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A loucura sob a ótica de “O Alienista”

18 de Abril de 2014, 17:48 , por Rafael Pisani Ribeiro - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by-nc-sa)

Título curioso esse não é? Para quem não sacou a fonte desse texto, a dica é um livro de um autor da literatura clássica e para quem já sacou é fácil perceber que se trata de Machado de Assis em “O alienista”. Para quem não quis ou não teve a chance de ler indico a leitura, para quem já o fez espero comentários sobre o livro. Em respeito ás pessoas que não leram vou evitar detalhes, mas para a continuação do texto alguma descrição deve ser dada.

 A história se passa em Itaguaí e tem como personagem principal Dr Simão Bacamarte. O livro inteiro se passa sobre o tema loucura arquitetado sobre o tratamento indicado por ele na casa verde, onde os loucos eram tratados. Sem entrar em maiores detalhes sobre personagens e atos vamos na tipificação das loucuras as quais ele tratou, procurando pensar nesses tipos comparando a nossa sociedade. Foram estabelecidos dentro do livro critérios, mas antes disso é preciso dizer da definição de loucura e razão dadas pelo doutor.

  Loucura era “... uma ilha perdida no oceano da razão: começo a suspeitar que é um continente.”[1] e razão “... o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia, e só insânia.”.[2] e dizia que “... a loucura e a razão estão perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa. Para que transpor a cerca?”[3]E assim vieram as seguintes classificações:

 -Alucinações diversas: Um com delírios de ser estrela-d´alva esperando o sol sair para recolher-se, outro que sempre estava à procura do fim do mundo.

 -Delírios: Um caso relatado é o de um sujeito que regularmente fazia um discurso acadêmico em várias línguas e com vários detalhes gramáticos.

 

-Hábitos extravagantes e fora do perfeito equilíbrio de todas as faculdades: Um boiadeiro de minas que distribuía várias cabeças de gado a cada um sem parar, ou um que recebeu uma grande herança mas ao invés de usar para si mesmo foi distribuindo a outros, mesmo estando em dívidas por isso, e ainda assim emprestava ao mesmo sujeito. Outro que todo dia parava em frente a sua janela e lá ficava durante uma hora e ainda outro que conseguia contar histórias magníficas e criativas, outro que a qualquer situação sempre cumprimentava as pessoas.

 -Monomanias religiosas: Um com monomania religiosa e por isso prometia o reino dos céus a quem o adorasse e ainda um que nada dizia, pois acreditava que se proferisse uma palavra todas as estrelas cairiam do céu, esse era o poder dado por Deus a ele.

 Destacando-se entre essas a maior razão de alojamentos na casa verde hábitos extravagantes. Serão as diferenças entre as pessoas alguma coisa tão fora da “normalidade”? Será que realmente a linha entre razão e loucura está definida? O que é o equilíbrio de todas as faculdades e como se define esse campo? A partir disso a ideia das monomanias religiosas, alucinações ou delírios podem passar a não ser tanta loucura como parecem. Cada definição dos termos “razão”, “loucura”, “equilíbrio de todas as faculdades” e a relação entre os três permite mais de uma noção da divisão do que é loucura ou normalidade. São termos de difícil definição, principalmente ao dizer que se trata de loucura ou normalidade. Ainda mais se aplicado para os sujeitos com monomanias religiosas, o delirante com discursos acadêmicos ou a alucinação da estrela-d´alva, mas principalmente os sujeitos que distribuem cabeças de gado ou dinheiro a vontade, ficam sempre 1 hora parados na janela, ou com mente muito criativa.

Vale salientar que essas supostas loucuras tem alguma relação com a vida do sujeito e mesmo um reflexo da sociedade, mas a sociedade vista da forma daquele sujeito. Alguma coisa originou as monomanias religiosas, o discurso acadêmico eloquente, a estrela-d´alva que não pode aparecer ao sol, a doação de gado ou dinheiro e etc... e não foi só o sujeito. O mais incrível de tudo é que isso tudo e mais um pouco foi tratado de forma poética e em uma história divertidíssima contada por Machado de Assis. O próximo texto vai tratar de outra classificação de loucura dada no texto- a loucura da perfeição moral e termos afins. Loucura essa história de loucura né? Para não tirar a surpresa do livro sem deixar o texto sem um objetivo fica a pergunta: O que é de fato a loucura pra você?

Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.

Escrito por: Rafael Pisani

Referências:

Machado de Assis, Joaquim Maria, 1839-1908. O alienista/ Joaquim Maria Machado de Assis- Porto Alegre: L&PM, 1998. 88 p: 18 cm-- (Coleção L$PM Pocket)

 

 

 


[1] Capítulo IV: Uma teoria nova

[2] Capítulo IV: Uma teoria nova

[3] Capítulo IV: Uma teoria nova

Observação: No servidor anterior foi postado no dia 08/02/2014 as 22:32 e no mesmo 22:32 o seguinte trecho foi adicionado a nota de rodapé 3: Capítulo IV: Uma teoria nova.

 


Tags deste artigo: machado de assis

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