Eleições 2012: Em Mesquita, PT enfrentará o Jogo do Bicho
17 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindado Blog Ponto e Contraponto
Mesquita é a cidade mais nova da Baixada Fluminense e a pouca idade (12 anos desde sua emancipação), pode ser notada por sua imaturidade urbana e política. E 2012 é o ano em que a maturidade política vai ser posta à prova.
Além da usual briga política de quadros locais e/ou remanescente da “cidade mãe”, Nova Iguaçu, nestas eleições um fato novo domina a disputa: o principal candidato, André Taffarel (PT), atualmente vereador da bancada aliada do prefeito Artur Messias (PT), vai enfrentar o ex-prefeito da cidade vizinha, Nilópolis, Farid Abraão (PDT).
Farid Abraão (politicamente Abrão) é conhecido não apenas por ter sido diversas vezes prefeito de Nilópolis, mas também por suas ligações com a Escola Beija-Flor de Nilópolis (da qual já foi presidente) e por ser irmão do contraventor Anísio Abraão David. O grupo político ligado à Anísio, que já domina a política em Nilópolis, tenta desta vez um nome de peso para entrar na política Mesquitense (sonho que parece não ser novo) e consolidar a família Abraão como a principal força política na região.
Uma matéria do JB online, de 2011 aborda a força política do contraventor em sua cidade:
Principal expoente de uma família enraizada nas estruturas de poder do município da Baixada Fluminense, ele talvez seja, atualmente, o melhor exemplo da influência que os grandes banqueiros do bicho exercem sobre os rumos do poder nos locais onde se estabelecem e como podem influenciar a política em nível estadual e até mesmo nacional.
A “família política” de Anísio, porém, não se limita ao sobrenome “Abraão”. Há também os “Sessim”! O mais conhecido deles é Simão Sessim (PP). Primo de Anísio e Farid, Simão Sessim é o político de Nilópolis com maior peso em âmbito nacional.
No momento em que o Brasil se espanta com a revelação da operação Monte Carlo que mostrou os tentáculos da quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira em partidos políticos, empresas e órgãos de imprensa, é curioso que um contraventor como Anísio, já preso (e solto) várias vezes em operações da PF contra jogos ilegais e lavagem de dinheiro, continue com tanta desenvoltura na política do Rio de Janeiro.
Mesmo após a operação da PF que prendeu Anísio sob acusação de exploração de jogo ilegal duas vezes só em 2012 (Janeiro, depois Março), o contraventor ainda mantém forte influência com um círculo de amizade que talvez deixe um Cachoeira morrendo de inveja: de Globais a políticos, passando por empresários e “agentes da lei”.
Mas essa influência parece nunca ter sido abalada. Das inúmeras vezes que foi preso em operações da PF ou da Justiça (a primeira em 1993, em uma mega operação judicial liderada pela juíza Denise Frossad onde cumpriu 3 anos na prisão), Anísio não aguardou muito para obter o Habbeas Corpus. Na mais recente operação da PF que prendeu Anísio (novamente??!!), ficou claro o incômodo do secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro com a máfia que comanda os jogos ilegais no Estado. Beltrame se manifestou garantindo a continuidade no combate às máfias dos jogos ilegais no Estado, mesmo que os contraventores venham a obter liberdade no judiciário.
Em Mesquita, o prefeito Artur Messias está em seu segundo mandato. O equívoco que foi a emancipação (justificável em cidades como Duque de Caxias) se reflete na incapacidade de, a médio prazo, sanar problemas como saneamento e desenvolvimento urbano. Se Mesquita é elogiada na área de políticas sociais, alguns pontos “estéticos” prejudicam a cidade – como também prejudica cidades vizinhas como São João de Meriti e a própria cidade natal do atual candidato da família Abraão.
Além disso, Mesquita parece ser uma cidade com o processo eleitoral ainda muito volátil, vulnerável à qualquer mudança de humor. Nova Iguaçu (Município a que Mesquita pertencia), aos trancos e barrancos, consegue manter um equilíbrio democrático em suas eleições Municipais, além de estrutura e grande arrecadação. Por sua vez, Nilópolis não pode se vangloriar tanto como tenta!
