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Burgos Cãogrino

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Eduardo Galeano contente por ter nascido na América: “não queremos morrer de fome e tampouco de tédio”

30 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda



Por Jorge Luna


O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, ao conquistar o Prêmio ALBA 2012, em 30 de janeiro passado, exclamou que não gosta de expressar suas emoções, mas não pode deixar de confessar que pouco falta para que o convertam “em campeão olímpico de salto de altura”.

Este prêmio me estimula muito, disse em declarações ao jornalista Jorge Luna, correspondente de Prensa Latina em Montevideo e colaborador de Diálogos do Sul, e acrescentou: “De alguma maneira me confirma que o que a gente escreve pode ser algo mais que um desabafo solitário: palavras que se unem a outras palavras escritas ou faladas por outras bocas ou por outras mãos, em lugares muito diversos”.

“A todos os que nos reconhecemos como parte da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), move-nos a certeza de que estamos contribuindo a uma tarefa de recuperação da dignidade coletiva”, manifestou.

Mais adiante, asseverou: “Isso ultrapassa as fronteiras da geografia e do tempo. A gente pode se sentir companheiro de pessoas nascidas em lugares distantes e irmãos de pessoas que viveram em tempos muito distantes. Esses são os vínculos mais dignos de fé: os que nascem da solidariedade”.

É o que antes chamávamos internacionalismo, e que nada tem a ver com a globalização imposta pelos amos do mundo, que só nos une no dever de obediência, completou.

Os prêmios ALBA foram anunciados durante o encerramento do III Encontro Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, que reuniu em La Habana a mais de 800 intelectuais de 40 países em homenagem ao herói nacional cubano José Martí.

Jorge Luna: Como descreveria o impacto da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América?

Eduardo Galeano: O desenvolvimento da ALBA é uma das mais eficazes respostas ao sistema mundial de poder que nos convida a cuspir no espelho e nos obriga a aceitar a impotência como destino. Queremos ser corpos, não sombras. Queremos ser vozes, não ecos. Reivindicamos a dignidade, a solidariedade e a diversidade. Negamo-nos a aceitar a ordem de eleger entre as duas maneiras de morrer que o sistema nos oferece: não queremos morrer de fome e tampouco de tédio. Este mundo é muito injusto, muito desigual nas oportunidades que oferece e também muito igualador nos costumes que impõe. Temos somente o direito de copiar? É proibido criar?

JL: Entre tantas obras valiosas, seu livro As veias abertas de América Latina (1971), mantém especial vigência, tanto assim que o presidente venezuelano Hugo Chávez deu de presente ao presidente estadunidense Barack Obama, em 2009. O que o motiva a escrever sobre os temas que escreve?
EG: Dizem que Jean-Paul Sartre disse que escrever é uma paixão inútil. Não sei se disse ou não, mas, sei que continuou escrevendo, assim, não estava convencido. Eu escrevi alguns livros, mosaicos armados a partir de relatos breves, tratando sempre de dizer muito com pouco e sobretudo tento ajudar na recuperação do arco-íris terrestre, muito mais bonito que o arco-íris celeste, mas que tem sido mutilado pelo machismo, o racismo, o militarismo e tantos outros “ismos” inimigos da diversidade humana.

JL: Você tem abordado sempre temas da identidade latino-americana…

EG: Escrevi e continuo escrevendo para celebrar a alegria de ter nascido na América, nestas terras em que marcaram encontro todas as cores e dores do mundo, para ajudar a criar um mundo em que o próximo seja uma promessa e não uma ameaça e onde possamos viver livres das ditaduras do medo: o medo de ser o que podemos ser.

Criado em 2007, o prêmio ALBA das Artes e Letras é outorgado a criadores que consagraram suas vidas e suas obras a engrandecer o patrimônio cultural da América Latina, entre outras contribuições.

O jurado deste ano foi conformado pelo intelectual venezuelano Luis Britto, o sociólogo panamenho Guillermo Castro, o narrador equatoriano Raúl Pérez, o sociólogo boliviano Esteban Ticona e a acadêmica cubana Digna Guerra.



Fonte: Diálogos do Sul

Imagem: Google



Entre a emoção e o escárnio

30 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Tarja colocada por este blog em respeito aos famíliares das vítimas

Por Luciano Martins Costa - Observatório da Imprensa

Um jornal importante, como o gaúcho Zero Hora, pode passar de manifestações explícitas de luto, como a colocação de faixa pretas em suas páginas, até o extremo oposto, o de admitir conteúdo de puro escárnio às vítimas. Correm na internet manifestações de protesto contra a charge publicada na terça-feira (29/1), pelo principal jornal da região Sul do país, sob o título “Uma nova vida” (ver aqui).


Marco Aurélio
A obra, assinada pelo veterano chargista Marco Aurélio, retrata uma longa fila de estudantes mortos, postados diante de um prédio identificado como “USP – Universidade de São Pedro”. Da porta, o próprio São Pedro recebe e direciona os jovens conforme a especialidade – arquitetos, sala 5 com Niemeyer; gente da pedagogia, com Gilberto Freyre; medicina, sala 7 com Zerbini” – e assim por diante. É uma referência direta aos mortos na boate Kiss, de Santa Maria (RS), que o mais reles pasquim de quinta categoria teria pejo de exibir.

Após as primeiras críticas de leitores, o desenho desapareceu da versão online do jornal e o blog “Os diaristas”, que costumava publicar os trabalhos de chargistas e caricaturistas do grupo Zero Hora, foi tirado do ar.


Mas fica a pergunta: o que é que o jornal gaúcho pretendia ao publicar esse monumento ao mau gosto?



Ver post completo 



Fonte: Observatório da Imprensa

Imagens: Google (colocadas por este blog)




Cúpula dos Povos critica integração mercantil e elogia cooperação

29 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda



Mais de 500 movimentos e organizações sociais da América Latina e do Caribe participaram da 5ª Cúpula dos Povos, encerrada neste domingo (27) em Santiago do Chile. Com o tema “Pela Justiça Social, Solidariedade Internacional e Soberania dos Povos”, o evento foi realizado de forma paralela à reunião de alto nível da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos e União Europeia (Celac-UE).


Entre os temas debatidos estão o desenvolvimento sustentável, o cuidado com o meio ambiente, o respeito às comunidades indígenas, a democracia, os direitos humanos, a qualidade de vida e problemas sociais da região, como educação, saúde e aspectos trabalhistas e o repúdio à mercantilização da natureza e da vida.

O documento final observa que “os bens naturais, os direitos e as pessoas tem sido mercantilizados nas nações e povos da América Latina, Europa e o Caribe, produto da lógica capitalista, que em seu lado neoliberal e machista, permite a instalação e aprofundamento através de aparelhos cívicos, políticos e militares”.

O texto criticou a visão de integração baseada apenas no comércio e em detrimento do povo: “as relações existentes entre a União Europeia e a América Latina e o Caribe que priorizam os privilégios e os lucros dos investidores frente aos direitos dos povos através de acordos comerciais e acordos bilaterais dos investidores, aprofundam este modelo que prejudica as pessoas de ambas as regiões”.

Sobre a crise na Europa, os movimentos sociais consideraram que “na União Europeia a crise capitalista significa um verdadeiro golpe de estado financeiro que impôs políticas de austeridades em contra dos direitos dos povos, dos direitos trabalhistas, do meio ambiente, etc. A tróica europeia (FMI, BCE, Comissão Europeia) obriga os estados a se endividar para salvar os bancos para que sejamos os povos os que paguem as crises provocada por eles mesmos”.

Apesar disso, o documento enaltece a luta “de nossos povos no mundo, que conseguiram quebrar a tensão atual lógica e nos dá a esperança de que outro mundo é possível”. E ressalta a necessidade de “construir as bases para um novo modelo de sociedade que transforme as atuais lógicas e coordenadas políticas, econômicas, sociais e culturais em todas nossas nações e povos de ambos os lados do continente, as lutas de diferentes atores e organizações do campo popular”.

Segue a íntegra das propostas realizadas pela Cúpula:

Os direitos e bens naturais arrebatados ao nosso povo devem ser recuperados por meio da nacionalização, da comunitarização dos bens e serviços e dos meios de produção e do reconhecimento constitucional da natureza como sujeito de direito. Isso implica passar de ser resistência e movimentos reivindicativos para uma alternativa que contenha uma proposta político-social integral de país.

Promover o paradigma do bem-viver baseado no equilíbrio do ser humano com a natureza e com o meio ambiente e os direitos da terra, a serviço dos povos, com uma economia plural e solidária.

Democracia direta, participativa e popular e sua concretização a partir das bases sociais. Para isso, é necessária a integração de atores sociais e políticos do mundo, valorizando práticas territoriais e dialogando entre as instâncias locais e globais.

Promover a integração na participação política das crianças e juventudes a partir de um enfoque de gênero. Respeito à livre determinação dos povos originários do mundo, entendendo-os como povos irmãos não submetidos à territorialidade imposta pela colonização. Além da promoção da soberania alimentar na perspectiva de uma autonomia territorial, onde os povos e as comunidades decidem o que e como produzir.

Quanto ao avanço da repressão e da criminalização do protesto, nós, movimentos sociais e populares devemos articular-nos de maneira a gerar a força necessária para frear o avanço de leis antiterroristas e a inserção nas comunidades indígenas de nossos povos, bem como a militarização imperialista que instalou bases militares na América latina, na Europa e no Caribe.

Sensibilizar, agitar e promover lutas contra as transnacionais, mediante campanha de denúncias e boicote em todos os níveis.

Posicionar o feminismo com um projeto político antipatriarcal e anticapitalista. Reconhecer e promover os direitos dos migrantes e os direitos dos povos de livre trânsito entre as nações.

Plena solidariedade com o povo palestino e com todos os povos e nações oprimidos pelo poder colonizador e pelo imperialismo, bem como o repúdio às intervenções cívico-militares em Honduras, no Haiti e no Paraguai. Apoiamos os processos de paz, com a participação dos atores sociais e políticos na Colômbia. Solidariedade com o povo cubano contra o bloqueio; com a Argentina no processo de recuperação das Malvinas; com a Bolívia e sua demanda por saída ao mar; com o povo venezuelano no processo bolivariano e com os movimentos sociais na Grécia e na Espanha. No caso do Chile, solidariedade com o movimento estudantil em defesa da educação pública, gratuita e com o povo nação Mapuche, contra a repressão por parte do Estado.

Acompanhando a luta pela soberania de nossos territórios na América Latina, é necessário lutar pelo respeito à soberania de nosso corpo como território próprio das mulheres.

Entendemos que a superação da precarização trabalhista a que se veem expostas as maiorias de trabalhadores na América Latina e no mundo, passa pela mudança estrutural que altere as relações de propriedade e de produção de bens e serviços, valorizando o trabalho essencial desempenhado pelos trabalhadores como sustento sobre o qual se constrói toda a sociedade.

De maneira transversal, devemos avançar na construção de plataformas de luta comunicacional que não só permitam desvelar e difundir as demandas e alternativas de nossos povos frente ao modelo hegemônico, como forma de explicar as verdadeiras causas dos problemas que hoje nos afetam.

Devemos ser capazes de construir demandas unitárias que aglutinem todos os atores sociais e povos em disputa e que nos permitam traçar um horizonte estratégico para avançar, articulando e organizando a unidade entre o movimento sindical, social e político na América Latina, no Caribe e na Europa. Isso deveria ser traduzido em agenda de trabalho e de mobilizações para o período atual; porém, com expectativas a largo prazo.

Ao mesmo tempo, fortalecer a organização social e popular em cada setor de inserção, potencializando a amplificação de nossas demandas às grandes maiorias por meio da politização e da mobilização.

Não podemos dividir mais as instâncias organizativas nas quais estamos, conduzir rumo ao projeto da diversidade é o maior desafio que temos para a geração de uma alternativa real de poder popular. Romper com os sectarismos que fragmentam, dividem e impedem a construção de unidade do campo popular é uma tarefa urgente.

