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3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Linha vermelha e linha de rato: Obama, Erdoğan e os rebeldes sírios

9 de Abril de 2014, 19:36, por Desconhecido - 0sem comentários ainda




O que exatamente acontecia entre Obama e Erdoğan? Foto tirada em meados de 5/2013. Da esquerda para a direita: Ahmet Davutoglu (de costas), Tayyip Erdoğan, Hakan Fidan, John Kerry, Barack Obama, (provavelmente Hilary Clinton) e Tom Donilon.
*Linha vermelha e linha de rato[1]: Obama, Erdoğan e os rebeldes sírios

6/4/2014, Seymour M. Hersh,* London Review of Books – Traduzido pelo coletivo Vila Vudu

Em 2011, Barack Obama comandou uma intervenção de aliados contra a Líbia, sem consultar o Congresso dos EUA. Em agosto passado, depois de um ataque com gás sarín em Ghouta, subúrbio de Damasco, estava pronto para ordenar ataque aéreo de norte-americanos e aliados, dessa vez para castigar o governo Síria por, supostamente, tem infringido uma ‘linha vermelha’ que Obama demarcara em 2012 sobre uso de armas químicas.

Então, faltando menos de dois dias para o planejado ataque, Obama anunciou que pediria a aprovação do Congresso para a intervenção. O ataque foi adiado para que o Congresso realizasse audiências e, na sequência, foi cancelado, quando Obama aceitou a oferta, por Assad, de entregar seu arsenal químico, em negociação intermediada pela Rússia.

Por que Obama adiou e depois cancelou o ataque à Síria, se não teve cuidado algum no momento de atacar a Líbia?

A resposta está na disputa dentro do governo Obama, entre os que queriam fazer valer a ‘linha vermelha’ e os líderes militares que entendiam que ir à guerra seria ao mesmo tempo injustificável e potencialmente desastroso.


A mudança, em Obama, começou em Porton Down, o laboratório que a Defesa britânica mantém em Wiltshire, Inglaterra. A inteligência britânica obtivera uma amostra do gás sarín usado no ataque do dia 21, e análises demonstraram que o gás não era o mesmo que se sabia que existia no arsenal químico sírio. A mensagem de que os sírios não mentiam e que o caso contra o exército de Assad logo seria desmontado, chegou rapidamente aos chefes do Estado-maior dos EUA. O relato britânico fez aumentarem as dúvidas dentro do Pentágono; os chefes militares já preparavam para avisar Obama de que seus planos para atacar com mísseis e bombas a infraestrutura síria levaria a guerra muito mais ampla no Oriente Médio. Consequência da notícia recém-chegada, os militares norte-americanos apressaram-se a levar ao presidente mais aquele alerta de cuidado, o qual, na visão dos militares, levou o presidente a cancelar o ataque.

Há muitos meses os altos comandantes militares e a comunidade de inteligência preocupa-se com o papel da guerra na convivência com os vizinhos da Síria, especialmente o papel da Turquia. Sabia-se que o primeiro-ministro Recep Erdoğan estava apoiando a Frente al-Nusra, grupo jihadista incorporado à oposição rebelde, e a outros grupos rebeldes islamistas. “Sabíamos que havia alguns, no governo turco”, disse-me um ex-alto funcionário da inteligência dos EUA, com acesso à inteligência atual, “que acreditavam que poderiam enredar Assad, provocando um ataque com gás sarín dentro da Síria – o que forçaria Obama a fazer valer a ameaça da ‘linha vermelha’.”

Alla Turca - Recep Tayyip Erdogan, por Frederick Sebastian, Canadá

Os altos chefes militares também sabiam que o que o governo Obama andava dizendo, que só o exército sírio tinha acesso ao sarín, era falso. As comunidades de inteligência norte-americana e britânica já sabiam, desde a primavera de 2013, que algumas unidades rebeldes na Síria estavam desenvolvendo armas químicas. Dia 20/6, analistas da Agência de Inteligência da Defesa dos EUA [orig. DIA] distribuíram documento altamente secreto de cinco páginas, dos ‘pontos de conversa’ [orig. ‘talking points’: são os itens que podem ser falados à imprensa e discutidos em público e os que não podem], para atualizar o vice-diretor da Agência DIA, David Shedd, no qual se lê que a Frente al-Nusra mantinha célula de produção de gás sarín; o programa, dizia o documento, era “o plano mais avançado para uso de sarín desde o esforço da al-Qaeda antes de 11/9”. (Segundo um consultor do Departamento de Defesa, a inteligência dos EUA sabia, há muito tempo, que a al-Qaeda estava trabalhando em testes com armas químicas, e tem um vídeo de um de seus testes, com cachorros.)

O documento da Inteligência da Defesa prosseguia: “Antes, o foco da comunidade de inteligência se mantivera quase completamente fixo sobre as armas químicas sírias; agora já sabemos dos esforços da Frente al-Nusra para produzir suas próprias armas químicas (…) A relativa liberdade de operação da Frente al-Nusra dentro da Síria nos leva a estimar que, no futuro, será difícil conter as ambições desse grupo.” O documento reunia informação secreta de várias agências: “Agentes facilitadores baseados na Turquia e na Arábia Saudita” – dizia o documento – tentaram obter os precursores do sarín em grande quantidade, dezenas de quilos, antecipando o esforço para produção em grande escala na Síria.” (Perguntado sobre o documento da Inteligência da Defesa, porta-voz do diretor da Agência Nacional de Inteligência disse: “Tal documento jamais foi solicitado ou entregue pela comunidade de analistas de inteligência.”)



Em maio passado, mais de dez membros da Frente al-Nusra foram presos no sul da Turquia, com o que a polícia local informou a jornalistas que seriam dois quilos de sarín. Em documento de acusação de 130 páginas, o grupo foi acusado de tentar comprar pavios e detonadores para construção de morteiros e produtos químicos precursores do gás sarín. Cinco dos detidos foram libertados logo depois. Os demais, inclusive o líder, Haytham Qassab, para quem o procurador pediu sentença de 25 anos de prisão, foram postos em liberdade condicional à espera de julgamento. Ao mesmo tempo, a imprensa turca fervia com especulações sobre se o governo Erdoğan estaria ocultando a extensão de seu envolvimento com os rebeldes. Numa conferência de imprensa no verão passado, Aydin Sezgin, embaixador da Turquia em Moscou, não deu importância às prisões e disse aos jornalistas que o suposto gás sarín não passaria de ‘anticongelante’.

Segundo o documento da Inteligência da Defesa, as prisões seriam sinal de que a Frente al-Nusra estava expandindo seu acesso a armas químicas. Dizia que Qassab se ‘autoidentificara’ como membro da Frente al-Nusra e que era diretamente conectado a Abd-al-Ghani, “o emir da Frente al-Nusra para produção de equipamento militar”. Qassab e seu associado Khalid Ousta trabalharam com Halit Unalkaya, empregado de uma empresa turca, Zirve Export, que ofereceu “cotação para preços de grandes quantidades de precursores de sarín”. O plano de Abd-al-Ghani era que dois associados aperfeiçoassem a produção de sarín e, na sequência, fossem para a Síria para treinar outros e iniciar a produção em larga escala num laboratório não identificado, na Síria.” O documento da Inteligência da Defesa dizia que um de seus operadores comprara um precursor no “mercado químico de Bagdá”, o qual “servira de base a pelo menos sete esforços para produzir armas químicas desde 2004”.

Uma série de ataques com armas químicas em março e abril de 2013 foram investigados nos poucos meses seguintes, por uma comissão especial da ONU enviada à Síria. Uma pessoa com conhecimento bem próximo da atividade da ONU na Síria disse-me que havia provas que ligavam a oposição síria ao primeiro ataque com gás, dia 19/3, em Khan Al-Assal, vila próxima de Aleppo. No relatório final, em dezembro, a missão disse que pelo menos 19 civis e um soldado sírio estavam entre as vítimas fatais, além de muitos feridos. A Comissão não tinha a atribuição de determinar a responsabilidade pelo ataque, mas a mesma pessoa, muito bem informada sobre a missão da ONU, disse: “Os investigadores da ONU entrevistaram o povo que estava lá, inclusive os médicos que atenderam as vítimas. Era perfeitamente claro que os rebeldes lançaram o gás. Não veio a público, porque ninguém quis saber.”

Nos meses antes do início dos ataques, um ex alto funcionário do Departamento da Defesa contou-me que a Agência de Inteligência da Defesa estava fazendo circular um relatório secreto diário, conhecido como SYRUP[2] com toda a inteligência relacionada ao conflito na Síria, incluindo material sobre armas químicas. Mas na primavera, a distribuição da parte do relatório sobre armas químicas foi suspensa, por ordens de Denis McDonough, chefe de Gabinete da Casa Branca. “Havia alguma coisa ali que fez McDonough entrar em surto”, disse o ex-funcionário do Departamento da Defesa. “Num dia, era grande coisa. De repente, depois dos ataques com sarín em março e abril” – ele estalou os dedos –, “sumiu”. A decisão de restringir a distribuição de informações foi tomada quando o estado-maior dos comandantes militares ordenou intensa planificação de urgência para uma possível invasão por terra contra a Síria, cujo principal objetivo seria eliminar armas químicas.

Meu informante, o ex alto oficial da inteligência, disse que muitos, no establishment de segurança nacional dos EUA, há muito tempo estavam tendo problemas com interpretar a tal ‘linha vermelha’ do presidente: “Os comandantes militares perguntaram à Casa Branca ‘o que significa essa ‘linha vermelha?’, ‘Como se traduz em termos de ordens para os militares? Coturnos em solo? Ataque massivo? Ataque limitado?’ A inteligência militar recebeu ordens de estudar um modo de cumprir a ameaça. Nunca obtiveram qualquer resposta sobre o que o presidente estaria pensando.”

