FLISOL sem Ubuntu - Carta aberta aos coordenadores e colaboradores do FLISOL Brasil
March 25, 2015 10:47Por Thiago Paixão*
O FLISOL - Festival Latino-americano de instalação de Software Livre é reconhecido como um dos mais antigos e importantes eventos descentralizados da comunidade latino-americana de Software Livre, completando em 2015 sua 11ª edição.
Ao longo de todos esses anos, o FLISOL teve como compromisso levar gratuitamente instalação de Software Livre, compartilhamento e conhecimento a todos os interessados da sociedade, especialmente à quem ainda não teve, até então, a oportunidade de conhecer e utilizar Software Livre. Com base nesse compromisso, sempre foi respeitada a utilização e instalação exclusiva de Software Livre em todas as edições, não havendo a necessidade de debates em torno de que softwares devem ser instalados ou não durante o evento.
Mas os tempos mudaram, o mercado adotou amplamente o GNU/Linux tornando-se hoje um sistema tão popular quanto seus concorrentes privativos, presente nos mais diversos produtos do mercado. Infelizmente, o que ganhamos em popularidade, perdemos em liberdade. Na grande maioria das vezes, os esforços e opiniões da comunidade não são levadas em consideração pelas empresas que distribuem soluções baseadas em GNU/Linux, havendo uma total negligência e desrespeito quanto as liberdades trazidas pelo Software Livre.
Hoje temos esse cenário ocorrendo em diversas distribuições GNU/Linux, mas é inegável que o exemplo mais emblemático fica a cargo da distro mais popular da atualidade, o Ubuntu da Canonical e suas variantes. É de amplo conhecimento que o Ubuntu vem recheado de drivers e softwares privativos em sua instalação padrão, não orientando e muito menos dando opção de não instalação à seus usuários, gerando uma grande desinformação e dependência, em especial dos usuários mais novos. Sua situação se agrava quando em 2012 foi identificado que, sem um prévio aviso adequado e autorização do usuário, o Ubuntu coletava e vendia dados de seus usuários para empresas como a Amazon, tornando-se a primeira distro a adotar tais praticas invasivas que desrespeitam seus usuários e a tudo que é defendido pelo Movimento de Software Livre. No geral, as políticas empregadas pela Canonical em seus produtos, sempre foram questionáveis do ponto de vista das liberdades e filosofia propostas pelo Software Livre, trazendo total desconforto à comunidade como um todo, trazendo à tona todo esse debate.
Ainda não há um consenso da organização latino-americana do FLISOL quanto a posição a ser tomada em torno do tema, por isso cabe a nós, coordenadores e colaboradores do FLISOL, reagirmos, realizando o debate em torno da questão e levando a situação ao conhecimento de todos. Portanto, como Coordenador Geral do FLISOL Brasil, recomendo fortemente aos Coordenadores Regionais que não distribuam ou realizem instalações de Ubuntu durante o FLISOL. No caso do usuário levar um computador com o Ubuntu já instalado, e ele não quiser substitui-lo por outra distribuição, não negue ajuda, oriente-o da melhor forma. A autonomia das coordenações regionais continua inalterada, ou seja, cabe a elas decidir quais distribuições instalar, mas a recomendação foca em indicar um caminho de coerência com o objetivo primário do FLISOL que é difundir exclusivamente Software Livre.
*Coordenador Geral FLISOL Brasil
Adendo : Deixo claro na carta que não há uma posição oficial da organização do FLISOL, por tanto a responsabilidade e decisão cabe a nós coordenadores regionais. De qualquer forma, enfatizo que a carta como um todo, o posicionamento e a recomendação são do coordenador do nacional, e não uma posição oficial do FLISOL.
SERPRO realiza atividades para marcar o Document Freedom Day
March 25, 2015 10:32Acontece nesta quarta-feira (25), em todo o mundo o "Document Freedom Day", ou Dia da Liberdade de Documentos, evento destinado a chamar a atenção da sociedade para os padrões e especificações abertas de documentos, modelo já adotado por diversas organizações públicas e privadas. Para marcar a ocasião, o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) realizou atividades transmitidas ao vivo de Brasília. Os vídeos da palestra estarão disponíveis na plataforma Assiste, de vídeostreaming.