Frente ao poder do bloco dominante, somente a unidade a solidariedade entre nossos povos não darão a força necessária para atingir nossos objetivos e vencer.

Santiago do Chile, Janeiro de 2013





Da Redação do Vermelho,
Vanessa Silva
colaborou Léo Ramirez



Argentina e Irã criam Comissão da Verdade para atentado de 1994

28 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda




Argentina e Irã chegaram a um acordo para a investigação sobre um ataque a bomba em um centro judeu que matou 85 pessoas em Buenos Aires há 19 anos. O acordo prevê o estabelecimento de uma “comissão da verdade” liderada por juristas “com altos padrões morais e prestígio legal” para investigar o pior ataque na Argentina.

Os membros da comissão examinarão evidências e recomendarão como proceder “baseados nas leis e regulamentações de ambos os países.” Depois, os membros e os investigadores argentinos viajarão para Teerã para questionar os suspeitos.

Cristina Fernandez de Kirchner, presidenta da Argentina, descreveu como "histórico" o acordo assinado no domingo (27), na África, pelos ministros das Relações Exteriores Hector Timerman e Ali Akbar Salehi. Em 18 de julho de 1994, uma van lotada de fertilizante e gasolina explodiu, destruindo o prédio da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA). O caso nunca foi resolvido, assim como outro ataque ocorrido dois anos antes, contra a embaixada israelense em Buenos Aires, que matou 29 pessoas.

Promotores argentinos acusaram formalmente seis iranianos de coordenarem os ataque contra a AMIA sob ordens do seu governo. Entre os acusados está o atual ministro da Defesa iraniano, Ahmad Vahidi. Investigadores passaram vários anos tentando interrogar os suspeitos com a ajuda da Interpol, mas o governo iraniano tinha se recusado, até agora, a torná-los disponíveis para questionamento.
“Falhas e escândalo”

Cristina disse numa série de posts no Twitter que os inquéritos argentinos anteriores resultaram apenas em “falhas e escândalo, com um julgamento que acabou sendo um embuste”, quando altos oficiais foram acusados de acobertarem evidências e de deliberadamente atrapalhar os investigadores.

Em contraste, o processo, que precisa de aprovação legislativa dos dois países, oferece um quadro legal com direito ao devido processo legal para os acusados, o que poderia servir de modelo para a resolução do conflito, disse a presidenta argentina. O processo coloca a disputa definitivamente nas mãos de especialistas legais, inspecionado por árbitros independentes.

Em um tweet, a presidente disse que o acordo é importante porque a tragédia na AMIA “não pode mais ser usada como uma peça de xadrez num jogo de interesses geopolíticos longíquo.” Grupos judeus, por outro lado, deixaram claro o seu desconforto pela decisão argentina de tentar melhorar suas relações com o Irã, apesar de o caso do ataque à AMIA ainda estar pendente.

“É um passo atrás monumental”, disse Luis Czyzewski, que perdeu sua filha Paola no evento, segundo a Agência Judia Argentina de Notícias no domingo (27). “Eu acho que todas as famílias vão rejeitar o acordo e ficar tão revoltados quanto eu”, completou Czyzewski. Uma descrição do acordo feita pela agência iraniana FARS afirmou que depois de anos, as investigações argentinas “falharam em avançar com o caso ou provar qualquer coisa contra o Irã, o que indica que o Irã é inocente.”

 O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad havia dito em outubro que uma vez que as investigações tomassem lugar “de forma acurada e imparcial, então o cenário para a intensificação dos laços entre Irã e Argentina estaria preparado”, segundo o relatório da FARS.




Fonte: Al-Jazeera, Vermelho
Tradução: da Redação do Vermelho, Moara Crivelente

Imagem: Google

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Comunidade judaica argentina rejeita acordo com Irã por atentado de 1994


A comunidade judaica argentina, a maior da América Latina, rejeitou nesta segunda-feira o acordo firmado entre a Argentina e o Irã para formar uma comissão da verdade pelo atentado antissemita contra a sociedade mutual AMIA em 1994, que deixou 85 mortos.

A Argentina acusa o Irã de ser o autor intelectual do atentado, o que Teerã nega veementemente.

A formação de uma 'Comissão da Verdade', que não é reconhecida pelas leis argentinas que regulam o processo penal, implicaria em um declínio de nossa soberania — informaram a AMIA e a DAIA, as duas maiores representações dessa comunidade na Argentina.

Israel reagiu ao acordo nesta segunda-feira com "surpresa" e "decepção", enquanto os Estados Unidos adotaram uma postura mais cautelosa, ressaltando que irão aguardar os resultados do trabalho da comissão independente.


Victoria Nuland
— Sempre quisemos que os autores do atentado fossem julgados. Se o governo argentino pensa que isto vai nos aproximar disso, bom, vamos esperar — disse a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, em coletiva de imprensa.

A chancelaria israelense afirmou em um comunicado que o embaixador argentino será convocado "para que forneça explicações sobre a iniciativa de seu governo".

Em seu pronunciamento contra o acordo, as entidades judaicas locais indicaram que "ignorar tudo o que foi feito pela justiça argentina e substituir isso por uma comissão que, no melhor dos casos, emitirá sem prazo definido uma 'recomendação' às partes, constitui, sem dúvida, um retrocesso no objetivo comum de obter justiça".

Segundo o acordo firmado no domingo em Addis Abeba pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, e seu colega iraniano, Ali Salehi, os iranianos acusados poderão ser interrogados em Teerã pelo promotor e juiz encarregado do caso na Argentina.

Buenos Aires exige desde 2006 a extradição de oito iranianos pelo atentado contra a AMIA, entre eles o atual ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, o ex-presidente Ali Rafsanjani (1989-1997) e o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, todos eles com mandado de busca internacional emitido pela Interpol.

A AMIA, que reúne instituições da comunidade judaica, e a DAIA (Delegação de Associações Israelitas da Argentina), seu braço político, lembraram que a Interpol, depois das apresentações realizadas pelos promotores argentinos do processo, resolveu que "as provas eram suficientes e aptas para requerer as prisões".

A Comissão da Verdade será integrada por juristas independentes que não poderão ser cidadãos de nenhum dos dois países.

— Qualquer Comissão que seja criada não pode ter outra função que a de controlar ou fiscalizar a legalidade dos inquéritos — reagiram a AMIA e a DAIA sobre o acordo entre Buenos Aires e Teerã, que deve ser aprovado por ambos os Congressos.

Argentina e Irã iniciaram em outubro negociações na sede das Nações Unidas em Genebra para resolver as ações judiciais pendentes na investigação do atentado.

O governo iraniano nega qualquer participação no atentado e rejeitou as acusações de terrorismo contra seus oito cidadãos requeridos, negando-se a cumprir as ordens de captura emitidas pela Interpol, o que manteve o processo judicial paralisado por anos e sem detidos.

A comunidade judaica da Argentina é a mais numerosa da América Latina com 300 mil pessoas.


Fonte: Zero Hora 
Imagem: Google




Pepe Mujica: "Governamos a globalização ou é ela que nos governa?"

25 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Relembrando


O Presidente do Uruguai José Pepe Mujica faz um contudente discursco Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20.






Fonte: Vermelho



Argélia - O perigo de uma única história

22 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda




Em Outubro de 2011 o Blog do Octopus já alertava:

A Argélia poderá ser o próximo alvo da NATO

Michel Collon, jornalista e escritor belga, revela numa entrevista porque é que a Argélia pode ser o próximo alvo da NATO, assim que esta resolva o problema da Síria e com a sua "revolta popular."

A Argélia é simultâneamente o maior país africano, o maior país do mundo árabe e o maior país do mediterrâneo. Mas a Argélia é sobretudo um dos maior produtores mundial de gás e petróleo.

Próximo alvo: Argélia

As multinacionais nunca irão perdoar as tentativas de independência económica e política, assim como as guerras de independência levadas a cabo por certos países, como a Argélia.

Para elas (as multinacionais), as riquezas e o dinheiro devem servir os seus interesses, não querem ver nesses países políticas sociais na saúde, na educação ou na satisfação dos povos. Como sabem, a Argélia é um dos países modelo em termos de resistência anticolonialista, foi um país que procurou seguir a via dos não-alinhados e tentou a unificação dos países do terceiro mundo.

Considero a Argélia um país punido porque não deixou que as suas riquezas ficassem nas mãos das multinacionais.

Tradicionalmente, as potências imperialistas tentam apoderar-se das riquezas dos países do terceiro mundo com simples pressões, colocando no poder presidentes servidores dos seus interesses. Quando esses seus interesses não são concretizados, não olham aos meios para os alcançar: chantagem, assassinatos encomendados, desencadeamento de guerras civis ou ataque puro e simples dos países não-dóceis.

Vimos esta estratégia com a Venezuela, o Afeganistão, a Bolívia e com todos os países que não quiseram ajoelhar-se. A situação geográfica da Argélia é estratégica. Está claro que os Estados Unidos não vão fazer dela uma exceção. Penso que por enquanto, eles vão continuar a jogar ao jogo da cenoura e do bastão, mas não podemos afastar outro cenário. A Argélia pode ser o próximo alvo se ela não se vergar perante a ganância das multinacionais.

O terrorismo não incomoda os Estados Unidos.

Basta conhecer o mapa petrolífero e as posições estratégicas que ocupam os países para saber onde os Estados Unidos e a Europa querem instalar as suas bases militares.

Não se trata de lutar contra o terrorismo, esse faz parte da estratégia americana. O terrorismo não incomoda nada os Estados Unidos. Terroristas com mandados de captura por atentados contra civis estão neste momento em Miami sob a proteção dos americanos.

Convém lembrar que foram os Estados Unidos que armaram Bin Laden e terroristas para depor um estado progressista no Afeganistão, que apoiam Israel que massacrou um povo inteiro...e os exemplos são numerosos.

A região do Sahel não é exceção, temos que inseri-la num mundo global para perceber a estratégia das potências multinacionais. A instalação das bases militares e a apropriação das riquezas de uma região são os principais objectivos.

Os Estados Unidos não querem eliminar o terrorismo, antes pelo contrário, querem servir os seus interesses, porque para acabar com o terrorismo, tem-de se acabar com a pobreza, a fome, as injustiças e a exploração...


Fonte: Octopus

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Entenda a Argélia - 2009

 A Argélia é um importante produtor de gás natural e de petróleo, dispondo também de importantes jazidas de ferro no Sudoeste, bem como de ouro, de urânio e de zinco no extremo Sul. O sector dos hidrocarbonetos é o pilar da economia da Argélia, sendo responsável por cerca de 65% das receitas orçamentais, 30% do PIB e por volta de 98% das receitas de exportação. Em 2008, a Argélia era o 10º país com as maiores reservas de gás natural do mundo e o 6º maior produtor de gás. Era ainda o 15º país com maiores reservas de petróleo e o 14º produtor mundial.

Desde os anos 70 que o motor da economia argelina é o sector energético, particularmente os hidrocarbonetos. O desenvolvimento económico do país e o pagamento do serviço da dívida são maioritariamente dependentes das receitas conseguidas com as vendas de hidrocarbonetos. Desde a independência do país que o Governo argelino consagra a grande maioria dos meios de investimento
disponíveis ao sector energético, marginalizando os restantes sectores da economia nomeadamente a agricultura.



