O pesadelo da Coca-Cola e da Pepsi no Sudão
13 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaPor Simon Allison*
Os últimos ataques dos rebeldes sudaneses, num dos mais importantes centros de cultivo de goma-arábica, inquietam as multinacionais. A goma-arábica é responsável por não deixar o açúcar desprender-se da bebida gaseificada e empilhar-se no fundo da lata. Embora seja difícil precisar os números, o Sudão exporta algo entre 40% e 70% de toda goma-arábica mundial.
Em 1997, honrados legisladores do Congresso dos Estados Unidos estavam extremamente descontentes com o governo do Sudão, o qual acusavam de patrocinar o terrorismo e perseguir minorias religiosas. O problema real era simples: o Sudão havia oferecido refúgio a Osama Bin Laden, que já naquela época era um homem bastante impopular. Como punição, o Congresso norte-americano aprovou um pacote de duríssimas sanções que limitaram severamente a capacidade sudanesa de comércio e atrofiaram sua economia.
No entanto, antes que as sanções fossem aprovadas, lobistas que representavam algumas das maiores corporações norte-americanas lutaram para incluírem uma exceção. Eles obtiveram sucesso, como sempre lobistas bem financiados costumam obter. O artigo a ser dispensado era uma resina dura e translúcida conhecida como goma-arábica. O Sudão poderia exportar o quanto eles quisessem dessa goma.
A goma arábica é um produto muito interessante. A cadeia global de fornecimento de matéria-prima que abastece nosso mundo multinacional nos revela algumas coisas surpreendentes (como o coltan, mineral extraído das horríveis minas informais congolesas diretamente para seu novo lindo smartphone). A goma-arábica é a seiva endurecida de uma espécie específica de acácia que cresce no Sudão. Quando seca e pulverizada, ela pode ser usada no que chamamos de "emulcificante comestível", o que podemos traduzir em linguagem leiga como uma cola que podemos comer.
Por esta razão, costuma-se usá-la em produtos como goma de mascar e certos medicamentos. Mas, de longe, seu uso mais importante se dá em bebidas gaseificadas, onde a goma cumpre o papel essencial de ligar o açúcar à bebida; sem isso, o açúcar se desprenderia da solução e se empilharia no fundo da lata.
Embora seja difícil precisar os números, o Sudão exporta algo entre 40% e 70% de toda goma-arábica mundial, e a maioria provém ou passa pela pequena cidade empoeirada de El Obaid, numa província chamada Kordofan do Norte. Há outros lugares que produzem esta goma, mas eles tendem a ser tão politicamente instáveis (como, por exemplo, o Chade e a Eritréia) e a qualidade não é tão alta.
É irônico: de Kordofan do Norte, um lugar seco e empoeirado de um país arrasado pela pobreza, provém o ingrediente sem o qual um dos produtos mais lucrativos e icônicos do mundo não poderia ser produzido (ou pelo menos, não de forma tão barata).
Isto tudo é apenas uma pequena parte da explicação de por que os acontecimentos políticos no Sudão podem causar alguns momentos angustiantes para os executivos de empresas como a Coca-Cola e a Pepsi, que são os maiores destinatários da goma-arábica sudanesa (nenhuma das duas companhias revelarão a fonte de seus emulsificantes, provavelmente por causa da publicidade negativa que seria acarretada pela associação das suas imagens com o Sudão).
Em um ataque ousado e inesperado, rebeldes do Movimento por Justiça e Igualdade (MJI) capturaram a cidade de Umm Ruwaba na província de Kordofan do Norte. Umm Rawaba está localizada a 100km de El Obaid, e também é um centro de cultivo da goma-arábica.
Isto foi significativo por duas razões. Primeiro, este é um local distante de onde o MJI costuma realizar suas operações, que se concentram em Darfur (ao leste de Kordofan do Norte), indicando que as ações dos rebeldes possuem um alcance surpreendente. Em segundo lugar, o MJI conduziu o ataque sob a bandeira do Fronte Revolucionário Sudanês (FRS), uma coalizão militar de vários grupos rebeldes de diferentes áreas do Sudão. Essa não é a primeira operação a ser conduzida sob a bandeira do FRS, mas é uma das mais bem sucedidas. Além disso, Kordofan do Norte serve como uma ponte geográfica entre a praça forte do MJI em Darfur e a principal força do FRS, o Movimento do Norte para a Libertação do Povo (MNLP) operando em Kordofan do Sul e nos estados do Nilo Azul. É fácil enxergar o ataque a Umm Rawaba como uma tentativa experimental para transformar bolsões de resistência isolados em uma resistência mais unificada e abrangente.
O ataque ocorreu alguns dias depois de negociações sem sucesso entre o MNLP e o governo sudânes. "Eu acredito que esse ataque foi planejado pelos rebeldes depois do insucesso das conversas em Addis Ababa. É um aviso ao governo de que os rebeldes podem expandir sua luta por outras áreas," declarou um colunista sudanês, Abd al-Latif al-Bony, ao New York Times.
Não demorou, no entanto, para que as tropas sudanesas se organizassem e pressionassem os rebeldes, tirando-os de Umm Rawaba, de acordo com relatórios. Mas o governo sudanês recebeu a mensagem dos rebeldes: a rebelião se espalhou para Kordofan do Norte.
Essa é uma mensagem à qual corporações como a Coca-Cola e a Pepsi, preocupadas com sua cadeia global de fornecedores, estarão, sem dúvida, atentas.
*Simon Alisson é um jornalista residente na República da Somalilândia, especializado em questões geopolíticas africanas e do Oriente Médio.
Tradução de Roberto Brilhante
Imagens: chinabevnews.wordpress.com, Google
Fonte: Carta Maior, Naval Brasil
A verdade sobre as terras indígenas no Brasil.
