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Textos sobre Skinner: Texto 4 A punição

22 de Março de 2014, 16:07 , por Rafael Pisani Ribeiro - 1Um comentário | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by-nc-sa)

 

Muito se fala sobre a complexidade das ideias de Skinner e a verídica dificuldade de seu estudo. Por isso houve a produção de 4 textos sobre o tema na tentativa de cooperar com sua compreensão. O primeiro tema foi os-determinantes-do-comportamento , na qual as esferas gerais dos comportamentos, seus determinantes e o modelo de seleção pelas consequências foram demonstrados. Já no segundo texto as-3-contingenciasforam exploradas, assim como a unidade do comportamento.  O terceiro texto foi mais detalhado sobre o-reforco-para-skinner , e esse por sua vez será sobre a punição.

  Como falei no texto “As 3 contingências, tanto reforço quanto punição são a conseqüência e tem diferentes efeitos. Ambos se dividem em positivo e negativo. Portanto, reforço positivo e negativo, punição negativa e positiva. O termo “positivo” significa a adição de algo, o termo “negativo” significa a retirada de algo, quase uma noção matemática. Agora serão analisadas essas possibilidades de punição e seus efeitos.

 

  Punição positiva:

 

Contexto: criança próxima à blusa de frio e sozinha no quarto→ resposta: brincar de carrinho→ consequência: levar uma bronca por não colocar a blusa.

 

Contexto: filha acaba de dar primeiro beijo e depois se encontra com o pai→resposta:contar ao pai:→consequencia: pai dar bronca

 

Punição negativa:

 

Contexto: criança junto a outras e vários brinquedos:→resposta: pegar o brinquedo de outra criança a força→consequencia: ficar de castigo no quarto

 

  Nos dois casos algo “ruim” foi adicionado, por isso punição positiva. Na punição negativa algo “bom” é retirado. Mas, ainda assim, a punição foi aplicada em contextos e estímulos diferentes. No primeiro, a punição foi por algo não feito, mas puniu diretamente outro comportamento. No terceiro, a punição foi em relação ao comportamento desejado, no segundo, a intenção era punir o comportamento de beijar, mas foi diretamente o comportamento de contar o fato, ou seja, outro comportamento. Pode ser que o indivíduo aprenda um comportamento de esquiva, evitando assim a punição e alcançando seu reforço, constituindo o contracontrole, isto é, uma forma de fugir da punição e alcançar o reforço.

Dessa forma o filho pode continuar sem vestir a blusa de frio, a filha pode continuar a beijar longe do pai e a criança quando sozinha com a outra pode continuar pegando o brinquedo a força. Portanto, quando essas técnicas são utilizadas não adianta dar bronca em alguém por não ter ajudado a arrumar a casa para uma festa, caso esta pessoa já tenha aprendido um contracontrole e uma forma de esquiva[1]. A única mudança, caso a punição seja efetiva é a probabilidade de o filho em frente ao pai colocar a blusa de frio, a filha não contar ao pai o que fez, e a criança parar de pegar os brinquedos da outra, ao menos em presença do estímulo aversivo. É preciso também dizer o que define na prática se uma conseqüência é punitiva. Quando é reforçadora, a freqüência do comportamento aumenta, quando é uma punição ela diminui e nisso, pode parecer estranho para uns o que para outros é reforço ou punição. Essa “diminuição” não vem de graça, a punição tem seus efeitos colaterais.

  Algo que vem como conseqüência da punição, é a redução da frequência de comportamentos relacionados ao comportamento punido.[2]Além dos estímulos do contexto, isto é, se o chefe briga com o funcionário por digitar errado em um programa especifico, é possível que ele deixe de usar aquele programa. Caso um garoto quebre o vidro jogando bola, e o pai dê uma bronca, pode ser que o filho não jogue mais bola. Até mesmo em alimentação isso pode ser levado à frente. Caso uma criança se negue a comer feijão ou verduras, e a punição seja comer o que ela considera grande quantidade de verdura ou feijão, pode ser que cresça sem comer feijão ou verduras, ou até mesmo deixe de comer, pois comer é um comportamento relacionado a comer feijão ou verdura. Exemplos escolares também são bem vindos.

É comum crianças na idade de 2 a 3 anos não controlarem os esfíncteres, e fazerem suas fezes em sala de aula. Se por alguma razão, o professor punir a criança por esse ato, seja colocando-a de castigo ou envergonhando-a em frente aos amigos, é possível que ela fique dias sem ir ao banheiro, ou até mesmo não deseje mais ir à escola. Nesses casos, os comportamentos de ir ao trabalho, ou usar o computador, assim como ir à escola, são comportamentos relacionados ao comportamento punido, e ao contexto. Nessa situação a probabilidade do sujeito tentar se desviar do estímulo aversivo[3] aumenta, isto é, um contexto com um estímulo discriminativo SD que sinaliza para se comportar[4], nesse caso diante de uma punição. Tornando possível o contracontrole e a esquiva.  