Após a nacionalização do gás natural e do petróleo, em 1971, a Sonatrach (empresa estatal) passou a dominar o mercado. O seu papel hegemónico no sector passa não só pela formulação da política argelina no que respeita ao gás e ao petróleo, mas também pela prospecção, produção, distribuição e exportação de hidrocarbonetos. Esta mono-produção, mono-exportação e mono-investimento acarreta uma grande dose de incerteza e instabilidade, já que depende, como é óbvio, das oscilações dos preços de petróleo nos mercados internacionais. A Sonatrach é a maior fonte de divisas na Argélia. É também o maior consumidor de crédito externo para o investimento. Estima-se que o programa da Sonatrach até 2010 tenha um custo de aproximadamente US$20 biliões. Grande parte dos fundos necessários virá das receitas do petróleo (actualmente em alta). Caso as receitas não consigam cobrir a totalidade dos fundos, recorrer-se-à à dívida externa. Os investimentos planeados pelo grupo para os próximos anos concentram-se na ampliação da capacidade produtiva de gás e petróleo, tanto na construção de novos centros, como investimentos a realizar em instalações já existentes. Mas a Sonatrach planeia igualmente investir em aquisição de tecnologia. O objectivo é permanecer como um dos principais exportadores de energia para a UE. A falta de upgrade tecnológico é um sério handicap e a Argélia receia a perda gradual de mercados externos, caso não se actualize a tempo.

Esta “petro-dependência” vai mais longe. O sector energético é a única fonte do investimento argelino no exterior, no qual a Sonatrach é praticamente o único investidor com relevo, com posições na UE e na Turquia.

Após anos de guerra civil e de tensões políticas, a Argélia experimenta agora uma melhoria económica significativa, em grande medida ajudada pelos fortes rendimentos das exportações do gás natural e do petróleo. Segundo os dados da EIU, em 2008, o crescimento real do PIB da Argélia foi de 3,5%. As exportações de gás natural e de petróleo representaram, mais de 95% das exportações argelinas, funcionando como a principal driver do crescimento económico deste país.

Segundo a BP, em finais de 2008, a Argélia detinha em reservas provadas de petróleo o equivalente a 12,2 mil milhões de barris. A Bacia de Hassi Messaoud possui 70% do total das reservas provadas de petróleo do país. As restantes
reservas situam-se na Bacia Berkine. Com as recentes descobertas de petróleo e com planos para mais explorações através de perfurações, pensa-se que as reservas provadas de petróleo poderão aumentar nos próximos anos. Em termos
de produção de petróleo, ao longo de 2008, a produção média de petróleo bruto foi de 1993 mil barris/dia, tendo exportado 1,88 mil barris/dia. Em termos de consumo interno de petróleo, em finais de 2008, foi de 311 000 barris/dia.

Desde Março de 2005, com a aprovação da nova Lei sobre os Hidrocarbonetos, a Sonatrach deixou de deter o monopólio da produção do petróleo, de refinamento e de transporte. Porém, em 2006 com as emendas introduzidas à Lei dos
Hidrocarbonos, foi criado um imposto sobre os lucros das companhias de petróleo internacionais (IOCs) quando o preço do petróleo ultrapassar os US$30 por barril. Este imposto chegou aos 50% em alguns contratos, atenuando o entusiasmo dos investimentos de algumas IOCs. Para além do mais, as emendas introduzidas proporcionaram à Sonatrach o direito de ter 51% ou o direito a uma opção de
participação mais elevada em cada projecto novo de descoberta. Ao lado da Sonatrach, a agência reguladora do Estado – Alnaft – promove a exploração do petróleo, assina contratos upstream, aprova planos de desenvolvimento e colecta as royalties e os impostos. Em 2006, a Argélia fez o seu sexto round de atribuição de licenças a investidores estrangeiros interessados no desenvolvimento das reservas de petróleo e de gás. Das 54 companhias que se mostraram
interessadas, algumas que ganharam os direitos de exploração foram a BP (ganhou três concessões), a BHP-Billiton (ganhou duas concessões), Shell (ganhou duas concessões) e a UAE-US joint venture Gulf Keystone (ganhou duas concessões).

A Sonatrach opera no maior campo petrolífero da Argélia – Hassi Massaoud. Os operadores petrolíferos estrangeiros têm aumentado continuamente a sua participação na produção do petróleo argelino, destacando-se a Anadarko (EUA).

A Argélia utiliza sete terminais costeiros para exportar petróleo bruto, produtos refinados, gás de petróleo liquefeito (GPL) e gás natural liquefeito (GNL). Estes terminais situam-se em: Arzew (responsável por 40% do total das exportações de hidrocarbono), Skikda, Argel, Annaba, Oran, Bejaia, e La Skhirra (este último na Tunísia).

A Sonatrach é responsável por 3 862 km de oleodutos para transporte de petróleo bruto no país. Os oleodutos mais importantes transportam petróleo bruto do campo Hassi Messaoud para os terminais de exportação. A Sonatrach também é responsável pelas redes de oleodutos de petróleo condensado e GPL que ligam Hassi R'mel e outros campos para Arzew. Actualmente, a Sonatrach está a expandir o pipeline de Hassi Messaoud-Azrew (o maior do país). O projecto visa a construção dum segundo, em linha paralela, o qual irá duplicar a capacidade da linha existente.

A Argélia tem ainda um oleoduto de petróleo bruto ligado a um país externo, nomeadamente o que liga o campo petrolífero de In Amenas (no Sudeste da Argélia) ao terminal de exportação em La Skhirra (na Tunísia).

A Naftec, uma subsidiária da Sonatrach, opera em quatro refinarias argelinas, as quais aprovisionam a maior parte das necessidades do país em relação a produtos petrolíferos refinados. Em relação ao gás natural, segundo a BP, em 2008, a Argélia tinha 4,50 triliões de m3 de reservas provadas de gás natural, com um R/P de 52,1 anos.


Campo de gás argelino Hassi R'Mel 

O maior campo de gás argelino é o Hassi R'Mel, descoberto em 1956, e tem reservas provadas de 2,4 bmc. Hassi R'Mel  representa cerca de um quarto do total da produção de gás seco da Argélia. Segundo a BP, em 2008 a Argélia produziu 86,5 bmc de gás natural. A produção comercial do gás natural na Argélia começou no início dos anos 60. No final de 2008, a Argélia consumiu 25,4 bmc de gás natural.

Em relação à exportação de gás natural, em 2008, e mais uma vez segundo os dados disponibilizados pela BP, a Argélia exportou via gasoduto 37,50 bmc de gás natural e via marítima 21,87 bmc de GNL.

Também no âmbito do gás natural é a Sonatrach que domina a produção e a distribuição por grosso na Argélia, enquanto outra companhia estatal – a Sonelgaz – controla a distribuição a retalho. A Argélia tem permitido um aumento do investimento estrangeiro neste sector e os produtores estrangeiros de gás têm estabelecido numerosos acordos de parceria com a Sonatrach, a Argélia é um dos principais produtores e exportadores mundiais de gás natural. Existem também planos para a permissão de participação estrangeira no sector do retalho do gás natural. Alguns dos operadores estrangeiros na Argélia são a BHP-Billiton, a BP, a Repsol, a Statoil e a Total.

O sistema de gasodutos argelinos, a nível interno, encontra-se organizado em torno do campo de gás Hassi R'Mel: (i) que estabelece a ligação aos terminais de exportação de GNL, situados ao longo do mar Mediterrâneo; (ii) um gasoduto, de
507 km, que produz 124 mil milhões de m3/dia a liga Hassi R'Mel a Arzew; (iii) um gasoduto de 507 km, que produz 54 mil milhões de m3/dia liga Hassi R'Mel a Skikda; (iv) um gasoduto mais pequeno (com 435 km) passa entre Hassi R'Mel e Isser, perto de Argel e produz 19,54 milhões de m3/dia.

A nível de ligações externas, duas vias de acesso ligam a Argélia aos mercados europeus, permitindo a exportação de 60% do gás argelino exportado (pela Sonatrach), nomeadamente:

Gasoduto Enrico Mattei ou Trans-Mediterrâneo
Este gasoduto vai desde Hassi R'Mel até Itália, através da Tunísia, aprovisionando Itália, Tunísia e Eslovénia. Segundo a Sonatrach, trata-se dum instrumento da política de penetração do gás argelino em Itália e potencialmente nos
Balcãs. Actualmente, a sua capacidade atinge os 26 bmc, estando previsto a meio termo um aumento da sua capacidade para os 32,5 bmc/ano.

Gasoduto Duran Farell ou Magrebe-Europa Gás (MEG, também conhecido por Pedro)
– O MEG, foi construído entre 1994 e 1996, ligando Hassi R'mel com Cordoba, via Marrocos ligando Espanha e Portugal à rede de transmissão de gás. Desde 2004, a sua capacidade é de 11,5 bmc/ano.

Paralelamente, a partir de 2001, a Sonatrach viu a confirmação de vários projectos internacionais: dois pipelines no Peru; o Gasoduto Nigéria-Argélia (“Economia e
Ecologia”); o Projecto Gasoduto Galsi – que ligará Argélia-Itália via Sardenha; e o Projecto MedGaz, que fará a ligação Argélia-Europa.

Como se pode verificar, a “especificidade” da economia argelina, em que mais de 90% das suas exportações são de hidrocarbonetos, é uma questão incontornável nas suas relações comerciais.

As exportações regulares de hidrocarbonetos, para as quais contribuiu em muito a procura europeia, têm levado a um excedente considerável no comércio externo argelino na maior parte dos anos. Nos últimos anos, os elevados preços do petróelo conduziram a superávites avultados na balança comercial. As receitas de exportação, directamente dependentes das oscilações nos mercados mundiais dos
preços do petróleo, reflectem bem esta dependência. Já o gás natural, é menos sensível a flutuações nos preços.

Analisando a repartição do comércio externo argelino por grupos de produtos constata-se a forte concentração da economia quer nos produtos energéticos, nas exportações, quer nos bens de capital, nas importações.

Relativamente às exportações argelinas, estas concentram-se sobretudo nos hidrocarbonetos, tendo representado mais de 85% do total em 2005.

Nos últimos anos, a grande dinâmica tem sido o acréscimo nas importações de bens de equipamento, que se tornou a principal mercadoria comprada ao exterior. A Argélia tem realizado grandes investimentos a nível das infra-estruturas,
sobretudo no sector energético. Na posição seguinte, aparecem os produtos intermédios semi-acabados, seguidos pelos produtos alimentares, uma componente fundamental, já que a Argélia é deficitária em bens alimentares.

Relativamente à distribuição geográfica das exportações argelinas, em 2005, os EUA ocuparam a posição cimeira, sendo seguido pelos países da UE – Itália, Espanha e França. Com efeito, a UE concentrou 55% das exportações.

A subida dos preços do petróleo e as recentes preocupações relacionadas com o fornecimento de gás natural russo à Europa Ocidental, serviram para salientar a importância estratégica da Argélia como fornecedor europeu deste tipo de
produtos, representando actualmente cerca de 25% do total das importações de gás natural da UE.

No que se refere aos principais fornecedores da Argélia, a liderança coube em 2005 à França (28,2%), seguida pela Itália (7,8%), Espanha (7,1%), China (6,6%) e Alemanha (6,3%).

O investimento directo estrangeiro (IDE) na Argélia começou a ter valores mais significativos a partir de 1996, após ter sido criada em 1995 a agência oficial de promoção do investimento. Nos últimos 5 anos, os fluxos anuais de IDE têm atingido montantes com peso na região do Norte de África, mas com pouca expressão a nível mundial. O stock de IDE na Argélia foi de US$8,3 mil, em 2005, correspondendo a 9,7% do total do Norte de África.

Segundo o World Investment Report 2009, em 2008, a Argélia recebeu US$2 646 000 de IDE. Os sectores que mais oportunidades oferecem aos investidores estrangeiros são o eléctrico, mineiro, hidrocarbonetos e gás.

Existem, no entanto, alguns obstáculos práticos ao investimento estrangeiro, principalmente um setor bancário pouco modernizado e uma enorme teia burocrática, composta por leis e regulamentos destinados ao comércio e ao investimento que dificultam o acesso ao mercado.