De acordo com Deivi Kuhn, coordenador de comunicação social da empresa e secretário-executivo do Comitê de Implementação de Software Livre do governo federal (Cisl), o formato aberto de documentos permite a interoperabilidade de suítes de escritório, garantindo maior liberdade, para usuários e desenvolvedores, de escolha das aplicações que melhor se adequam às suas necessidades. "O ODF é, inclusive, o formato padronizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)", diz.
A primeira apresentação teve como tema "Editar ODF na nuvem ou perecer", com o analista Carlos Machado. A palestra apresentou os novos caminhos para o formato aberto de arquivos de texto, planilha, apresentações, banco de dados e gráficos vetoriais na especificação Open Document Format. A segunda apresentação, conduzida pelo consultor e desenvolvedor em software livre, João Bueno, teve como título "Formatos livres para imagens" e tratou do uso de especificações abertas para armazenamento de imagens em bitmaps, gráficos vetoriais e intercâmbio de imagens multicamadas.
O Serpro é signatário do Protocolo Brasília, um documento que tem como objetivo declarar a intenção de uma organização de direito público ou privado de adotar formatos abertos de documentos em sua atividade cotidiana. A íntegra do protocolo pode ser acessada na página do Cisl.
>> SAIBA MAIS
O que é o Document Freedom Day?
É um dia para celebrar e alertar sobre normas e formatos abertos, que acontece na última quarta-feira de março de cada ano. Neste dia, as pessoas que acreditam no acesso justo às tecnologias de comunicação ensinam, executam e demonstram.
O que é 'Liberdade Documental'?
Documentos que são livres podem ser usados de qualquer forma que o autor queira. Eles podem ser lidos, transmitidos, editados e transformados usando uma variedade de ferramentas. Documentos que não são livres estão presos a um determinado produto ou companhia. O autor não pode escolher como usá-los porque eles são controlados por restrições técnicas, como um carro poderoso que está restrito artificialmente à velocidade de 30Km/h.
É só relacionado com documentos?
Não! Liberdade para controlar o seu trabalho criativo é sobre mais do que só textos e folhas de cálculo - liberdade documental é sobre todos os tipos de dados, incluindo artwork, música em papel ou gravada, e-mails e estatísticas. Estes podem ser guardados em formas que potenciam os utilizadores, mas podem também ser guardados em formatos que nos restringem e manipulam a um custo enorme.
Thiago Mendonça: Por um FLISOL livre
March 24, 2015 13:49Por um FLISOL livre.
Qual o poder de um nome? O que um nome representa?
Um nome representa o ideal que foi atribuído a ele, seja por algo ou alguém, por exemplo, atribuimos o nome “dado” ao hexaedro que utilizamos para jogos de azar, se chamarmos o “dado” de “bola”, o objeto perderá seu sentido, o ideal que foi atribuido a ele, será perdido.
Seguindo esta mesma linha de raciocinio, chamar um pássaro em uma gaiola de livre, ao invés de torna-lo livre, deturpa o sentido da liberdade dele.
Trazendo o pensamento para o mundo digital, existem grupos que lutam pelos mais diversos movimentos digitais existentes, o grupo pró facebook, o grupo anti facebook, o grupo pró microsoft, o grupo pró linux, o grupo pŕo GNU, o grupo pró Apple e tantos outros grupos distintos que dificilmente caberiam em um texto com intuíto de trazer discussões de idéias. Esses grupos, por mais diversos que sejam, compartilham de algo em comum em suas organizações, existem os pró movimento, os simpatizantes do movimento e os militantes, os pró movimentos se sentem bem naquele ambiente porém não sentem a necessidade de militar sobre ele, os que simpatizam estão alí, porém, quando não lhes servir mais para nada o movimento em questão, simplesmente vão procurar outro que se adeque e os militantes, bom vamos para um paragrafo só para os militantes.
Os militantes sentem uma necessidade de expor ao mundo a mensagem daquele movimento em particular e sentem necessidade em contribuir com o máximo que podem para com o crescimento da causa, existem diversos tipos de contribuições, um militante desses pode contribuir programando, palestrando, educando, inserindo idéias, criando comunidades, agregando conhecimentos de causa, opinando, ou seja, fazendo o que está a seu alcance, tanto que, não raro vemos ai eventos dos mais variados movimentos digitais organizados em ambientes físicos, um bom exemplo é o do movimentos dos game devs indies que se reúnem sempre que possivel para fazer game jams onde se reúnem com outros membros do movimento e criam novos produtos, novas equipes, novas idéias a partir dessas reuniões de comunidade.
