Em vez de explicar o problema ocorrido ontem (4) à noite no Metrô de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, apelaram a acusações e ironias ao comentar nesta manhã a nova falha, que resultou em pânico e quebra-quebra nas estações Marechal Deodoro e Santa Cecília, da Linha 3-Vermelha.
O secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Jurandir Fernandes, atribuiu os problemas, que têm sido apontados com frequência pela RBA, a “vândalos”. “Por volta de 18:19, tivemos um problema de porta numa composição. Isso nós resolvemos em dez, 15 minutos”, garantiu. “Você retira as pessoas daquele carro, não precisa ser da composição inteira, e um segurança, com uma fita de isolamento, dá continuidade ao percurso da viagem e depois ele é recolhido no terminal.”
De acordo com o secretário, esse procedimento não foi adotado porque “alguns exaltados já com todo um ânimo para fazer um vandalismo, começaram a motivar, incentivar, gritar palavras de ordem, slogans, para que as pessoas pulassem na linha”. Ele afirmou ainda ter achado estranho que sete trens, “num espaço de tempo muito curto”, tiveram os sistemas de emergência acionados. “A gente não sabe se isso foi gerado pelo desconforto [pelo corte do ar-condicionado] ou se foi tramado para isso ocorrer. Então gerou o efeito-cascata que nos levou a essa situação.”
Na mesma linha, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) mencionou o termo “sabotagem”. “O problema poderia ter sido resolvido em dez minutos, mas em seguida quase dez botões de emergência foram acionados quase que simultaneamente”, disse. “Eu não acredito que essas coisas sejam geração espontânea, acho que precisa ser investigado com seriedade, verificar com câmeras de vídeo qual a origem disso”, acrescentou, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo relatos de usuários, os problemas, que começaram com um problema de portas na estação Sé, criaram pânico dentro de vagões, alguns dos quais estavam superlotados. Pessoas passaram mal com o forte calor e o ar-condicionado, provocando o acionamento dos botões de emergência.
Os problemas de portas nos trens da Linha 3-Vermelha têm sido frequentes. A RBA tem denunciado desde o ano passado tanto o problema como o fato de que ele ocorre nos trens de reformas denunciadas como superfaturadas e as quais o Ministério Público-SP já admite serem objeto do cartel formado por diversas empresas, como Alstom e Siemens.
Os trens que têm acusado a falha estão nos lotes dos 98 trens das linhas 1 e 3 que tiveram quatro contratos suspensos por 90 dias pelo MP-SP. Na segunda-feira, o promotor Marcelo Milani mencionou o problema das portas e do sistema informatizado CBTC, que seria a origem dos problemas. “Os trens abrem a porta e desaparecem da tela. Os operadores não sabem onde o trem está. Por isso cunharam o apelido de trem fantasma. O CBTC é um dos principais motivos dos atrasos no cumprimento dos contratos”, disse o promotor.
O alerta já havia sido feito em uma série de reportagens da RBA no ano passado, indicando por duas vezes que as portas das composições haviam se aberto em movimento, colocando em risca a vida dos passageiros. Apenas três meses após a primeira denúncia, já em novembro de 2013, o Metrô admitiu o problema, que tentou atenuar classificando-o como normal e informando que haviam ocorrido com os trens em baixa velocidade.
O secretário de Alckmin disse que as denúncias do Sindicato dos Metroviários sobre as reformas dos trens, especificamente à frota K, que provocou um problema de grandes proporções em agosto do ano passado, são fruto de uma fobia. “O sindicato tem uma fobia contra essa série K. Alguma coisa precisa ser explicada talvez até no campo da psicologia”, afirmou Fernandes.
No ano passado, a RBA mostrou que os trens da frota K, recém-reformados pelo cartel de empresas alvo de denúncias, tinham uma média de falhas diárias muito acima dos trens mais antigos. As composições da frota K rodam, em média, 230 quilômetros por dia e passam aproximadamente oito horas diárias fora de circulação, por causa das sucessivas falhas. Um trem antigo fica cerca de quatro horas em manutenção e circula 550 quilômetros por dia, um desempenho 130% melhor.
Ele disse também que os metroviários representados pelo sindicato, “ao invés de colaborar, quer jogar a população contra uma instituição de 40 anos”. Para Fernandes, o Metrô paulistano é “um dos melhores metrôs do mundo”.
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