Fonte: geema
Imagem: Google

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O perigo de uma única história








Fonte: Youtube




Aaron Swartz, guerrilheiro da internet livre

16 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda



Vida, morte e legado de um programador e ativista genial, que via no conhecimento compartilhado o caminho para superar mesquinhez capitalista


Por Rafael A. F. Zanatta, editor do blog E-mancipação

O (suposto) suicídio do gênio da programação e ativista Aaron Swartz não é somente uma tragédia, mas um sinal da enorme dimensão do conflito político e ideológico envolvendo defensores de uma Internet livre e emancipatória, de um lado, e grupos organizados dentro do sistema que pretendem privatizar e limitar o acesso à produção intelectual humana, de outro. Neste sábado (12/01), colunistas de cultura digital de diversos jornais escreveram sobre a morte do jovem Swartz, aos 26 anos, encontrado morto em um apartamento de Nova Iorque (ler os textos de John Schwartz, para o New York Times; Glenn Greenwald, para o The Guardian; Virginia Heffernan, para o Yahoo News; e Tatiana Mello Dias, para o Estadão). Diante da turbulenta vida do jovem Swartz e seu projeto político de luta pela socialização do conhecimento, difícil crer que o suicídio tenha motivações estritamente pessoais, como uma crise depressiva. A morte de Swartz pode significar um alarme para uma ameaça inédita ao projeto emancipatório da revolução informacional. O sistema jurídico está sendo moldado por grupos de interesse para limitação da liberdade de cidadãos engajados com a luta de uma Internet livre. Tais cidadãos são projetados midiaticamente como inimigos desestabilizadores da ordem (hackers). Os usuários da Internet, sedados e dominados pela nova indústria cultural, pouco sabem sobre o que, de fato, está acontecendo mundo afora.

A visão pública da Internet do wiz-kid Swartz: os anos de formação

Nascido em novembro de 1986 em Chicago, Aaron Swartz passou a infância e juventude estudando computação e programação por influência de seu pai, proprietário de uma companhia de software. Aos 13 anos de idade, foi vencedor do prêmio ArsDigita, uma competição para websites não-comerciais “úteis, educacionais e colaborativos”. Com a vitória no prêmio, Swartz visitou o Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde conheceu pesquisadores da área de Internet. Aos 14 anos, ingressou no grupo de trabalho de elaboração do versão 1.0 do Rich Site Summary (RSS), formato de publicação que permite que o usuário subscreva conteúdos de blogs e páginas (feeds), lendos-o através de computadores e celulares.

Aos 16 anos frequentou e abandonou a Universidade de Stanford, dedicando-se a fundação de novas companhias, como a Infogami. Aos 17 anos, Aaron ingressou na equipe do Creative Commons, participando de importantes debates sobre propriedade intelectual e licenças open-sources (ver a participação de Swartz em um debate de 2003). Em 2006, ingressou na equipe de programadores da Reddit, plataforma aberta que permite que membros votem em histórias e discussões importantes. No mesmo ano, tornou-se colaborador da Wikipedia e realizou pesquisas importantes sobre o modo de funcionamento da plataforma colaborativa (ler ‘Who Writes Wikipedia?‘). Em 2007, fundou a Jottit, ferramenta que permite a criação colaborativa de websites de forma extremamente simplificada (aqui). Em pouco tempo, Swartz tornou-se uma figura conhecida entre os programadores e grupos de financiamento dedicados a start-ups de tecnologia. Entretanto, sua inteligência e o brilhantismo pareciam não servir para empreendimentos capitalistas. Tornar-se rico não era seu objetivo, mas sim desenvolver ferramentas e instrumentos, através da linguagem de programação virtual, para aprofundar a experiência colaborativa e de cooperação da sociedade.

Aos 21 anos, Aaron ingressou em círculos acadêmicos (como o Harvard University’s Center for Ethics) e não-acadêmicos de discussão sobre as transformações sociais e econômicas provocadas pela Internet, tornando-se, aos poucos, uma figura pública e um expert no debate sobre a “sociedade em rede”. O vídeo abaixo, gravado em São Francisco em 2007, mostra o raciocínio rápido e preciso de Swartz sobre a arquitetura do poder na rede e as mudanças fundamentais da transição da mídia antes e depois da Internet.



Ativismo cívico e projetos políticos na rede: para além de empresas e lucros
A partir de 2008, Aaron Swartz – um “sociólogo aplicado“, como ele se autodenominava – engajou-se em uma série de projetos de cunho político, voltados ao ativismo cívico de base (grassroots) e ao compartilhamento de conteúdo on-line. Dentre eles, destacam-se três projetos específicos: (i) Watchdog, (ii) Open Library e (iii) Demand Progress.

O Watchdog é um website que permite a criação de petições públicas que possam circular on-line. Trata-se de um projeto não lucrativo, cujo mote é Win your campaign for change. O objetivo é fomentar a prática cidadã de monitoramento de condutas ilícitas, como se todos fossem “cães de guarda” da democracia. O segundo projeto, Open Library, pretende criar uma página da web para cada livro já publicado no mundo. O objetivo é criar uma espécie de “biblioteca universal” com bibliotecários voluntários, sendo possível o empréstimo on-line de e-books. Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, nos quais programadores são responsáveis pelo registro e criação das páginas (em códigos abertos) para todos os livros (como diz o site: “Open Library é um projeto aberto: software, dados e documentações são abertos, e sua contribuição é bem-vinda. Você pode corrigir um erro, acrescentar um livro ou escrever um widget [programa complementar]. Temos uma equipe de programadores fantástico, que avançaram muito, mas não podemos fazer tudo sozinhos!” (1) . O terceiro e mais interessante projeto é o Demand Progress, plataforma criada por Swartz para conquistar mudanças progressistas em políticas públicas (envolvendo liberdades civis, direitos civis e reformas governamentais) para pessoas comuns através do lobbying organizado de base. A atuação do DP se dá de duas formas: através de campanhas on-line para chamar atenção das pessoas e contatar líderes do Congresso, e através do trabalho de advocacia pública em Washington “nas decisões por trás das salas que afetam nossas vidas”.

Em 2008, indignado com a passividade dos cientistas com relação ao controle das informações por grandes corporações, Swartz publicou um manifesto intitulado Guerilla Open Access Manifesto (Manifesto da Guerrilha pelo Acesso Livre). Trata-se de um texto altamente revolucionário, que encerra-se com um chamado: “Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir à luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública. Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido por direitos autorais e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilla Open Access. Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado” (cf. ‘Aaron Swartz e o manifesto da Guerrila Open Acess‘).

A força criadora do jovem Aaron Swartz residia em um profundo espírito crítico e questionador. Nesta entrevista abaixo (sobre o Progressive Change Campaign), Swartz explica como seu ativismo começou: “Eu sinto fortemente que não é suficiente simplesmente viver no mundo como ele é e fazer o que os adultos disseram o que você deve fazer, ou o que a sociedade diz o que você deve fazer. Eu acredito que você deve sempre estar questionando. Eu levo muito a sério essa atitude científica de que tudo que você aprende é provisório, tudo é aberto ao questionamento e à refutação. O mesmo se aplica à sociedade. Eu cresci e através de um lento processo percebi que o discurso de que nada pode ser mudado e que as coisas são naturalmente como são é falso. Elas não são naturais. As coisas podem ser mudadas. E mais importante: há coisas que são erradas e devem ser mudadas. Depois que eu percebi isso, não havia como voltar atrás. Eu não poderia me enganar e dizer ‘Ok, agora vou trabalhar para uma empresa’. Depois que percebi que havia problemas fundamentais os quais eu poderia enfrentar, eu não podia mais esquecer isso”. Nesta entrevista, Aaron (aos 22 anos), esclarece que livros como Understanding Power (de Noam Chomsky) foram fundamentais para compreender os problemas sistêmicos da sociedade contemporânea. Todavia, a situação não é imodificável. O primeiro passo é acreditar que é possível fazer algo.


A luta e a resposta do sistema: do movimento Anti-SOPA à batalha judicial do JSTOR

No final de 2010, Aaron Swartz identificou uma anomalia procedimental com relação a uma nova lei de copyright, proposta por integrantes dos partidos republicanos e democratas em setembro daquele ano. A lei havia sido introduzida com apoio majoritário, com um lapso de poucas semanas para votação. Obviamente, segundo o olhar crítico de Swartz, havia algo por trás desta lei. O objetivo camuflado era a censura da Internet.

A partir da união de três amigos, Swartz formulou uma petição on-line para chamar a atenção dos usuários da Internet e de grupos políticos dos Estados Unidos. Em dias, a petição ganhou 10 mil assinaturas. Em semanas, mais de 500 mil. Com a circulação da petição, os democratas adiaram a votação do projeto de lei para uma analise mais profunda do documento. Ao mesmo tempo, empresas da Internet como Reddit, Google e Tumblr iniciaram uma campanha maciça para conscientização sobre os efeitos da legislação (a lei autorizaria o “Departamento de Justiça dos Estados Unidos e os detentores de direitos autorais a obter ordens judiciais contra sites que estejam facilitando ou infringindo os direitos de autor ou cometendo outros delitos e estejam fora da jurisdição estadunidense. O procurador-geral dos Estados Unidos poderia também requerer que empresas estadunidenses parem de negociar com estes sites, incluindo pedidos para que mecanismos de busca retirem referências a eles e os domínios destes sites sejam filtrados para que sejam dados como não existentes”, como consta do Wikipedia).

Em outubro de 2011, o projeto foi reapresentado por Lamar Smith com o nome de Stop Online Piracy Act. Em janeiro de 2012, após um intenso debate promovido na rede, a mobilização de base entre ativistas chamou a atenção de diversas organizações, como Facebook, Twitter, Google, Zynga, 9GAG, entre outros. Em 18 de janeiro, a Wikipedia realizou um blecaute na versão anglófona, simulando como seria se o website fosse retirado do ar (cf. ‘Quem apagou as luzes em protesto à SOPA?‘ e ‘O apagão da Wikipedia‘). A reação no Congresso foi imediata e culminou na suspensão do projeto de lei. Vitória do novo ativismo cívico? Para Swartz, sim. Uma vitória inédita que mostrou a força da população e da mobilização possível na Internet. Mas não por muito tempo. Em um discurso feito em maio de 2012 — que merece ser visto com muita atenção –, Aaron foi claro: o projeto de lei para controlar a Internet irá voltar, com outro nome e outro formato, mas irá voltar…


Mas não foi somente através da liderança no movimento de peticionamento on-line que culminou nos protestos contra o SOPA que Swartz chamou a atenção das autoridades estadunidenses. Em 2008, ele foi investigado pelo FBI por ter baixado milhões de documentos públicos do Judiciário mantidos pela empresa Pacer (que cobra pelo acesso a documentos públicos!). A investigação, entretanto, não resultou em processo criminal ou civil.

O processo kafkiano que pode estar relacionado com a morte de Swartz teve início em julho de 2011, quando o ativista foi processado por “fraude eletrônica, fraude de computador, de obtenção ilegal de informações a partir de um computador protegido”, a partir de uma acusação da companhia JSTOR - uma das maiores organizações de compilação e acesso pago a artigos científicos. Aaron programara um dos computadores públicos do Massachussets Institute of Technology (MIT) para acessar o banco de dados da JSTOR e fazer download de artigos científicos de diversas áreas do conhecimento. Em poucos dias, baixou mais de 4 milhões de artigos científicos (e não se sabe qual era seu plano inicial, ou seja, de que modo ele pretendia publicar esses documentos de acordo com a tese do open acess movement). Pelo fato de Swartz ter feito o download de muitos documentos ao mesmo tempo (mas o acesso pelo computador da instituição não permite isso?), foi processado por fraude eletrônica e obtenção ilegal de informações.