Esses militantes, de qualquer causa que seja, assumem para sí uma responsabilidade, tornando assim a causa, em algo que, para elas, passa a ter valor maior do que para os outros, e isso acarreta uma série de responsabilidades, responsabilidades essas que as vezes acabam passando batido pelos próprios membros com o passar do tempo e que, de tempos em tempos, precisam ser reforçados.
O movimento do Software Livre desde sua fundação em 1985 luta para que todos possam utilizar Software que possua as 4 liberdades que dão ao usuário o respeito e o poder que ele merece ao usar qualquer software em seu computador. Essas liberdades são:
- Liberdade 0: A liberdade para executar o programa, para qualquer propósito;
- Liberdade 1: A liberdade de estudar o software;
- Liberdade 2: A liberdade de redistribuir cópias do programa de modo que você possa ajudar ao seu próximo;
- Liberdade 3: A liberdade de modificar o programa e distribuir estas modificações, de modo que toda a comunidade se beneficie.
Qualquer programa que não cumpra as quatro liberdades não cumpre os requisitos necessários para receber o nome de Software Livre.
Com base no movimento do Software Livre, surgiram comunidades em torno do movimento e eventos em torno dessa comunidade, um dos eventos mais importantes, se não o mais importante da américa latina como um todo é o FLISOL (Festival Latino Americano de Instalação de Software Livre), que vai além de ser uma imensa Install Fest onde, além de serem realizadas instalações de distriuições GNU/Linux ou Software Livre em geral nas máquinas do público participante que assim queira em seus equipamentos, acontece também toda uma programação local voltada para a educação do que é o Software Livre, da importância do mesmo, da filosofia por trás , dos avanços da área e do desenvolvimento do mesmo.
Quem milita, quem propaga a mensagem do Software Livre, reconhece a importância de eventos como o FLISOL e sabe que hoje, da forma com que as distribuições GNU/Linux são distribuidas e como as fabricantes de hardware trabalham, que é dificil (porém não impossivel) para o usuário “comum” utilizar somente Software Livre no seu dia a dia e que, grande parte dos desenvolvedores de hardware não possuem drivers livres para utilização plena de seus recursos, requisitando assim que software proprietário seja injetado em distribuições livres para que funcionem corretamente.
Então, chegamos a um impasse, como militar Software Livre se, para que o equipamento do visitante funcione plenamente, você terá de injetar software proprietário?
Fazer vista grossa e instalar qualquer distribuição que possua drivers proprietários vindos por omissão na instalação da distribuição? escolhendo distribuições GNU/Linux que acabam por prezar mais pela facilidade do que pelos ideais que tornaram aquela distribuição algo real? Esquecer o sentido do Software Livre em prol da usabilidade? Qual a importância de um nome?
Pois bem, existem saidas, e não me entendam como alguém que simplesmente quer criticar um evento ou um grupo de pessoas, você pode simplesmente não saber que existem alternativas. Vou listar algumas abaixo que podem ser interessante caso você seja um organizador de um FLISOL em sua região ou queira repassar para um:
- Não incentivar a instalação de distribuições GNU/Linux que simplesmente saem instalando software proprietário nas máquinas dos usuários por omissão;
- Não habilitar e/ou instalar software proprietário nas distribuições que oferecem essa opção;
- Incentivar a instalação de distribuições GNU/Linux aprovadas pela FSF como o Trisquel, o Parabola e o GnewSense observando a compatibilidade do hardware em questão em locais como o H-Node;
- Deixar à escolha do usuário, após educa-lo, de qual distribuição ele quer que seja feita a instalação.
É importante lembrar que, invariavelmente da escolha feita, nunca deve-se zombar ou discriminar um usuário por sua escolha, ele é livre para escolher usar Software Livre ou não, agora, o evento que leva o nome de Festival Latino Americano de Instalação de Software Livre esse já assumiu a postura em seu nome de ser sobre Software Livre e nada mais, caso ele queira continuar a instalar Software não livre durante sua execução, o sentido de seu nome, a filosofia por trás, os ideais de todos os seus colaboradores, todos os seus militantes, todos perderão o sentido para o evento, logo o mesmo, perante a comunidade de Software Livre não teria mais o por que de carregar o nome do movimento do Software Livre.