Entre 1983 e 2009, a cidade teve apenas seis prefeitos. Destes, 4 pertencem ao grupo Abraão-Sessim (o atual é Sérgio Sessim). Alguma dúvida do domínio do grupo neste Município?
Quando ainda havia dúvida se Farid Abrão iria se candidatar por Nilópolis ou por Mesquita, Simão Sessim (irmão do atual prefeito de Nilópolis) resumiu o que todos sabem:
Nossa família está unida como sempre esteve. Ela só é forte, unida. Unidos, nós ganhamos todas as eleições e vamos continuar ganhando
No blog Mesquita em Foco ainda faz uma observação: a “família mantém o comando político em Nilópolis, desde 1966, com a eleição de Jorge Abraão David (falecido).”
Ainda sobre essa hegemonia, em entrevista ao jornal O Dia, o subsecretário estadual de Defesa e Promoção de Direitos Humanos, Antonio Carlos Biscaia (PT) também comenta a influência da família de Anísio na política da cidade:
O domínio completo da família do Anísio na vida política da cidade pode ser comprovada pelo número de parentes eleitos. Eles têm dois deputados (o federal Simão Sessim, do PP, primo de Anísio, e o estadual Ricardo Abrão, do PDT, sobrinho) e o prefeito (Sérgio Sessim, do PP, sobrinho).
e mais:
O jogo do bicho nunca deixou de existir. Os chefões apenas evoluíram nos seus negócios, mas a ligação deles com o crime organizado continua, seja em participações nos homicídios ou em ligações com o comércio de drogas e armas.
Com este cenário político, o candidato André Taffarel terá dois desafios: Mostrar o lado positivo da gestão atual e deixar claro que não é apenas uma disputa contra um adversário com ideologia e propostas diferentes, mas uma disputa contra um grupo político com ligações fraternas com uma das maiores (senão a maior) máfia de exploração do jogo ilegal do Estado do Rio de Janeiro.
Isso tudo em uma região onde os valores são sensivelmente distorcidos e contraventor desfila em carro aberto como herói na vitória de sua Escola de Samba.
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Em tempo: Curioso ver o grupo de Anísio/Farid Abrão dentro do PDT, o mesmo partido que no Rio de Janeiro tem um deputado federal que compete pelos holofotes na CPMI do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Farid Abrão é o atual presidente do partido em Mesquita.
O que será que Miro Teixeira acha disso? Falaria grosso contra essa candidatura?
E o presidente do PDT, Carlos Lupi, alguma palavrinha sobre o domínio da família de Anísio Abraão no PDT de Nilópolis e de Mesquita?
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Em tempo 2: O PSOL de Mesquita preferiu lançar candidato próprio. Novidade?
Talvez nas eleições de lá, o partido preferisse se coligar com Farid Abrão ao PT. Freud explica…
Paraguai: Propina Para Aprovar Venezuela e Exaltação ao Golpe
8 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda“Chávez é um ditador, logo um mentiroso”
Essa visão deturpada do presidente venezuelano, pregado aos quatro ventos pelos grandes meios de comunicação cega o bom senso e serve como artifício para a parcela reacionária da sociedade se “proteger” da demoníaca influência bolivariana que Hugo Chávez personifica. Décadas atrás eram os comunistas, hoje os bolivarianos são a ameaça aos homens de bem.
O golpe do Paraguai foi um caso emblemático. Como já havia ocorrido em Honduras, o governo Chávez foi acusado de se intrometer em assuntos internos de um país. O caso resultou em um vídeo onde, supostamente, o embaixador venezuelano em Assunção tentava fazer com que militares impedissem o processo de impeachment de Lugo.
O vídeo, distribuído pela ministra da defesa paraguaia, havia sido editado para que parecesse que apenas o embaixador venezuelano estava na tal reunião. Mas a rede TeleSur revelou o vídeo sem edição, desmentindo a versão dos golpistas.
O caso resultou na expulsão do embaixador venezuelano e a declaração de Hugo Chávez, que se disse orgulhoso por ter um embaixador expulso por um governo golpista.
Após aguentar uma dezena de acusações, o presidente venezuelano reagiu dizendo que senadores paraguaios tentaram corromper a Venezuela. Eles exigiam 12 milhões de dólares para retirar o veto da entrada da Venezuela no Mercosul.