O sentido de um processo kafkiano (referente ao Processo da obra literária de Franz Kafka) deve ser melhor explicado. A questão é que Aaron Swartz não cometeu, a princípio, nenhum ato ilícito (ele poderia fazer o download de artigos científicos como qualquer acadêmico logado a uma máquina com acesso ao JSTOR pode). E mesmo depois de acusado, entregou-se à Justiça e afirmou que não tinha intenção de lucrar com o ato. Diante do aviso de que a distribuição dos arquivos infringiria leis nacionais, Aaron devolveu os arquivos digitalizados para a JSTOR, que retirou a ação judicial de caráter civil. Ou seja: caso encerrado, correto?

Errado.
Após o acordo entre Aaron e a JSTOR, a Promotoria de Justiça de Boston, através da US Attorney Carmen Ortiz, indiciou Aaron Swartz por diversas ofensas criminais, pedindo a condenação do ativista em 35 anos de prisão (sic!) e o pagamento de 1 bilhão de dólares de multa. O processo penal teve início, sendo oferecida a Swartz a oportunidade de fazer um acordo penal que reconhecesse sua culpa (plead guilty). Irredutivelmente — mesmo sendo aconselhado por alguns advogados a agir em sentido contrário –, Swartz recusou-se a declarar-se culpado, por não considerar seus atos como ilícitos. Mesmo com a intervenção da JSTOR, que reconheceu não se sentir prejudicada pelos atos de Swartz, a Promotoria continuou a amedrontá-lo. O processo penal — extremamente custoso nos Estados Unidos — esvaziou suas poucas reservas financeiras e gerou um enorme trauma psicológico. O julgamento da ação penal estava marcado para abril de 2013 e Aaron Swartz recusava-se a comentar o assunto em entrevistas, palestras e eventos. Alguns especulam que o suicídio está ligado com o processo penal, considerado por muitos como uma resposta do governo dos Estados Unidos contra o ativismo libertário de Aaron. Na opinião de Greenwald, o colunista do Guardian, ele “foi destruído por um sistema de ‘justiça’ que dá proteção integral aos criminosos mais ilustres — desde que sejam integrantes dos grupos mais poderosos do país, ou úteis para estes –, mas que pune sem piedade e com dureza incomparável que não tem poder e, em especial, quem desafia o poder”. (2)

Até o momento, não há cartas ou posts de Swartz sobre o assunto. Não há, aliás, confirmação concreta de que houve suicídio (ou se foi uma morte herzogiana, comum na história brasileira). Trata-se de um grande mistério. Para a família de Swartz, uma coisa é clara: se houve suicídio, o bullying judicial realizado pelo Judiciário estadunidense foi um fator que levou o jovem ativista a encerrar a própria vida, em um sinal de protesto contra todo o injusto sistema.

As lições de um jovem revolucionário

Há muito o que extrair das falas, dos textos e das ações do gênio da informática Aaron Swartz. Ativista político, sociólogo aplicado, defensor da Internet livre, criador de mecanismos de compartilhamento de dados e crítico da forma como a sociedade global está se estruturando contra as liberdades básicas, Swartz deixa aos jovens da era da Internet um forte recado revolucionário: a mudança começa em cada um. Todo indivíduo possui autonomia para pensar e contestar o que está posto. Além de contestar, a ação colaborativa pode modificar as instituições existentes em uma perspectiva pós-capitalista. O conhecimento pode ser compartilhado, softwares podem ser desenvolvidos em conjunto e projetos podem ser executados com o financiamento coletivo.

Informação é poder. Swartz enxergou muito além do que seus contemporâneos e tentou mobilizar os usuários de Internet para construção de um outro mundo. Infelizmente, não foi apoiado da forma como precisava. A reverberação de suas ideias e suas ações ainda é muito fraca. Mas isso não é motivo para desistência. A brevíssima vida deste jovem estadunidense pode inspirar corações e mentes. Em tempos de discussão no Brasil sobre o Marco Civil da Internet, corrupção da política e agigantamento do Judicário, o resgate a seu pensamento é necessário. Ainda mais em um país que conta com mais de 80 milhões de usuários de Internet. A questão é saber se as pessoas terão curiosidade e interesse em compreender o projeto de vida de Swartz ou se irão continuar lendo matérias produzidas por corporações interessadas na limitação da liberdade na Internet.


Eu fico com o projeto de Swartz. Aliás, fique livre para copiar esse texto.




(1) Open Library is an open project: the software is open, the data are open, the documentation is open, and we welcome your contribution. Whether you fix a typo, add a book, or write a widget–it’s all welcome. We have a small team of fantastic programmers who have accomplished a lot, but we can’t do it alone!”

(2) “Swartz was destroyed by a “justice” system that fully protects the most egregious criminals as long as they are members of or useful to the nation’s most powerful factions, but punishes with incomparable mercilessness and harshness those who lack power and, most of all, those who challenge power“











Aaron Swartz (1986-2013) Combatente contra a privatização do conhecimento

16 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda




15/1/2013, The Real News Network (1/2)

http://therealnews.com/t2/index.php?option=com_content&task=view&id=767&Itemid=74&jumival=9505


Entreouvido na Vila Vudu:
Walter Benjamin nasceu em Berlin, dia 15/7/1892; e suicidou-se em Portbou (fronteira Espanha-França) dia 27/9/1940.
Walter Benjamin TAMBÉM preferiu o suicídio, a deixar-se julgar pelo aparelho judicial dos nazistas

[Primeira parte]

PAUL JAY, Editor Sênior de The Real News Network: Aaron Swartz foi brilhante desenvolvedor de softwares. Recentemente, trabalhou para a empresa Thoughtworks – desenvolvedora global de softwares. Mas, antes disso, já era mundialmente conhecido como o desenvolvedor de Reddit, o inventor do RSS e um dos que conceberam e projetaram a organização Creative Commons. Na 6a-feira passada, Aaron suicidou-se em New York.


Em junho desse ano, Aaron Swartz foi acusado de ter usado o acesso que obteve do Massachusets Institute of Technology, MIT, para logar-se ao sistema JSTOR – um banco de dados de artigos acadêmicos, de onde teria baixado grande quantidade de artigos científicos com o intuito de distribuí-los. Temia-se que fosse condenado a mais de 30 anos de prisão.

Hoje, para falar conosco sobre Aaron, o homem, e o significado desse caso, temos, para começar, Roy Singham. Roy é fundador e presidente da empresa Thoughtworks Inc., a última para a qual Aaron trabalhou. E Brian Guthrie. Brian trabalhava com Aaron na mesma empresa; também é desenvolvedor de softwares e ativista pela liberdade da Internet. Obrigado a ambos, por aceitar nosso convite.

Brian Guthrie: Obrigado a você.

Jay: Roy, por favor. Para começarmos, fale rapidamente sobre o caso, sobre o que realmente se viu na acusação. Quero dizer: a pergunta que, suponho, todos nós nos fazemos hoje é: por que o Procurador atacou Aaron com tanta fúria? Nenhum documento foi distribuído. Se Aaron baixou os documentos pensando em torná-los públicos, jamais os distribuiu. Não houve nenhum crime. Apesar disso, o Procurador atacou-o furiosamente...

Roy Singham: É... Não se sabe, mesmo... A família de Aaron distribuiu uma declaração[1], me parece, muito firme, na qual falam de excesso da Procuradoria e, infelizmente, nesse caso, também da cumplicidade do MIT, que permitiu que as coisas tomassem o rumo que tomaram. Fato é que, se Aaron baixou aqueles documentos, tinha pleno direito de baixá-los. Ele tinha acesso autorizado a eles; os documentos estavam num servidor... Mas nenhuma pessoa recebeu documento algum, porque Aaron não distribuiu documento algum. Quer dizer: se fosse crime, teria sido crime sem vítima... De fato, eles inventaram o ‘crime’ de ter intenção de distribuir... do qual não há qualquer indício ou prova.

Deve-se lembrar também que são artigos acadêmicos. Não se trata de segredos empresariais, nem de segredo de estado. São artigos acessíveis a qualquer pessoa que tenha a necessária credencial que Aaron tinha e muitos têm, em todo o mundo. E naqueles documentos condensam-se séculos de saberes da humanidade, de conhecimento humano. A ideia de que haveria algum proveito de natureza econômica a extrair da distribuição daqueles documentos é falsa. Se tivesse havido algum crime, seria impossível provar qualquer motivação econômica. E ninguém nem nenhuma instituição foi lesada. A empresa JSTOR, que é a organização da qual os documentos foram baixados, mostrou grande surpresa com o rumo que a história tomou, porque, disseram, era coisa fácil de resolver, que ninguém fora prejudicado, que não acreditavam que chegasse a haver um ‘caso’ policial e julgamento...

E de repente, lá está o governo dos EUA, na pessoa do Procurador Federal no Estado de Massachussets, que se põe a perseguir alguém, mesmo sem dano algum, mesmo sem vítima. Enquanto os que poderiam sentir-se como ‘vítimas’, se tivessem perdido alguma coisa, mas nada perderam, pedem que o Procurador Federal cancele as acusações. Que é estranho, é.

Jay: Parece que, então, o objetivo tem de ser o de mandar um recado claro a todos que tenham esse tipo de talento de alta especialização, pode-se dizer, que Aaron tinha: fiquem bem longe de documentos que pertençam a seja quem for, proprietário privado ou proprietário estatal... E ponto final. Parece que não há dúvida de que Aaron foi usado para mandar o recado à comunidade da qual ele fazia parte.

Singham: É, mas... A verdade é que cada pessoa tem opinião diferente sobre o que houve. Glen Greenwald, no artigo, que achei brilhante, que escreveu para o The Guardian,[2] considera várias teorias potenciais sobre por que a Procuradoria cometeu tais excessos. Você sabe... Teria sido para criar um caso exemplar? Teria sido porque Aaron tinha inimigos poderosos nos EUA?

Como você provavelmente sabe, Aaron ajudou muito na luta para derrotar a legislação antipirataria. Ele também meteu-se com o governo, ao mostrar que as coisas [incompr.] que já produziram para os tribunais têm de ser lives. Baixou tudo aquilo, e expôs o ridículo do que estão tentando fazer. Claro que ele já chamara a atenção do FBI e do governo. Sabemos que já estava no alvo deles.

Mas o que aquele Procurador Federal fez, porém, em Boston, além das questões políticas que haja, são o que mais chama a atenção de todos, hoje. Houve vingancismo, aquele Procurador e seu gabinete rebaixaram a justiça federal. Afinal, é um Procurador Federal, juiz federal da Procuradoria Federal do Estado de Massachusetts, Carmin Ortiz. Ele já estava, há mais de dois anos, tentando meter o Aaron, praticamente um menino, um lindo rapaz, na cadeia.

Quais, portanto, seriam os motivos pessoais, além do caso político, de, no mínimo, no caso de Aaron, dois Procuradores federais? Foi o perguntamos em nossa declaração, hoje [incompr.], distribuída à imprensa. Aqui, fala como indivíduo. Mas na declaração a ideia era que... Não é possível que haja Procuradores de justiça, nos EUA, que usem os poderes que têm para acuar gente inocente, que se sirvam do sistema judicial para chantagear inocentes e obrigá-los a se declararem culpados. Ser condenado, num processo desses, implica custas de milhões de dólares, o sujeito, a família, ficam arruinados, 35 anos de cadeia... Tudo isso assusta qualquer pessoa.

E há muitas questões a serem ventiladas publicamente, na nossa opinião, sem dúvida alguma na minha opinião e na opinião de Brian, que trabalhava todos os dias ao lado de Aaron. Se se deixar sem discutir publicamente o que aconteceu, perderemos a geração atual e, possivelmente, mais uma geração de Aarons, duas gerações das melhores cabeças que o planeta produziu até agora. O que está em jogo é isso! Tenho ideias pessoais, sobre o que há, nesse caso, de motivação política, sim. Mas penso, em primeiro lugar, que a família de Aaron gostará de nos ouvir dizer isso. Por que, em todo o governo dos EUA, ninguém sequer tentou interromper a ação daquele Procurador Federal? Por quê? Como é possível que isso tenha acontecido nos EUA? [incompr.]

