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Rodrigo Vianna

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“Por acidente”: um cronista na internet

3 de Setembro de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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por Rodrigo Vianna

Conheço o Luis Cosme há mais de 20 anos.  Ele, um pouco mais experiente, era repórter do TJ Brasil, no SBT. Eu era um iniciante na reportagem, trabalhava na TV Cultura. Costumávamos nos encontrar nas coletivas e nas pautas por aí. Em 94, Cosme mudou para a TV Cultura (era um tempo em que a emissora pública tirava gente boa das TVs privadas, e fazia um jornalismo de primeira),e nos tornamos amigos. Fui pra Globo em 95. Anos depois, o Cosme apareceria por lá – agora como editor. Fizemos juntos uma bela série de reportagens sobre os 50 anos da morte de Vargas. Isso na Globo, uma tremenda vitória (sobre isso, escrevi aqui). Agora, há 6 anos, trabalhamos juntos na Record. Ganhamos até um Vladimir Herzog em 2007.

Há muitos anos, eu já sabia que o Cosme era bom de contar histórias. Botafoguense da gema, ele tem a calma e a picardia dos cariocas criados na zona norte do Rio – a mesma zona norte de onde saiu Aldir Blanc, talvez o maior cronista da música brasileira. Cosme saiu de Vila Isabel muito cedo, pra trabalhar em São Paulo. Mas a Vila Isabel, com seu manancial de histórias, segue com o Cosme por aí. Há 2 anos, ele me surpreendeu com uma novidade: “meu amigo, tô escrevendo um livro, só de crônicas”. O livro – “Ponte Aérea” – foi publicado, com boas histórias do carioca que vive em São Paulo há tantos e tantos anos.

Cresci lendo grandes cronistas, que publicavam em jornais: Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga. Há quem diga que a crônica morreu. Ou que seria enterrada nos próximso anos, na mesma sepultura onde descansarão os velhos jornais. Parece que não. A boa crônica, como o samba, “agoniza mas não morre”. 

Agora, a gente lê crônica na internet. Os textos do Cosme estão sendo publicadas em pílulas, pelo R-7. Abaixo, um aperitivo. Toda semana, virá mais.

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POR ACIDENTE

- Luis Cosme

Ela tem sempre uma novidade para contar. E o melhor, quando não tem, inventa. Faz curso de meditação, estuda  astrologia, viaja para Lençóis Maranhenses, assina revistas de turismo, de qualidade de  vida, aplica no mercado  financeiro, ou seja, não falta assunto.

A conversa  é repleta de descrições precisas e bem-humoradas. Minha amiga é uma especialista em contar histórias e tem uma técnica muito peculiar de torná-las engraçadas. O segredo é preencher a  narrativa com detalhes, mas eles só entram se forem divertidos e surpreendentes. Nem todos são exatamente verdadeiros, não aconteceram do jeito que ela narra, mas a versão é sempre mais rica que o  fato, ela gosta de repetir.

Noite dessas, essa amiga me acordou sem sequer me dar tempo de perguntar as horas. Era um acidente na Avenida  Sumaré, me informava com a voz alterada. A Sumaré é uma autopista que cruza vários  bairros movimentados de São  Paulo. De dia é congestionada, mas de madrugada é disputada por jovens que vão para lá ver quem cruza mais rapidamente seus quatro quilômetros. No Rio, chamam de  pega, em São Paulo é racha, mas em qualquer lugar do mundo é uma tentativa simultânea de suicídio e homicídio.

Bem, ela me dizia que estava saindo de uma “balada” quando se viu diante de uma cena insólita. Eu pergunto se ela precisa de ajuda, mas ela pede, com riso contido, para eu esperar. Sussurrando, alega que tem de se afastar alguns passos para explicar. Estou nervoso com o acidente, irritado porque sonhava, impaciente com a demora, e agora revolta­do com o riso dela. Qual é a graça?

Mas mau humor ali não cola e ela continua:

-Você não vai acreditar, a ambulância está levando embora o Super-Homem, a Mulher Maravilha, que parece apenas tonta e não corre risco. Já o Batman sofreu um corte no supercílio, nada grave.

Por um momento penso que é um pesadelo, mas ela fala sem parar e acendo a luz. São 5 horas e a descrição ganha detalhes, os tais detalhes.

O carro dos três super-heróis bateu na traseira de um caminhão de lixo, ela conta que vinha em outro veículo e acompanhou tudo. Viu quando os lixeiros, já refeitos do susto, tentaram enxergar quem estava lá dentro, mas os vidros escuros não deixavam.

Eles abrem a porta do motorista e aí sim levam um super susto com os super-heróis. O Super-Homem é enorme, musculoso e está uma fera. Amedrontados, os lixeiros se entreolham. Um deles esfrega rosto, o outro aperta o nariz e pergunta à minha amiga se ela está vendo o mesmo que  ele.

O Super-Homem reconhece a culpa, os garis se acalmam, mas minha amiga se agita. A contadora de casos se aproxima da Mulher Maravilha em busca de uma explicação, mas a moça pede o celular emprestado e liga pedindo ajuda.

(para saber como acaba a história, clique aqui)


Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/sopa-de-letras/15274.html

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