasma de uma direita que parece não ter aprendido nada com a história.
O Brasil precisa agir, rapidamente. Não podemos aceitar a desestabilização de um país membro da UNASUL e do Mercosul. Os Estados Unidos e a extrema-direita venezuelana (não falo da direita civilizada, democrática, que tem todo direito de se opor ao chavismo, pela via institucional) vão cometer um grave erro, se apostarem que a Venezuela vai cair feito o Paraguai ou Honduras.
Maduro falou claramente: prepara-se um golpe de Estado na Venezuela. Maduro não é Chavez. Mas a multidão chavista tem força para resistir. E as Forças Armadas, ao contrário de 2002, estão livres dos golpistas.
Os próximos dias serão decisivos. Se Capriles não fizer um chamado consistente para a calma e a ordem, as consequeências podem ser dramáticas não só para a Venezuela, mas para toda a América do Sul.
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