Jay: Brian, você trabalhava ao lado de Aaron. Fale um pouco sobre o homem. Para começar, o que o motivou, em primeiro lugar, o que você acredita que o tenha motivado para baixar todos aqueles documentos? Tanto quanto sei, ele jamais negou que tivesse baixado os documentos. Mas a ação era parte de uma visão mais ampla, sobre o mundo. Que visão era essa?

GUTHRIE: Aaron é mais conhecido pela contribuição técnica, mas ele tinha, mesmo, alma de filósofo e de ativista. Era excepcionalmente culto, lia muito. Desde muito cedo e sempre, em sua vida, procurava aproximar-se de gente que admirava, procurava pessoas que admirava, perguntava o que fazer, como podia ajudar. E usou aquele talento técnico para melhorar coisas em toda a Internet. Se há coisa que todos dizem de Aaron é como ele se movimentava, como aparecia, sem mais nem menos, com ideias para ajudar, querendo trabalhar junto, oferecendo apoio à página internet de um, de outro. Era, sim, prodigiosamente inteligente e sinceramente desejava usar a inteligência que sabia que tinha e suas habilitades, e sua energia, para o bem do mundo.

Escrevia também muito, e muito bem. Pensava longamente no que escrever. Pode-se ver muito do tipo de homem que era, nos seus escritos online. Em pessoa, frente à frente, era meio calado, quase tímido, passava facilmente despercebido. Nunca chegava como o incrível ativista que foi. Mas, de fato, se se acompanhava o que ele dizia online, se se lê o arquivo online de seus escritos, do que pensava, das suas opiniões, então, sim, se vê a riqueza do conhecimento que ele tinha, tudo pesquisado, tudo organizado, as questões discutidas e expostas com enorme clareza.

Jay: Você deve ter discutido esse caso, especificamente, com ele. Como você explica a ação de ter baixado aqueles arqivos e o que ele esperava?

Singham: Aaron tinha uma abordagem muito disciplinada do modo como trabalhava e como trabalhar para maior proveito geral, do mundo, especificamente na luta em torno da questão dos direitos de autor, o copyright. Estava à procura de bancos de dados nos quais se arquivassem documentos que realmente contivessem algo de interesse social, de bem público, que devesse ser aberto, fosse pelo conteúdo, fosse por ser produzido com dinheiro de impostos que todos pagam, documentos que devessem ser propriedade aberta do povo dos EUA.

Por exemplo, o banco de dados PACER é banco de dados de documentos que foram usados em julgamentos públicos. Foi um dos bancos de dados públicos que ele ajudou a abrir para toda a internet. Nessa operação, todos descobriram que PACER estava cobrando pelo acesso àqueles documento públicos! São documentos de domínio público. São pagos e produzidos pelo povo dos EUA. Nada justifica que quem queira lê-los tenha de pagar pelo acesso.

Aaron fazia esse tipo de trabalho. Estava trabalhando para fazer-ver a desconexão absoluta que há entre as leis que temos sobre informação e o modo como as pessoas comuns têm (ou não têm!) acesso àquela informação. Estava fazendo isso. Estava trabalhando para abrir bancos de dados de documentos que já teriam de estar abertos há muito tempo, de fato, para todo mundo.

Singham: E há aí muitas e muitas nuances muito mais importantes do que o público sabe. Por exemplo: os acadêmicos que escrevem para periódicos especializados não são pagos para escrever ou publicar. Praticamente em todos os casos, as pesquisas e estudos cujos resultados são publicados são financiadas por instituições do Estado. Muitos daqueles artigos tiveram algum dia algum direito autoral, em muitos casos, já expirados. E coisas assim... De fato, o mesmo JSTOR distribuiu milhões de artigos de seu banco de dados, semana passada, porque....

Guthrie: Distribuíram 20% do que tinham arquivado.

Singham: 20%. Uma das coisas que Aaron disse em sua fala, acho, de 2011 foi “vocês sabem... Aqui está arquivado o conhecimento humano dos últimos 200 anos. Eu, como estudante de um país rico, numa universidade rica, tenho acesso livre a tudo isso, mas... e se uma estudante na Índia quiser ler o que eu leio gratuitamente, ela não pode. Porque não tem a senha que a universidade em que eu estudo me dá e me dá pleno acesso a tudo isso; mas não dá nenhum acesso a ela, à cultura literária e ao conhecimento científico da humanidade. Eu, ando um pouco e chego a uma biblioteca e posso ler o que quiser. Mas um jovem estudante pobre, por exemplo, no Brasil, não pode ler o que eu leio de graça, aqui.” Era algo que o ofendia profundamente, sinceramente, no plano moral. E ele via, muito claramente, o quanto essa discriminação prejudicaria também a sociedade norte-americana.

Guthrie: [incompr.] JSTOR [sigla de The Scholarly Journal Archive] é uma organização que tem uma missão[3], deve trabalhar pelo bem público, e com certeza baseia-se em um conjunto de boas intenções. Não tenho dúvidas de que, hoje, a JSTOR, como instituição, está muito mais feliz com o modo como conduziram o assunto, do que outras instituições envolvidas.

Mas Aaron sabia que professores e alunos das grandes universidades norte-americanas que têm acesso ao banco de dados de JSTOR também já partilhavam o acesso àquele conhecimento. JSTOR começou a cobrar de outras universidades pelo acesso aos seus bancos de dados. Muitos professores e alunos continuaram a partilhar senhas, ou distribuíam textos pelas suas próprias redes. Muitos acadêmicos já são uma comunidade de partilha de conhecimentos. São os que visam a distribuir conhecimento pelo mundo. Muitos não são obcecadamente preocupados com o sigilo de suas pesquisas. Querem que o maior número de pessoas saiba do que estão fazendo, leiam suas pesquisas.

Aaron sabia, contudo, que, mesmo assim, muita gente que vive em locais sem qualquer acesso às universidades, ou onde nem as universidades possam pagar as taxas de inscrição que JSTOR cobra têm também direito de acesso àquele conhecimento. Queria mudar isso. Queria mudar mesmo, em grandes números... [continua]


15/1/2013, The Real News Network (2/2)


http://therealnews.com/t2/index.php?option=com_content&task=view&id=767&Itemid=74&jumival=9505


[Segunda parte]

Jay: E então, Roy? Por que esse Procurador – e, como você disse, não pode ser só um Procurador. Mais gente, no Departamento de Justiça tinha de ter conhecimento do que estava sendo feito. Por que decidiram sair à caça de Aaron? Porque se puseram a persegui-lo tão ferozmente? Por que vocês acham que essa perseguição é tão ameaçadora, tão grave?

Singham: Por que... é claro... É claro que nós não temos muita chance. O pior de todos os Procuradores do Gabinete de Ortiz é Heymann, é o mais vingativo. Trabalha para Ortiz, é o chefe de gabinete do Procurador. Esses dois, Ortiz e Heymann, na minha opinião, são 100% culpados pela perseguição infatigável, sem tréguas. E por tudo que aconteceu. E outros, todos sabem, outros também discutiram o caso, Holder e outros. É absolutamente impossível acreditar que não soubessem, que não tivessem discutido o caso.

E se se analisa o momento em que as acusações foram formlizadas contra Aaron, foi exatamente no mesmo momento em que acusaram Assange e Manning. Havia no ar aquela paranoia, no Departamento de Estado, no Serviço de Segurança Nacional... [incompr.] Há ativa, hoje, uma geração inteira de hackers e, pensaram eles, temos de acabar com isso. Se não metermos essa gente na cadeia, a segurança nacional estará ameaçada.... O ‘clima’, naquele momento era de... temos de acabar com eles. Muita gente sentiu, não aconteceu só com Aaron. Houve outros, Jeremy Hammond, os Anonymous, muita gente que está trabalhando muito pela liberdade na Internet. Muitos deles estão sendo caçados globalmente. Quero dizer é que... Pode-se dizer que é uma coisa social, histórica.

Ontem à noite, discutimos internamente, na nossa empresa. Há o pessoal que acha que “Por que, como empresa, temos de nos meter nisso? Por que chamar atenção para nós? Parece que queremos que o Procurador se ponha a nos investigar... Queremos que ele nos cace também?!” Discutimos os termos da nossa declaração pública. E, sim, estamos exigindo que o MIT peça desculpas à família de Aaron. Não se pode admitir que, sem mais nem menos, mudem toda a política da instituição... por causa de um Procurador Federal?

Tudo isso é muito importante. O acesso à internet para todos não é importante, para nós, pessoalmente, e também para nossa empresa? Claro que é! Se vc visitar a página de Aaron, há alguém lá, de 14 anos que escreveu que Aaron é seu ‘herói’. Se essa geração, onde pode haver centenas, milhares de Aarons, começa, desde já, a ser ‘ensinada’ que os que trabalham para garantir mais liberdade para todos podem ser presos, destruídos, arrasados, que alguns, mais desesperados ou mais frágeis, não suportarão a pressão ou a dificuldade da luta... Não se pode admitir que aconteça, porque, se acontecer, a internet humanista do futuro, a internet revolucionária, terá sido assassinada no ovo.

Fomos forçados a uma posição de mais ativismo, para combater a supressão da desobediência e da resistência civil. Infelizmente, alguns de nós, nós... Mas, nos dois últimos dias, algumas das melhores cabeças, das cabeças mais criativas, já trouxeram algumas das respostas mais inteligentes de toda a comunidade, contra, contra esses horrendos atos de autoritarismo.

Jay: Parte da questão é que... Os EUA têm superioridade militar sobre todo o mundo, têm superioridade financeira sobre todo o mundo? Será que têm? Porque, no que tenha a ver com tecnologia de computadores... parecem tão assustados nesse front. Talvez suspeitem que não têm qualquer superioridade intelectual? Talvez saibam que não têm? Por isso se sentem vulneráveis, assustadiços? Por isso atacam tão furiosamente? Porque se sintam expostos?

Guthrie: Há uma narrativa segundo a qual fazem o que fazem porque a tecnologia é novidade e eles têm medo do hacker-bandido que entra em qualquer sistema e faz o que bem entenda com os dados... É narrativa fantasiosa, nada disso é v erdade. Quero dizer... O que compreendemos da tecnologia está ainda no começo. Mas acho que Aaron acabou capturado por essa narrativa que os Procuradores da Justiça Federal podem manipular a favor deles mesmos. Se conseguirem pintar Aaron como bandido perigoso, como mais um de uma vasta conspiração de hackers-bandidos. E Aaron...

Jay: Antes da entrevista, fora do ar, você disse uma coisa importante: que Aaron não invadiu sistema algum. Ele tinha a senha de acesso, dele, legalmente dele. O que Aaron fez foi como ir a uma livraria com a carteirinha de entrada, entrar normalmente e fotocopiar livros de domínio público. Para distribuir as cópias, se quisesse. Foi isso?

Singham: Não é bem isso, porque Aaron nunca imprimiu nada. Não houve nenhuma cópia. Ele baixou os arquivos para o seu computador. Não há crime algum.

Guthrie: É. A comparação correta é com alguém que entra legalmente numa biblioteca e passa os olhos, muito rapidamente, por muitos livros. O que impacta o sistema, é que ele baixou muitos artigos, muito rapidamente. Mas não fez coisa alguma que alguém, seja quem for, possa descrever como hackear alguém ou a propriedade de alguém. Aaron não entrou em nenhum sistema, não alterou nenhuma senha. Não fez coisa alguma que a página que ele acessou não autorizasse a fazer. Nem, sequer, alterou a URL, o que é óbvio...

Singham: É óbvio...