13 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários ainda
Nesse surpreendente documentário, é revelado a verdade e os problemas sobre as Terras Indígenas Brasileiras e o oprimido povo indígena, escravos do Estatuto do Índio de 1970, da Constituição de 1988 e da FUNAI, onde uma civilização inteira está proibida de se civilizar para atender a interesses de poucos brasileiros e muitos estrangeiros.
Os territórios demarcados como terra indígena são riquíssimos: além de ter o bem mais precioso do planeta, a água (mil milhões de toneladas), existe ouro, estanho, platino, urânio, plutónio, nióbio (coleta), prata, cobre, molibdénio, tântalo, valiosa lenha, ademais de um recurso que será cada vez mais importante nos futuros anos: a biodiversidade.
E hoje essas riquezas estão inacessíveis para qualquer cidadão brasileiro, apenas índios, funcionários da FUNAI e cientistas estrangeiros acobertados pelas ONGs tem acesso ao nosso patrimônio nacional.
Fonte: Rede de Informações
Imagem: Google
Aliança do Pacífico ou o ofensivo retorno da Alca
12 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaA nova aliança do Pacífico, junto com a proposta colombiana para integrar a Otan buscam retroceder a integração regional soberana e independente alcançada na última década. Ao contrário, seu único objetivo parece ser aprofundar os caminhos para o liberalismo decadente do século 21.
Por Stella Calloni*
A integração sul-americana, que continua avançando acima das especulações dos quartéis midiáticos e dos projetos geoestratégicos do poder hegemônico imperial, atualmente enfrenta outra ameaça, o que é necessário olhar por diversos ângulos: a renovada Aliança do Pacífico.
A isso é preciso acrescentar a proposta colombiana para integrar a Aliança do Tratado Atlântico Norte (Otan, na sigla em inglês) que enfrenta o projeto integracionista de emancipação da América Latina e do Caribe, o qual privou das ideias básicas: a construção de um conjunto de sistema de defesa conjunta em função das necessidades de defesa da região, a implementação do Banco do Sul para desconstruir a dependência, a decisão dos países da União de Nações Sul-Americanas de constituí-la em um território de paz e obter resposta definitiva e com armas para a desesperada demanda social dos nossos povos. Um projeto anti-hegemônico que precisa de tempo e vontades.
A Otan não tem nada para a fazer em nossa região. Converteu-se em um gendarme de intervenção global que, por sua vez, gerencia exércitos privados (mercenários) para iniciar suas operações militares.
Algo realmente grave se for advertida a tragédia do retorno das guerras coloniais que estão agitando outras partes do mundo neste momento e que levaram a Europa a uma crise inconcebível no século 21, com governos que decidem às costas de seus povos, levando suas tropas para lutar em guerras estrangeiras, com gastos milionários em armamentos e convertendo suas tropas em conquistadores de territórios para outros. Isso é o que está acontecendo.
A 7ª Cúpula da Aliança do Pacífico realizada em Cali, no início de junho, com a participação de México, Colômbia, Chile e Peru, incorporou a Costa Rica, enquanto assistiram como observadores Espanha, Canadá, Panamá, Guatemala e Uruguai.
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Enrique Peña Nieto, Juan Manuel Santos, Sebastián Piñera e Ollanta Humala |
A intervenção do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, mesmo que não tenha sido surpreendente, porque na verdade sempre apareceu no processo de integração jogando de ambos os lados. Embora mais contido, neste caso falando sobre o novo «motor» da economia regional, não é senão a decisão de ir a fundo em um processo enquadrado no que seria a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), um projeto neocolonialista por excelência, dignamente rejeitado pelos membros do Mercado Comum do Sul e Venezuela em novembro de 2005, em Mar del Plata. O que a Aliança do Pacífico pretende é aprofundar os caminhos para o liberalismo decadente no século 21.
Isso implica um enorme retrocesso para os povos dos países que compõem essa Aliança, que não responde aos interesses estratégicos regionais, mas aos imperialistas de plantão.
Estratégia neocolonialista
Se alguns pequenos países pensam encontrar uma saída, o espelho do futuro mostra que isso só pode levar à solução das assimetrias via subordinação dos pequenos e também dos grandes. Qualquer projeto emancipador é rebaixado nesses planos, já que não está em conformidade com a ideia de uma independência definitiva, que não só libera a região verdadeiramente, mas a fortalece em qualquer negociação.
Isso sem falar das demandas sociais, nas quais as equipes do livre mercado jamais pensaram, como se viu nos anos 1990, ou como está sendo visto hoje na União Europeia (UE).
“A tarefa em curto prazo envolve a liberação de 90% das tarifas de forma pouco discriminada, permitindo criar um ‘mercado’ de mais de 216 milhões de pessoas - excluindo os observadores - com uma tendência à desregulamentação estatal em setores estratégicos de recursos naturais ou agrícolas; um retorno ao processo de reestruturação neoliberal que ganhou força a partir da década de 1970 a 1990 (idade de ouro dos Chicago Boys), proposta como alternativa ao cepalismo (Cepal), de (Raúl) Prebisch acusado de ‘protecionista’ pelo modelo de industrialização por substituição de importações”.
Isso foi definido pela Attac (Associação para a tributação das operações financeiras e ação cidadã) em uma análise publicada recentemente.
Para esta organização, aquela Cúpula de Cali coincidiu com “o papel ativo da América Latina na agenda econômica para o segundo mandato do governo de Barack Obama”.
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John Kerry |
Se há pessoas que não podem celebrar esta aliança do Pacífico são os povos dos países que a integram, pelo menos em nossa região. Retornar a 1990? Uma tragédia social, política e econômica.
A única oferta que aponta para um futuro justo e digno para os povos da América Latina e verdadeiramente independente, é a que se planeja a integração nos diversos planos como a Alba, o Mercosul, a Unasul e o projeto mais complexo e completo, que é a Celac (Comunidade Latino-Americano e Caribenha) que nasceu em Caracas, sob a Presidência de Hugo Chávez Frías, o falecido presidente, motor da estratégia libertadora.