Veja bem, nem todos precisam militar a respeito de algo, você pode usar Software Livre totalmente, parcialmente ou negligenciar completamente sem ter que necessariamente levantar uma bandeira, você é livre para escolher isso, porém, você não pode dizer que luta por uma causa, uma comunidade, sem na verdade faze-lo. Você não precisa lutar por algo que não acredita, porém deveria respeitar quem escolhe faze-lo.
Esse é um apelo com o intuíto de levantar uma discussão por um FLISOL Livre.
Saudações Livres.
O trabalho Por um FLISOL Livre de Thiago Faria Mendonça está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional.
Texto original em: http://acesso.me/acesso/por-um-flisol-livre
Richard Stallman: mensagem para o FLISOL Brasil
March 24, 2015 11:24FLISOL Brasil a dado un paso importante para apoyar la libertad informática.
Ha recomendado que no se instale Ubuntu, una distribución de GNU/Linux que no se comporta de forma ética, pues no solo instala software privativo, sino que también vigila sus usuarios.
Su extremada promoción deseduca la comunidad: le enseña que la meta no es la libertad, sino la mejor "experiencia del usuario".
Felicito Thiago y por consiguiente FLISOL Brasil por esta etapa importante, y tengo esperanza que el próximo año FLISOL cese de instalar cualquiera distribución no libre.
Richard M. Stallman
Para saber mas sobre el tema mire acá:
Código espía en Ubuntu: ¿qué hacer? -> https://gnu.org/philosophy/ubuntu-spyware.es.html
El sistema operativo GNU -> https://gnu.org/distros/distros.es.h
Alexandre Oliva: Por um FLISOL Exemplar
March 23, 2015 21:18A premissa fundamental do Movimento Software Livre é a de que software privativo de liberdade é um poder injusto que subjuga seus usuários. Nossa estratégia para resolver esse problema social é informar, conscientizar e inspirar usuários para resistir a esse subjugo, rejeitando software privativo de liberdade, para que essas linhas de negócios deixem de ser atraentes e deixem de fazer vítimas.
Para formar resistência suficiente, precisamos difundir os valores, princípios, objetivos e estratégias do Movimento Software Livre. Objetivos e estratégias podem até ser ensinados e aprendidos com palavras: manifestos, artigos, palestras e debates. Mas para ensinar e aprender valores e princípios, exemplos falam muitíssimo mais alto que palavras. Com que exemplos o FLISOL da sua cidade vai ensinar os valores e princípios do Software Livre?
Um visitante que tenha levado seu computador a uma sede do Festival Latinoamericano de Instalação de Software Livre, para experimentar Software Livre, pode assistir ou não às palestras, mas seguramente espera sair do evento com Software Livre instalado no computador. Não necessariamente GNU/Linux-libre, pois há outros sistemas operacionais Livres, nem mesmo um sistema operacional, pois o que normalmente importa aos usuários são os aplicativos. Cumpre a nós, do Movimento Software Livre, utilizar essa oportunidade para, além de instalar Software Livre na máquina, preparar o usuário para nos ajudar na resistência ao software privativo de liberdade, compartilhando as ideias do movimento. Essencial para que isso funcione é se comportar de modo compatível, pois palavras ensinam valores menos que o exemplo.
As mais populares distribuições de GNU/Linux não estão alinhadas com o Movimento Software Livre, pois oferecem e instalam software privativo de liberdade. O problema mais comum são controladores privativos (drivers ou firmware) para componentes de hardware com especificações secretas. Os fabricantes desses componentes pretendem mantê-los incompatíveis com a liberdade do usuário, dificultando o desenvolvimento de Software Livre que cumpra função equivalente.
Informar usuários sobre essa incompatibilidade é essencial, para que melhor compreendam a raiz e origem do problema e possam levar isso em conta quando forem comprar seu próximo computador. Certamente instalar uma distribuição que busca esconder esses problemas dos usuários não ajuda a informá-los, por isso mesmo parabenizo a iniciativa da petição para que o FLISOL deixe de instalar Ubuntu, bem como a adoção de recomendação nesse sentido pela coordenação nacional brasileira e por várias sedes. Começar por reduzir a maior transgressão é um ótimo primeiro passo! Mas não chega a resolver o problema de coerência do FLISOL com o Movimento Software Livre.