Aí entra a história do ditador-louco. Quando fez tal acusação, muitos jornais ignoraram a denúncia embora gravíssima. Quando noticiaram, foi em tom de galhofa… blefe de um desequilibrado.
A imagem criada de Chávez pela imprensa reacionária da América do Sul tem esse objetivo. Como teve quando a imprensa brasileira tentou tachar Lula de mentiroso.
Desacreditar previamente qualquer coisa que o presidente venezuelano venha a falar ou fazer. Com todos os defeitos que Hugo Chávez possua, é inacreditável a falta de respeito com um presidente democraticamente eleito, com aval de observadores externos, e representante de um importante país da América Latina. É a tal mentira repetida.
Mas a tal denúncia de Chávez parece não ser um blefe qualquer. Em recente comentário sobre a posição do Mercosul (e do Brasil) sobre a suspensão do Paraguai e aprovação da entrada da Venezuela no bloco, Kennedy Alencar afirmou que no Itamaraty já se comentava da tal propina que parlamentares paraguaios exigiam para aprovar a entrada da Venezuela.
E mais: Lino Oviedo que recolheria os 12 milhões de dólares e distribuiria entre os senadores.
A confirmação do jornalista de que também corria (e ainda corre) dentro do Itamaraty tal informação possivelmente não será repercutida na velha imprensa, como foi a fita editada pelo governo golpista.
XX
A semana que passou deixou os golpistas brasileiros em êxtase. Após emitir nota em apoio ao governo golpista de Franco, o PSDB, representado por Álvaro Dias foi visitar o novo governo paraguaio.
Parecia chefe de Estado. Longe da imagem da oposição, em minoria no congresso. Discursou e exigiu reconhecimento dos golpistas por parte do governo Dilma, um verdadeiro líder!
A dúvida ainda paira no ar: Álvaro Dias foi ao Paraguai fazer intercâmbio de Golpe Constitucional, foi ser empossado novo embaixador do governo Franco ou foi ver a possibilidade de se candidatar à presidência pelo partido Colorado?
Na mesma semana a VEJA veio com uma novidade: Pelo conteúdo, parece que é a nova revista oficial do governo golpista.
Publica um editorial atacando o Mercosul (sempre um incômodo para os defensores da ALCA, imposta pelos EUA) e uma entrevista nas páginas amarelas com a nova vedete da direita conservadora brasileira: Nada menos que o presidente golpista Frederico Franco.
Seria hilário, se não fosse tenebroso ver ideais golpistas sendo expressos sem pudor algum.
PSDB apóia o Golpe no Paraguai
2 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaO PARAGUAI, O PSDB E O DILEMA DO SENADO
Por Mauro Santayana
O novo governo paraguaio pode ficar tranqüilo: o senador Álvaro Dias garantiu ao presidente Franco o apoio incondicional do PSDB à nova ordem estabelecida em Assunção. Com essa solidariedade, o chefe de governo do país vizinho está apto a reverter a situação de repúdio continental, vencer a parada no MERCOSUL e roncar grosso – como, aliás, está começando a fazer – contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai.
O problema todo é que o bravíssimo senador Álvaro Dias, companheiro de dueto, até há poucas semanas, do senador Demóstenes Torres nas objurgatórias morais contra o governo, não combinou esse apoio com o povo paraguaio, que irá às urnas em abril e, provavelmente, nelas, dirá o que pensa da “parlamentada” de Assunção. E, mais ainda: não será ouvido nos foros internacionais que estão tratando do tema. Nesses centros de decisão, quem estará decidindo serão os chefes de estado e os chanceleres dos países do continente. Por enquanto, estando na Oposição, os tucanos não podem falar em nome do Brasil.
A posição brasileira, prudente e moderada, está sendo assumida em consultas com os países vizinhos e com as organizações regionais. Nenhum desses países, por mais veementes tenham sido os protestos, violou um milímetro sequer da soberania do Paraguai – embora, na destituição de Lugo, o soberano real, que éo povo paraguaio, não tenha sido ouvido.
Brasil já anunciou que nada fará que possa prejudicar diretamente o povo paraguaio. Mas as suas elites devem estar advertidas de que a decisão de construir regimes democráticos sólidos, com o respeito absoluto à vontade popular, manifestada em eleições limpas e livres, é irrevogável na América do Sul.