Guthrie: É absolutamente óbvio que não alterou nem a URL – que é algo que tem sido usado como pretexto para acusar pessoas de estarem hackeando páginas. Se você alterar a URL de um vídeo do YouTube, alguém poderá alegar que, em circunstâncias que façam pensar nisso, você estaria hackeando o vídeo. Aaron não fez nem isso. Nem faria. Aaron não era esse tipo de gente.

Jay: Você está dizendo que, se um aluno comum, sem histórico nem interesse no ativismo de Internet e sem ter os dotes e a habilitação excepcional de Aaron, tivesse feito o que ele fez, nada teria acontecido e, com certeza, não teríamos Procurador algum em surto persecutório. O Gabinete do Procurador Federal do estado de Massachusetts pôs-se a caçar Aaron porque se tratava dele, Aaron Swartz. E porque tem medo do que gente como ele é capaz de fazer. É isso?

Singham: Acho, é minha opinião pessoal, que há um movimento calculado, no governo dos EUA, para tornar inoperante a próxima geração de ‘gente de computador’. Aliás, a desobediência civil que esse pessoal pratica não é diferente da que o Dr. [Martin Luther] King, da que Gandhi pregavam. O argumento de que Gandhi desrespeitou a lei no imposto do sal, ou, então, que o Dr. King violou leis ao ‘desrespeitar’ as leis racistaas... São pequenas transgressões, sem importância alguma, de leis injustas...

Aaron gostava de riscos. Acreditava que, acho que... Não sei se ele teria antevisto alguma resposta tão absurda... Não sei se alguém poderia prever a reação alucinada desse Procurador, mas... Aaron compreendia muito bem que as leis que há hoje, não dão conta, de modo algum, das mudanças tecnológicas. Que são leis aprovadas há 30, 40 anos, que já nada significam nessa área nova em que vivemos hoje. Entendia também muito bem que aquelas leis estão sendo usadas por um pequeno grupo de empresas gigantescas para privatizar e converter em dinheiro todo o capital intelectual que é legado humano, de toda a humanidade.

Por isso, até a revista The Economist, que não é afamada pelas posições progressistas, chamou-o ontem de “o homem dos comuns” [orig. commons man],[1] e não no [incompr.] sentido de ele defender, ou ser um dos grandes defensores do conceito dos bens “commons” e a completa erosão...

Mas Aaron, nesse sentido, estava atacando diretamente os interesses econômicos dos que estão tentando privatizar o conhecimento humano.

Mas ele também sabia que havia uma relação entre aqueles interesses e o Estado, razão pela qual quase tudo em que estava trabalhando era ativismo em torno de leis. Porque ele então começou a entender que o contexto mais amplo era, sim, um contexto político. Por mais apaixonado que fosse por Creative Commons, também era apaixonado pela próxima geração de combatentes.

Jay: Brian, fale um pouco sobre as outras áreas em que Aaron trabalhava. Você me disse, antes da entrevista, que essa era parte pequena do ativismo de Aaron.

Guthrie: É. Nós conhecemos Aaron como técnico, mas a tecnologia para ele era uma ferramenta. Algo que ele queria usar para realmente mudar o mundo. O trabalho que estávamos fazendo com ele na Thoughtworks envolvia construir um software usando as mesmas ferramentas e técnicas que o pessoal do Vale do Sílício está usando para fazer as pessoas postarem mais no Facebook, aplicando o mesmo nível de detalhes analíticos para encorajar as pessoas a trabalhar certo, fazer o bem no mundo e aproximar as vozes num coletivo de gente que tenta mudar as coisas.

E assim, para esse objetivo, estão trabalhando num software que Aaron queria fazer e fez – já está disponível, gratuito. Basta baixar, você mesmo. É distribuído sob licença de fonte aberta. Aaron planejava usar esse programa para chegar às ferramentas mais avançadas para ativismo social na internet em todo o mundo, para gente que não teria acesso às ferramentas, se não pagasse.

Singham: É. [incompr.] O pessoal pensa nele como uma espécie de ‘herói global do ocidente’. Aaron era profundamente internacionalista. É que... [incompr.] nesse aspecto, em especial, ele percebeu que o conhecimento sobre campanhas, militância, sobre organização, hoje, é fenômeno restrito a países ricos; que até entre os progressistas, há o risco de que as agendas não sejam montadas pelas próprias pessoas, que alguém as monta ‘pelas pessoas’. Aaron era democrata empenhado, dedicado. O que alguém faz, se vive numa aldeia perdida no Burundi e quer espalhar a minha campanha, não importa o que seja, a favor ou contra seja lá o que for, e o sujeito não quer que a agenda dele seja ‘traduzida’ por alguém em Washington, nem em New York, o sujeito quer falar, ele mesmo, e ser ouvido por aquelas pessoas que ouvem os tais celulares, e computadores moderníssimos....

Aaron era pensador incrivelmente avançado sobre a natureza do poder político, como democratizar o acesso, como a internet tem de ser usada para esvaziar o poder da acumulação de riqueza e poder. Foi dos últimos, infelizmente, nesse sentido... dos grandes humanistas, que lutaram contra o poder concentrado em poucas mãos e os estados totalitários.

JAY: Brian, gente como Aaron atualmente faz fortuna rápida. Mas ele parecia não se interssar por dinheiro... se entendi bem.

Guthrie: É – e diga-se a favor dele. Acho que Aaron poderia ter sido o que quisesse e fazer absotamente o que quisesse. O dinheiro caiu sobre ele, sem que ele o procurasse. E, diga-se, outra vez a favor dele, que ele continuou a seguir suas pistas e oportunidades, onde conseguisse encontrar alguma, sempre procurando fazer o maior bem possível à maior quantidade possível de pessoas. Nunca pensou em ganhar dinheiro. Ajudou a criar a empresa Reddit.com, e depois que foi vendida ao grupo Condé Nast, separou-se completamente e usava o dinheiro como usava o oxigênio que respirava, não para acumular oxigênio dentro dele, mas para andar o quanto precisasse, para melhorar o mundo.

Singham: Verdade é que ele não ganhou tanto dinheiro como se disse. Não foi tanto quanto as pessoas pensam.

Guthrie: É.

Singham: Aaron era um dos proprietários. Havia outros. E ele gastou nas ‘operações’, no caso PACER, para viver e morar. Nunca viveu como rico. Há muita coisa errada, no que se disse dele.

Pessoalmente, como técnico, estou preocupado com gente que acredita nos retratos que se pintam por aí de Steve Jobs, como ícone. O mundo precisa de ícones como Aaron Swartz, não como Steve Jobs. De fato, na nossa indústria, somos pessoas de sorte, porque conseguimos viver do que gosstamos de fazer. Mas... usamos para quê, o que nós sabemos fazer? Nesse sentido, pensando com meus botões, acho que Aaron foi o mais importante personagem modelo da nossa geração, com certeza nos EUA... É muito difícil, para mim...

Você e eu tivemos muita, muita sorte, porque vivemos tanto tempo com ele, nos últimos seis, oito meses. E passei dois dias chorando sem parar. Você também. E só hoje, no terceiro dia, estamos começando a conseguir começar a reconstruir o legado de Aaron, como, tenho certeza, ele queria que fizéssemos.

O que mais me perturba é gente que tenta inserir Aaron em cenários sempre estreitos, estreitos demais. É o hacker, ou é o cara da Internet. Conheço gente, conheço muita gente... Você e eu conhecemos muita, muita gente. Você conheceu algum sujeito melhor que ele? Mais atento, mais carinhoso? Eu ainda não consigo acreditar. Ainda choro.

Conversamos uma vez, recentemente, sobre como se podia mudar o modo como os americanos veem os muçulmanos. Aaron, um jovem, belo e bom judeu. Entrou na sala onde havia vários, você sabe, ativistas muçulmanos, e disse que todos temos de fazer alguma coisa para mudar o modo como os norte-americanos veem os muçulmanos. Chegou até a lousa e disse “escutem, temos de combater, fazer uma guerra contra os mercadores do ódio”. [incompr.] Tinha ido até lá dizer isso. Ficaram lá, uma, duas horas.

Guthrie: É.

Singham: Ele fazia essas coisas. A amplitude das questões sobre as quais pensava era quase inacreditável. Nesse sentido, era quase um radical. Leu Chomsky com 15 anos. Falava de tudo sobre o que as pessoas não querem falar. Era homem profundamente insatisfeiro. Numa de suas falas sobre a campanha SOPA, quando falou sobre isso pela primeira vez, disse “olha, não estou interessado em lei de direitos de autor; direitos de autor não me interessam, nem a favor nem contra. Quero mexer no acesso a assistência médica, quero mexer nessa crise financeira, quero entender por que não temos o Congresso ‘na cola’ das empresas que negociam com o Pentágono. Quero dizer... Ele pensava assim.

Jay: Roy, muitos dos que nos assistem perguntarão por que Aaron não quis lutar esse combate contra o Procurador. Já se sabe que ele sofria de depressão. Não é verdade que, porque sabia que seria preso, preferiu outra solução. Acho que, como sempre acontece, a depressão tomou conta da capacidade de decidir...

Guthrie: Uma das conversas que circularam foi a questão do dinheiro, que o dinheiro não seria problema. Você entra num processo desses, mesmo que seja completamente inocente, numa corte federal, passa um dia lá dentro sendo julgado e, à tarde, você está condenado a passar o resto de sua vida na cadeia ou deve 1,5 milhão de dólares. Não há como imaginar o que é isso [conversas cruzadas].

Singham: Esse dinheiro ele não tinha.

Guthrie: É. Não tinha. E, para pagar, ele teria de pedir a alguém... Isso....

Singham: Nós estávamos tentando ajudá-lo a levantar o dinheiro. Eu disse a ele várias vezes, Aaron, a comunidade sairá em sua defesa. Mas ele era tão reservado, tão discreto. Um cenário desses, para ele, era inconcebível. Acho também que... Tive de enfrentar a depressão, conhecidos meus tiveram depressão, há os que têm depressão. Tenho pensado muito sobre isso. Sei que depressão é coisa complexa. Ele sabia e falava abertamente. Pouca gente, da importância dele, falaria tão aberta e sinceramente sobre essa coisa.

Sinto também que... Aaron era muito amado. Posso dizer com segurança que era muito amado. O sócio dele, a família dele, são grandes pessoas. O que me ocorre é que... ele sabia que era amado. Mas é difícil, não importa o que digam os amigos, até os que mais nos amem, para alguém que vivia sinceramente preocupado com o futuro mais profundo, mais grave, da humanidade, ter, de repente, de se preocupar consigo mesmo, com arranjar dinheiro, advogados, sob o risco de ser preso. Não sei. Nem a família, nem na empresa falamos sobre isso. Mas todos o amamos muito [incompr].

Claro que sempre que se enfrenta uma tragédia como essa, todos se perguntam – fizemos tudo que poderíamos ter feito? Poderíamos ter feito mais? Estamos todos em luto, um processo de luto. Andamos, de fato, em torno do problema, porque nada muda alguns fatos? Como explicar e como reagir à fúria daquele Procurador? O que algum dia explicará a reação do MIT? O que algum dia explicará o terror de um homem jovem, ante uma sentença de 35 anos de prisão?

É uma tragédia pessoal, para Aaron, para nós que o amávamos. É tudo horrível demais e exigimos explicações. Em todos os casos, ainda maior tragédia será, se tudo isso intimidar uma geração inteira de jovens combatentes. E os EUA criamos o estado mais totalitário do mundo, muito mais totalitário que 1984.

Jay: Obrigado pela entrevista.

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ADAM SWARTZ: “A Internet é incontrolável. Mas se esquecermos disso, se deixarmos que Hollywood reescreva a história e invente que a grande empresa Google fez o serviço todo, se deixarmos que nos convençam de que não fizemos diferença alguma, se passarmos a ver as coisas como responsabilidade de outros, que eles fizeram tudo, que nosso papel é ir para casa, fazer pipocas e ver Transformers... Aí, talvez, da próxima vez, eles talvez nos derrotem. Não podemos deixar que aconteça.”