Logo depois do ataque de 21 de agosto, Obama ordenou que o Pentágono listasse os alvos a serem bombardeados. No início do processo, disse meu informante, “a Casa Branca rejeitou 35 alvos propostos pelos comandantes militares, por serem ‘insuficientemente dolorosos’ para o regime de Assad.” Esses primeiros alvos só incluíam alvos militares e nada próximo da infraestrutura civil. Sob pressão da Casa Branca, o plano de ataque dos EUA evoluiu para um ‘ataque monstro’: dois bombardeiros B-52 e tripulações foram deslocadas para bases aéreas próximas à Síria, além de submarinos e outras naves da Marinha equipadas com mísseis Tomahawk.

“A cada dia, a lista ficava mais longa” – disse-me meu informante. – “Os estrategistas do Pentágono disseram ‘não se pode usar só Tomahawks para atacar os silos de mísseis na Síria, porque o equipamento está protegido muito fundo, no subsolo. Por isso foram designados para a missão os dois B-52, com bombas de uma tonelada. E precisaremos de equipes de resgate para pilotos derrubados, e de drones para alvos selecionados. Virou operação monstro.” As novas listas de alvos estavam pensadas para “erradicar qualquer capacidade militar que Assad tenha”, disse-me meu informante, o ex funcionário da Inteligência. Os principais alvos envolviam redes elétricas, depósitos de petróleo e gás, todos os depósitos conhecidos de armas e logística, todos os comandos e controles de instalações e todos os prédios conhecidos da estrutura militar e de inteligência.

Grã-Bretanha e França teriam ambas de participar. Dia 29 de agosto, dia em que o Parlamento britânico rejeitou o pedido de Cameron para que a Grã-Bretanha se integrasse ao ataque, o jornal Guardian noticiou que Cameron já ordenara que seis jatos de combate RAF Typhoon fossem deslocados para Chipre e oferecera um submarino capaz de disparar mísseis Tomahawk. A Força Aérea francesa – que teve papel crucial em 2011 no ataque à Síria – estava também profundamente comprometida, segundo matéria publicada no Le Nouvel Observateur; François Hollande ordenara que vários jatos Rafale se unissem à força de ataque norte-americana. Seus alvos, segundo o noticiário, estavam no oeste da Síria.

Nos últimos dias de agosto, o presidente dera aos comandantes militares uma data final para o início do ataque. “A hora H estava marcada para algum momento antes da 2ª-feira [2/9] de manhã, o ataque massivo para neutralizar Assad” – continua meu informante.” Por isso, foi surpresa para muitos quando, em discurso no Jardim das Rosas na Casa Branca, dia 31/8, Obama disse que o ataque estava suspenso, e que ele pedira autorização do Congresso, a ser votada.

Naquela altura, a premissa de Obama – de que só o exército sírio tinha capacidade para usar sarín – já estava em farrapos. Em poucos dias depois do ataque de 21 de agosto, disse-me meu informante, agentes da inteligência militar russa já haviam recolhido amostras do agente químico, em Ghouta. Analisaram tudo e passaram as amostras para a inteligência militar britânica. Esse é o material recebido em Porton Down, Inglaterra. (Um porta-voz de Porton Down disse: “Muitas das amostras analisadas na Grã-Bretanha deram resultado positivo para o agente de efeito neurológico, sarín. O MI6 disse que não comenta assuntos de inteligência.”)

O mesmo ex funcionário da inteligência dos EUA disse que o russo que entregou as amostras ao Reino Unido, era “fonte segura – alguém com acesso, conhecimento e currículo de confiabilidade.” Depois dos primeiros usos noticiados de armas químicas na Síria, ano passado, agências de inteligência norte-americanas e aliadas “fizeram um esforço para encontrar a resposta sobre o que fora usado, se algo tivesse sido usado – e a origem do material” – disse-me meu informante. – “Usamos a troca de dados como parte da Convenção sobre Armas Químicas. A linha básica sobre a qual trabalhava a DIA consistia em conhecermos a composição de cada linhagem de armas químicas fabricadas pelos soviéticos. Mas não sabíamos que linhagens havia então nos arsenais do governo Assad. Poucos dias depois do incidente em Damasco, pedimos a uma fonte no governo sírio que fornecesse uma lista das armas químicas realmente existentes no arsenal sírio. Por isso conseguimos confirmar tão rapidamente que o sarín usado em Damasco não era do governo sírio.”

Na primavera anterior o processo não dera muito certo, disse-me meu informante, porque os estudos da inteligência ocidental “eram inconclusivos para o tipo de gás. Ninguém, então, falou em ‘sarín’. Discutiu-se muito sobre isso, mas dado que não se podia concluir que gás fora usado, não se podia dizer que Assad tivesse cruzado a tal ‘linha vermelha’ do presidente.” Em 21/8, continuou meu informante, “a oposição síria com certeza já sabia disso e anunciou, antes de qualquer análise, que teria sido usado “sarín” do exército sírio. E a imprensa-empresa e a Casa Branca saltaram para apanhar aquela chance: se era sarín, então… “Foi Assad.”

A equipe de Defesa da Grã-Bretanha que divulgou os resultados das análises feitas em Porton Down para os comandantes militares estava, simultaneamente, mandando um ‘recado’, disse meu informante: ‘Nós estamos sendo enganados nessa história.’ (Isso explica uma mensagem tensa, que um alto funcionário da CIA distribuiu no final de agosto: ‘Não é coisa do atual regime [sírio]. Grã-Bretanha e EUA sabem.’) Mas naquele momento, faltavam poucos dias para o ataque, e aviões, navios e submarinos dos EUA, Grã-Bretanha e França já estavam em prontidão.


O comandante responsável geral pelo planejamento e execução do ataque à Síria era o general Martin Dempsey, comandante do estado-maior das forças conjuntas. Desde o início da crise, disse meu informante, os comandantes do estado-maior mantiveram sérias dúvidas quanto ao argumento do governo Obama de que havia fatos a confirmar sua certeza de que Assad era culpado. Pressionaram a Agência de Inteligência da Defesa e outras agências, para que apresentassem provas mais substanciais.

“Não havia o que os convencesse de que a Síria teria usado gás sarín, porque sabiam que Assad estava vencendo a guerra” – disse meu informante. Dempsey irritou muita gente no governo Obama, de tanto que repetiu, também no Congresso, sobre o risco de um envolvimento militar dos EUA na Síria. Em abril, depois de uma avaliação otimista sobre avanços dos rebeldes feita pelo secretário de Estado John Kerry diante da Comissão de Assuntos Estrangeiros da Câmara de Deputados, Dempsey disse à Comissão de Forças Armadas do Senado que “há risco de esse conflito estar em empate.”

A ideia inicial de Dempsey depois de 21/8 era que um ataque dos EUA à Síria – baseado na certeza de que o governo Assad fosse responsável pelo ataque com sarín – seria completa estupidez, do ponto de vista militar, disse meu informante. Mas depois que chegaram as informações de Porton Down, os chefes militares viram-se obrigados a levar ao presidente uma preocupação ainda mais grave: que o ataque que a Casa Branca tanto estava querendo, seria injustificado e injustificável ato de agressão.

Foram os chefes militares que levaram Obama a mudar completamente de curso. A explicação oficial da Casa Branca para dar meia volta – a história que a imprensa-empresa contou – foi que o presidente, em caminhada pelo Jardim das Rosas com seu chefe de Gabinete Denis McDonough, repentinamente, decidiu buscar aprovação para o ataque, num Congresso ferozmente dividido, com o qual Obama vivia em conflito já há anos.

Meu informante contou-me que a Casa Branca deu outra explicação, diferente, aos membros do comando civil do Pentágono: o bombardeio havia sido suspenso, porque haveria inteligência que informava que “o Oriente Médio pegaria fogo”, se o ataque acontecesse.

A decisão do presidente de ir ao Congresso foi vista inicialmente pelos principais assessores na Casa Branca, disse meu informante, como replay do gambito de George W. Bush no outono de 2002, antes da invasão do Iraque: “Quando ficou claro que não havia armas de destruição em massa no Iraque, o Congresso, que havia apoiado a guerra do Iraque, e a Casa Branca, ambos, partilharam a culpa e sempre falaram de inteligência errada. Se o atual Congresso fosse obrigado a votar para apoiar o ataque, a Casa Branca conseguiria o que queria, e ainda mais – varreria a Síria com ataque massivo e validaria a palavra do presidente sobre a tal ‘linha vermelha’; e o presidente ainda poderia atribuir metade da culpa ao Congresso, no caso de algum dia vir a público que o governo sírio nada tivera a ver com o uso de gás em Goutha.”

O ‘meia volta, volver’ colheu de surpresa até as lideranças Democratas no Congresso. Em setembro, o Wall Street Journal noticiou que três dias antes do discurso do Jardim das Rosas, Obama telefonara a Nancy Pelosi, líder dos Democratas na Câmara de Deputados, “para discutir as opções”. Mais tarde, ela mesma disse a deputados, segundo o WSJ, que não sugeriu ao presidente que pusesse o bombardeio em votação no Congresso.

Rapidamente, o movimento de Obama de buscar a aprovação do Congresso chegou a um beco sem saída. “O Congresso não poderia deixar que aquilo prosseguisse” – disse meu informante. “O Congresso, então, decidiu que, diferente do que fora feito quando da autorização para guerra ao Iraque, dessa vez haveria uma série de audiências públicas.”

Nesse ponto, a Casa Branca foi tomada por uma espécie de desespero, diz meu informante. “E foi quando surgiu o Plano B. Não se fala mais de bombardear a Síria, e Assad concordaria em assinar unilateralmente o tratado sobre guerra química e aceitaria entregar seu arsenal químico para ser destruído sob supervisão da ONU.”

Numa conferência de imprensa em Londres, dia 9/9, Kerry ainda falava sobre intervenção: ‘O risco de não agir é maior que o risco de agir’. Mas quando um repórter perguntou-lhe se haveria algo que Assad pudesse fazer para deter o bombardeio, Kerry disse: ‘Claro! Ele que entregue cada pedacinho [orig. every single bit] de seu arsenal químico à comunidade internacional semana que vem… Mas não vai acontecer, não pode ser feito, obviamente’. Como o New York Times noticiou dia seguinte, o acordo negociado pelos russos que emergiu em seguida já teria sido discutido antes entre Obama e Putin, no verão de 2012.