Neste renovado projeto neocolonialista dos Estados Unidos estão as recentes visitas de Barack Obama ao México e à América Central e a outras que propõe a fazer em breve.
No livro Inteligência Estratégica para a Política Mundial da América Latina (1949), o escritor Sherman Kent advertiu sobre algo que hoje é uma realidade: “a guerra não é sempre convencional: de fato, grande parte da guerra, as remotas e as mais próximas, sempre foi feita com armas não convencionais”.
Ele se referia ao tipo de guerra na qual pela política (nos dias de hoje também sob o virtual terrorismo midiático que se aplica contra os nossos países) e pela econômica, há uma verdadeira guerra atualizada nestes tempos, nos quais a América Latina toma, ou tenta tomar, o real controle de seus recursos e seus Estados. Faz parte da ofensiva atual dos Estados Unidos contra a Venezuela e a região tratando de fragmentar o verdadeiro projeto unitário e isolar os governos regionais. É uma ofensiva tão agressiva como a que estão aplicando hoje na Venezuela.
*Jornalista e politóloga argentina
Tradução: Vanessa Silva
Fonte: Vermelho
Imagens: Google (colocadas por este blog)
ONGs Indigenistas atuantes no Brasil
8 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaAcredita-se que existam, no Brasil, centenas de milhares de ONGs, a maioria delas, com certeza, atuando na área da floresta amazônica. Naquela região, só o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), congrega um conglomerado de 200 ONGs que atuam na Amazônia. Este post mostra algumas delas, provavelmente, as mais importantes.
CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação
O indigenismo e seu caráter autonomista e separatista, como já definido anteriormente, começou a ter forma orgânica no Brasil a partir de 1965, com a fundação do Centro de Informação Ecumênica (CEI), reorganizado em 1974 por Anivaldo “Niva” Padilha como Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI). Padilha era funcionário do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) que forneceu os recursos necessários.
Alardeando a amplitude, supostamente ecumênica, que originou o CMI, o CEDI se converteu num centro de aglutinação das diferentes correntes religiosas que abraçaram a Teologia da Libertação existencialista, como um meio para deflagrar um bem organizado movimento insurrecional. A formação do CEDI ajudou a promoção de figurões da Teologia da Libertação, como Leonardo Boff e outros representantes do chamado diálogo marxista-cristão – redes que, mais tarde, participariam ativamente da formação dos movimentos guerrilheiros na América Central. Além disso, o CEDI viria a tornar-se um dos principais centros de ação do indigenismo e de sua união com o ambientalismo.
A finalidade do seminário foi reunir um grupo de especialistas para fundamentar a vigência de uma divindade pagã, a deusa Terra, com um corpo doutrinário que constituiria uma “Teologia da Terra”. Um membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – criada em 1975, e cujo patriarca, o bispo dom Pedro Casaldáliga, foi pioneiro na disseminação de tais crenças – explicou assim os propósitos do evento: «A complexidade da questão da terra radica no fato de que é, ao mesmo tempo, um problema político local, nacional, internacional e cósmico.» Em conclusão, seu âmbito de ação seria toda a problemática a ela vinculada: luta pela terra, posse da terra, danos e benefícios sofridos. Uma das questões abordadas, que explica a posterior e agressiva militância indigenista-ambientalista desses grupos, foi a análise das «possibilidades de desenvolver, a partir dos pobres da terra, uma ecologia que permita uma nova cultura e uma nova relação do homem com a terra»
Com o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980, o CEDI passou a gravitar na mesma órbita. A partir daquela ocasião, a ONG iniciou uma nova fase de ação, vinculando-se com importantes centros de irradiação do movimento ambientalista mundial, como as ONGs estadunidenses EDF – Enviromental Defense Fund e Conservation International.
Como documentou a jornalista canadense Elaine Dewar, no livro «Cloak of Green» («Capa de Verde»), o CEDI foi um dos focos da “Agenda” no Brasil, como denominou ela a complexa teia de operações iniciada na década de 1980, envolvendo diversas organizações governamentais e não-governamentais do Hemisfério Norte, para estabelecer uma rede de ONGs ambientalistas e de direitos humanos, que, então, começavam a formar-se no Brasil. Elaine Dewar mostra que a Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (CIDA), a embaixada canadense em Brasilia e outras fontes, davam grandes somas de dinheiro a essas ONGs, que, supostamente, eram politicamente neutras.
A atuação do CEDI recebeu um considerável reforço em 1969, com a criação da Survival International, o “braço humano” do WWF, cuja missão precípua foi a criação da reserva indígena yanomâmi. A iniciativa resultou de uma série de expedições à América do Sul feitas pelos exploradores ingleses Robin Hanbury-Tenison e Kenneth Taylor, durante as quais identificaram e situaram os aldeamentos dos povos indígenas existentes ao longo dos dois grandes eixos potenciais de integração física do subcontinente, nos sentidos Norte-Sul e Leste-Oeste. Seu mal disfarçado objetivo, explicitado pelo príncipe Philip de Edimburgo, então presidente internacional do WWF, era localizar os grupos indígenas que, posteriormente, poderiam ser manipulados para obstaculizar a construção de grandes obras de infra-estrutura necessárias à integração continental.
O CEDI atuou, intensamente, na promoção do indigenismo no Brasil até 1994, quando foi desmembrado, tendo como sucessor o ISA – Instituto Socio-ambiental.
CIMI – Conselho Indigenista Missionário
Em 1972, adeptos da Teologia da Libertação no Brasil fundaram o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) dentro da estrutura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a questão indígena. Desde a sua fundação, realizada um ano após a notória Conferência de Barbados, o CIMI tem estado, direta ou indiretamente, envolvido em quase todas as iniciativas do establishment oligárquico para fomentar o indigenismo no Brasil.
