A família entra no supermercado com seu filho, a criança pede o brinquedo e não o ganha. Ela chora e, então, ambos os pais decidem comprá-lo para não passar vergonha. Imediatamente o choro passa. Isso se repete constantemente. É uma situação clássica não?
Na Psicologia comportamental,tudo isso tem nome, e a situação foi descrita exatamente na sequência de comportamentos e suas consequências. Os conceitos básicos são três: reforço[1], punição e extinção. Esses quatro textos,trazem maiores detalhes sobre os conceitos: determinantes, tríplice contingência, reforço e punição. Vale a pena analisar a situação.
É necessário pensar no comportamento de dois sujeitos (criança e pais) separadamente,e depois em sua interação. Pensando na criança, quando ela entra no supermercado, automaticamente já executa o comportamento de pedir o brinquedo.
Os pais negam o pedido, ao longo do tempo, e devem continuar negando. Dessa forma, a criança deixará de pedir, pois nunca alcançou seu objetivo ao executar tal comportamento (pedir). Ela sofre extinção,e percebe que não adianta pedir. Os pais tem como reforço o fato de a criança deixar de pedir. Sequencialmente,a criança executa o comportamento de chorar.
O nome dado é birra, e não choro. Porquê? ? Choro se refere ato de chorar. Se dito para alguém “meu filho chorou” uma possível resposta seria “porquê?”. Se dito “meu filho fez birra” uma outra resposta seria: “Que mal educado!”. Dizer “birra” é um repertório verbal com um reforço diferente de dizer “choro”. “Birra” pode designar um ato punitivo, e por isso,tido como negativo no histórico comportamental. Pode ser uma designação negativa do comportamento de “chorar”, talvez uma variação dos comportamentos ligados a não obediência de uma ordem. Isso é algo periférico ao comportamento de “birra”, mas igualmente importante.
Voltando agora ao comportamento de “birra”, este ocorre após pedir o brinquedo e não obter seu objetivo. A sequência é a seguinte. A criança começa a “fazer birra”, chama atenção do ambiente, os pais temem passar vergonha e dão o presente. Para a criança , percebendo ela ou não, afetar o ambiente é um fatores que levam ao alcance de seu reforço . Para os pais pode ser um estímulo aversivo ou uma punição. O segundo é algo capaz de reduzir a frequência de um comportamento, o primeiro é um estímulo que no histórico comportamental levou a punições, portanto com alta probabilidade de levar a elas. Dependendo de qual for, a relação entre os comportamentos se torna diferente.
Se a criança “chorar” após a negação pode ser que os pais dêem o brinquedo antes do choro. Em outras palavras, caso seja uma punição do comportamento de “negar o pedido”, provavelmente parem de executá-lo, tornando para a criança reforçador “pedir o brinquedo”. Se o choro não for imediato em relação a negação, os pais farão algo após o início, tentando evitar sua ocorrência ou dando fim imediato a ele. Caso seja um estímulo aversivo, o comportamento típico é a esquiva e contra controle. No primeiro os pais aprendem a desviar e evitar a punição, no segundo aprendem a desviar e alcançar seu reforço apesar do estímulo aversivo.
Isso poderia se mostrar nos seguintes casos. Os pais para evitar a “birra” poderiam não levar a criança ao supermercado (esquiva) ou comprar algo mais barato combinando com a criança (contra controle). Considerando uma segunda hipótese, os pais poderiam tentar fazer com que a criança parasse com a “birra”. Seria o uso da punição, ou seja, a redução da frequência desse comportamento”. Poderiam também, bater na criança, gritar, colocar de castigo entre outros. Uma terceira forma seria não dar o brinquedo (o reforço) e o comportamento poderia ser extinto, isto é, não alcançar seu objetivo, reforço.
A problemática seria a criança fazer uma “birra “cada vez pior até parar. A extinção leva a um aumento na intensidade do comportamento, até começar sua redução. Tanto para a punição quanto para a extinção o fato de a “birra” chamar atenção do supermercado teria de não incomodar os pais. No primeiro caso talvez fazê-los dizer para a criança que aquilo é uma vergonha pra ela. Ou seja, ser um estímulo neutro ou reforçador, talvez utilizado para punir a criança. Por fim, a última forma de resolução: reforçar o comportamento. Dando o brinquedo à criança. O problema é que para a criança fazer “birra” levaria a ganhar o brinquedo, para os pais dar o brinquedo levaria ao fim da “birra”, assim a sequência iria se repetir. Para ambos é um reforço, levando a alta probabilidade da birra ocorrer e de a criança ganhar o brinquedo em outras ocasiões. Em outras palavras, pais que dão os brinquedos aos filhos quando fazem birra no supermercado na verdade incentivam tal comportamento. Mas será esse o maior problema?
Caso esses pais levem á criança ao Psicólogo, o profissional deve certamente avaliar o caso, mas nunca ensinar como parar com a situação. Pode ser que os pais só ouçam o filho quando ele faz algo para chamar a atenção, tal como na birra no supermercado. Dessa forma o lidar com a situação é só um dos aprendizados dos pais. Talvez até mesmo os pais precisem de terapia. [2]A questão está sempre na relação e um comportamento, qualquer que seja, tem sua função.
Em outras palavras, um comportamento não é um evento isolado, e sim relacionado com outros em outras ocasiões, podem mesmo fazer parte de um padrão maior de, que incluem aquele específico. De forma geral, esse foi um texto técnico, mas capaz de exemplificar a aplicação dos conceitos e atuação da Psicologia, que não tem o objetivo de controlar os sujeitos, sempre considerando- as pessoas como autônomas e capazes de conhecer a si mesmas, assim como capazes de aprender a lidar com situações relativas a si, cada um a sua forma, sem dar as respostas de forma direta, como geralmente é exigido.
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Escrito por: Rafael Pisani
Referências:
MILLENSON, J. R. Princípios básicos de análise do comportamento. 1. ed. New York: The Macmillan Company, 1967
Disponível em: http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/textos-sobre-skinner-texto-1-os-determinantes-do-comportamento Rafael Pisani Ribeiro /http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira . Data de acesso: 12 de julho de 2015
Disponível em: http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/textos-sobre-skinner-texto-2-as-3-contingencias Rafael Pisani Ribeiro /http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira . Data de acesso: 12 de julho de 2015
Disponível em: http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/textos-sobre-skinner-texto-3-o-reforco-para-skinner Rafael Pisani Ribeiro /http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira . Data de acesso: 12 de julho de 2015
Disponível em: http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira/verdade-ou-mentira/textos-sobre-skinner-texto-4-a-punicao Rafael Pisani Ribeiro /http://blogoosfero.cc/verdadeoumentira . Data de acesso: 12 de julho de 2015
Disponível em: http://www.marisapsicologa.com.br/psicologo-comportamental.html Marisa de Abreu Alves /http://www.marisapsicologa.com.br . Data de acesso: 12 de julho de 2015
[1]A fonte dos conceitos de extinção, reforço, eliação de comportamentos, punição e os efeitos de cada um é o livro Princípios básicos de análise do comportamento citado na referência.
[2]Fonte a partir daqui: http://www.marisapsicologa.com.br/psicologo-comportamental.html
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