Mas embora os planos de ataque tivessem sido arquivados, o governo Obama não mudou sua versão pública da justificativa para ir à guerra. “Naquele nível, ninguém nunca erra” – disse o ex funcionário da inteligência com quem conversei, falando dos altos funcionários da Casa Branca. “Ninguém ali jamais declarará: ‘Nós estávamos errados’.” (O porta-voz da Inteligência Nacional da Defesa disse: “O regime Assad, e só o regime Assad, pode ter sido responsável pelo ataque químico que aconteceu dia 21/8”).



Ainda demorará para que venha à luz a extensão da cooperação entre EUA, Turquia, Arábia Saudita e Qatar, na ajuda que deram e dão à oposição rebelde na Síria. O governo Obama jamais admitiu publicamente o papel que teve na criação do que a CIA chama “um caminho de rato” – um caminho clandestino, de fato, uma ampla rodovia, que leva direto à Síria.

O caminho de rato, autorizado no início de 2012, foi usado para infiltrar armas e munições vindas da Líbia, pelo sul da Turquia e pela fronteira com a Síria, para a oposição síria. Muitos dos que, no fim da trilha, na Síria, receberam as armas eram jihadistas, alguns dos quais afiliados à al-Qaeda. (O porta-voz da Inteligência da Defesa disse: “A ideia de que os EUA forneceram a quem quer que fosse armas vindas da Líbia é falsa.”)

Em janeiro, a Comissão de Inteligência do Senado distribuiu documento sobre o assalto, por uma milícia local, em setembro de 2012, ao consulado norte-americano e a uma instalação clandestina da CIA que funcionava na mesma área, em Benghazi, e que resultou na morte do embaixador Christopher Stevens dos EUA e três outros. A crítica que o documento fez ao Departamento de Estado, por não ter dado adequada segurança ao consulado; e à comunidade de inteligência, por não ter alertado os militares sobre a presença da CIA na mesma área, recebeu manchetes de primeira página e reacendeu animosidades em Washington, com os Republicanos acusando Obama e Hillary Clinton de operarem na clandestinidade.

O documento divulgado veio acompanhado e um anexo, que não foi divulgado, e que informa sobre um acordo secreto, assinado no início de 2012, entre o governo Obama e o governo Erdoğan. É o acordo que criou a linha do rato. Pelos termos desse acordo, o dinheiro veio da Turquia, da Arábia Saudita e do Qatar; a CIA, com apoio do MI6, ficou responsável por infiltrar na Síria armas retiradas do arsenal de Gaddafi. Várias empresas de fachada foram criadas na Líbia, algumas criadas como se fossem entidades australianas. Soldados norte-americanos aposentados, que nem sempre souberam quem realmente os empregava, foram contratados para administrar despacho e embarque. Essa operação era comandada por David Petraeus, diretor da CIA que logo renunciaria, quando se divulgou que mantinha um affair com sua biógrafa. (Porta-voz de Petraeus negou que essa operação tenha algum dia existido.)

Essa operação jamais foi informada, quando foi montada, às comissões de Inteligência do Senado e da Câmara de Deputados no Congresso, nem às lideranças do Congresso, como a lei exige, desde os anos 1970s. O envolvimento do MI6 permitiu à CIA burlar a lei, apresentando a missão como operação de ligação. Meu informante explicou que durante muitos anos havia uma exceção reconhecida na lei que permite que a CIA não informe ao Congresso suas atividades de ligação, porque implicaria revelar atividade de terceiros. (Operações clandestinas da CIA [que não sejam operação de ligação] têm de ser informadas num documento escrito, chamado ‘finding’, submetido às lideranças no Congresso, e têm de ser aprovadas.)

Esse anexo só foi lido pelos redatores do documento e por oito pessoas no Congresso: os líderes Republicano e Democrata na Câmara, no Senado e nas Comissões de Inteligência da Câmara e do Senado. Não se pode dizer que haja aí alguma genuína prestação de informação ou possibilidade de controle: não há instância, no governo dos EUA, na qual esses oito líderes encontrem-se para discutir informação secreta que só eles, em todo o governo, recebem.

O anexo não conta toda a história do que aconteceu em Benghazi antes do ataque nem explica por que o consulado dos EUA foi atacado. “A única missão daquele consulado era dar cobertura ao movimento de armas” – disse meu informante, ex funcionário da inteligência, que leu o anexo. “Não tinha nenhuma real função política”.


Depois do ataque ao consulado, Washington pôs fim repentinamente ao trabalho da CIA na transferência de armas da Líbia para a Síria, mas a linha de rato continuou ativa. “Os EUA já não têm qualquer controle sobre o que os turcos estão entregando aos jihadistas” – disse meu informante. Em poucas semanas, cerca de 40 lançadores portáteis de mísseis terra-ar, conhecidos como manpads, estavam em mãos de rebeldes sírios.

Dia 28/11/2012, Joby Warrick do Washington Post noticiou que, na véspera, rebeldes na região de Aleppo haviam, quase com certeza, usado um manpad para derrubar um helicóptero de transporte sírio. “O governo Obama”, escreveu Warrick, “muito se opôs a que se armasse a oposição síria com esses equipamentos, alertando que essas armas facilmente cairiam em mãos de terroristas e poderiam a qualquer momento ser usadas para derrubar aviões comerciais.”

Dois funcionários da inteligência do Oriente Médio apontaram o Qatar como fonte das armas, e um ex-analista de inteligência dos EUA especulou que os manpads poderiam ter sido roubados de depósitos de armas do exército sírio assaltados por rebeldes. Não há qualquer indicação de que a posse desse tipo de armamento pelos rebeldes possa ser algum tipo de consequência não desejada de alguma operação clandestina dos EUA que tenha escapado do controle dos EUA.

No final de 2012, toda a inteligência norte-americana entendia que os rebeldes estavam perdendo a guerra. “Erdoğan estava furioso” – continua meu informante. – “Sentia-se deixado para trás, pendurado no galho. Era dinheiro dele. E a saída da CIA foi interpretada como traição.” Na primavera de 2013, a inteligência dos EUA soube que o governo turco – usando elementos de sua agência nacional de inteligência, MIT, e a Gendarmerie, unidade policial militarizada – estava trabalhando diretamente com a Frente al-Nusra e seus aliados para desenvolver capacidade de armas químicas. “O MIT fazia a ligação política com os rebeldes, e a Gendarmerie cuidava da logística militar, aconselhamento e treinamento em campo – inclusive treinamento para guerra química” – disse meu informante. “Ampliar o papel da Turquia na primavera de 2013 foi visto como movimento chave.

Erdoğan sabia que, se ele suspendesse o apoio aos jihadistas, a coisa estaria acabada. Os sauditas não têm como apoiar diretamente a guerra na Síria, por causa da logística – as grandes distâncias envolvidas e a dificuldade para mover armas e suprimentos. A esperança de Erdoğan era criar um fato que forçasse os EUA a acionar a linha vermelha. Mas em março e abril, Obama não respondeu.”

Não houve nenhum sinal público de discordância, quando Erdoğan e Obama encontraram-se, dia 16/5/2013 na Casa Branca. Em conferência de imprensa, depois, Obama disse que os dois concordavam que “Assad tem de sair”. Perguntado sobre se entendia que a Síria tivesse cruzado a linha vermelha, Obama disse que havia evidência de que aquelas armas haviam sido usadas, mas acrescentou: “É importante para nós garantir que obtenhamos informação mais específica sobre o que, exatamente, está acontecendo lá.” A linha vermelha continuava ainda intacta.

Um especialista em política externa dos EUA, que fala regularmente com funcionários em Washington e Ankara contou-me sobre um jantar de trabalho que Obama ofereceu a Erdoğan, durante sua visita em maio. O jantar foi dominado pela insistência, dos turcos, de que a Síria já ultrapassara a linha vermelha, e suas reclamações de que Obama relutava em fazer alguma coisa quanto a isso. Obama estava acompanhado por John Kerry e Tom Donilon, o conselheiro de segurança nacional que pouco depois deixaria o cargo. Erdoğan estava com Ahmet Davutoglu, ministro de Relações Exteriores da Turquia, e Hakan Fidan, chefe do MIT. Fidan é conhecido por ser fortemente leal a Erdoğan, e tem sido visto como dedicado apoiador da oposição rebelde na Síria.

Esse especialista em política externa dos EUA contou-me o que ele ouviu de Donilon. (Adiante a informação foi confirmada por um ex-funcionário do governo dos EUA, que ouviu o mesmo relato de um alto diplomata turco.) Segundo esse especialista, Erdoğan quis o encontro para demonstrar a Obama que a linha vermelha fora infringida, e levou Fidan para expor os detalhes de sua posição. Quando Erdoğan tentou introduzir Fidan na conversa e Fidan começou a falar, Obama o interrompeu: “Já sabemos.” Erdoğan tentou outra vez introduzir Fidan, uma segunda vez, e, pela segunda vez, Obama cortou-lhe a palavra: “Nós sabemos.”

Nesse ponto, furioso, Erdoğan disse “Mas sua linha vermelha já foi ultrapassada!”, e Donilon contou ao especialista, meu informante: “aquele filho da puta de Erdoğan meteu o dedo no nariz do presidente, dentro da Casa Branca”. Obama então se virou para Fidan e disse: “Nós sabemos o que você está fazendo com os radicais na Síria.” (Donilon, que passou a integrar o Conselho de Relações Exteriores em julho passado não responde perguntas sobre esse jantar. O Ministério de Relações Exteriores da Turquia não responde perguntas sobre esse jantar. Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional confirmou que o jantar aconteceu e enviou uma fotografia em que se vê Obama, Kerry, Donilon, Erdoğan, Fidan e Davutoglu à mesa. Disse que “além do que aí vai, não há detalhes das discussões”.)