Em 1974, o CIMI iniciou uma série de “assembléias indígenas”, para conscientizá-los de seus direitos e, em 1980, organizou um grupo de índios para fundar a União das Nações Indígenas (UNI), com o objetivo de “pregar” e promover, abertamente, a autonomia e a autodeterminação dos indígenas brasileiros. Sua atuação ficou mais conhecida a partir de agosto de 1987, quando apresentou uma emenda popular à Assembléia Nacional Constituinte, em que tentou introduzir na nova Constituição brasileira o conceito de “plurinacionalidade” para os indígenas e o de “soberania restrita” para suas reservas. Na época, o CIMI contava com cerca de 250 missionários trabalhando em tempo integral, espalhados pelos territórios indígenas em todo o País.
Várias ONGs vinculadas ao CMI que atuam no Brasil apóiam as operações do CIMI. Entre elas, destacam-se a Christian Aid, sediada em Londres e mantida por igrejas protestantes européias, e a Organização Intereclesiástica para a Cooperação ao Desenvolvimento (ICCO), sediada na Holanda e também mantida por igrejas protestantes européias (em 1994, ela repassou 8,1 milhões de dólares para ONGs brasileiras). A Fundação Nacional para a Democracia (NED) doou ao CIMI 52.000 dólares em 1992 e 35.000 em 1994, para «ajudar a fortalecer organizações independentes e assistir comunidades indígenas para defender seus direitos em meio a uma atmosfera violenta e discriminatória». Sintomaticamente, a NED é uma organização mantida pelo Governo dos EUA, vinculada ao Congresso daquele país, e que se tornou notória por ocasião do escândalo Irã-Contras, em meados da década de 1980.
CCPY – Comissão Para a Criação do Parque Yanomâmi
A Comissão Para a Criação do Parque Yanomâmi (CCPY) foi fundada em São Paulo em 1978, sob os auspícios da Survival International, para “nacionalizar” a campanha para a criação da reserva yanomâmi, após a expulsão de seus representantes no Brasil, em 1976. A CCPY começou a atuar como a conexão brasileira do aparato indigenista britânico, convertendo-se em sua principal propagandista frente ao Governo, Congresso e grupos privados brasileiros. Iniciaram-se, então, diversas campanhas internacionais de pressão, que incluíram ações legais contra o Brasil na ONU, na OEA e na OIT. Na época, sua figura de proa era a fotógrafa suíça, radicada no Brasil, Claudia Andujar.
Em 21/09/1997, o então ministro das Relações Exteriores do Reino Unido Tony Lloyd fez uma visita ao escritório da CCPY, onde reuniu-se com Claudia Andujar. O ministro se fez acompanhar pelo embaixador britânico no Brasil e pelo cônsul-geral de São Paulo. Após seu regresso à Grã-Bretanha, Lloyd enviou a seguinte carta à CCPY:
«O Governo Britânico tem uma grande simpatia com a finalidade e objetivos do trabalho que vocês estão realizando. Estejam certos que o governo britânico veria com preocupação qualquer ameaça ao modo de vida que os yanomâmis pretendem manter, e se utilizará de todas as oportunidades para encorajar os governos brasileiro e venezuelano para que cumpram suas promessas de proteger o ambiente no qual os yanomâmis vivem contra a ameaça de garimpagem de ouro ilegal e sem controle.»
Em agosto de 1999, a população de Roraima se revoltou com o convênio assinado entre a Fundação Nacional de Saúde e a CCPY para que esta passasse a administrar 12 dos 25 postos de saúde do Distrito Sanitário Yanomâmi. O convênio, com a duração de 15 meses, envolvia a quantia nada desprezível de R$ 7,5 milhões. Em realidade, o “projeto saúde” da CCPY contava, desde 1994, com o apoio financeiro do BIRD – Banco Mundial e de agências externas de desenvolvimento dos governos do Reino Unido e da Alemanha.
A CCPY dispunha ainda de verbas de outras agências internacionais, entre as quais o Programa Norueguês para Povos Indígenas e a Rainforest Foundation, da Noruega, a OXFAM, a Survival International e a Iwgia dinamarquesa.
Segundo um documento da própria CCPY: «No Brasil, o CEDI, NDI, CIMI, Diocese de Roraima, Comissão Pró-Índio de São Paulo, entre outras, trabalharam na campanha de demarcação da área indígena, até sua realização, em 1992. Em 1997, a CCPY foi agraciada com o terceiro prêmio de Direitos Humanos da Presidência da República Federativa do Brasil.»
INESC – Instituto de Estudos Sócio-Econômicos
O Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (INESC) foi fundado em Brasilia, em 1978, por Maria José Jaime, com o objetivo de fazer lobby no Congresso brasileiro para as iniciativas ligadas ao indigenismo, direitos humanos e ambientalismo. Maria José Jaime foi membro da organização marxista-leninista Ação Popular (AP) e, em 1968, tornou-se maoísta, Um ano depois, após o sequestro do embaixador dos EUA, Charles Elbrick, foi para a China, onde recebeu treinamento político e militar. Em 1972, foi para o Chile e, depois, para o Peru, onde trabalhou para a Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), que tem a já mencionada CIDA entre os seus patrocinadores. Em 1976, retornou ao Brasil e criou o INESC, dois anos depois.
O INESC contrata especialistas para realizar pesquisas sobre direitos humanos, questões indígenas, reforma agrária etc, e desenvolveu um ativo trabalho de lobby na tentativa de orientar a elaboração dos itens referentes à política ambiental e indigenista durante os trabalhos da Assembléia Constituinte de 1987-88. Segundo Elaine Dewar, o INESC tem recebido fundos de ONGs estadunidenses e européias, principalmente vinculadas a igrejas. A Fundação Interamericana também contribuiu para o INESC, doando 150.000 dólares entre 1988 e 1990.