Outros dois efeitos são também importantes, são esses as respostas emocionais e as respostas incompatíveis ao comportamento punido. Respostas emocionais podem ser tremores, taquicardia, palpitações, choro. As respostas incompatíveis são respostas que o sujeito pratica para evitar que tome contato com a punição, dessa forma caso o ex-namorado ligue as 3 da madrugada para a ex-namorada, e o novo namorado atenda, para evitar essa punição positiva, ele entrega o celular ao amigo.[5]Para piorar, existe um problema a ser resolvido para eficácia da punição.      

 

“A punição destina-se a eliminar comportamentos inadequados, ameaçadores ou, por outro lado, indesejáveis de um dado repertório, com base no princípio de que quem é punido apresenta menor possibilidade de repetir seu comportamento. Infelizmente, o problema não é tão simples como parece. A recompensa (reforço) e a punição não diferem unicamente com relação aos efeitos que produzem. Uma criança castigada de modo severo por brincadeiras sexuais não ficará necessariamente desestimulada de continuar, da mesma forma que um homem preso por assalto não terá necessariamente diminuída sua tendência à violência. Comportamentos sujeitos a punições tendem a se repetir assim que as contingências punitivas forem removidas.” [6] Ou seja, o estímulo aversivo deve estar sempre presente. Mas, se a punição é tão ruim porque é tão utilizada?

 

 São três as grandes características da punição nesse caso e são respectivamente imediaticidade do reforço (apesar de não funcionar a longo prazo[7]) e não depende das dificuldades decorrentes do reforço positivo. Para o contrário de quem é punido, para quem realiza a punição o reforço negativo é imediato, isto é, o comportamento a ser evitado deixa de ocorrer. Além de não ser necessário o trabalho da descoberta de um reforçador e montar a situação para utilizá-lo.[8] Mas, apesar de tudo em alguns momentos a punição que gera reforço negativo é necessária. Basta perceber nosso comportamento no trânsito, onde como pedestres evitamos atravessar com o sinal aberto para não sermos atropelados, ou como motoristas evitar acelerar o carro para evitar uma colisão com outro veículo. O mesmo vale para crianças que evitam colocar a mão no fogo, fazendo com que não queimem sua mão. A partir de tudo isso, como o psicólogo da linha comportamental age?

  O analista do comportamento vai analisar essas contingências e ela deve sempre ser vista na visão do sujeito em si, e não da visão de outro sujeito sobre. A partir do momento em que o sujeito vai conhecendo as próprias contingências algo pode mudar. Porque, quanto mais frequente no histórico comportamental uma contingência, mais provável de ocorrer ela será, ou seja, ficará mais forte. Basta à mudança de um elemento para a mudança da contingência toda. Em relação à punição, irá tentar evitar sua utilização, pois poderá reduzir e evitar comportamentos importantes para a terapia, e somente em casos onde a punição é extremamente necessária, mas são casos raríssimos. Ainda assim outros métodos serão procurados. Em geral, se utiliza o reforço e a extinção.

Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.

Escrito por: Rafael Pisani

Referencias bibliográficas

 Moreira. M. B; Medeiros C. A. (2007). Princípios básicos de análise do comportamento Moreira. Porto Alegre : Artmed, 2007.

Quem tem medo de punição?; J.C. Todorov; Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1517-55452001000100004&script=sci_arttext   . Local de publicação: Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva; 2001, vol. 3, numero 1. São Paulo;  Data de acesso: 18 de agosto de 2013



[1] Fonte contra controle e esquiva: Moreira e Medeiros no livro “Princípios básicos de análise do comportamento”

[2] Fonte: Moreira e Medeiros no livro “Princípios básicos de análise do comportamento”

[3] Fonte do estímulo aversivo: Moreira e Medeiros no livro “Princípios básicos de análise do comportamento”

Fonte do estímulo discriminativo: Moreira e Medeiros no livro “Princípios básicos de análise do comportamento”

[5] Fonte dos outros dois efeitos e exemplos: Moreira e Medeiros no livro “Princípios básicos de análise do comportamento”

[6] Fonte da citação: Moreira e Medeiros no livro “Princípios básicos de análise do comportamento”

[7] Fonte do não funcionamento a longo prazo: Artigo chamado “Quem tem medo de punição” de Todorov

[8] Fonte das vantagens da punição: Moreira e Medeiros no livro “Princípios básicos de análise do comportamento”


Tags deste artigo: behaviorismo

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