Nem por isso Erdoğan saiu de mãos abanando. Obama continua a permitir que a Turquia explore um furo numa ordem executiva do presidente que proíbe exportar ouro para o Irã, item do regime de sanções dos EUA contra o país. Em março de 2012, respondendo a sanções contra bancos iranianos impostas pela União Europeia, o sistema de pagamento eletrônico SWIFT, que facilita pagamentos trans-fronteiras, expulsou dúzias de instituições financeiras iranianas, o que restringiu severamente a capacidade do país para atuar no comércio internacional. Os EUA vieram logo depois, com a ordem executiva, em julho, mas deixaram aberta uma porta que viria a ser conhecida como ‘furo dourado’: podem continuar os embarques de ouro para entidades privadas iranianas. A Turquia é a maior compradora de petróleo e gás iranianos, e beneficia-se do ‘furo dourado’, depositando seus pagamentos pela energia que compra em liras turcas, numa conta iraniana na Turquia; esse dinheiro então é usado para comprar ouro turco que é exportado para empresas no Irã. Sabe-se que entraram $13 bilhões em ouro, no Irã, por essa via, entre março de 2012 e julho de 2013.

Esse programa rapidamente se converteu em vaca de tetas fartas para políticos corruptos e comerciantes na Turquia, no Irã e nos Emirados Árabes Unidos. “Os intermediários fazem o que sempre fazem” – disse o ex funcionário da inteligência, meu informante. – “Ficam com 15%. A CIA estimou em cerca de 2 bilhões de dólares a parte não oficial desses negócios. Ouro e liras turcas grudam nos dedos.” O escândalo do ‘gás por ouro’ veio a público na Turquia em dezembro, e resultou em denúncias criminais contra duas dúzias de pessoas, empresários conhecidos e familiares de altos funcionários do governo, além de ter gerado renúncia de três ministros, um dos quais exigiu que Erdoğan também renunciasse. O principal executivo de um banco estatal turco envolvido no escândalo insistiu que os mais de $4,5 milhões em dinheiro que a polícia encontrou em sua casa, metidos em caixas de sapato, destinavam-se a doações para instituições de caridade.

No final do ano passado, Jonathan Schanzer e Mark Dubowitz em matéria para a Foreign Policy noticiaram que o governo Obama fechara o ‘furo dourado’ em janeiro de 2013, mas “trabalhou para garantir que a legislação só começasse a viger depois de seis meses.” Os autores especulam que o governo quis usar aquele tempo ‘extra’ como “incentivo para trazer o Irã à mesa das barganhas sobre seu programa nuclear, ou para acalmar seu aliado turco na guerra civil síria. Os seis meses garantiram alguns bilhões a mais, em ouro, ao Irã, e minaram ainda mais o regime de sanções.”



A decisão dos EUA de pôr fim ao apoio da CIA ao embarque de armas para a Síria deixou Erdoğan exposto politicamente e militarmente. “Uma das questões da reunião de maio era o fato de que a Turquia é a única via para fazer chegar armas aos rebeldes na Síria” – disse meu informante ex funcionário da inteligência. – “As armas não podem chegar pela Jordânia porque o terreno ao sul é aberto e há sírios por toda parte. Não podem ser deslocadas pelos vales e colinas do Líbano – porque ninguém nunca sabe o que encontrará do outro lado.” Sem o apoio militar dos EUA aos rebeldes – disse ele –, “o sonho de Erdoğan de ter na Síria um estado cliente está evaporando. Depois de a Síria vencer a guerra, Erdoğan sabe para onde irão aqueles milhares de rebeldes. E para onde iriam?! Erdogan está a um passo de ter milhares de radicais bem ali, no quintal dele.”

Um consultor de inteligência dos EUA contou-me que poucas semanas antes de 21/8, viu um documento altamente secreto preparado para Dempsey e o secretário de Defesa, Chuck Hagel, que falava da “aguda ansiedade” do governo Erdoğan quanto às perspectivas sombrias para os rebeldes. A análise alertava que a liderança turca expressara “a necessidade de fazer alguma coisa que precipite uma resposta militar dos EUA.”

No final do verão, o exército sírio ainda estava em vantagem sobre os rebeldes, disse o ex funcionário da inteligência, e só o poder aéreo norte-americano conseguiria inverter a maré. No outono, prosseguiu ele, analistas de inteligência dos EUA que continuavam a trabalhar sobre os eventos de 21/8, “já sentiam que a Síria não era responsável pelo ataque com sarín. Mas o gorila gigante continuava ali, diante deles: quem teria feito aquilo, em Goutha? O suspeito imediato foram os turcos, porque só os turcos tinham todas as peças para fazer acontecer o que aconteceu.”

Com mais dados e novas comunicações interceptadas relacionadas aos ataques de 21/8, a comunidade de inteligência viu provas que apoiavam suas suspeitas. “Agora já sabemos que foi operação clandestina planejada por gente de Erdoğan, para forçar Obama a atacar, por ‘infração à linha vermelha’ – disse-me meu informante, ex funcionário da inteligência dos EUA. – “Eles tinham de escalar para um ataque a gás, em Damasco ou perto de Damasco, quando os inspetores da ONU” (que chegaram a Damasco dia 18/8, para investigar ataques anteriores) – “estivessem lá”. Era indispensável fazer algo espetacular. Nossos mais altos funcionários militares foram informados pela Agência de Inteligência da Defesa e outras fontes de inteligência, de que o sarín chegou até lá através da Turquia, – que só poderia ter chegado lá com apoio da Turquia. Os turcos também deram treinamento para produzirem e manusearem o gás sarín.”

Muita da informação que dá apoio a essa avaliação veio dos próprios turcos, através de conversas interceptadas logo depois do ataque. “A principal prova veio das muitas manifestações de alegria e felicitações mútuas, claras em numerosas conversas interceptadas. Operações secretas sempre são muito supersecretas durante o planejamento, mas milhares de moscas voam para todos os lados, na hora das comemorações. Não há vulnerabilidade maior que os autores, depois, quando começam a querer parabéns pelo sucesso. Para Erdoğan, seus problemas estariam, no dia seguinte, resolvidos: “Soltem o gás, Obama declara ‘pisou na linha vermelha’, EUA atacam a Síria… Ou pelo menos, a ideia era essa. Mas não funcionou como o esperado.”

A inteligência sobre a Turquia, depois do ataque, não chegou à Casa Branca. “Ninguém quer falar sobre isso” – disse o ex oficial de inteligência, meu informante. – “Há muita relutância em contradizer o presidente, embora a comunidade de inteligência jamais tenha apoiado unanimemente a versão da culpa dos sírios. Jamais surgiu nem fiapo de prova posterior do envolvimento dos sírios no ataque com sarín que tenha sido apresentada pela Casa Branca, desde que o bombardeio foi cancelado. O governo de Obama nada pode dizer, porque eles mesmos agiram de modo muito irresponsável. Além do mais, já que culpamos Assad, agora não podemos nos desdizer e culpar Erdoğan.”


A presteza com que a Turquia manipula os eventos na Síria na direção de seus próprios objetivos foi bem demonstrada no final do mês passado, alguns dias antes de eleições locais na Turquia, quando a gravação de uma conversa, supostamente entre Erdoğan e seus associados, foi postada em YouTube. Incluía discussão sobre uma operação a ser atribuída a terceiros, que justificaria uma incursão de militares turcos na Síria. A operação girava em torno do túmulo Suleyman Shah, avô do reverenciado Osman I, fundador do Império Otomano, localizado perto de Aleppo, mas túmulo que foi cedido à Turquia em 1921, quando a Síria estava sob governo francês. Uma das facções islamistas rebeldes ameaçava destruir o túmulo, como local de idolatria, e o governo Erdoğan ameaçava publicamente retaliar, se o túmulo sofresse qualquer ataque. Segundo matéria distribuída pela Reuters, sobre a conversa que vazou, uma voz, que se suspeita seja Fidan, falava de criar uma provocação: “Olhe aqui, meu comandante [Erdoğan], se precisa de justificativa, a justificativa é eu mandar quatro homens até o outro lado. Mando dispararem oito mísseis em terra vazia [perto do túmulo]. Isso não é problema. A justificativa, se cria.”

O governo turco reconheceu que houve uma reunião de segurança nacional, sobre ameaças vindas da Síria, mas disse que a gravação fora manipulada. Na sequência, o governo turco bloqueou completamente o acesso público ao canal YouTube.

Exceto essa ação, que foi barrada por Obama, o mais provável que a intromissão da Turquia na Síria prossiga. “Perguntei a colegas meus se há algum modo de vedar o continuado apoio de Erdoğan aos rebeldes, sobretudo agora, que tudo está tomando rumo tão ruim” – disse-me meu informante, ex funcionário da inteligência dos EUA. A resposta deles foi ‘Estamos ferrados’. Até poderíamos tentar ir a público, se fosse outro. Mas a Turquia é caso especial. A Turquia é aliada na OTAN. Os turcos não confiam no ocidente. Não continuariam conosco se adotássemos qualquer procedimento ativo contra interesses turcos. Se fôssemos a público com o que sabemos sobre o papel de Erdoğan no caso do gás, seria um desastre. Os turcos nos odiariam. Diriam ‘Não nos digam o que podemos ou não podemos fazer.’

*As ratlines (literalmente, linhas de ratos) eram sistemas de fuga para nazistas e outros fascistas que deixavam a Europa no final da Segunda Guerra Mundial após a derrota das Potências do Eixo. Estas rotas de fuga terminavam geralmente em locais seguros na América do Sul, particularmente na Argentina, Paraguai, Brasil e Chile. Outros destinos incluíam Estados Unidos, Canadá e o Oriente Médio. No jargão militar e da espionagem-inteligência, em inglês, uma ratline hoje é um "esforço organizado para mover pessoal e / ou material de maneira clandestina através de uma área ou fronteira fechada". [NdE]




Fonte: Oriente mídia
http://www.lrb.co.uk/2014/04/06/seymour-m-hersh/the-red-line-and-the-rat-line

* Sobre o autor, ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Seymour_Hersh. É autor de HERSH, Seymour M., O Lado Negro de Camelot: Sexo e Corrupçao na Era Kennedy, Porto Alegre: L&PM Editores, 1998 [NTs].