Um elemento-chave na “Agenda” foi José Carlos Libânio, então coordenador do INESC para assuntos indígenas. Ele atuou também como consultor da CIDA e da embaixada canadense em Brasilia. Libânio acompanhou o ex-primeiro-ministro canadense Pierre Trudeau na viagem que este fez à Amazônia em 1988, quando visitou várias tribos indígenas, dentre as quais os yanomâmis.
ISA – Instituto Socioambiental
Em 1994, as campanhas indigenista e ambientalista no Brasil se fundiram com a fundação paradigmática do Instituto Socioambiental (ISA). O braço indigenista do ISA proveio diretamente do CEDI, do qual herdou os arquivos, e do Núcleo de Direitos Indígenas (NDI), fundado e dirigido pelo filósofo Márcio Santilli. Este foi um dos 33 membros fundadores do ISA e ocupou vários cargos na cúpula da ONG. Entre 1982 e 1986, Santilli foi deputado federal por São Paulo, quando presidiu a Comissão do Índio da Câmara dos Deputados. Posteriormente, foi responsável pela coordenação da investida indigenista na Assembléia Nacional Constituinte de 1987-88 e, mais tarde, presidiu a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Seus vínculos internacionais ficaram claros com as bolsas que recebeu da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID), como integrante do programa de treinamento de «lideranças ambientais» deste órgão do Governo estadunidense.
Juntamente com Santilli, participaram da fundação do ISA outros luminares do ambientalismo-indigenismo internacional, dentre os quais:
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Barbara Brambles |
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Stephen Schwartzman |
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Jason Clay |
▶ Willem Pieter Groeneweld, cidadão holandês que fundou, com o suporte financeiro da seção sueca da ONG Friends of the Earth, o Instituto para a Pré-História, Antropologia e Ecologia (IPHAE), sediado em Porto Velho (RO). Groeneweld organizou os seringueiros de Rondônia em nome do capítulo canadense da Cultural Survival, sendo, também, consultor da mineradora BRASCAN. Ele recebeu ajuda financeira da CIDA para participar da conferência Rio-92 e foi seu ativo agente de influência no Acre. Sua conexão com a embaixada do Canadá no Brasil iniciou-se em 1987, tendo a tarefa de auxiliar os canadenses a encontrar ONGs brasileiras que pudessem se qualificar para receber fundos da CIDA.
▶ Anthony “Iony” Gross, representante da OXFAM no Brasil, onde trabalhava em conjunto com o CEDI. Sua principal área de ação era a Região Amazônica, onde travou contato com Chico Mendes – a quem ajudaria a transformar-se em celebridade internacional. Gross foi também o primeiro mentor
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Mary Allegretti |
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Carlos Frederico Marés |
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Carlos Alberto Ricardo |
José Carlos Libâneo |
Contudo, é no campo jurídico, que o ISA tem sido uma das ONGs mais atuantes no Brasil, mantendo uma competente assessoria jurídica patrocinada, entre outras, pelas seguintes organizações: ICCO; NCA – Norwegian Church Aid; Fundação Ford; Fundação MacArthur; Fundação Lévi-Strauss; IIZ; Companhia Vale do Rio Doce; RFN – Rainforest Foundation (Noruega); Banco Mundial; e a E-LAW – Environmental Law Alliance Worldwide.
Créditos: este post é matéria apresentada no livro «Máfia Verde 2 – Ambientalismo – Novo Colonialismo», em capítulo específico destinado a apresentação das principais ONGs indigenistas que atuam, de alguma forma, no Brasil. Introduzi subtítulos no texto para facilitar e incentivar a leitura.
Fonte: Blog do Ambientalismo
Imagens: Blog do Ambientalismo, Google
Unasul avança na criação da primeira Escola Sul-Americana de Defesa
3 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários ainda![]() |
Representantes dos 12 países do bloco trabalham na elaboração de estatutos e cursos que compõem o programa de treinamento de civis e militares |
TeleSur
Representantes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) ratificaram, na última quarta-feira (29), a criação da primeira Escola Sul-Americana de Defesa (Esude), com o objetivo de formar militares que pertencem aos doze países membros para que contribuam com o restabelecimento da paz na região.
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Alfredo Forti |
Durante a Conferência da Unasul sobre Recursos Naturais e o Desenvolvimento Integral da Nação, que se realizou em Caracas (Venezuela), Forti disse que, de acordo com o plano de ação do Conselho de Defesa Sul-americano, representantes dos 12 países trabalham na elaboração dos estatutos e cursos que compõem este programa de treinamento, o qual será apresentado aos ministros de Defesa em novembro deste ano.
Da mesma forma, anunciou que os membros da equipe também trabalham no projeto e na construção da primeira aeronave sul-americana de treinamento básico militar.
Estes projetos estão sendo feitos há algum tempo. No dia 9 de maio deste ano, o ministério equatoriano de Defesa divulgou um comunicado após uma reunião de dois dias, em Quito, com delegados dos ministérios de Defesa da Argentina e do Brasil, em que especificou que esta nova instituição "promoverá o intercâmbio de professores e alunos em programas de treinamento de civis e militares, incluindo especialistas dos países da região, gerará projetos de pesquisa acadêmica e ligará as instituições acadêmicas da região".
Foi informado, ainda, que a cidade de Buenos Aires, capital da Argentina, irá sediar a próxima reunião, em julho.
Fonte: Brasil de Fato
Imagem: Roberto Stuckert Filho/PR
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Para quem não sabe
Em 07/05/2013
No dia 7 de maio de 2013, a comitiva do Colégio de Defesa da OTAN (NDC), Chefiada pelo Tenente-General ARNE BÅRD DALHAUG, visitou a Escola Superior de Guerra , com o objetivo de conhecer suas atividades.
A comitiva do NDC foi recepcionada pela Direção da ESG no Salão de Honra. Na pauta inicial da visita, a delegação reuniu-se com o Subcomandante e Chefe do Departamento de Estudos da ESG, Major Brigadeiro do Ar STEFAN EGON GRACZA, com o Diretor do Instituto de Doutrina de Operações Conjuntas, Diretor do Centro de Atividades Externas e de Extensão e o Diretor do Centro Estudos Estratégicos, para conversações bilaterais de mútuo interesse institucional.