Para um novo usuário, a instalação de uma distribuição 100% Livre pode muito bem funcionar 100%, mas do contrário abrirá caminho para explicar o problema do hardware incompatível com a liberdade. É óbvio que a notícia da incompatibilidade será desapontadora para muitos visitantes, e muitos instaladores podem ficar de coração apertado se não "ajudarem" o visitante a instalar blobs e drivers privativos de liberdade exigidos pelo hardware, ou plugins "necessários" para que distribuidores de obras autorais de entretenimento tomem o controle do computador do visitante. São dilemas sem solução favorável: é preciso decidir entre comunicar que algum software privativo de liberdade é aceitável e até desejável, ou arriscar afastar um usuário ao mostrar a importância da resistência firme ao software privativo de liberdade.
Se uma oferta para instalar aplicativos Livres no sistema operacional privativo já instalado não empolgar, orientação sobre as possibilidades de substituir os componentes incompatíveis pode ajudar um pouco e dar um bom exemplo da importância da resistência. Por outro lado, oferecer software privativo de liberdade para fazer o componente funcionar pode até parecer ajudar mais, mas transmite exatamente a mensagem contrária à necessária para formar a resistência ao software privativo de liberdade. Mesmo uma visível hesitação pode parecer descaso ou hipocrisia se a ação contrariar os princípios.
Afinal, se instalar software privativo em quantidades cada vez maiores fosse a solução do problema de componentes de hardware incompatíveis com a liberdade, por que parar no firmware, ou nos drivers? Num computador com Boot Restrito, daqueles que impedem a iniciação de sistemas operacionais alternativos, o software privativo necessário para fazer um GNU/Linux funcionar é o Windows, inteiramente privativo, e um ambiente de execução de máquinas virtuais, igualmente privativo.
Mas ninguém (além da própria Microsoft, suponho) pensaria em instalar Windows num festival de instalação de Software Livre. Por que, então, instalam-se tantos outros programas privativos no FLISOL? Não são eticamente melhores que o Windows! O receio de que, sem eles, o usuário volte ao software privativo é medo "da volta dos que não foram": usando GNU/Linux com blobs, o usuário jamais terá deixado a escravidão do software privativo de liberdade, no máximo terá mudado de feitor. Na liberdade, como na segurança, é o elo mais fraco da corrente que se rompe e põe tudo a perder.
Uma conversa franca e honesta com o usuário fará muito mais pelo Movimento Software Livre que instalar uma distribuição com componentes privativos, ou mesmo que instalar uma distribuição 100% Livre que não funcione bem no computador incompatível. Afinal, o visitante seguramente poderá encontrar na Internet receitas para instalar o software privativo de liberdade que fará o componente funcionar. Porém, graças às ideias da conversa e ao bom exemplo observado, entenderá que sua decisão é pessoal, que ninguém deve tomá-la em seu lugar, e que trata-se apenas de um sacrifício temporário de sua própria liberdade, até que uma solução esteja ao seu alcance. Bons exemplos, conselhos e ideias ajudarão a manter o usuário no caminho para a liberdade, mesmo que seja longo e árduo.
Mas se, ao invés de receber um exemplo firme e fundamentado de resistência ao software privativo de liberdade, o visitante observar seu mentor e seus pares oferecendo e preferindo instalar software privativo de liberdade, tenderá a se tornar mais um multiplicador da contracultura do Software Livre. Tampouco hesitará em instalar distribuições com software privativo de liberdade, em decidir por outros quais liberdades sacrificar e em se opor às sugestões e aos pedidos de que futuros FLISOLis se comportem de forma compatível com o Movimento Software Livre. Com seu exemplo e atitude, propagará sua resistência às nossas ideias, dificultando ainda mais a formação da resistência ao software privativo de liberdade.
Muito menos importante que o software instalado é a mensagem transmitida pelo FLISOL. Porém, o software ofertado e instalado, enquanto exemplos, são parte importantíssima da mensagem, pois quando palavras e exemplos são contraditórios no ensino de valores, com maior frequência prevalecem os exemplos. Então, com que exemplos você vai ensinar, no FLISOL da sua cidade, os valores e princípios do Movimento Software Livre? Com que exemplos vai reforçar a necessária e urgente resistência ao software privativo de liberdade? Como vai motivar o FLISOL a adotar, como mais uma de suas regras internacionais, os bons exemplos de resistência ao software privativo de liberdade, para que deixe de minar nosso movimento e nossa resistência e se torne um Festival Latinoamericano de Instalação de Software Livre Mesmo, um FLISOL exemplar?
Copyright 2015 Alexandre Oliva
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http://www.fsfla.org/blogs/lxo/pub/flisol-exemplar