[1] A expressão original rat line é corrente no jargão militar e da espionagem-inteligência, em inglês. Sobre isso, ver http://www.militaryfactory.com/dictionary/military-terms-defined.asp?term_id=4426. Adiante, nesse artigo, o autor retoma e explica a expressão [NTs].
[2] Pode ser acrônimo [sigla] de System Resource Utilization Package. A verificar [NTs]




Entrevista de Lula com Blogueiros

8 de Abril de 2014, 22:12, por Desconhecido - 0sem comentários ainda







Fonte: Youtube






















A saúde brasileira e os "médicos brazileiros"

7 de Abril de 2014, 1:28, por Desconhecido - 0sem comentários ainda




Precisamos salvar vidas!!

Em Praia Grande (São Paulo), a vereadora Janaína Ballaris do PT, foi informada que equipamentos para mamografia e radiografia, estavam fechados em caixas desde 2008. O vídeo abaixo demonstra a dificuldade que Janaína tem em desvendar o mistério dos aparelhos encaixotados.





O governador do Estado de São Paulo, segundo onde foi publicado este vídeo, só permite 200 mamografias por mês. Mas temos de acreditar que os médicos querem mesmo salvar vidas.

Os equipamentos estavam lacrados dentro de uma sala há pelo menos 6 anos, e médicos e responsáveis pelo hospital, nunca se incomodaram. Ao contrario. Fizeram o possível para ocultar os equipamentos. Os conselhos de medicina, que ficam acusando o governo de não dar recursos para a saúde, não se importam com tais situações?

Você pensa que é só em Praia Grande?

Em Poços de Caldas, o centro de tratamento do câncer ficou com os equipamentos encaixotados durante meses, aguardando a mesquinha e ridícula disputa para quem seria nomeado o responsável. Médicos são egocêntricos. Precisam disso para sobreviver, ainda que centenas de pessoas morram.

A saúde brasileira não pode mais ser submetida a esta corja política. O Estado precisa recuperar o poder sobre a saúde. O que estamos assistindo é uma máfia organizada negociando a vida das pessoas em troca de benefícios próprios.

Estas máquinas encaixotadas, foram pagas com o dinheiro dos pacientes que precisavam dos exames e não puderam fazer por "falta de equipamento". São vigaristas da pior espécie, usando a vida das pessoas para guerras políticas.

E você ainda acredita que médicos estão preocupados em salvar vidas, incentivando você a doar órgãos?

Acorde!!!




Fonte: ppavesi
Imagem: Google (colocada por este blog)



EUA continua a construir laboratórios biológicos na Ásia Central

6 de Abril de 2014, 20:13, por Desconhecido - 0sem comentários ainda




Quais as ameaças dos laboratórios biológicos?

Os militares americanos continuam a construir laboratórios biológicos na Ásia Central. Dentro em breve, um desses centros começará a funcionar no Cazaquistão.

Segundo os peritos, semelhantes centros poderão ameaçar a segurança da Rússia e dos países da região. O correspondente da Voz da Rússia, Galim Faskhutdinov, comunica-nos pormenores.

Em Alma-Ata, está chegando ao fim a construção de uma nova estação de prevenção avançada de surtos de doenças na Ásia Central, financiada por um departamento militar dos EUA. Ela completa o trabalho do Laboratório Central de Referência que está sendo construído na base do antigo instituto de investigação científica soviético de combate à peste. Ambos os centros são criados para garantir a segurança em relação a portadores de doenças perigosas que ficaram no Cazaquistão do programa militar biológico soviético. Porém, segundo analistas russos, na realidade, semelhantes centros poderão ser utilizados para experiências biológicas militares que os Estados Unidos realizam, declarou Dmitri Popov, perito em problemas da Ásia Central do Instituto de Estudos Estratégicos da Rússia:

"Primeiro, eles permitirão recolher informação sobre a flora e os microrganismos do território. E isso poderá ser necessário para o fabrico de uma nova geração de armamentos biológicos ofensivos altamente eficazes. Porque é que serão altamente eficazes? Porque irão agir tendo em conta as condições climatéricas locais e os canais de transmissão de agentes patogênicos, concretamente dirigidos contra os países da Organização do Tratado de Segurança Coletiva e a China. E a segunda direção das ameaças: semelhantes centros criam possibilidades para a realização de operações de diversão com vista a prejudicar a economia, dizimar gado, desacreditar a produção nos mercados locais e prejudicar o potencial humano nos nossos países."

Segundo as palavras de Dmitri Popov, a prática de utilização pelos americanos de semelhantes centros noutros países mostra que eles deixam de estar sob o controle nacional. Ou seja, funcionam em regime fechado, são frequentemente dirigidos por militares ou por representantes de serviços secretos. Os centros empregam pessoal estrangeiro, incluindo pessoas com imunidade diplomática. O perito russo receia que o maior laboratório de referência dos EUA na Ásia Central funcione em regime fechado para, por exemplo, experimentar novos vírus. Segundo Dmitri Popov, há suspeitas de que os surtos de doenças atípicas no sul da Rússia em 2013 possam ter sido experiências biológicas:

"Os nossos especialistas consideram que esse pode ter sido precisamente o caso do surto de peste suína africana registrado em 2013 nas regiões meridionais e centrais da Rússia. Ela chama-se peste africana porque não existia nas nossas latitudes setentrionais. Mas, agora, adquiriu uma resistência atípica nas regiões da Rússia. É sabido, segundo dados públicos, que o trabalho com essas estirpes foi realizado pelo Laboratório de Referência do Pentágono na Geórgia e trazidas para o nosso país a partir de território georgiano."

No Instituto de Estudos Estratégicos da Rússia considera-se que os dirigentes do projeto de criação de laboratórios biológicos no Cazaquistão devem garantir a transparência do seu trabalho em todas as etapas, incluindo a construção e posteriores investigações. Nele também se chama a atenção para o fato da existência de um protocolo de 2010, no quadro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, que proíbe a instalação de infraestruturas militares de Estados estrangeiros no território dos países-membros da organização. Ora, nas condições atuais, seria útil alargar semelhante esquema também à atividade de biólogos militares de terceiros países.



Fonte: Voz da Rússia





Genocídio em Ruanda

6 de Abril de 2014, 15:52, por Desconhecido - 0sem comentários ainda




Os EUA estavam por trás do Genocídio de Ruanda: Instalando um Protetorado Americano na África Central

Por Michel Chossudovsky


Desde o início da guerra civil de Ruanda em 1990, a agenda oculta de Washington consistia em estabelecer uma esfera de influência americana em uma região historicamente dominada pela França e a Bélgica. O projeto americano era deslocar a França de apoiar a Frente Patriótica Ruandense [RPF] e armar e equipar seu braço militar, o Exército Patriótico Ruandense (RPA)

Em meados da década de 1980, o governo de Kampala sob o Presidente Yoweri Musaveni tinha se tornado a peça de mostragem da democracia africana para Washington. Uganda tinha também se tornado uma plataforma de lançamento para movimentos de guerrilha patrocinados pelo governo no Sudão, Ruanda e Congo.
Paul Kagame
O Major General Paul Kagame tinha sido o chefe da inteligência militar nas Forças Armadas Ugandenses; ele tinha sido treinado no Comando do Exército dos EUA e no Staff College (CGSC) em Leavenworth, Kansas que se concentra no combate de guerra e estratégia militar. Kagame voltou de Leavenworth para liderar o RPA, pouco depois da invasão de 1990.

Antes da irrupção da guerra civil em Ruanda, o RPA era parte das Forças Armadas Ugandenses. Pouco antes da invasão de outubro de 1990 de Ruanda, os ‘rótulos’ militares foram trocados. De um dia para outro, grandes números de soldados ugandenses se uniram aos escalões do RPA. Durante a guerra civil, o RPA foi suprido pelas bases militares das Forças de Defesa do Povo Unido (UPDF) dentro de Uganda. Os funcionários comissionados Tutsi no exército ugandense tomaram posições no RPA. A invasão de outubro de 1990 pelas forças ugandenses foi apresentada a opinião pública como uma guerra de libertação por um exército de guerrilha liderado pelos Tutsi.

A militarização de Uganda

A militarizaçao de Uganda era parte integral da política externa americana. A construção das forças ugandenses UPDF e do RPA tinha sido apoiada pelos EUA e Reino Unido. Os britânicos haviam fornecido treinamento militar na base militar de Jinja:

De 1989 em diante, a América apoiou os ataques conjuntos da RPF com os ugandenses em Ruanda… Havia ao menos 56 relatórios de situação nos arquivos do Departamento de Estado dos EUA em 1991. “Na medida em que as relações americanas e britânicas com Uganda e a RPF se fortaleciam, assim também escalavam as hostilidades entre Ruanda e Uganda”. Em agosto de 1990, o RPF tinha começado a preparar uma invasão com pleno conhecimento e aprovação da inteligência britânica.

As tropas do RPA de Ruanda e do UPDF de Uganda tinham também apoiado o Exército de Libertação do Povo de John Garang em sua guerra seccionista no sul do Sudão. Washington estava firmemente por trás das iniciativas com o apoio encoberto fornecido pela CIA.

Sobretudo, sob a Iniciativa de Reação à Crise na África (ACRI), oficiais de Uganda estavam também sendo treinados por Forças Especiais americanas em colaboração com um grupo mercenário, Recursos Profissionais Militares Inc (MPRI) que estava sob contrato do governo do Estado dos EUA. O MPRI tinha fornecido treinamento similar ao Exército de Libertação do Kosovo (KLA) e as Forças Armadas Croatas durante a guerra civil iuguslava e mais recentemente aos militares colombianos, no contexto do Plano Colombia.