A comitiva do NDC foi recepcionada pela Direção da ESG no Salão de Honra. Na pauta inicial da visita, a delegação reuniu-se com o Subcomandante e Chefe do Departamento de Estudos da ESG, Major Brigadeiro do Ar STEFAN EGON GRACZA, com o Diretor do Instituto de Doutrina de Operações Conjuntas, Diretor do Centro de Atividades Externas e de Extensão e o Diretor do Centro Estudos Estratégicos, para conversações bilaterais de mútuo interesse institucional.
Na sequência da programação, destacou-se a palestra “A Organização do Tratado Atlântico Norte”, proferida pelo General DALHAUG, aos estagiários do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE/2013) e aos membros dos Corpos Permanente e Administrativo da ESG, finalizando com um debate sobre o tema.
Colômbia prepara entrada na Otan
3 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaColômbia prepara entrada na Otan; presidentes na América Latina são contra
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) informou nesta segunda-feira (3) que está preparando um acordo com a Colômbia que “permitiria a troca de informações secretas entre a Aliança e a Colômbia”. No entanto, esclareceu que o país não cumpre com os critérios geográficos para entrar na organização. Presidentes latino-americanos condenam a intenção do país.
“O acordo seria precursor para qualquer cooperação futura possível com a Colômbia que os aliados desenvolvam por meio da Otan”, sublinhou uma fonte da Organização às agências internacionais. A mesma fonte declarou à TeleSUR que “não há um plano imediato para estabelecer uma associação formal”.
O funcionário esclareceu que apesar de a Otan estar interessada em impulsionar a cooperação com a Colômbia, a nação não cumpre com os critérios geográficos para entrar no futuro na Aliança porque ela é exclusiva aos países da Europa e América do Norte.
As declarações foram dadas após o presidente Juan Manuel Santos ter anunciado neste sábado (31) que seu país assinará ainda este mês um acordo de cooperação com a Otan para negociar a entrada na organização internacional.
Repercussão:
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Nicolás Maduro |
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Daniel Ortega |
O mandatário boliviano, Evo Morales, também se pronunciou e pediu pronta ação da Uniãodas Nações Sul-Americanas (Unasul) para evitar que tal cooperação prospere: “Não podemos permitir que a Otan interceda na América Latina. Ter a Otan é uma ameaça para o nosso continente”, advertiu.
Fonte: Vermelho
Imagens: Google
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Bolsa Família - Criticado pela ignorância de pessoas que desconhecem a realidade do Brasil
2 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários ainda“Bolsa Família é começo de reparação histórica”, diz socióloga Walquíria Leão Rego
Por Rachel Duarte
Dos rincões miseráveis do Brasil emergiram as vozes de mais de uma centena de mulheres que foram ouvidas por uma pesquisadora paulista preocupada em compreender os impactos do programa Bolsa Família na vida dos 5,4 milhões de beneficiários. Ainda alvo de críticas por vários setores, o programa de transferência de renda é considerado pela socióloga Walquíria Leão Rego como um começo de reparação social do estado brasileiro para com os mais pobres. “Estas pessoas saíram da miséria absoluta, os índices de mortalidade infantil ficaram mais baixos e isto tem impacto fundamental para um país que se diz minimamente democrático. Conviver com a miséria como o Brasil conviveu por tantos séculos, mesmo depois do fim do regime militar, deveria ser um processo que mexe com todos os brasileiros”, falou em entrevista ao Sul21.
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Walquíria Leão Rego |
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Livro “Vozes do Bolsa Família” será lançado em junho | Foto: Ana Nascimento / Bolsa Família |
Concebida com a finalidade de averiguar se, como e em que medida a nova renda e sua regularidade afetam a vida cotidiana das famílias e, em particular, das mulheres, a pesquisa completa estará disponível no livro Vozes do Bolsa Família, a ser lançado pela Editora Unesp no dia 11 de junho. “A remuneração proporciona uma liberdade pessoal. Esta é uma das importantes funções do beneficio ser em dinheiro. É diferente se fosse uma cesta básica, onde já é determinado o que a pessoa irá fazer com o recurso e o que ela irá comer”, explica a socióloga.
Na visão da professora, os ataques ao programa federal criado pelo governo Lula são feitas por setores específicos da sociedade e com base em conceitos preconceituosos. Ela não acredita em uso político do seu livro. “Este recente episódio do boato que o programa iria acabar e que levou centenas de pessoas aos bancos em poucas horas, mostra bem para os críticos o tamanho da necessidade do Bolsa Família. Por isso, acho pouco provável que alguém queira brincar com isso”, fala.
Sul21 – O Bolsa Família completa 10 anos em 2013, alcançando perto de 5,4 milhões de pessoas e é reconhecido internacionalmente como o maior programa de combate à pobreza. Qual é o impacto real deste programa no desenvolvimento do país, porque ao mesmo tempo, ele segue sendo alvo de críticas?
Walquíria Leão Rego – Criticado por quem? Temos que nos perguntar a quem interessa falar mal deste programa. O principal impacto é perceptível. Uma parte significativa da população da chamada ‘extrema pobreza’ deixou de estar nesta condição. Isto não é pouco. É algo muito importante. Estas pessoas saíram da miséria absoluta, os índices de mortalidade infantil ficaram mais baixos e isto tem impacto fundamental para um país que se diz minimamente democrático. Conviver com a miséria como o Brasil conviveu por tantos séculos, mesmo depois do fim do regime militar isto fez parte do país por muitos anos, deveria ser um processo que mexe com todos os brasileiros. A imprensa, a academia e a sociedade em geral deveriam ser tocadas com isso. O impacto é muito grande para as pessoas que passaram a ter um rendimento regular, apesar de pequeno. É um dinheiro que eles podem contar todos os meses. Eles aprendem a conviver com esse recurso e buscam querer viver melhor. Este programa é o começo de uma reparação por parte do estado brasileiro.