[1] 13/1/2013, The Economist,

http://www.economist.com/blogs/babbage/2013/01/remembering-aaron-swartz

+++

Declaração da Família de Aaron Swartz
13/1/2013.


http://www.rememberaaronsw.com/

Nosso filho bem-amado, amigo, companheiro Aaron Swartz enforcou-se na 6ª-feira em seu apartamento no Brooklyn. Estamos em choque, sem ainda acreditar que já não o temos conosco.

A curiosidade insaciável de Aaron, a criatividade, o brilho; a empatia reflexiga, a capacidade de doar-se sem egoísmo, o amor ilimitado; a recusa a aceitar a injustiça como inevitável. Somos gratos pelo tempo que o tivemos entre nós. Agradecemos a todos que o amaram e o defenderam e a todos que continuam a fazer o trabalho que Aaron sempre fez, por um mundo melhor.

O comprometimento de Aaron com a justiça social foi profundo e definiu-lhe a vida. Aaron foi essencial para derrotar a legislação de censura à Internet; combateu por um sistema político mais democrático, aberto e transparente; e ajudou a criar, construir e preservar um quantidade quase inacreditável de projetos acadêmicos, que ampliaram o objetivo e a acessibilidade do conhecimento humanos para todos. Usou sua inteligência prodigiosa e suas vastíssimas capacidades como programador e tecnólogo, não para obter riqueza pessoal, mas para fazer da Internet e do mundo espaços de vida melhor e mais justa. Seus escritos alcançaram corações e mentes de mais de uma geração, em todos os continentes. Conquistou a amizade de milhares e o apoio de milhões de pessoas.

A morte de Aaron não é simples tragédia pessoal. É efeito de um sistema de justiça criminal contaminado pela intimidação e pela perseguição ilegal, descabida, inadmissível, sem limites.

Decisões tomadas pelos agentes do Gabinete do Procurador Geral dos EUA no Estado de Massachusetts e no MIT empurraram Aaron, de fato, ao suicídio.

O Gabinete do Procurador Geral dos EUA lançou contra Aaron uma carga excepcionalmente violenta de acusações, que implicariam, no caso de condenação, em 30 anos de cárcere, como castigo para um crime alegado, do qual não há vítimas.

No processo quase inimaginavelmente doloroso de esperar por esse julgamento descabido, ao contrário de JSTOR [sigla de Journal Storage][1] que o apoiou e defendeu., a direção do Massachusetts Institute of Technology, MIT não defendeu Aaron nem os mais solenes princípios de sua própria comunidade acadêmica e científica.

Hoje, todos choramos a perda desse homem extraordinário.




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[1] JSTOR é um sistema online de arquivamento de periódicos acadêmicos sediado nos Estados Unidos, fundada em 1995, que reúne bibliotecas de todo mundo. Mais, em http://pt.wikipedia.org/wiki/JSTOR. Sobre JSTOR-USP, ver http://www.usp.br/sibi/biblioteca/jstor.htm [NTs].

Mais aqui:

http://oempastelador.blogspot.com.br/


Fonte: Grupo Beatrice
Imagens: Grupo Beatrice, Google



Chefe de direitos humanos da ONU quer investigar Coreia do Norte

14 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


GENEBRA – A chefe de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, pediu nesta segunda-feira por uma investigação internacional sobre a Coreia do Norte, que, segundo ela, tem cometido graves crimes ao longo de décadas.

Pillay lamentou a falta de progresso no país comunista desde a posse de Kim Jong-un como novo líder, há um ano.

Pillay, em uma rara declaração sobre a Coreia do Norte, lamentou que as preocupações internacionais sobre o controverso programa nuclear norte-coreano e os lançamentos de foguetes por parte do país tenham ofuscado "a deplorável situação dos direitos humanos na RDPC (República Democrática Popular da Coreia)".

Os campos de prisioneiros políticos do Estado isolado, que acredita-se contenham ao menos 20 mil pessoas, são locais marcados por graves violações aos direitos humanos, incluindo estupros, tortura, execuções e trabalho escravo, disse ela.

"Houve alguma esperança inicial de que o advento de um novo líder pudesse trazer alguma mudança positiva na situação dos direitos humanos na RDPC", disse. "Mas um ano após Kim Jong Un tornar-se o novo líder supremo do país, não vemos quase nenhum sinal de melhora".



Nota da Redação:
Gostaríamos de saber quantas vezes essa senhora, questionou sobre o tratamento desumano e humilhante que Israel (há décadas), dá aos palestinos e se esse mesmo país já obedeceu alguma resolução imposta pela ONU…


Incluir tb: Guantânamo/Prisões secretas da CIA/Baghran/Abu Grabi/Faluja/Genin/assassinatos de cientistas do IRÃ-essa pilantra deve achar q o povo do IRÃ não existe, portanto não há o que investigar/ …



Fonte: NavalBrasil

Imagem: Google



EUA querem militarizar região da Ásia-Pacífico

14 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda



O Ministério das Relações Exteriores da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) publicou, nesta segunda-feira (14), um memorando sobre as tentativas dos Estados Unidos de reabilitar o “comando das forças da ONU” como seu instrumento de guerra de agressão na região Ásia-Pacífico segundo sua nova estratégia de defesa nacional.

De acordo com o documento, ainda que tenha passado quase 60 anos desde a assinatura do Acordo de Armistício da Coreia, a guerra não terminou no sentido legal.

Devido à falta de um aparato institucional que garanta a paz, persiste na Península Coreana o estado instável de trégua, ou seja, nem paz, nem guerra.

Segue abaixo o texto resumido do memorando:

Por trás do estado de armistício que os EUA mantêm, há o “comando das forças da ONU”, fantasma da Guerra Fria, desprezando os constantes esforços do governo da RPDC para substituir o acordo referido por um convênio de paz.

De acordo com sua nova estratégia de defesa nacional, os EUA tentam tornar o “comando das forças da ONU” (será usado somente “comando” de agora em diante) como marco da Otan da versão asiática ao convertê-la em um “aparato de forças aliadas multinacionais”.

O objetivo implícito da estratégia mencionada, que veio a público em janeiro de 2012, reside em formar um cerco e, pela via militar, impedir que outra potência asiática cresça tanto a ponto de rivalizar com os EUA.

Para evitar a reação dos países interessados, os EUA tentam consolidar suas alianças com o método astuto de organizar não um novo aparato, mas restabelecer as funções do “comando” que existia nominalmente.

Por trás disso, há outro propósito estratégico de controlar de maneira mais intensa o Sul da Coreia como base avançada para o domínio da Ásia-Pacífico e do seu satélite com a missão de fazer a guerra de agressão. Impulsionam pouco a pouco os preparativos para ampliar o teatro operacional do “comando” a toda a extensão geográfica da Ásia-Pacífico.

Se os movimentos para fundar na região um bloco militar são tolerados, os outros países, que serão seus alvos, inevitavelmente os enfrentarão unidos.

Neste caso, começará naturalmente na região da Ásia-Pacífico a formação de grupos de países como aconteceu no passado na Europa e, por conseguinte, retornará a Guerra Fria e crescerá mais que do nunca o perigo de uma guerra nuclear. Se isso acontecer, o mais prejudicado será a Coreia do Sul.

Desde o princípio, o “comando” é uma organização ilegítima que veio abusando do nome da ONU, independentemente da vontade geral dos países membros. Se for levada em conta a composição da ONU transformada com o passar do tempo, ela está desvinculada desta organização internacional e não passa de um aparato subordinado aos EUA.

A ONU atual não é aquela da década de 1950, quando os EUA puderam fabricar “o comando” de acordo com seus caprichos. Passaram-se mais de 20 anos desde que a RPDC ingressou na ONU como digno membro pleno e mais de 40 anos desde que a China, outra signatária que assinou junto com a RPDC o Acordo de Armistício da Coreia diante da contraparte das “forças da ONU”, exerce a representação como membro permanente do Conselho de Segurança.

No entanto, está içada ainda em Phanmunjom [fronteira da RPDC com a Coreia do Sul] a bandeira da ONU, o que é o clímax do ato anacrônico e uma vergonha para o mesmo organismo internacional.

O “comando” deve ser desmantelado sem demora também para a recuperação da autoridade e imparcialidade da ONU. Este resquício de uma época passada já foi condenado à desintegração pela Assembleia Geral da ONU.


No 30º período de sessões da Assembleia Geral, realizado em novembro de 1975, foram aprovadas duas resoluções sobre o problema de dissolver “o comando”.

Então, o “comando” não era ainda uma força multinacional, mas era integrada somente pelas tropas norte-americanas que ocupavam a Coreia do Sul.

Enquanto era firmado o Acordo de Armistício, todos os 15 países membros da ONU, participantes na última guerra da Coreia, retiraram suas forças armadas de lá, exceto os Estados Unidos.

Se bem que os EUA insistiram que podem desintegrar o “comando” quando for instaurado outro aparato capaz de manejar a trégua, de fato, o atual estado de armistício não é administrado pelo “comando”.

Em março de 1991, os EUA nomearam bruscamente um general sul-coreano como delegado-chefe da parte das “forças da ONU” da Comissão Militar de Armistício, cargo que desde então um general norte-americano ocupava.

Desde que a parte das “forças da ONU” perdeu a representatividade, a Comissão Militar de Armistício ficou praticamente paralisada.

Por isso, a delegação do Corpo de Voluntários do Povo Chinês, que formava a parte Coreia-China da Comissão Militar de Armistício, se retirou em dezembro de 1994. Na substituição à anterior parte Coreia-China, nasceu a Representação do Exército Popular da Coreia (EPC) em Phanmunjom com a missão de manejar o armistício por parte da RPDC.

No decorrer do tempo, os membros da Comissão Supervisora das Nações Neutras perderam a neutralidade que tinham no momento da assinatura do Acordo de Armistício e, portanto, ela também ficou inabilitada.

Devido ao colapso do aparato anterior de controle do armistício, o “comando” se tornou um órgão testa-de-ferro que não tem contraparte com quem discute o mesmo trabalho. Desde então todos os problemas sobre a gestão do estado de armistício são consultados e tratados pelo EPC e as forças norte-americanas, em vez da parte Coreia-China diante das “forças da ONU”.

O fato de a RPDC e os EUA virem manejando eficientemente o estado de armistício por vários decênios, demonstra que não existe razão que impeça a dissolução do “comando”. Quanto a substituir o Acordo de Armistício por um outro de paz, o “comando” é um resquício da Guerra Fria que não serve para nada.

O Acordo de Armistício estipula que o problema da paz duradoura deve ser tratado na reunião política de um nível mais alto que o de comandantes militares. O superior político real do “comando”, signatário do acordo, não é a ONU, mas o governo norte-americano.

Houve muitos debates e acordos entre as partes interessadas para a transição do armistício para a paz duradoura, em nenhum momento se mencionou a solução que toma por premissa a existência do “comando”.

No entanto, o “comando” é reabilitado agora como instrumento de guerra das forças multinacionais. Trata-se de um problema incontornável para a segurança regional da Ásia-Pacífico.

Em seu truque barato para dissimular o caráter agressivo de sua estratégia sobre a Ásia-Pacífico, os EUA afirmam que o aumento das forças de defesa nacional da RPDC fosse um fator de agravamento da situação regional.


O desmantelamento imediato ou não do “comando” será o critério para pesar se os EUA vão manter ou não sua política hostil à RPDC e deseja a paz e estabilidade da região da Ásia-Pacífico ou a repetição da Guerra Fria.

A RPDC redobrará constantemente seus esforços para dissuadir a guerra de qualquer tipo até que os EUA tomem uma boa decisão e contribuam ativamente para a preservação da paz na Península Coreana e no restante da Ásia.





Fonte: Embaixada da RPDC no Brasil
Tradução: da Redação do Vermelho

Imagem: Google
Retirado do site Vermelho