A Militarização e a Dívida Externa de Uganda

Presidente Museveni
A construção da dívida externa ugandense sob o Presidente Museveni coincidiu cronologicamente com as guerras civis congolesas e ruandenses. Com a subida à Presidência de Museveni em 1986, o débito externo de Uganda chegou a 1.3 bilhões de dólares. Com a cobiça por novo dinheiro, a dívida externa subiu em espiral do dia para a noite, aumentando quase que três vezes para 3.7 bilhões em 1997. De fato, Uganda não tinha débito existente com o Banco Mundial no princípio de seu “programa de recuperação econômica”. Em 1997, ele possuia quase 2 bilhões de dólares só no Banco Mundial.

Para onde foi o dinheiro? Os empréstimos estrangeiros ao governo de Museveni tinham sido alvejados para apoiar a reconstrução econômica do país. No despertar de uma prolongada guerra civil, o FMI patrocinou “o programa de estabilização econômica” exigindo maciços cortes no orçamento de todos os programas civis.

O Banco Mundial foi responsável pelo monitoramento do orçamento de Uganda em benefício de seus credores. Sob “revisão dos gastos públicos” (PER), o governo foi obrigado a revelar completamente a precisa alocação de seu orçamento. Em outras palavras, cada categoria de gasto – inclusive o orçamento do Ministério da Defesa – foi aberto para exame pelo Banco Mundial. A despeito das medidas de austeridade [impostas apenas aos gastos civis], os doadores tinham permitido que os gastos de defesa aumentassem sem impedimento.

Parte do dinheiro destinado aos programas civis tinha sido desviado para custear a Força de Defesa do Povo Unido (UPDF), que por sua vez, estava envolvido nas operações militares em Ruanda e no Congo. A dívida externa de Uganda estava sendo usada para financiar estas operações militares em beneficio de Washington com o país e seu povo pagando a conta. De fato, ao cortar os gastos sociais, as medidas de austeridade tinham facilitado a realocação do Estado de rendimentos a favor dos militares ugandenses.

Financiando ambos lados da guerra civil

Um processo similar de financiar gastos militares a partir da dívida externa tinha ocorrido em Ruanda sob o governo de Juvénal Habyarimana. Em uma cruel ironia, ambos os lados na guera civil eram financiados pelas mesmas instituições doadoras e como o Banco Mundial servindo de Cão de Guarda.

O regime Habyarimana tinha a sua disposição um arsenal de equipamento militar, incluindo lançadores de misssel 83 mm que causaram maciça cegueira, os belgas e os alemães fizeram o armamento leve, e armas automáticas como kalachnikovs feitas no Egito, China e África do Sul [bem como ... blindados AML-60 e veículos blindados M3]. Embora parte destas compras tenha sido financiada por ajuda militar direta da França, o fluxo dos desenvolvimentos dos empréstimos dos afiliados do Banco Mundial da Associação de Desenvolvimento Internacional (IDA), o Fundo de Desenvolvimento Africano (AFD), o Fundo de Desenvolvimento Europeu (EDF) bem como Alemanha, EUA, Bélgica e Canadá tinham sido desviados para custearem os militares e a milícia Interhamwe.

Uma investigação detalhada dos arquivos do governo, contabilidade e correspondência realizados em Ruanda em 1996-97 pelo autor – juntamente com o economista belga Pierre Galand -confirmou que muitas das compras de armas tinham sido negociadas fora da estrutura do governo por acordo de ajuda militar governamental por meio de vários intermediários e comerciantes particulares de armas. Estas transações – registradas como gastos de boa fé do governo – não obstantes não haviam sido incluidos no orçamento do Estado que estava sob supervisão do Banco Mundial. Grandes quantidades de facões de mato e outros itens usados nos massacres étnicos de 1974 - rotineiramente classificados como “comodidades civis” – tinham sido importados por regulares canais de comércio.

Segundo arquivos do Banco Nacional de Ruanda (NBR), algumas destas importações tinham sido financiadas em violação aos acordos assinados com os doadores. Segundo os registros do NBR das ordens de importação, aproximadamente um milhão de facões do mato tinham sido importados por vários canais, inclusive por Radio Mille Collines, uma organização ligada a milícia Interhamwe e usados para fomentarem o ódio étnico.


O dinheiro havia sido destinado pelos doadores para apoiar o desenvolvimento social e econômico de Ruanda. Foi claramente estipulado que os fundos não podiam ser usados para importar “gastos militares em armas, munição ou outro material militar’. De fato, o acordo de empréstimo com o IDA do Banco Mundial era até mesmo mais restritivo. O dinheiro não podia ser usado para importar bens civis tais como combustível, alimentos, remédios, roupas e calçados” destinados a uso militar ou para militar. Os registros do NBR não obstante confirmam que o governo de Habyarimana usou o dinheiro do Banco Mundial para importar os facões de mato que tinham sido rotineiramente clasificados como “bens civis”.

Um exército de consultores e auditores tem sido enviado pelo Banco Mundial para avaliar a “performace política do governo” Habyarimana sob o acordo do empréstimo. O uso dos fundos dos doadores para a importação dos facões de mato e outros materiais usados nos massacres civis não apareceram na auditoria independente comissionada pelo governo e o Banco Mundial. (sobre o acordo de empréstimo IDA. (IDA Credit Agreement. 2271-RW). Em 1993, o Banco Mundial decidiu suspender o desenbolso da segunda prestação de seu empréstimo IDA. Tinha havido, segundo a missão do Banco Mundial, desafortunadas “escorregadelas e atrasos” na implementação da política. As reformas de mercado livre não estavam mais a vista, as condições – inclusive a privatização de bens do Estado – não tinham sido realizadas. O fato de que o país estivesse envolvido em uma guerra civil nem mesmo foi mencionado. Como o dinheiro foi gasto nunca foi uma questão.

Conquanto o Banco Mundial tivesse congelado a segunda parcela do empréstimo IDA, o dinheiro garantido em 1991 tinha sido depositado em uma conta Especial no Banco Bruxelles Lambert em Bruxelas. Esta conta permaneceu aberta e acessível ao antigo regime [no exílio], dois meses depois de abril de 1994 dos massacres étnicos.

Acobertamento pós guerra

No despertar da guerra civil, o Banco Mundial enviou uma missão a Kigali com a visão de verificar o chamado “relato de finalização”. Este era um exercício de rotina, grandemente concentrado em matérias macro-econômicas, muito mais do que em questões políticas. O relatório reconheceu que “o esforço de guerra movimentou o antigo governo a aumentar substancialmente os gastos, bem além dos alvos fiscais concordados sob o SAP. A má apropriação do dinheiro do Banco Mundial não foi mencionada. Ao invés, o governo Habyarimana foi congratulado por “ter feito esforços genuinos – especialmente em 1991 – para reduzir os desequilíbrios financeiros domésticos e externos, eliminar as distorções atrazando o crescimento das exportações e introduzir mecanismos baseados no mercado para alocação de recursos…”. Os massacres de civis não foram mencionados; do ponto de vista dos doadores, “nada aconteceu”. De fato o relatório de finalização do Banco Mundial fracassou em até mesmo reconhecer a existência de uma guerra civil antes de abril de 1994.

No despertar da guerra civil: Restabelecendo as Mortais Reformas Econômicas do FMI

Em 1995, mal completado um ano dos massacres étnicos de 1994, os credores externos de Ruanda entraram em discussões com o governo liderado pelos Tutsis da RPF a respeito das dívidas do antigo regime que haviam sido usadas para financiar os massacres. A RPF decidiu reconhecer plenamente a legitimidade destas odiosas dívidas de 1990 a 1994. O homem forte da RPF, o Vice-Presidente Paul Kagame instruiu o Gabinete a não continuar com a matéria ou abordar o Banco Mundial. Sob pressão de Washington, a RPF não entrou em qualquer forma de negociação, sem falar ao menos em um diálogo informal com os doadores.

A legitimidade dos débitos do tempo de guerra nunca foi questionada. Ao invés, os credores cuidadosamente estabeleceram procedimentos para assegurar seu pronto reembolso. Em 1998, um encontro especial dos doadores em Estocolmo, um Fundo Multilateral Trust de 55.2 milhões de dólares foi criado sob a bandeira da reconstrução pós guerra. De fato, nenhum deste dinheiro era destinado a Ruanda. Tinha sido sinalizado para servir as “dívidas odiosas” de Ruanda com o Banco Mundial, o Banco de Desenvolvimento Africano e o Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrícola (IFAD).

Em outras palavras, “dinheiro novo” – que Ruanda eventualmente teria que desembolsar – foi emprestado para que Ruanda pudesse cumprir os serviços da dívida usada para financiar os massacres. Os velhos débitos tinham sido trocados por novos sob a bandeira da reconstrução pós guerra. Os débitos odiosos haviam sido camuflados e tinham desaparecido dos livros. A responsabilidade dos credores tinha sido apagada. Sobretudo, o ato fraudulento foi também condicional sob a aceitação de uma nova onda de reformas do FMI e do Banco Mundial.

“Reconstrução e Reconciliação” Pós Guerra

O amargo remédio econômico foi imposto sob a bandeira da “reconstrução e reconciliação”. De fato, o pacote de reformas do FMI pós conflito era muito mais restritivo do que aquele imposto no início da guerra civil em 1990. Enquanto salários e emprego tinham caído a níveis abismalmente baixos, o FMI havia exigido um congelamento nos salários dos serviços civis juntamente com uma maciça redução dos servidores de saúde e de educação. O objetivo era o de restaurar a “estabilidade macro-econômica”. A desvalorização do serviço civil foi lançada. Os salários dos serviços civis não podiam exceder 4.5% do Produto Interno Bruto, para os assim chamados trabalhadores não qualificados [principalmente professores] que eram para ser removidos da folha de pagamento do Estado.

Enquanto isso, a renda per capita no país havia caído de 360 dólares antes da guerra para 140 dólares em 1995. Os rendimentos do Estado tinham sido alvejados para o serviço da dívida externa. Os débitos do Clube de Paris de Kigali foram reprogramados em troca de reformas de “mercado livre”. Os bens remanescentes do Estado eram vendidos ao capital estrangeiro a preço de barganha.

O governo do RPF liderado pelos Tutsi muito mais do que exigir o cancelamento das dívidas odiosas de Ruanda, tinha recebido as Instituições Bretton Woods de braços abertos. Eles precisavam da luz verde do FMI para impulsionar o desenvolvimento militar.