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“Este argumento de que eles não saberiam administrar [o dinheiro] é preconceito com os pobres” | Foto: Roberto Setton |
Sul21– Os usuários conseguem administrar a liberdade de ter uma fonte fixa de renda, o que para muitos deve ser algo inédito?
Walquíria Leão Rego - Administram muito bem. Este argumento de que eles não saberiam administrar é preconceito com os pobres. Quem está endividada é a classe média e os ricos, não os pobres. Quando falo em pobres, me refiro aos cadastrados no Bolsa Família, porque existem pobres que estão na categoria de pobres e não estão vivendo na extrema pobreza. Eles administram muito bem os recursos e em dez anos aprenderam a gerir as finanças como qualquer outra pessoa aprende. A qualidade de vida destas pessoas melhorou e elas não estão mais adoecendo. Esta afirmação é algo constatado não só na minha pesquisa, que não é quantitativa, mas pelo IPEA (Instituto de Pequisa Econômica e Aplicada), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ONU (Organização das Nações Unidas), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), todos constatam a mesma coisa. Isto deveria estar nas manchetes dos jornais do país. Demonstrar que este programa, mesmo oferecendo um auxílio pequeno, está tornando as pessoas cidadãos de fato. Este programa garante o direito mais elementar: a vida.
Sul21 – Dados oficiais revelam que 70% dos beneficiários adultos são trabalhadores e os estudantes que participam do programa possuem média de aprovação quase 5% maior que a média nacional. Além de ter um índice menor de abandono dos estudos.
Walquiria Leão Rego – Isto acontece pela exigência do vínculo das crianças na escola para receber o benefício, o que é muito interessante, porque mostra o quanto estas crianças estavam abandonadas pelo estado. Porém, também é necessário discutir a qualidade da escola brasileira. A escola pública no Brasil precisa de muito investimento ainda. As crianças que eu estudei vivem em cidades do interior, algumas em zona rural e em periferias de grandes cidades. (Recife, Vale do Jequitinhonha, etc ). O benefício também implica o controle da saúde das crianças, mas ainda faltam médicos no Brasil nos postos de saúde destas regiões. O governo federal estuda trazer para o Brasil os médicos cubanos, espanhóis e portugueses, porque os nossos não costumam ir para estes lugares. Isto acontece pela falta de compromisso de certas pessoas com o seu país. Os paulistas, por exemplo, querem fazer medicina na melhor universidade, que é USP (Universidade de São Paulo) ou a Unicamp, para se formar em uma universidade pública. Estudam no ensino público, fazem intercâmbio no exterior com auxílio público e voltam para abrir um consultório na Avenida Paulista e cobrar até R$ 1,5 mil por uma consulta. Isto é o horizonte típico da classe média brasileira que faz medicina. O compromisso com o povo eles não querem saber. Não adianta oferecer o salário e o benefício que for para estas pessoas porque elas não vão para as regiões de periferia e interior. As crianças que são beneficiadas com o Bolsa Família são abandonadas como cidadãos. O estado tenta resolver e a classe média vai para as ruas fazer protesto contra os médicos estrangeiros.
Sul21 – Recentemente foi divulgado que 1,6 milhão de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família deixaram espontaneamente o programa. Isto contraria a tese de que elas se tornam dependentes do programa?
Walquíria Leão Rego – Isto sempre foi uma tese preconceituosa. Toda tese preconceituosa é desmentida em pouco tempo. O preconceito é algo estreito. Isto foi desmentido porque este dado revela que as pessoas querem melhorar de vida e, em algumas regiões não há emprego. Aliás, não há nem o que vestir ou que comer. Quem irá oferecer emprego para alguém que vive no sertão? Existe uma ignorância de algumas pessoas sobre a realidade do seu próprio país. Não sabem a geografia do seu país, que dirá a geografia econômica ou informações sociológicas. Então, há muito preconceito e estereótipo por trás destas teses.
Sul21 – A senhora desenvolveu a pesquisa por conta própria, sem apoio financeiro da Unicamp ou do governo federal. Financiou as viagens do próprio bolso, agendando as excursões em seus períodos de férias. Como alcançou a publicação do livro?
Walquíria Leão Rego – Consegui a publicação por meio da editora Unesp (Universidade Estadual Paulista), que é uma editora universitária. As outras editoras não se interessaram pelo meu material. Percebi que teria que ser pela editora universitária e creio que este é o papel mesmo. As editoras comerciais só estão interessadas em lucro. As publicações são aquelas que irão vender. Mas, mesmo contando com editora universitária não é fácil publicar estudos como este no Brasil.
A remuneração proporciona uma liberdade pessoal para as pessoas. Esta é uma das importantes funções do beneficio ser em dinheiro.
Sul21 – Na sua pesquisa, que resultou no livro Vozes do Bolsa Família, foram ouvidas 150 mulheres cadastradas no programa. O que é possível dizer desta experiência de dar autonomia para as mulheres na gestão dos recursos do Bolsa Família?