Santayana - A direita contra o Mercosul
2 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaA direita se assanha contra o Mercosul
Por Mauro Santayana, na Carta Maior
Em artigo famoso, Assis Chateaubriand qualificou, há 60 anos, os industriais de São Paulo de seu tempo, reunidos na FIESP e no Centro das Indústrias do Estado, como os fazedores de crochê. A FIESP decidiu contratar o ex-embaixador Rubens Barbosa como seu pensador político e porta-voz corporativo ao mesmo tempo. O diplomata, conhecido por sua posição francamente neoliberal, vem combatendo, com irritante insistência, a política externa brasileira, mesmo que o Itamaraty, sob o chanceler Antonio Patriota, tenha deixado de ser o que foi sob o governo Lula.
Barbosa acusou, ontem, sábado, a Argentina de estar destruindo o Mercosul, ao transformá-lo em instrumento político, em detrimento de sua natureza comercial, e criticou a inclusão da Venezuela no bloco. Talvez porque os grandes empresários de São Paulo, desde sempre, se nutrem do Estado, ele não atacou diretamente o governo brasileiro, nestas declarações mais recentes. O ex-embaixador em Londres e Washington – durante o governo Fernando Henrique - está sendo coerente com a sua posição ideológica e seu alinhamento conhecido aos interesses das grandes finanças. Mas, pelo que parece, está prestando mau serviço à indústria de São Paulo, que tem, na Venezuela, um excelente mercado comprador. Só no ano passado, exportamos US$ 4 bilhões e 591 milhões, e importamos US$ 1 bilhão e 270 milhões, e o superávit comercial com aquele país de US$ 3 bilhões e 321 milhões.
Como está sendo costumeiro, no Brasil – a exemplo dos Estados Unidos – os altos funcionários do Estado se tornam consultores de grandes negócios, tão logo se aposentam. Esse foi o caminho de Rubens Barbosa que, além de chefiar seu escritório de consultoria, tornou-se presidente do Conselho Superior do Comércio Exterior da Fiesp. Mas, como vemos, seu ódio ao governo venezuelano, chefiado por Chávez, levou-o a essas declarações, que contrariam os interesses dos exportadores paulistas.
A manifestação de Rubens Barbosa confirma a orquestração da direita, nacional e internacional, contra a entrada, automática – diante da ausência do Paraguai – no Tratado do MERCOSUL. Ora, daqui a poucos meses serão realizadas eleições presidenciais na Venezuela e, conforme as pesquisas, o presidente Chávez, debilitado pela enfermidade, talvez possa ser derrotado pelo seu oponente, Henrique Capriles. Ora, se isso ocorrer, o novo presidente poderá, se quiser, deixar o Mercosul e alinhar-se totalmente aos Estados Unidos. Não há nada, portanto, para que Rubens Barbosa faça do episódio uma tragédia.
O novo governo paraguaio ameaça deixar o Mercosul, mas o povo paraguaio não o acompanha, se dermos crédito aos comentários dos leitores dos jornais.
O diário Última Hora, de Assunção, em seu lúcido editorial de ontem, recomenda a Federico Franco, e a seu chanceler, moderar a linguagem e buscar bom entendimento com os vizinhos. Com quase unanimidade, seus leitores responsabilizam os golpistas do Parlamento pelas medidas tomadas pelos países vizinhos.
Os oligarcas do Paraguai ameaçam deixar a Unasul e o Mercosul, e isolar-se – e esse é um direito do país -, mas é improvável que o povo os acompanhe. O Paraguai sabe que terá de se entender com os vizinhos, mesmo porque depende dos portos de Buenos Aires e de Paranaguá para o seu comércio internacional.
Os mais extremados sonham com uma aliança descarada com os Estados Unidos e a transformação do país em uma espécie de Israel, a ser armado e financiado pelo dinheiro americano. Outros falam em uma associação do país com a China. É claro que não podemos subestimar os ardis dos norte-americanos, que gostariam de transformar o Paraguai em uma base militar contra a América do Sul.
Mas, como disse, certa vez, o então governador Tancredo Neves a um embaixador norte-americano, o Brasil – apesar dos quislings e vassalos dos estrangeiros - é bem maior do que o Vietnã.