A despeito das medidas de austeridade, os gastos de defesa continuaram a crescer. O padrão de 1990-94 tinha sido reinstalado. Os empréstimos de desenvolvimento garantidos desde 1995 não foram usados para financiar a economia e o desenvolvimento social do país. O dinheiro externo novamente havia sido desviado para financiar a construção militar, desta vez do Exército Patriótico Ruandense (RPA). E esta construção do RPA ocorreu no período imediatamente precedente ao início da guerra civil no antigo Zaire.

A Guerra Civil no Congo

Seguindo a instalação de um regime cliente em Ruanda em 1994, os EUA treinaram as forças ruandenses e ugandenses para intervirem no antigo Zaire – uma fortaleza da influência francesa e belga sob o presidente Mobutu Sese Seko. Amplamente documentado, as tropas de operações especiais americanas – principalmente Boinas Verdes do 3o Grupo de Forças Especiais de Fort Bragg, N.C.- tinham estado ativamente treinando o RPA. Este programa foi uma continuação do apoio encoberto e ajuda militar fornecida ao RPA antes de 1994. Por sua vez, a consequência trágica da guerra civil ruandense incluindo a crise de refugiados, tinha estabelecido a programação para a participação do RPA de Uganda e Ruanda na guerra civil no Congo:

“Washington bombeou ajuda militar no exército de Kagame, e as Forças Especiais do Exército dos EUA e outras forças militares treinaram centenas de tropas ruandenses. Mas Kagame e seus colegas tinham seus próprios projetos. Enquanto os Boinas Verdes treinavam o RPA, o próprio exército estava treinando os rebeldes do Zaire. Em Ruanda, funcionários americanos publicamente apresentaram o engajamento deles com o exército como quase que inteiramente devotado a treinamentos de direitos humanos. Mas os exercícios das Forças Especiais também cobriram outras áreas, incluindo talentos de combate. Centenas de soldados e oficiais foram arrolados nos programas de treinamento dos EUA, realizados pelas Forças Especiais, tanto em Ruanda quanto nos EUA. Os ruandenses estudaram técnicas de camuflagem, movimento de pequenas unidades, procedimentos de liderança de tropa, desenvolvimento de equipe de soldados [etc]. E enquanto o treinamento se desenrolava, oficiais americanos estavam se encontrando regularmente com Kagame e outros líderes principais de Ruanda para discutir a continuada ameaça militar enfrentada pelo antigo regime vinda do Zaire. Claramente, o foco da discussão dos militares ruandenses e americanos havia mudado de como construir direitos humanos para como combater a insurgência. Com o apoio do presidente de Uganda Museveni, Kagame concebeu um plano para apoiar o movimento rebelde no leste do Zaire [chefiado por Laurent Desire Kabila] … 
Paul Kagame e Bill Clinton
A operação foi lançada em outubro de 1996, apenas umas poucas semanas depois da viagem de Kagame a Washington e a completação da missão de treinamento das forças especiais americanas. Uma vez tendo começado a guerra no Congo, os EUA forneceram ‘ajuda política” a Ruanda. Um funcionário da embaixada americana em Kigali viajou para o leste do Zaire inúmeras vezes para fazer ligação com Kabila. Logo os rebeldes haviam se movimentado. Afastando o exército do Zaire com a ajuda das forças ruandenses, eles marcharam pela terceira maior nação da África em sete meses, com somente poucos engajamentos militares significativos. Mobutu fugiu da capital, Kinshasa, em maio de 1997, e Kabila tomou o poder, mudando o nome do país para Congo. Funcionários americanos negam que tivesse havido pessoal militar americano com as tropas ruandenses no Zaire,durante a guerra, mas relatos não confirmados de presença de aconselhamentos dos EUA tem circulado na região desde o início da guerra.

Interesses Americanos nas Minas

Em jogo nestas operações militares no Congo estavam os extensos recursos do leste e do sul do Zaire que incluem reservas estratégicas de cobalto – de importância crucial para a indústria de defesa dos EUA. Durante os vários meses de guerra civil antes da queda de Mobutu, Laurent Desire Kabila baseado em Goma, leste do Zaire tinha renegociado os contratos de mineração com várias companhias de mineração americanas e britânicas inclusive com a American Mineral Fields (AMF), uma companhia baseada na terra natal do Presidente Bill Clinton, Hope, Arkansas.

Enquanto de volta a Washington, funcionários do FMI estavam ocupados revendo a situação macro-econômica do Zaire. Nenhum tempo foi perdido. A agenda econômica pós Mobutu já havia sido decidida. Em um estudo liberado em abril de 1997, 
Mobutu Sese Seko
pouco de um mês antes que o Presidente Mobutu Sese Seko fugisse do país, o FMI tinha recomendado “parar completa e abruptamente a questão da moeda’ como parte do programa de recuperação econômica. E uns poucos meses mais tarde depois de assumir o poder em Kinshasa, o novo governo de Laurent Kabila Desire recebeu ordens do FMI para congelar os salários do serviço civil como meio de “restaurar a estabilidade macro econômica”. Erodida pela hiper inflação, a média de salário do setor público havia caído a 30.000 novos Zaires (NZ) por mês, o equivalente a um dólar americano.

As exigências do FMI eram equivalentes a manterem a inteira população em uma pobreza abismal. Elas tornaram impossível o início de uma reconstrução significativa pós guerra assim contribuindo para continuar o estímulo para a continuidade da guerra civil congolesa na qual perto de dois milhões de pessoas morreram.

Comentários Finais

A guerra civil em Ruanda foi um esforço brutal para o poder político entre o governo Hutu liderado por Habyarimana apoiado pela França e a Frente Patriótica Ruandense dos Tutsis (RPF) sustentada financeira e militarmente por Washington. As rivalidades étnicas foram usadas deliberadamente na busca dos objetivos geopolíticos. Tanto a inteligência francesa quanto a CIA estiveram envolvidas.


Nas palavras do ex Ministro de Cooperação Bernard Debré no governo do Primeiro Ministro Henri Balladur:

“O que esquecemos de dizer é que se a França estava de um lado, os americanos estavam do outro, armando os tutsis que armaram os ugandenses. Não quero retratar um fechamento entre os franceses e os anglo-saxônicos, mas a verdade deve ser dita”.

Além da ajuda militar às facções guerreiras, o fluxo de empréstimos de desenvovimento desempenharam um importante papel em “financiar o conflito”. Em outras palavras, tanto as dívidas externas de Uganda como as de Ruanda foram desviadas para apoiar os militares e paramilitares. A dívida externa de Uganda aumentou para mais de dois bilhões de dólares – isto é, um passo mais rápido do que aquela de Ruanda (um aumento de aproximadamente 250 milhões de dólares de 1990 a 1994). Em retrospecto, o RPA -financiado pela ajuda militar dos EUA e a dívida externa de Uganda – foi muito melhor equipado e treinado do que as Forças Armadas de Ruanda (FAR), leais ao Presidente Habyarimana. Desde o início, o RPA tinha uma definitiva vantagem militar sobre a FAR.

Paul Kagame
Segundo o testemunho de Paul Mugabe, um antigo membro da unidade de Alto Comando da RPF, o Major General Paul Kagame tinha pessoalmente ordenado o abate do avião do Presidente Habyarimana tendo em vista tomar o controle do país. Ele estava plenamente ciente que o assassinato de Habyarimana desencadearia o “genocídio” contra os civis Tutsi. As forças do RPA tinham sido completamente empregadas em Kigali no tempo em que ocorreram os massacres étnicos e não agiram para evitar que isto acontecesse:

“A decisão de Paul Kagame de abater o avião do Pres. Habyarimana foi um drama catalístico e sem precedentes na história de Ruanda, e o Major-General Paul Kagame tomou esta decisão com toda consciência, A ambição de Kagame causou o extermínio de todos da nossas famílias : Tutsis, Hutus e Twas. Todos perdemos. A tomada de poder de Kagame tomou as vidas de um grande número de Tutsis e causou um êxodo desnecessário de milhões de Hutus,muitos dos quais eram inocentes sob as mãos dos lideres dos grupos de genocídio. Alguns ruandenses ingênuos proclamaram Kagame como salvador deles, mas o tempo tem demonstrado que foi ele que causou o nosso sofrimento e infortúnio. Pode Kagame explicar ao povo ruandense porque ele enviou Claude Dusaidi e Charles Muligande para New York e Washington para parar a intervenção militar da ONU que supostamente foi enviada para proteger o povo ruandense do genocídio? A razão por trás de evitar a intervenção militar era permitir que a liderança do RPF tomasse o governo de Kigali e mostrasse ao mundo que eles – o RPF – eram aqueles que pararam o genocídio. Todos nos lembraremos que o genocídio ocorreu durante três meses, até mesmo embora Kagame tenha dito que ele era capaz de parar isto na primeira semana depois da queda do avião. Pode o Major-General Paul Kagame explicar porque ele pediu ao MINUAR para deixar o solo de Ruanda dentro de horas enquanto a ONU estava examinando a possibilidade de aumentar suas tropas em Ruanda para parar om genocídio?”

O testemunho de Paul Mugabe a respeito do abate do avião de Habyarimana ordenado por Kagame é corroborado por documentos da inteligência e informação apresentada no inquérito do parlamento francês. O Major General Paul Kagame foi um instrumento de Washington. A perda de vidas africanas não importava. A guerra civil em Ruanda e os massacres étnicos foram uma parte integral da política externa americana, cuidadosamente programada de acordo com precisos objetivos estratégicos e econômicos.



A despeito das boas relações diplomáticas entre Paris e Washington e a aparente unidade da aliança militar ocidental, foi uma guerra não declarada entre os EUA e a França. Ao apoiar a construção de forças ugandenses e ruandenses e intervir diretamente na guerra civil congolesa, Washington também tem uma responsabilidade direta pelos massacres étnicos cometidos no leste do Congo, incluindo várias centenas de milhares de pessoas que morreram nos campos de refugiados.