Walquiria Leão Rego – Nós ouvimos muito mais pessoas, mas selecionamos uma amostragem de 150 mulheres para poder fazer um recorte. O livro é um experimento interpretativo, sociológico e com contribuição para o meio intelectual. Não terá grande reflexo na sociedade que, sinceramente, sei que não irá se interessar em ler meu livro. O que é uma pena, porque pode ser uma oportunidade de a sociedade experimentar conhecimento sobre seu próprio país. O estudo desfaz uma série de estereótipos de que os pobres só querem depender do estado e não querem trabalhar. Quem ler este livro conseguirá aprender alguma coisa. É a minha esperança. Agora, o conceito de autonomia é muito complexo. Tem implicações morais e políticas. O que podemos dizer é que, o fato destas mulheres tão destituídas em suas vidas e em estado de extrema pobreza, passarem a ser titulares de cartões de recursos transferidos pelo estado traz certa autonomia. A remuneração proporciona uma liberdade pessoal para as pessoas. Esta é uma das importantes funções do beneficio ser em dinheiro. É diferente se fosse uma cesta básica, onde já é determinado o que a pessoa irá fazer com o recurso e o que ela irá comer. Fica imposto a quantidade de comida e o tipo de alimento que ela irá comer. O dinheiro dá liberdade de escolha, com isso elas aprendem a administrar os recursos. É um exercício de cidadania muito maior do que as classes mais abastadas pensam sobre a capacidade dos pobres.
Sul21 – Os homens ficaram ou tendem a ficar para trás neste processo de desenvolvimento que foca nas mulheres, a curto, médio ou longo prazo?
Walquíria Leão Rego – Homens também são pobres, analfabetos ou com mínima escolaridade. O desemprego é geral, não está relacionado com o gênero em determinadas regiões do país. Por séculos o estado abandonou parte do país. É preciso ter esta consciência. Agora, com o Bolsa Família, é que se começou a fazer alguma coisa pelo abandono desta parte da população. O estado decretou há muitos anos a morte civil destas pessoas. Elas não têm voz, a sociedade não as escuta. As pessoas não querem pensar sobre isso ou mesmo esquecem de pensar porque isso as incomoda muito e passa a crescer o preconceito. Os brasileiros conviveram por várias gerações sabendo da existência da pobreza e defendem que a culpa é dos próprios pobres que “não querem trabalhar” ou “são vagabundos”. Se não tivesse existido um programa como o Bolsa Família, pessoas seguiriam morrendo no Brasil, África e em tantas outras nações onde ele foi criado.
No que se refere ao programa Bolsa Família, por exemplo, creio que seja necessário aumentar o valor do benefício. É preciso ter mais oportunidade de acesso ao ensino. A imprensa precisa ser melhor. É uma imprensa muito controlada pelos seus patrões.
Sul21 – Como garantir o desenvolvimento do país após o desligamento do Bolsa Família?
Walquíria Leão Rego – Tem que se avançar muito mais no país em termos de desenvolvimento. No que se refere ao programa Bolsa Família, por exemplo, creio que seja necessário aumentar o valor do benefício. É preciso ter mais oportunidade de acesso ao ensino. A imprensa precisa ser melhor. É necessário que aconteça um conjunto de políticas públicas, inclusive específicas para a realidade destas regiões mais pobres. A educação é feita na escola, com a alfabetização, mas outras formas de formação para estes cidadãos são necessárias. Uma pessoa do sertão aprende a ler, mas segue vendo apenas televisão. Isto não resolve muito. Nós temos que discutir o que é educar. Não é só escola. É ter uma mídia democrática que produza conteúdos que elevem as pessoas. A televisão hoje indignifica as pessoas. Estamos ainda iniciando um novo processo de formação e transformação no Brasil. Eu citei apenas alguns exemplos aqui, mas temos muito que avançar.
O que foi feito no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso não tinha a mesma dimensão distributiva e a amplitude do Bolsa Família criado no governo Lula.
Sul21 – Por ser um dos poucos estudos acadêmicos sobre um dos programas mais importantes para a gestão do PT, e do próprio PSDB, que alega a paternidade do embrião do programa, a senhora imagina que seu livro terá uso político?
Walquíria Leão Rego – Não temo. Este recente episódio do boato que o programa iria acabar e que levou centenas de pessoas aos bancos em poucas horas, mostra bem para os críticos o tamanho da necessidade do Bolsa Família. Eu creio que essa reação das pessoas mostrou a importância que o programa tem na vida delas. Isso mostra o significado dessa bolsa para a população. Por isso, acho pouco provável que alguém queira brincar com isso. Além do que, o programa de fato tomou a dimensão que tomou e se tornou o maior programa do mundo não foi com o PSDB. O programa deles (PSDB) era outra coisa. O que foi feito no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso não tinha a mesma dimensão distributiva e a amplitude do Bolsa Família criado no governo Lula. A transformação social do país por meio deste programa começou, sem dúvida, no governo Lula e agora tem continuidade com o governo Dilma, isso não tem como negar. Se um jornalista quiser fazer investigação sobre isso, é só perguntar para as pessoas nas ruas do Brasil. Isso é um dado de realidade, não tem como mentir ou falsificar a história.
Sul21 – A senhora acredita que a imprensa tem interesse em dar voz aos críticos deste programa de forma sistemática?
Walquíria Leão Rego – De fato, isto é algo recorrente. A desqualificação do governo, das pessoas, do programa, e ao mesmo tempo a não-informação sobre o êxito desta iniciativa. Isso é o que mais me assusta, como eles (a mídia) se sentem no direito de não informar o país sobre o que está acontecendo no país? Você não vê isso em outros lugares do mundo. É uma imprensa muito controlada pelos seus patrões, talvez uma das mais controladas do mundo.
Sul21 – A senhora vê com esperança o avanço da democratização da mídia no país?
Walquíria Leão Rego - A própria imprensa hegemônica não quer discutir a democratização, e colocou na cabeça de seus jornalistas — e de alguns intelectuais que ela já produziu — que eles devem escrever que discutir e regulamentar a imprensa é abdicar da liberdade de expressão. Então eles usam essa questão para não discutir que quem não pratica essa liberdade de expressão são eles. Eles recusam o debate e usurpam o direito democrático à informação. As pessoas, de modo geral, não sabem o que está acontecendo. Alguma vez a grande imprensa fez alguma matéria séria sobre o Bolsa Família? Nunca. Pelo contrário, ela difama, mente e distorce. Isso não é jornalismo.
Fonte: Sul21
Imagens: Sul21, Google