Os fazedores americanos da política estavam plenamente cientes que uma catástrofe era iminente. De fato, quatro meses antes do genocídio, a CIA havia avisado o Departamento de Estado dos EUA em uma instrução confidencial que os Acordos de Arusha fracassariam e que “se as hostilidades recomeçassem, então mais de um milhão de pessoas morreriam”. Esta informação foi subtraída da ONU: “não foi senão quando o genocídio havia acabado que a informação foi transmitida ao Maj.-Gen. Dallaire [que estava a cargo das forças da ONU em Ruanda].”

O objetivo de Washington era deslocar a França, desacreditar o governo francês [que havia apoiado o governo de Habyarimana) e instalar um protetorado anglo-americano em Ruanda sob o Major General Paul Kagame. Washington deliberadamente nada fez para evitar os massacres étnicos.

Quando uma força da ONU foi proposta, o Major General Paul Kagame buscou retardar sua implementação afirmando que somente aceitaria uma força de paz uma vez que a RPA estivesse no controle de Kigali. Kagame “temia que a proposta força de paz da ONU de mais de 5.000 soldados pudesse intervir e evitar a vitória da RPA”. Enquanto isso, o Conselho de Segurança depois de deliberação e relato do Secretário Geral Boutros Boutros Ghali decidiu adiar sua intervenção.

O genocídio de 1994 em Ruanda serviu estritamente a objetivos estratégicos e geopolíticos. Os massacres étnicos foram uma catastrófica explosão na credibilidade da França que possibilitou aos EUA estabelecerem uma nova neo colonia na África Central. De uma base distintamente franco-belga, a capital ruandesa de Kigali tinha se tornado – sob o expatriado governo tutsi liderado pela RPF – distintamente anglo-americana. O inglês se tornou a lingua dominante no governo e no setor privado. Muitos negócios particulares de propriedade de Hutus foram tomados em 1994 pelos retornantes expatriados Tutsis. Os últimos haviam se exilado na África anglófona, os EUA e a Grã Bretanha.

A influência francesa política e cultural será eventualmente apagada. Washington tem se tornado o novo mestre colonial de um país francófono.

Vários outros países francófonos na África Sub sahariana tem entrado em acordos de cooperação militar com os EUA. Estes países são notificados por Washington para seguirem o padrão estabelecido em Ruanda. Enquanto isto, na África francófona o dólar americano rapidamente está substituindo a moeda francesa – que é ligada a um acordo de moeda ao Tesouro Francês.




CASA BRANCA ESTÁ POR TRÁS DO CHOQUE ESPECULATIVO DA STANDART AND POOR’S CONTRA O GOVERNO DILMA

4 de Abril de 2014, 20:58, por Desconhecido - 0sem comentários ainda




Choque Dilma-Obama produziu ação da S&P

Cesar Fonseca

O que se pode deduzir das palavras bastante diplomáticas proferidas pelo consultor e jornalista Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute of the Woodrow Wilson International Center for Scholars, na Comissão de Relações Exteriores do Senado, na quinta feira, 04, é que, como diria o Barão de Itararé, há muita coisa no ar além dos aviões de carreira. 

Sotero, ex-correspondente do jornal O Estado de São Paulo, em Washington, um especialista formado em história, pela USP, profissional experimentado, destacou que são grandes as insatisfações da comunidade econômica e financeira americana com a situação criada pela suspensão da visita da presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos, no segundo semestre do ano passado, devido ao episódio Snowden. 

A espionagem americana, da NSC, bisbilhotou a vida da titular do Planalto, assim como a de diversos outros mandatários pelo mundo afora, e teve o troco inusitado na reação dilmista, que serviu de base para o comportamento geral dos líderes políticos, de reagiram para além dos métodos sofisticados da diplomacia. 

Ângela Merkel, líder alemã, chiou. 
Francois Hollandé, lider francês, idem. 
A comunidade europeia reagiu forte. 

Dilma, na verdade, fez escola. Marcou ponto político importante, sendo a primeira a mostrar-se enérgica com os métodos fascistas de Tio Sam, na área da inteligência. A ONU vocalizou favoravelmente a atitude da presidenta brasileira. Não, apenas, suspendeu a visita oficial que faria a Obama, quando estava previsto lançamento de marco importante nas relações dos dois países, colocando elas num novo patamar de prioridades, de acordo com os mais altos interesses norte-americanos, no continente sul-americano, tendo o Brasil como alavanca continental, na linha de torná-lo ponto de equilíbrio em meio às tensões políticas nacionalistas que se ampliaram na América do Sul, nos últimos dez anos etc. 

O que deixou a Casa Branca abalada foi que logo após a suspensão da visita, Dilma anunciou a compra de aviões da Suécia, deixando virar fumaça as esperanças dos americanos de se tornarem clientes do Brasil, nessa área. Daí em diante azedou tudo. 

Os empresários americanos, afirmou Sotero, perderam negócios da ordem de 6 bilhões de dólares, no Brasil, desde a decisão dilmista. Os canais de entendimento comercial, embora independam, muitas vezes, das relações político-diplomáticas, relacionando-se, quase sempre, nas vantagens das ofertas e demandas dos compradores e vendedores, tiveram seus fluxos, relativamente, abalados. 

No ano passado, destacou Sotero, os americanos movimentaram, no Brasil, 135 bilhões de dólares, entre aplicações, investimentos etc. A balança comercial pendeu favoravelmente  para os americanos em 7 bilhões de dólares. Sendo os gringos adeptos, antes de tudo, da diplomacia comercial – o negócio dos Estados Unidos são os negócios, já disse alguém -, certamente, pressionaram Obama. 

O presidente americano, sob pressão, resolveu, da boca para fora, trabalhar diferente na área da inteligência, especialmente, com os aliados, dizendo que iria fazer e desfazer equívocos, como se isso fosse para valer. As tentativas de reaproximação diplomática estão em curso e os negócios avançam, mas cheios de constrangimentos de lado a lado, porque a soberba e a arrogância do império americano o impediram de atender o pedido de desculpas solicitado pelo governo brasileiro.

O bate-boca, claro, vai continuar. Mas, Sotero, no meio da sua argumentação, disse que, depois do choque Dilma-Obama, começou a engrossar uma onda contra a economia brasileira, ganhando força o que o mercado financeiro diz, sem parar, ou seja, que a confiança dele, no governo Dilma, estava perdendo força

No rastro dessa ação, nitidamente, especulativa, o desgaste aumentou, por força, principalmente, da grande mídia, que compra, a preços super-faturados, as razões do mercado especulador, transformando no samba de uma nota só.  Sotero, muito sutilmente, admitiu não descartar que o rebaixamento da nota de crédito da dívida brasileira, pela Standart and Poor’ , colocando o governo Dilma mal na cena internacional, não estaria desvinculada desse movimento de descrédito intensificado, depois que Dilma deu um chega prá lá em Obama por conta dos casos de espionagem. 

Essa possibilidade está no ar, especialmente, quando se pode ver e sentir o tipo de ação que o governo americano, por meio da sua diplomacia comercial, promoveu contra o governo brasileiro, em 1964, cujas metas eram reformas políticas e econômicas  que ampliavam o poder político das maiorias e o fortalecimento da economia, tornando-a sustentável. Materializadas, causariam incômodos à economia dos Estados Unidos. 

O nacionalismo dilmista-lulista guarda relação com o nacionalismo janguista-varguista, de apostar nas riquezas nacionais, no mercado interno, na valorização dos salários, na proteção das empresas brasileiras, no fortalecimento de programas sociais etc, ou seja, tudo que incomoda os Estados Unidos. JK-65, isto é, a campanha eleitoral, já estava na rua, às vésperas do golpe militar, e a dinâmica da campanha juscelinista ancoravam-se no prosseguimento do desenvolvimentismo nacionalista. A aposta era a de uma nova agricultura, para ampliar a integração econômica nacional, ampliando o mercado interno e buscando conquistar o mercado internacional, onde os produtos agrícolas americanos davam as cartas. 

Mesmo Carlos Lacerda, que jogou pelo golpe-64, já em 1966, partiria para a formação da Frente Ampla, com Jango e JK, no exílio, levantando o argumento semelhante ao que Lula brandiria, na crise de 2007/08, ou seja, o da necessidade de o Brasil apostar nas suas próprias forças, na valorização dos salários e do mercado interno, para promover o desenvolvimento sustentável. 

Esse discurso, que ganhou sonoridade extraordinária na América do Sul, nas duas últimas décadas, com emergência de governos nacionalistas, foi o que levou Washington a financiar, nos anos 1960-70,  golpes políticos e militares, nos rastros dos quais foram preparadas estradas para os interesses econômicos americanos transitarem sem serem incomodados pela opinião pública, barrada pela repressão política policial tenebrosa.    

Repetindo, portanto, o Barão de Itararé, por trás da avalanche de acusações ao governo Dilma, os fatos latentes demonstram ser muito mais relevantes do que os meramente aparentes, manipulados pela grande mídia, porta-voz dos argumentos dos especuladores, no ambiente da financeirização econômica especulativa que tomou conta da economia global, abalada pela bancarrota americana e europeia. 

Dilma, sim, virou pedra no sapato de Obama, de Washington, dos falcões do Pentágono, do mercado financeiro especulativo, que, mesmo dispondo de um juro mais alto do mundo, não se mostra satisfeito, querendo mais, agora, a cabeça dela, com medo de que, num eventual segundo mandato, se transforme num Hugo Chavez de saia. 

O jogo é parar a economia brasileira, que, no entanto, cresce, embora, pouco, mas cresce, enquanto as economias ricas, como demonstrou o relatório do FMI, nessa semana, estão ameaçadas de morte pela escalada da deflação. 

O Brasil incomoda por que vai bem, obrigado, num mundo em crise. 

Ninguém chuta cachorro morto.


Fonte: Independência Sul Americana
Imagem: Google




O presidente uruguaio, José Mujica, em entrevista

2 de Abril de 2014, 19:33, por Desconhecido - 0sem comentários ainda